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ELE AINDA ESTÁ AQUI!

por Zé Roberto Padilha

Ao contrário das últimas Copas do Mundo, não iremos mais fazer nossas pré-temporadas na Europa. Aquela preparação longe do carinho do torcedor, que nunca mais levou sua seleção pelos braços até o Galeão, como fez o Fluminense, como fez o Botafogo.

Pátria amada, Brasil.

Da última convocação, para o Catar, 96% dos convocados jogavam longe daqui, atuaram com treinadores que limitavam, como Guardiola, Ancelotti, toda a criação ilimitada do jogador brasileiro.

Muitos nem falavam mais português.

Tic-tac, dois toques, poucos dribles e foram moldando os Meninos da Vila, os Guerreiros de Xerém, os sobreviventes do Ninho em atletas tão previsíveis como os croatas. E os suecos.

Com a volta do nosso camisa 10, a última genialidade produzida pelos laboratórios do país do futebol, estamos recuperando boa parte do nosso acervo esportivo. Não precisaremos mais dar a bola de ouro da revista Placar para um 10 equatoriano (Savarino), um uruguaio (Arrascaeta) um francês (Paye) e um colombiano (Arias).

O do Corinthians também não é o Rivelino. É um outro argentino.

A volta do Neymar é mais do que uma festa bonita que aconteceu na Vila Belmiro. É o reencontro do Brasil com seus meninos que valem ouro. E nos elevaram a alcançar a hegemonia do futebol mundial.

A Libertadores foi apenas um aperitivo. Com Neymar, e tudo que retorna à sua volta, a próxima Copa do Mundo será de novo nossa.

AH! O MARACANÃ…

por Zé Roberto Padilha

Certa tarde, mais precisamente, dia 4 de abril de 1976, Flamengo x Vasco se enfrentavam pela terceira rodada do Campeonato Carioca. Era apenas o primeiro clássico. Nenhum apelo maior.

Era um domingo de praia e, na saída, 174.440 mil pessoas tiveram a mesma ideia: “Vamos ao Maracanã?”

Estava na sala de aquecimento, vestia a 11 rubro-negra e a sala tremia. Algo de estranho deve estar acontecendo do lado de fora, pensamos. Um terremoto?

Aí chegou o trio de arbitragem e pediu para seguramos 10 minutos, para melhor acomodar tanta gente que surgia. Depois, voltaram a nos pedir mais 20 minutos. Tinha gente invadindo o anel superior porque não tinha mais espaço nas arquibancadas, nas cadeiras e na geral.

174.440 pessoas foram nos ver jogar. O terceiro maior público da história do Maracanã e de todos os estádios do mundo. Um barulho ensurdecedor se fez logo aos 4 minutos quando Zico deixou Geraldo na cara do gol e ele rolou para Luizinho abrir a contagem. O jogo acabou 3×1 para o Flamengo.

O Maracanã, antes de se adaptar ao Padrão FIFA, era capaz de proporcionar ao ser humano comum o privilégio de puxar um contra-ataque com a energia de mais de cem mil pessoas. Quem jogou, certas noites acorda assustado e suado.

Viver algo parecido? Só se for marcada uma revanche no Rock in Rio.

Maiores públicos pagantes da história do Maracanã

1 – 183.341 – Brasil 1 x 0 Paraguai – 31/8/1969 (Eliminatórias)

2 – 177.656 – Fluminense 0 x 0 Flamengo – 15/12/1963 (Carioca)

3 – 174.770 – Flamengo 1 x 1 Vasco – 4/4/1976 (Carioca)

4 – 174.599 – Brasil 4 x 1 Paraguai – 21/3/1954 (Eliminatórias)

5 – 173.850– Brasil 1 x 2 Uruguai – 16/7/1950 (Final da Copa do Mundo)

6 – 171.599 – Flamengo 2 x 3 Fluminense – 15/6/1969 (Carioca)

7 – 171.599– Botafogo 0 x 0 Portuguesa-RJ – 15/6/1969 (Carioca)

8 – 165.358 – Flamengo 0 x 0 Vasco – 22/12/1974 (Carioca)

9 – 162.764 – Brasil 6 x 0 Colômbia – 9/3/1977 (Eliminatórias)

10 – 162.506 – Flamengo 2 x 1 Vasco – 17/10/1954 (Carioca)

OS RISCOS DA REJEIÇÃO

por Idel Halfen

Não sei se por “desculpa” ou por falta de conhecimento, muitas propostas de patrocínio esportivo, principalmente no futebol, não “vingam” pelo receio de eventuais rejeições por parte dos torcedores dos times adversários.

Negar que a rejeição pode existir seria leviano, porém, é importante pontuar que da rejeição à efetiva “não compra”, há uma enorme trajetória, ou seja, o fato de não se ser simpático a algo, não necessariamente significa que esse algo não será consumido.

Nesse processo, é preciso considerar algumas variáveis, entre as quais cito:

  • A categoria de produto – seguros, eletrodomésticos, carros e contas bancárias, por exemplo, são mais difíceis de serem trocados do que refrigerantes, detergentes e grande parte dos bens de consumo.
  • O grau de fanatismo do torcedor – há pessoas que, provavelmente, deixarão de consumir produtos dos patrocinadores do rival, porém, esse montante não deve ser muito significativo, da mesma forma que não é o relativo aos que prestigiarão o apoiador do seu time.

Aliás, a própria avaliação sobre o tema fica prejudicada, pois, em nome de uma suposta simplicidade – talvez simploriedade – alguns erros são cometidos, dentre os quais destaco:

  • Comparar as vendas de antes e depois do patrocínio, ignorando que fatores como preço, distribuição e ações da concorrência influenciam esse indicador. Isso sem falar que, dependendo do intervalo de avaliação, o sell-in (vendas para varejistas, distribuidores e atacadistas) pode mascarar o sell-out (vendas ao consumidor final).
  • Focar demais a mídia espontânea, visto usualmente realizarem cálculos que desprezam tanto as negociações entre clientes e veículos, como a assertividade no que tange ao público atingido e à qualidade do que se quer comunicar.
  • Valorizar os números apurados em pesquisas de recall, pouco se importando se a lembrança é positiva ou negativa.

Em resumo, baseado na “simplória” busca pela exposição da marca, abdica-se de incorporar e enaltecer a associação da marca à atividade esportiva, rica em valores que certamente agregariam muito mais benefícios à imagem do que simplesmente estar exposto ou ter o nome repetido tal número de vezes, gerando até eventuais incômodos no receptor da imagem e, quem sabe, aumentando a rejeição.

O futebol e o esporte de modo geral são plataformas poderosíssimas para as marcas e, se bem utilizadas, podem passar longe das eventuais rejeições, basta entender que, por mais que estejam apoiando organizações esportivas, a iniciativa presta um serviço muito maior que é o fomento do esporte e, consequentemente à educação.

As organizações, por sua vez, precisam entender que as rivalidades devem ficar restritas às arenas e que a busca pela vitória não faz do adversário, um inimigo. Nesse processo de conscientização, cabe aos dirigentes manter o respeito e, sobretudo, entenderem que, falando pela organização, reverberam sentimentos e atitudes.

Portanto, ainda que a rejeição possa existir, há como minimizá-las através de atitudes em prol do esporte.

QUE FALTA NOS FAZ A INTELIGÊNCIA

por Zé Roberto Padilha

Inacreditável a falta que um dos últimos pensadores do nosso futebol, Paulo Henrique Ganso, faz ao nosso futebol.

Início de temporada, onde o cérebro precisa trabalhar mais pois as pernas já não ocupam os espaços que o Maricás, que se apresentaram antes, estão dominando, você percebe que não há ninguém pensando algo diferente para furar um bloqueio, deixar um companheiro na cara do gol.

Pode juntar os QI de Bernall, Renato Augusto, Nonato, Isaac, acrescentar as limitações técnicas de Guga e René, adiantar um pouco o que restou de motivação ao Thiago Silva, ao jogar em um estádio vazio depois de anos de casa cheia na Premiere League que..

Rodrigo Lindoso, aquele mesmo que começou no Madureira, foi para o Botafogo na década passada e retornou para se despedir do futebol, acaba tomando conta do meio campo. Ao seu lado, Marcelo, 36 anos, nem precisava de tantos anos para dar ao meio campo do Madureira a maior posse de bola.

Mas como aprendi no mundo do futebol, nunca se perde uma viagem a uma partida de futebol. Um magrinho, hábil e insinuante, Wallace; do Madureira, apresentou um repertório interessante que não nos permitiu trocar de canal.

Porque certamente no Show do Milhão deve ter participantes com respostas mais inteligentes do que as apresentadas pelo meio campo tricolor.

FUTEBOL NA RUA

por Cláudio Lovato Filho

Um dia desses, fim de tarde, vi a gurizada jogando bola na rua.

No meio da rua.

Pedras fazendo as vezes de traves.

Eu vinha do mercado, carregando sacolas; parei.

Eram uns nove, dez garotos, de dez, onze anos de idade.

Pés desacalços, a disputa eufórica pela bola.

“Faz tempo que o senhor não vê isso, né?”, perguntou um sujeito que se aproximou de mim.

“Faz”, respondi. “Faz bastante tempo”.

O sujeito, ainda jovem, devia ser familiar de algum menino ali, talvez um tio, não perguntei.

“A gente está querendo fazer mais isso aqui”, ele disse.

“Que bom saber disso”, falei. “Que bom”, repeti, e fiquei mais um tempo ali, em silêncio, observando a cena.

Então segui meu caminho, andando num canto da calçada, colado às casas, para não atrapalhar o jogo.

Fui embora me perguntando quando aquilo se perdeu, quando as criançada deixou de jogar bola na rua.

E me perguntei, mais uma vez na minha vida, o que isso significou de perda para o futebol e para a infância.

O futebol e a infância.

Na rua.

Longe do encaixotamento das quadras esportivas dos condomínios e clubes sociais.

Sem o filtro limitante e distorcido da tecnologia e sua realidade virtual.

Apenas a realidade lúdica ao vivo e a cores, emocionante como só ela pode ser.

A bola, o asfalto, o meio-fio.

Faça chuva ou faça sol (melhor com chuva.)

A cidade.

O bairro.

O local de pertencimento (que não prende; ao contrário: liberta para o mundo, para a vida).

Um gol.

A gritaria, as risadas, a discussão.  

A alegria e a liberdade ensinando o drible aos pés. 

E deflagrando uma paixão.

Paixão que ajuda a definir uma identidade.

Uma verdade.

A verdade mais essencial.

O ser de onde se é.

O ser quem se é.