ABANDONADOS F.C.
por Val Zeca
A se não fosse os campos
de lama, as bolas de meia
que rolavam num chão sem grama chutando pedras e o asfalto
com os pés descalços, despidos
e descamisados e um sonho de ser Garrincha ou Pelé sem lápis nem caderno só a alegria
De canetas, carretilhas
E lambretas não tinha medo
Nem receio de caras feias
caretas e músculos
Podiam fazer fila que fintávamos
até maus pensamentos, fome,
Tristeza até mesmo a desilusão.
Os choros de alegria eram
com golaços e bolas na trave
da imaginação sem impedimento,
sem árbitro, juiz ou julgamento
O que valia era aquele momento
Onde tudo valia na disputa da bola
De três dedos, trivela ou de sola
Assim era famoso ranca toco
rua dos abandonados contra
rua dos excluídos O pau quebrava,
O coro comia só não valia xingar a mãe por que as vezes nem tinham
Ali se estreitava os laços,
se fazia amigos e muitas Amizades Mesmo sem nunca ter ganhado um jogo.
FLUMINENSE
por Rubens Lemos
Com 27 pontos namorando a Zona de Rebaixamento e apanhando até mesmo do Vasco da Gama por 2×0, o Fluminense nem é sombra do timaço montado pelo presidente Francisco Horta em 1975 muito menos do outro esquadrão vitorioso tricampeão em 1983/84/85 e campeão brasileiro de 1984.
Há um livro que faz comparação entre as duas forças de expressão superior. Em 1975, ano que vem 50 anos, para dar uma reviravolta no futebol carioca, Francisco Horta topou com os outros grandes a permuta de jogadores. A média de público no Ex-Maracanã chegava a 100, 150 mil pessoas nos clássicos.
O ponto de partida para a euforia foi a contratação do gênio Rivelino ao Corinthians, uma transação para lá de confusa. Rivelino saía humilhado pelo Timão após a perda do Campeonato Paulista para o Palmeiras em 1974, fazendo completar 20 os anos sem conquistas.
Rivelino não teve culpa nenhuma de jogar com colegas de baixo nível, se desdobrou, deu carrinho, driblou elasticamente, mas perdeu o duelo para o estilo cerebral e cadenciado de Ademir da Guia, que controlou a partida até o gol do mineiro Ronaldo, fazendo vibrar 20, das 120 mil pessoas presentes ao Morumbi.
Então, Horta concluiu: vou trazer o melhor jogador do país para sacudir o Fluminense e conseguiu, reunindo banqueiros e emitindo promissórias para garantir o preço exigido pelo duro na queda Vicente Matheus.
O Fluminense montou a primeira versão da Máquina Tricolor com Félix; Toninho, Assis, Silveira e Marco Antônio; Pintinho, Rivelino e Paulo César Caju; Cafuringa, Manfrini e Mário Sérgio. Esse time foi supercampeão num triangular com o Botafogo. Na estreia impôs 4×1 no Vasco dando toquinhos exuberantes e passes de curva. O Vasco apelou para a violência.
O Campeonato Brasileiro seria o objetivo seguinte do tricolor e nas semifinais o jogo foi contra o Internacional de Falcão, Carpegiani, Figueroa e Lula. Era um jogo só e no Rio de Janeiro. Frio e técnico, o Internacional meteu 2×0 sem dificuldades com gols de Lula e Carpegiani. Horta sofria a primeira decepeção com seus excepcionais jogadores.
Em 1976, trouxe Renato, do Flamengo, para o gol, Carlos Alberto Silva para a lateral-direita, trocou o vascaíno Miguel por Abel, Zé Mário e Marco Antônio do Vasco, do Botafogo chegou Dirceu, trocado por Mário Sérgio e o Campeonato Carioca foi outro passeio. Na final, vitória sobre o Vasco por 1×0, gol de Doval, no minuto final da prorrogação.
Só restava esperar o Brasileirão. Semifinal contra o Corinthians e 70 mil paulistas invadiram o Rio de Janeiro e foram ao estádio guerrear berrando. Temporal na cidade, gramado pesado, o Fluminense fez um golaço com Pintinho batendo de chapa na bola no canto de Tobias. Logo, Ruço, de meia-puxeta, empatou para o Timão.
Nervoso, o tricolor perdia a segunda semifinal nos pênaltis e Francisco Horta perdeu a racionalidade, fazendo um terceiro troca-troca em que cedeu ao Botafogo três craques de seleção: o lateral Rodrigues Neto, o ponta-direita Gil e o meia e ponta-esquerda Paulo Cézar Caju por Marinho Chagas, que jogava tudo, mas o negócio foi mal feito. O Fluminense não decidiu o Carioca e ficou entre os 30 primeiros colocados no Campeonato Brasileiro.
Nos anos 1980, o jogo coletivo se sobrepunha ao individualismo e o Fluminense, com sua tradição de formar “timinhos”, montou um time baseado nos atacantes Assis e Washington, trazidos do Atlético Paranaense. Trouxe os ex-juniores do Internacional Branco e Tato e efetivou o goleiro Paulo Vítor.
Ganhou o campeonato de 1983 no minuto final: 1×0 no Flamengo, gol de Assis. Que arrebataria o bicampeonato vencendo por 1×0 em 1984, ano em que Romerito matou o habilidoso Vasco vencendo por 1×0.
Em 1985, o árbitro José Roberto Whrigt deixou de marcar um pênalti sobre Cláudio Adão do Bangu, evitou o empate e o Fluminense venceu por 2×1. Dois times muito bons, mas a verdadeira diferença estava no pé canhoto de Rivelino, o ídolo de Maradona. Foi para ter um pretexto de falar sobre ele que escrevi este texto.
O BOTAFOGO NOS REPRESENTA
por Zé Roberto Padilha
Quando comecei a torcer pelo Fluminense, quem dava as cartas no Rio era o Botafogo. Era de General Severiano que saía a base da seleção brasileira. Tínhamos o nosso time, Felix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio. Mas nossos representantes nas Copas do Mundo eram Nilton Santos, Didi, Gerson e Jairzinho.
Na imprensa, a briga era mais equilibrada. E de altíssimo nível. Nós, tricolores, tínhamos Nelson Rodrigues escrevendo no Jornal dos Sports. Eles, Armando Nogueira, no JB.
Flávio, o Minuano, comandava o nosso ataque, e meu ídolo era Jairzinho. Se o gol sempre foi o grande momento do futebol, suas arrancadas em sua direção levantavam as arquibancadas. E de tanto temê-las em preto e branco, quando suas vestes amarelavam, aí sim levantavamos juntos.
Hoje, o Botafogo e o Flamengo, pelo que representam de paixão pelos meus filhos, são meus segundos times. Portanto, somos todos Botafogo rumo à gloria eterna.
Tenho certeza que na próxima encarnação voltarei Botafogo. Há algo diferente, supersticioso, inexplicável até para eles mesmos como tal amor sobrevive, resiste e supera seguidas adversidades.
Algo cult, místico, que se soubesse definir talvez desistisse de voltar toda uma existência torcendo por eles.
SELEÇÃO SEM RUMO
por Elso Venâncio
O técnico Dorival Jr. não encontrou o rumo certo a seguir para recuperar a Seleção Brasileira. Já foram relacionados 46 jogadores, em quatro convocações. O início da escalação já indica a mesmice de sempre: Alisson? Danilo, Marquinhos? No meio-campo, novamente Paquetá? Com as convocações de Endrick e Igor Jesus, o esquema muda, voltando a ter um centroavante. João Gomes, que aparecia como titular, é esquecido.
Em meio a tantos problemas, Dorival não é culpado sozinho, como também não foram os antecessores, sempre criticados. Nos últimos dois anos, registrou-se a maior dança de treinadores da história da Seleção. O gaúcho Tite perdeu uma Copa e, inexplicavelmente, foi mantido na seguinte. Após a demissão dele, vieram Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Jr. Não será surpresa se surgir um quinto nome, diante da pífia campanha nas Eliminatórias.
O alerta do lateral Danilo não deve passar em branco. Independente financeiramente, ele afirmou que falta organização, planejamento, enfim, que a gestão na CBF é precária em relação à Europa. Lamentou a perda de tempo aguardando Ancelotti. Falcão, que jogou com Ancelotti na Roma, ouviu do italiano que a prioridade dele sempre foi o Real Madrid. Rodrigo Caetano, diretor de Seleções da CBF, demonstra estar pouco à vontade no cargo.
O Brasil sofre com o quinto lugar na classificação das Eliminatórias. Vai para um jejum de 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo, enquanto a Argentina é a atual campeã, e os uruguaios estão em ascensão e conquistaram a Copa América. A Associação Uruguaia de Futebol (AUF) acertou contratando “El Loco” Marcelo Bielsa, que teve coragem para renovar a equipe. Com isso, o Uruguai vai forte para o próximo Mundial.
Não bastassem todos os problemas propriamente da Seleção, ainda temos o racha entre os clubes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Tem a Libra, que se uniu à TV Globo, e a Liga Forte, que está com a TV Record e o YouTube.
Não adianta apenas criticar os jogadores que se calam, mesmo expostos a mais de 20 jogos por ano em relação aos times europeus. Ou será que Vinícius Jr., Endrick e Rodrygo não seriam bem-vindos em outras seleções? Segundo o site especializado Transfermarket, o trio vale 350 milhões de euros.
Surgiram Luiz Henrique, Estevão… Neymar está voltando. Mas, perdemos a confiança e o respeito dos adversários. Além disso, o torcedor se afastou de sua maior paixão. Você, hoje, sente prazer em ver um jogo da Seleção Brasileira?
COMEMORAÇÃO
por Wesley Machado
Escrevo esta crônica menos de 12 horas após a classificação do meu Botafogo às semifinais da Libertadores.
Ainda sem saber se o nosso adversário será o Flamengo ou o Peñarol do Uruguai, que jogam nesta quinta-feira.
Se o adversário for o Flamengo, será um confronto inédito na Libertadores.
Se o adversário for o Peñarol, será o reencontro dos finalistas da Conmebol de 1993.
Botafogo e Peñarol também se enfrentaram na primeira fase da Libertadores de 1973.
De toda forma, esta classificação do Fogão é uma volta no tempo.
Em um tempo de ditadura militar no Brasil.
Minha filha de 10 anos já é politizada.
Comemorou muito a vitória de Lula em 2022.
Agora em 2024 meu pai é candidato a vereador.
Política e futebol, que dizem não se deve misturar.
Mas foi com a conscientização proporcionada pelo texto sobre Gonzaguinha aqui, que eu digito no cata milho estas mal traçadas, caro leitor.
Faltam 10 dias para a eleição.
Voltemos ao futebol.
Falta menos de um mês para o primeiro jogo da semifinal da maior competição da América do Sul.
E por mais que este título pareça algo inalcançável, não custa nada sonhar, mesmo sendo “aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro”.
“Eu acredito na rapaziada” do Glorioso!
De ser campeão e comemorar comendo pão.
De açúcar que é para compensar o café sem.
Como diz a letra do por muitas vezes censurado Gonzaguinha em Se meu time não fosse o campeão: “Hoje eu só quero saber da comemoração / E nem quero pensar: se meu time não fosse campeão / Sorrindo ele me segredou: nós fazia uma revolução”!