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EM 1986, FLAMENGO 4 X 1 FLUMINENSE E SHOW DE ZICO

por Luis Filipe Chateaubriand

No início do ano de 1986, primeira rodada da Taça Guanabara, Flamengo e Fluminense se confrontaram no Maracanã.

De um lado, Zico, Sócrates e Bebeto, dentre outros.

Do outro, Romerito, Assis e Washington, dentre outros.

Veio o primeiro tempo.

Aos dez minutos do primeiro tempo, Adalberto cruzou pela esquerda e Zico, de “peixinho”, fez o gol de cabeça.

Flamengo 1 x 0 Fluminense.

Aos 44 minutos do primeiro tempo, Leomir cobrou pênalti com perfeição.

Flamengo 1 x 1 Fluminense.

Veio o segundo tempo.

Aos 27 minutos do segundo tempo, Zico bateu falta com perfeição absoluta!

Flamengo 2 x 1 Fluminense.

Aos 30 minutos do segundo tempo, Bebeto penetrou na área pela direita e chutou em gol com extrema felicidade.

Flamengo 3 x 1 Fluminense.

Aos 35 minutos do segundo tempo, Zico bateu pênalti de forma irreparável.

Flamengo 4 x 1 Fluminense.

O brilho de Zico no jogo não se resumiu aos três gols que marcou.

Bateu falta no travessão.

Deu passe a Adalberto de calcanhar.

Fez lançamento de bicicleta.

E até “matar” a bola com as nádegas, para dar agilidade à jogada (como ele mesmo confirmou), fez.

Em resumo, aquele dia do início de 1986 foi o dia de Zico!

ALBERI, ORFANDadE DO GÊNIO ETERNO

por Rubens Lemos Filho

O futebol potiguar está órfão desde o dia 28 de outubro de 2022, quando o corpo do gênio Alberi adormeceu para sempre. A falta dele está em todas as referências ao amor à bola.

Mesmo assim, ventos imaginários sopram fortes e uivantes, lenços brancos cruzam os portões ancestrais do Estádio Juvenal Lamartine e os céus sobre a paisagem do antigo Castelão(Machadão). Em festa, soam trombetas, tocam clarins, bandeiras são hastearás em heráldica fúnebre, ode ao Rei morto, Alberi José Ferreira Matos.

O espiritual e a ilusão tratam de cumprir o ritual que os humanos naturalmente não farão dentro da liturgia adequada. Há, nos bares decadentes, na aposentadoria e nos cemitérios, uma legião de gratos a Alberi pelos recitais de gênio negro esguio e solista, dono de corações que se unem na loucura superando limites lógicos, científicos, acadêmicos e teóricos. Alberi subvertia-os na intuição sanguínea.

Alberi, no Olimpo, faz 78 anos e corresponde, no Brasil, aos 79 anos de Ademir da Guia, aos 67 anos de Zico no Flamengo, de Roberto Dinamite no Vasco e aos 75 de Rivelino no Fluminense e no Corinthians.

O tempo passa e Alberi ficará para sempre. O maior dividindo polêmicas com o respeitável colégio eleitoral de Jorginho, o Professor, versão natalense do corintiano Luisinho, o Pequeno Polegar, que driblava e sentava na bola para humilhar o adversário. Tenho um amigo, o contabilista Eduardo Mulatinho, que não tem dúvidas.

Nem Garrincha – segundo o isento Mulato -, deu o drible aplicado por Jorginho em Bellini num amistoso ABC x Vasco em 1960. Bellini, dois anos após erguer a Jules Rimet no Estádio sueco de Rasunda, não caiu de bunda no acanhado JL porque se segurou no alambrado.

Ao passar, reverente, pelo estadinho salvo da especulação imobiliária, calculo Bellini, todo duro, arranhado pelos fios de arame farpado, enquanto Jorginho ria, de mãos na cintura, miniatura de açucareiro. O Vasco venceu de 6×2, mero e insignificante detalhe, segundo Mulato, que estava lá, na geral.

Alberi virou adjetivo de futebol no Rio Grande do Norte. Até 1972, dominava a cena, intocável, vindo de Pernambuco, nascido e criado na Praia do Pina, renegado pelo Santa Cruz que preferia o sergipano Mirobaldo. Sorte nossa. Alberi jogava muito mais e ao chegar a Natal descobriu-a berço e divisa. Aqui ele mandava e, ao sair, não repetia o deslumbre.

No primeiro Campeonato Brasileiro de Clubes, possível pela inauguração do Estádio de Lagoa Nova no bendito 1972, Alberi encontrou o tapete ideal para os seus desfiles.Dois ex-titulares do Vasco, o volante Maranhão e o meia-armador uruguaio Danilo Menezes, lhe permitiram liberdade total de atacar e triturar os marcadores famosos da fase fantástica do começo dos anos 1970, da febre do pós-tricampeonato da seleção no México.

Maranhão, Danilo Menezes e Alberi, escolhidos para o meio-campo do século passado, enfrentaram sem temer os grandes do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Minas Gerais, do Rio Grande do Sul e os rivais regionais. A maior exibição individual do Castelão, Alberi, aos 27 anos, fez contra o Flamengo, treinado por Zagallo.

Ponta de lança autêntico, em caça ao gol, descadeirou os volantes Liminha e Zé Mário em cortes bruscos e freadas inesperadas no gramado. “Marca a esquerda do Negão”, berrava Zagallo. Alberi desferia um torpedo de direita. “Marca a direita desse monstro”, Alberi mandava um canhão de canhota na trave do goleiro Renato, da seleção brasileira.

Atuação decisiva para que Alberi ganhasse a Bola de Prata, o Oscar do Futebol Brasileiro, superando nomes do nível de Jairzinho, Dirceu Lopes e Tostão. Recebeu proposta do Fluminense. Casa com piscina, carro, mas ficou. A raiz afetiva chamava-se Natal e o palco, o Castelão.

Alberi foi para o América em 1976. Em 1977, lá estava eu vendo-o ajudar o time rubro a conquistar o campeonato. Rodou por vários clubes. Foram busca-lo em Juazeiro do Norte(CE) para uma volta emocional ao ABC em 1981. Fez de pênalti, o gol do título do primeiro turno(1×1 com o América). Aos 78 anos, Alberi é concessão celestial ao Rio Grande do Norte.

Chegada
Alberi chegou ao ABC em 17 de janeiro de 1968.Nascido na comunidade pobre do Pina, vinha do Santa Cruz(PE).No primeiro treino, no Estádio Juvenal Lamartine, marcou três gols.

Estreia
Alberi estreou num 28 de janeiro e fez gol na derrota do ABC para o Santa Cruz por 3×2 no JL. Há 53 anos, quando cravava 23 de idade.

ABC
Com público de 3.567 pagantes, o ABC perdeu com Jarbas; Toinho Dantas, Piaba, Nivaldo Dantas e Otávio; Tonho Zeca e Jorge Segundo(Jairo); Cocó(Martinho), Elson, Alberi e Rocha. Técnico: Álvaro Barbosa.

Santa Cruz
O Santa Cruz: Naérsio; Agra, Reginaldo, Rivaldo e Jório; Norberto e Araponga (Luciano Veloso ou Coalhada, craque); Joel, Uriel, Erandy Montenegro(Fernando Santana) e Nivaldo (Fernando José). Técnico: Amaro Santos. Gols: Joel(2) e Uriel para o Santa Cruz, Cocó e Alberi para o alvinegro.

Títulos
Primeiro título em 1970, início do tetracampeonato no Castelão(Machadão). Em 1977, campeão no América. Na volta ao ABC, foi campeão em 1983 e 84, quase sem jogar.

arturzinho ou rei artur?

por Luis Filipe Chateaubriand

Artur dos Santos Lima, ou Arturzinho, foi um futebolista brasileiro que atuou entre meados dos anos 1970 e início dos anos 1990.

Carioca, começou sua carreira no São Cristóvão, tendo se transferido, logo em seguida, para o Fluminense.

Então, começou um périplo por diversos clubes brasileiros, como o Operário de Mato Grosso do Sul, o Internacional de Porto Alegre, o Bangu, o Vasco da Gama, o Corínthians, o Botafogo, dentre outros.

Ponta de lança que era, tanto preparava as jogadas para os artilheiros marcarem seus gols, como ele mesmo os marcava com frequência.

Teve seus melhores momentos no Bangu – quando este era clube grande – e no Vasco da Gama.

No Vasco da Gama, fez dupla com Roberto Dinamite, o que o levou a ser vice-artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1984 – sendo superado, apenas, pelo próprio Roberto Dinamite.

Mas seu grande momento foi no feriado de Sete de Setembro de 1983, quando formava no Bangu, e o clube alvirrubro se confrontou com o Flamengo.

Os banguenses aplicaram uma sonora goleada de 6 x 2 nos rubro negros, e Arturzinho teve atuação de gala – não se diga que só faltou fazer chover porque, inclusive, choveu naquela tarde / noite no Maracanã.

Em determinado momento, um torcedor do Bangu, entusiasmado com a atuação de Arturzinho, invadiu o gramado com uma coroa feita de papelão e, então, colocou a coroa na cabeça de Arturzinho.

Nesse momento, estava proclamado que Arturzinho era o Rei Artur!

Na Seleção Brasileira, jogou poucas vezes. Mas não há dúvidas: tratava-se de um senhor jogador de futebol! 

A DURA MISSÃO DE UM CAPITÃO

por Zé Roberto Padilha

Depois de anos com a camisa 11, no Americano FC, em 1983, aos 32 anos, descobri as delícias de usar a 10. Sérgio Pedro fazia o papel que exerci de ajudar na marcação. Se foi bom no campo, fora dele sofri com a braçadeira que herdei de capitão.

Penúltimo jogo do estadual, estava marcada uma viagem sábado para o Rio, hospedagem no Hotel Novo Mundo e jogo domingo contra o Bangu. Seria cumprir tabela, Bangu e Americano não disputavam o título nem corriam o risco de cair.

Como estavam atrasadas as gratificações, tive a ideia de viajar no dia da partida, domingo, e o dinheiro ecnomizado da hospedagem reverteria para nos pagar. Reuni o elenco, dei a ideia e a levaria para a diretoria.

E me surpreendi com a resposta dos dois. Como tinha que ter unanimidade entre os jogadores, dois deles (foto), Zé Carlos e Maciel, emprestados pelo Flamengo, não aceitaram. Alegaram que seriam observados. Mas, da diretoria do clube, não entendi a recusa. Viajar de Campos ao Rio nunca nos atrapalhou atuar.

Viajei inconformado, todo mundo ia sair de férias sem receber e aquela viagem resolveria em parte nosso problema. Durante o trajeto, vazou o real motivo dos jogadores: haviam marcados encontrar com as namoradas no Rio. Estavam com saudades.

Pior foi quando deixei o quarto e fui tomar meu Ovomaltine, no Bob’s, porque era viciado e Campos não tinha uma franquia naquela época. Notei que não tinha nenhum diretor vigiando nossa saída. E eles eram implacáveis nessa vigília. E perguntei na recepção:

– Cadê os homens?

– Estão no Asa Branca, show da Alcione. Tinham mesas reservadas há semanas…

Até aquela data sabia que éramos usados como válvula de escape, de “O pio do povo”, segundo Millôr Fernandes, mas nunca como o pretexto de Tróia. Pois os cavalos subiram para seus quartos, dois deles saciados de saudades das namoradas e sem vergonha na cara, e os soldados invadiram um cabaré de luxo para assistir Alcione.

As gregas, pobre coitadas, que se uniram aos cartolas campistas, ficaram em Campos, com bandeiras desfralfadas e filhos na cama, e antes de dormir rezaram por um resultado positivo.

A terceira porrada veio no campo: Bangu 1 X 0 Americano. Acho até que foi pouco.

DECISÃO EQUIVOCADA

por Zé Roberto Padilha

Tem que ser muito incompetente para demitir um treinador que, das três competições que foi chamado a disputar, venceu duas. E classificou o Flamengo para a final do Mundial de Clubes.

Não demitem o treinador quando perdem? E quando vão demitir os dirigentes responsáveis por sua saída?

Vitor Pereira não tem culpa de nada. Não conhecia o elenco, a ponto de tirar o Arrascaeta e o Éverton Ribeiro quando mais o time precisava de criação.

E Pulgar foi a piada final que simboliza toda a tragédia vivida pela nação rubro-negra. Uma covardia com a sua história.

Alguém tem que pagar essa conta, e ele é o diretor de futebol. E o presidente. Dois incompetentes. E irresponsáveis.