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SAF – FORMAR, VENDER, TALVEZ VENCER

por Idel Halfen

Com o advento da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) alguns grupos internacionais, já proprietários de times em outros países – multi-club ownership –, estão adquirindo participações em clubes brasileiros.

Que a SAF, independentemente das falhas de modelagem, aparece como tábua de salvação para a maioria dos clubes endividados no Brasil ninguém tem dúvida, no entanto, é importante não criar a expectativa de que com ela o time passará a ser favorito a conquistar todos os títulos expressivos que disputar. Sim, somos torcedores, a esperança move nossas crenças e motivações, mas, mesmo apaixonados, não podemos abrir mão da razão. É preciso procurar entender a lei.

Essa estabelece que o clube associativo fica com a incumbência de sanar as dívidas trabalhistas, fiscais e esportivas, cabendo à SAF, responsável pela gestão do futebol, a obrigação de repassar 20% de suas receitas – não incluídas aqui as auferidas através da venda de jogadores – para o clube poder arcar com os débitos cíveis e trabalhistas. 

Mas, então, como serão pagas as dívidas fiscais e esportivas? Se entendermos a SAF como sucessora, é de se esperar que esses débitos recaiam sobre ela.  

Não precisa ser um grande financista para perceber que para esses grupos, diante das verbas investidas, a operação só será lucrativa através da comercialização de jogadores, o que faz com que os melhores sejam negociados antes mesmo de poderem proporcionar ganhos esportivos aos seus times brasileiros.

Piora a situação, o fato de que muitos desses grupos abrigam em seus portfólios clubes europeus em ligas mais valiosas, ou seja, possuem vitrines mais “eficazes”.

Por mais identificação e carinho que os principais acionistas dos grupos tenham por seus respectivos clubes, eles jamais poderão abrir mão dos objetivos que os fizeram aportar dinheiro na aquisição: remunerar o capital que aplicaram, até porque, muitos são fundos constituídos de investidores que nem sabem o que é gol, mas querem retorno do que investiram.

Saindo da esfera do futebol, temos no mercado corporativo centenas de situações em que uma mesma empresa opera através de suas filiais em outros países sem que haja um padrão de atuação. Em alguns têm fábrica, em outros terceiriza a produção ou importa os produtos acabados. A formulação, a embalagem e até os nomes podem variar para atender às necessidades do consumidor local, isso sem falar no portfólio que sofre a influência da conjuntura socioeconômica do país. 

O parágrafo acima tem como intuito mostrar que numa economia cada vez mais globalizada, as empresas precisam equacionar seus recursos, de forma obter o melhor resultado possível para o grupo/holding, ainda que em algumas regiões os desempenhos sejam inferiores a outros. 

Assim também é no futebol. Os recursos dos grupos devem ser alocados baseando-se na busca pela composição ótima de retorno, seja ele através de premiação, venda de jogadores ou demais receitas recorrentes que possam ser influenciadas pela gestão do time.

O artigo, é bom ressaltar, não condena os clubes que optaram pelo modelo de SAF ao fracasso, longe disso, na verdade, a SAF foi a salvação. O que se pretende mostrar aqui é que, da forma que a lei foi promulgada, os clubes não podem ter pretensões tão ambiciosas quanto à esperança do torcedor.

de mal a pior

::::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Se quem viu os áureos tempos do futebol brasileiro sofre com o nível técnico atual, imagina quem esteve dentro de campo fazendo a torcida sorrir os 90 minutos? Pois é, amigos! Clodoaldo, Lima, Mengálvio, Edu, Abel e Manoel Maria honraram a camisa do Santos e devem sofrer com o time atual do Peixe, lanterna do Grupo A do Campeonato Paulista, atrás de Bragantino, Inter de Limeira e Botafogo-SP. Para se ter noção, o alvinegro empatou com São Bernardo, Ferroviária, Água Santa e perdeu para o Palmeiras no último fim de semana. Peguei o Santos como exemplo, muito pela minha relação com o clube. Embora nunca tenha atuado por lá, sempre gostei muito do Peixe e, na infância, cansei de torcer por Pelé e cia. Mas a verdade é que esse “vírus” ataca o futebol brasileiro como um todo. Se antes cada clube tinha pelo menos três craques fora de série, hoje não temos mais nenhum no Brasil. Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Vasco, Fluminense, Botafogo, Flamengo… Nenhum desses! E olha que a imprensa vive tendo emplacar um novo craque, quando surge um menino que faz duas ou três embaixadinhas. No meu Botafogo, por exemplo, bastou o Jeffinho fazer algumas boas partidas que já se transferiu para a Europa. Torço muito pelo sucesso do garoto e consigo enxergar um potencial, mas precisamos ter calma antes de taxá-lo de craque. Talvez o último jogador um pouco diferente dos demais seja o Vinicius Jr., que vem sendo alvo de ataques racistas na Espanha. Por perder as contas das inúmeras vezes que fui ofendido no Maracanã, tenho propriedade para falar que a melhor resposta dentro de campo, aplicando chapéu, caneta e metendo gol! Por falar em futebol europeu, acompanhei a rodada do Campeonato Inglês e, como um bom fã das zebras, celebrei as derrotas de Arsenal, Manchester City e Liverpool. É bom o Arsenal abrir o olho para não perder a vantagem que construiu nas primeiras rodadas. Não poderia terminar a coluna sem homenagem a querida Glória Maria, lenda da TV brasileira que nos deixou recentemente. Se Angela Davis é uma grande ativista pelos direitos dos negros e das mulheres, via a Glória Maria como a maior repórter negra, referência para muitos talentos. Deixou um legado gigantesco e um vazio enorme em nossos corações! Descanse em paz!

Pérola da semana:

“Para explorar o X1, o central aciona o jogador de beirinha através da ligação direta e espeta as linhas de quatro ou cinco com a bola viva por dentro para atacar os espaços”.

“Com intensidade e consciência, o time consegue ser explosivo na diagonal e na vertical para surpreender o adversário no último terço do campo, centralizando a segunda bola”.

Geraldinos, haja saco e paciência para entender tantas asneiras dos analistas de computadores!

O CRAQUE QUE NÃO JOGOU COPA

por Elso Venâncio

Dirceu Lopes foi um dos maiores craques da sua geração. Nasceu em Pedro Leopoldo, região metropolitana de Belo Horizonte, terra de outro mineiro inesquecível, o imortal médium Chico Xavier.

O esquadrão do Cruzeiro que surgiu na metade da década de 60 é, até hoje, o maior time da História do clube. Destaque para uma dupla genial, que dava espetáculos com futebol-arte e conquistava títulos em série.

Tostão era o ‘Rei Branco’, apelido dado pelos ingleses após a Copa de 70. ‘O Príncipe’ chamava-se Dirceu Lopes. Baixo – media 1,62 m –, o meia tinha dribles curtos, era rápido no toque de bola e ainda armava e chegava com tudo para concluir de forma letal.

A equipe celeste entrou para a História ao vencer o Santos de Pelé por duas vezes consecutivas. No Mineirão, goleada: 6 a 2. No Pacaembu, em São Paulo, 3 a 2 de virada, para conquistar a Copa Brasil de 1966, o Campeonato Brasileiro da época. Foi o primeiro título nacional do futebol mineiro.

Raul, Pedro Paulo, Willian, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Hilton Oliveira. Que timaço!

Esta conquista foi um marco. Antes dela, as joias que surgiam seguiam direto para o futebol carioca ou paulista. Além disso, eram convocados para a seleção somente quem jogava no eixo Rio-São Paulo. Tostão foi o primeiro chamado que atuava em seu estado natal. Disputou a Copa de 1966 e ainda marcou um gol, contra a Hungria, na derrota por 3 a 1, jogo que marcou a despedida de Mané Garrincha da seleção brasileira em partidas oficiais.

Dirceu Lopes, mesmo sendo meia, é o segundo maior artilheiro da Raposa, com 223 gols. Só é superado por Tostão, autor de 245.

No dia em que João Saldanha teve seu primeiro contato com a imprensa na antiga CBD, localizada na Rua da Alfândega, no Rio de Janeiro, perguntaram se ele, como novo técnico da seleção, já tinha em mente quem convocaria.

– Como? – retrucou, sério, o João ‘Sem Medo’.

Calmamente, tirou um papel do bolso e anunciou os titulares.

– São 11 feras!

Dirceu Lopes foi uma dessas feras nas Eliminatórias. O Brasil não empatou um jogo sequer em 1969.

Saldanha anunciou o time que mandaria a campo: Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Djalma Dias e Rildo; Piazza, Gerson e Dirceu Lopes; Jairzinho, Pelé e Tostão. Rivellino, o ídolo de Diego Maradona, era reserva.

Dirceu Lopes seguramente seria uma das atrações na Copa do México. Porém, o comunista Saldanha acabou sendo demitido após tanto criticar os generais em tempos de ditadura militar. Zagallo assumiu e surpreendeu ao cortar de cara o ídolo do Cruzeiro.

Definitivamente, Dirceu Lopes não ter jogado uma Copa é uma das maiores injustiças da História do futebol.

O MEU LATERAL-ESQUERDO

por André Felipe de Lima

Marco Antonio Feliciano foi daqueles laterais esquerdos fora da curva. Foi campeão com a seleção brasileira na Copa de 70 e conquistou títulos pelo Fluminense e o Vasco. Minha relação com Marco Antonio é especial porque foi ele o lateral esquerdo, também, do meu time de botão quando eu tinha uns nove anos de idade. Era o Orlando Lelé na direita e ele na canhota. Não abria mão de ambos. E esta reverência ao Marco Antonio é ainda maior porque o jogador esteve na final do campeonato carioca de 1977. Vibrei feito um doido, um menino maluquinho, encantado com aquela escalação campeã que sei de cor e salteado. Nunca a esqueci: Mazzaropi, Orlando, Abel, Geraldo e Marco Antônio. Zé Mário (estupendo! O craque do jogo), Zanata (depois entrou o Helinho) e Dirceu. Wilsinho (depois o Zandonaide), Roberto Dinamite e Paulinho (que jogou no lugar do Ramon, o titular). O treinador era o “Titio” Orlando Fantoni. Marco Antonio esteve soberbo naquele jogo sem dar mole para as avançadas do Ramirez (depois as do Tita) e do Toninho, um lateral desesperadamente improvisado na ponta direita. Fomos campeões, e isso é que importa. Dona Agripina tinha muito orgulho do filho Marco Antonio. Afinal, era um garoto ajuizado que a ajudava entregar quentinhas e que um dia quis ser detetive, mas foi como jogador que Marco Antonio brilhou à beça e enchia de lágrimas os olhos da mãe extremosa. O cara foi cinco vezes campeão carioca. Quatro pelo Fluminense e uma pelo Vasco. Isso é para poucos. Lembro até o hoje o dia em que abri uma embalagem do chiclete Ping Pong com alguns cartões da coleção Futebol Cards. Deparei-me com o do Marco Antonio. Foi uma felicidade indescritível. Hoje, dia 6, é aniversário dele. Parabéns, Marco Antonio, o meu lateral-esquerdo.

a uma partida do paraíso

por Zé Roberto Padilha

Faltavam dois jogos para terminar o Brasileirão de 1975. E a revista Placar, a Bíblia da bola, colocava meu nome na liderança para ganhar a Bola de Prata de melhor ponta-esquerda. Não tinha criança disputando a posição.

Lula, Mário Sergio, Paulo Cézar Caju, Joãozinho, Sérgio Américo, Ziza…

A Bola de Prata era o nosso Oscar. Levou pra casa, nunca mais ficaria desempregado. Nem precisava de empresário, era só colocar debaixo do braço e assinar um outro contrato no clube a escolher..

Recebi uma carta da Editora Abril nos informando, em caso de confirmada minha liderança, que seria entregue em São Paulo, durante o Programa Clube dos Artistas, na TV Tupi. De Airton Rodrigues e Lolita.

E lá fui eu comprar um terno novo na Windsor.

Daí perdemos nas semifinais para o Internacional, por 2×0, no Maracanã, e ficamos de fora das finais. Pelo menos para mim e para o Marco Antonio, da Máquina Tricolor que tinha atropelado todo mundo, restava o consolo do troféu. E quando fui buscar a revista dia seguinte no jornaleiro, meu nome sumira da lista.

Sabe aquele contrato que você assina e não lê? Pois é, no regulamento, que nenhum jogador presta atenção, só na sua colocação, estava escrito: quem não completou 14 jogos , ou não terá chances de fazê-los, já esta de fora da VI Bola de Prata.

Liguei para o Fluminense, sempre bom no tapetão, e solicitei o número de partidas que atuara. Valia ter entrado no segundo tempo. A resposta foi cruel: 13. Disputara 13 partidas.

Será que o regulamento não dava um desconto porque nenhum jogador, por melhor fase que estivesse passando, conseguiria ser titular absoluto, jogar tantas partidas, disputando a posição com Mário Sergio e Paulo Cézar?

Enfim, os dias mais tristes que tive no futebol: no domingo, perder em casa as chances de disputar uma final. Na segunda, perder o mais cobiçado troféu por uma partida.

Família forte, unida, caso contrário, beira do mar, cervejinha, caipirinha..