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ÍDOLOS DA NAÇÃO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Zico, Júnior e Leandro são ídolos eternos da Nação Rubro-Negra e amigos de vida. Eles
representam a geração que conquistou inúmeros títulos nacionais, além de torneios
internacionais, culminando com o Mundial, em Tóquio. Júnior não discutia contrato: “Meu
salário é metade do que recebe o Galo”. Leandro entrava na sala do dirigente George Helal e
logo saía, avisando que tinha renovado. Zico cobrava faltas até anoitecer. Nem goleiro tinha
para auxiliá-lo. A barreira móvel ficava em posições alternadas e diante de várias bolas.
Marcelinho Carioca, ainda juvenil, observava as cobranças e apanhava as bolas atrás do gol.

O maior time da história do Flamengo tinha Leandro na lateral-direita e Júnior, na esquerda.
Júnior atuava como segundo homem de meio-campo. Devido à concorrência, foi para a lateral-
direita e, quando Leandro subiu para os profissionais, trocou de lado. Júnior, seria um dos
maiores cobradores de falta do futebol. Não batia porque jogava com Zico. Também há que se
falar de Dida, ídolo do Zico e segundo maior artilheiro da história do clube, com 264 gols em
358 partidas. Só foi superado pelo próprio Zico, com 509 gols marcados em 732 jogos. Júnior,
por sua vez, é quem mais vestiu a camisa rubro-negra, com 876 jogos.

Leandro, quando a situação estava difícil em campo, gritava para o goleiro Raul: “Toca a bola
em mim”. Usava tanto a perna direita como a esquerda, e driblava para os dois lados. Num
Bahia x Flamengo na Fonte Nova, Valter, atuando na zaga, saiu driblando vários adversários, desde a sua área até o meio-campo. A torcida baiana aplaudia de pé, comemorando o futebol-
arte que encantava o mundo. No intervalo, pergunto ao Valber: “Que jogada é essa?”. Resposta
imediata: “Baixou o espírito do Leandro”.

O grande locutor esportivo Jorge Curi, apaixonado pelo Flamengo, tinha adoração por Leandro.
A família atendeu ao desejo do Curi de ser sepultado em sua terra natal, Caxambu/MG, com a
camisa 2 que recebeu do ídolo. Curi gostava de falar sobre Leandro: “Que habilidade! Podia ser
o camisa 10 em qualquer time”.

No início de 2020, uma enquete do jornal “O Globo”, em parceria com o “Extra”, apontou Zico,
Júnior e Leandro como os maiores ídolos da história do Flamengo. Na época da pesquisa,
Gabigol começava a decidir e conquistar títulos memoráveis. Carismático, a cada vitória,
orquestrava do gramado uma grande festa no Maracanã.

Embora hoje desmotivado, em má fase e sem apoio da comissão técnica e da diretoria, Gabigol
é outro nome para figurar na prateleira dos maiores que vestiram a camisa do clube mais
querido do Brasil.

CALMA, É O VASCO

por Wesley Machado

Encontro no corredor do serviço com o amigo vascaíno Márcio.

– O Vasco não vai cair – afirmo.

Márcio retruca.

– Calma, é o Vasco.

Márcio tem razão.

Muita calma nessa hora.

Ainda faltam 23 rodadas.

E a roda do futebol gira rápido.

Como uma roda gigante.

Um dia se está por cima.

Outro dia se está por baixo.

Como a vida.

E o vascaíno tem razão em conter a euforia.

Os últimos anos têm sido de muito sofrimento.

Mais do que o meu Botafogo.

A recepcionista Luciana, que ouviu minha conversa em voz alta com o Márcio, me pergunta.

– Você é vascaíno?

– Não, sou botafoguense – eu respondo.

Mas gosto muito do Vasco.

Admiro sua torcida, sua história.

Sábado, meu cunhado vascaíno Felipe sentou-se ao meu lado na sala da minha casa para assistir comigo ao clássico da amizade.

Deu no que deu.

Empate.

Mas o Vasco é o time da virada e sua padroeira é Nossa Senhora das Vitórias.

E de vitória em vitória, com os gols do Pirata Vegetti, o Cruzmaltimo vai enxergando a saída dessa maré de azar.

Porque lá para baixo nem pensar.

Avante Gigante da Colina!

Saudações de um alvinegro amigo que torce por vocês!

PONTE PARA O CÉU

por Wesley Machado

– Nunca critiquei.

Entre expressões que se popularizaram no futebol, esta recente também pegou.

É utilizada em forma de ironia para se desculpar com um jogador que havia criticado.

– Queimei a língua, antigamente se falava.

E foi o que aconteceu na quarta-feira passada no jogo do Botafogo contra o Cuiabá fora de casa.

O lateral direito reserva, uruguaio Mateo Ponte, de apenas 21 anos, é um jogador inconstante. Erra e acerta, na maioria das vezes erra mais que acerta.

Mas nesta partida não.

Ponte acertou muito mais que errou.

No primeiro gol do Botafogo, marcado por outro jovem, Kauê, também de 21 anos, Ponte recupera a bola no lance que resultou no tento de abertura do placar.

Ainda na primeiro tempo, o zagueiro Halter cometeu um pênalti infantil, que o paraguaio Pitta, de 24 anos, converteu.

Halter falharia outra vez diante de um endiabrado Pitta, que incorpora o demônio contra o Botafogo.

Mas o goleiro John salvaria o Botafogo.

A jogada foi invalidada por impedimento.

O botafoguense está destinado a sofrer.

O sofrimento é algo religioso.

E o Botafogo é minha religião.

Eis que quase aos 30 minutos da etapa final, Ponte recebeu uma bola pelo lado direito de ataque.

Ele domina e dá o passe para Júnior Santos, que dribla e chuta no canto.

O goleiro Walter dá o rebote e a bola sobra para Ponte chutar forte para dentro da meta.

Foi mais um gol da vitória de Ponte, assim como na segunda rodada, em mais um dia sofrido para os botafoguenses que terminou com uma alegria.

Ironias da vida e do futebol que nos prega peças como esta do jogador crucificado que se torna redentor.

LIÇÕES DO MESTRE EVARISTO

por Zé Roberto Padilha

Evaristo de Macedo, além do excepcional jogador que foi, deu a cada um atleta que treinou lições definitivas. E uma delas veio à tona quando um jogador uruguaio foi expulso. E o Brasil voltou para o segundo tempo com um jogador a mais.

No Santa Cruz FC, onde nos treinou no final dos anos 70, aconteceu algo parecido na Ilha do Retiro. Um jogador do Sport foi expulso e perdíamos por 1×0. A primeira coisa que fez foi me tirar do time. Era um ponta esquerda que armava as jogadas e ele colocou o Joãozinho, um ponta ofensivo, no meu lugar. E viramos o jogo.

Chateado, claro, com a substituição, na representação ele explicou sua atitude.

Evaristo disse que com um a mais você só leva vantagem se abrir o campo. Literalmente. E para isso ele precisava abrir os espaços com dois pontas ofensivos. Se colocasse mais um atacante, afunilaria as jogadas e facilitaria a marcação.

Uma pena que Dorival Jr não tenha assistido essa aula. Com espaços reduzidos, às vezes ter um a mais até atrapalha.

NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO

por Claudio Lovato Filho

(Crédito da foto: Divulgação/Acervo CBF)

Eu fazia o 2º ano científico no Instituto Educacional São José, na Avenida Alberto Bins, centrão de Porto Alegre. Naquele 5 de julho de 1982, a saída do colégio foi diferente: rápida, sem bate-papos na calçada. Percorri o trajeto de sempre com o passo apertado como nunca: Alberto Bins, Coronel Vicente, Independência, Santa Casa, João Pessoa, República até, enfim, chegar à Sofia Veloso, edifício Corinto. Do centro para a Cidade Baixa em alguns minutos, com a cabeça na Espanha. A comida já estava pronta, foi só fazer o prato e acomodá-lo sobre o banquinho, em frente à TV, na sala. À direita, o janelão deixando ver, ao fundo, sob um céu de poucas nuvens, o Guaíba. Era um dia bonito de inverno. Então aconteceu. O Brasil em campo mais uma vez. Aquele time. Que time. E deu no que deu. O empate nos bastava, mas aquele time jamais jogaria para empatar. Perdemos, fomos eliminados, mas não da memória, não dos corações. Foi lindo, meus amigos. Foi puro encantamento enquanto durou. “Enquanto durou”? Não. Dura até hoje. A magia permanece. Vida que segue; assim é, assim sempre será, e, menos de um ano e meio depois desse doloroso 5 de julho de 1982, tive aquela que é, até hoje, a minha maior alegria no futebol: a conquista do campeonato mundial de clubes pelo meu Grêmio, em 11 de dezembro de 1983, em Tóquio. A vida seguindo, bela que só ela. O São José não existe mais, virou centro de convenções do Hotel Plaza San Rafael, que fica do outro lado da Alberto Bins. O apartamento da Sofia Veloso há muito deixou de pertencer à família, e eu saí de Porto Alegre há 36 anos para atender aos chamados do trabalho e cair no mundo. O futebol, no entanto, prossegue garantindo que (lembrando Neruda) o menino que eu fui continua vivo dentro de mim, porque temos um trato indissolúvel.