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SABIA QUE VOCÊ LEVA UM JEITINHO?

por Zé Roberto Padilha

Já havia escutado muitos comentários a respeito dos meus 17 anos dedicados ao futebol. Figura publica é pra isso mesmo, ser julgado a céu aberto. Quando o Fluminense ganhava, era polivalente. Quando perdia, era peladeiro.

Sempre vale o resultado. Ele conduz à glória e ao fracasso.

Mas naquele dia era um ex-atleta aposentado e secretário de esportes da Prefeitura de Três Rios. Dia do funcionalismo público, promovemos no Sesi um torneio interno entre todas as secretarias. Na final, entre a Setures, onde trabalhava, e a Guarda Municipal, um dos nossos deixou o campo lesionado.

O Professor André olhou pra mim e pediu: entra lá e segura o resultado. Nem estava de uniforme, tinha parado quatro cirurgias no joelho e duas fraturas nos tornozelos depois. Como entrar?

Estava 2×1 pra gente, não tinha mais ninguém para entrar e achei melhor mudar a roupa e tentar ajudar. Como era intervalo, o Iodex, a última unidade, prazo de validade vencido, o único com salicitado de metila, foi introduzido nas articulações.

Joguei, ou será que roubei, 20 minutos de “miguezinho” no meio campo. Apesar da minha colaboração, deu empate e perdemos nos pênaltis. Ao sair, um senhor se aproximou de mim.

E disse:

– Andei observando o senhor jogando, sabe que você leva um jeitinho pra coisa! Deveria ter tentado ser um jogador de futebol.

Na hora, pensei ser uma brincadeira. Mas falava sério, não me viu ou soube que tinha sido um. E sai do Sesi feliz pelo seu carinho. Nunca é tarde para um elogio mesmo dando um “miguezinho” no meio para segurar o resultado.

Desde então, tenho cruzado com ele pela cidade e sempre faz questão de dizer: “Ô meu jogador “. Nunca contei pra ele porque perderia um comentário inédito na minha carreira.

“Sabe que você leva um jeitinho pra coisa?”. Como dormir, então com 60 anos, sem um incentivo desses?

FUTSAL, PERDOAI-VOS, PORQUE NÃO SABEM O QUE FAZEM

por Marcos Vinicius Cabral

Na quinta-feira (9) da semana passada, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) excluiu o futsal dos Jogos da Juventude, principal competição escolar a nível nacional para jovens de 15 a 17 anos.

Organizador da modalidade esportiva mais praticada no país, o COB alegou que a decisão foi tomada em virtude dos recursos e das estruturas das cidades sede para a realização dos Jogos da Juventude que, no entendimento do comitê, são limitados. Além disso, com a exclusão do futsal, é possível que a inclusão das modalidades águas abertas, esgrima, tiro com arco e triatlo sirvam para estimular a prática desses esportes entre os jovens.

O Museu da Pelada conversou com Ana Moser, ministra de Esportes, que se mostrou surpresa que a decisão tenha sido tomada de forma arbitrária e sem um diálogo.

– A notícia da decisão unilateral do COB chegou a este Ministério por meio de manifestações de terceiros em redes sociais, o que não consideramos a forma adequada para a comunicação do fato de tamanha relevância! – destacou e completou, manifestando, ainda, o posicionamento contrário à tomada de decisão, já que o futsal esteve no programa dos Jogos Olímpicos da Juventude Buenos Aires 2018 e está no programa dos Jogos Olímpicos da Juventude Dakar 2026.

– Consideramos a exclusão dessa modalidade do programa dos Jogos da Juventude 2023 injustificável sob qualquer ponto de vista e solicitamos ao Comitê Olímpico do Brasil informar oficialmente a este Ministério os critérios adotados e a fundamentação da decisão de exclusão do futsal dos Jogos da Juventude 2023.

O Museu da Pelada procurou por nomes importantes do futsal para falar sobre a decisão.

Eleito melhor treinador de seleções do mundo em 2013, Ney Pereira, que já foi jogador da seleção brasileira de futsal, ficou decepcionado com a decisão e acredita que ela foi política.

– Surpreende-me de forma negativa essa decisão, já que o futsal é o esporte mais praticado no Brasil, não apenas nas escolas e nas federações. Por não ser um esporte olímpico, o futsal tem dificuldade em participar de competições e na opinião de quem sabe da importância dele a nível escolar, nada justifica essa exclusão. Acho que esse corte está mais ligado a questão política do que propriamente pelo interesse da modalidade em si! – revelou o atual treinador das categorias de base do Botafogo.

Já Marcelo Rodrigues, narrador dos jogos de futsal pelo SporTV, disse que não tem sentido a decisão e que além de ser um absurdo, é uma falta de respeito com os profissionais envolvidos que lutam para melhorar cada vez mais a modalidade.

– Há um desrespeito muito grande da própria Fifa que assume o futsal, mas não faz nada em especial no âmbito masculino e feminino para melhorá-lo. Para de ter uma ideia, a entidade máxima do futebol que é a Fifa, não tem uma representatividade no Comitê Olímpico Internacional. Mas no meu entendimento, o maior absurdo é que nos Jogos Olímpicos da Juventude, em que o futsal esteve presente, foi campeão, e o Comitê Olímpico Brasileiro abriu mão dessa modalidade agora. Lamento profundamente isso e acho uma estupidez sem tamanho do COI em não solicitar à Fifa que o esporte seja olímpico. Mas confesso que essa atitude em excluir o futsal dos Jogos Olímpicos da Juventude à espera de que novos atletas se interessem por modalidades esportivas em águas abertas, esgrima, tiro com arco e triatlo me surpreendeu. Se fosse uma decisão inversa, o êxito teria surtido mais efeito. Mas não dá para entender mesmo! – contou.

Para Octávio Bocão, comentarista da Botafogo TV e TV Max, a decisão gerou uma revolta em quem vive e trabalha no meio do futsal.

– Houve uma precipitação do Comitê Olímpico Brasileiro em relação a retirada dos Jogos da Juventude na modalidade do futsal. Isso acabou gerando uma revolta não só dos que praticam, mas também nos que estão inseridos na modalidade. O COB deveria consultar, por serem parceiros, as federações de futsal para que chegassem em um acordo e evidentemente não retirar precipitadamente gerando uma revolta em todos. Na realidade é uma revolta e não um descontentamento perante o ocorrido.

Tão importante como a prática em si do futsal, é a migração para o futebol de campo, que segundo Bocão, vai ser perdido no esporte que revelou jogadores como Neymar, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo Fenômeno, Zico, Vinicius Jr. e o rei Pelé, que jogou futebol de salão no Radium de Bauru na década de 1950.

– Há muitas perdas com essa decisão equivocada. Logo de cara, perderíamos a possibilidade de revelar grandes jogadores para o futebol de campo como já revelamos no passado. A partir do momento que você toma uma atitude em excluir uma modalidade esportiva como o futsal, você abre um precedente para tantos outros problemas negativos no cenário esportivo. A partir de um momento em que um esporte não presta mais serviço a uma competição tão relevante como os Jogos Olímpicos da Juventude tão importante no qual o Brasil esteve presente em Buenos Aires em 2018, pensa-se muito nas entidades escolares que repensam em investimentos no futsal. E os profissionais da área, que serão demitidos, como fica isso? Enfim, é uma situação bem desagradável e esperamos que o COB reflita na decisão tomada! – revoltou-se.

Ex-jogador, treinador multi campeão de futsal e grande parceiro do Museu da Pelada, Sérgio Sapo também não escondeu sua indignação com a decisão e fez um desabafo de salonista:

– Isso é um absurdo! Eu queria saber o que o Comitê Olímpico Brasileiro tem contra o futsal! Trata-se de um dos esportes mais praticados no mundo, são mais de 70 países inscritos na FIFA e até hoje não está nas Olimpíadas? Tem um monte de esporte que veio depois do futsal, passou por cima e já está na competição! Qual é a palhaçada que tem com as federações? Os amantes desse esporte deveriam se unir e ir lá no COB, na FIFA!

Como surgiu o futsal

Quando criou o futsal em 1934, o uruguaio Juan Carlos Ceriani queria proporcionar às crianças condições para jogar futebol em espaços reduzidos devido a não conseguirem encontrar um campo em dimensões oficiais.

Crianças como Marta, Ronaldinho Gaúcho, Zico, Ronaldo Fenômeno, Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, todos deram os primeiros chutes no futebol de salão. Sem contar em Manoel Tobias e Falcão, considerados os maiores nomes da modalidade.

Até o rei Pelé jogou futebol de salão no Radium de Bauru, como mostra a foto enviada por Abílio Macedo, parceiro do Museu da Pelada, com crédito de Claudio Aldecir Oliveira e que está publicada na página Craques e Esquadrões do Futebol no Facebook.

No registro, é possível ver o Atleta do Século com os companheiros Norberto, Aldo, Aniel, Paçoca, Vitor e Bodinho.

CONTRASTE NAS ARQUIBANCADAS

::::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::::

Poderia começar a coluna falando do Mundial de Clubes, dos clássicos pelos Estaduais, do golaço do Cano, mas tem um assunto muito mais sério que pouco se fala: a violência dentro e fora dos estádios. Não sei se a galera já se acostumou com esse absurdo, mas para mim nunca vai ser normal torcedores brigarem com adversários ou entre si.

Neste fim de semana, por exemplo, acompanhei pela TV que torcedores do Corinthians sofreram uma emboscada de palmeirenses, proporcionando cenas de guerra em uma rodovia de São Paulo. O pior é que colocam em risco a vida de famílias, trabalhadores, que nada tem a ver com a confusão. O mínimo que a Federação Paulista deveria fazer era aplicar uma severa punição para os dois clubes, com restrições nos estádios e uma multa milionária. O problema é que nada acontece, ninguém é preso, A FIFA não faz nada, os dirigentes não fazem nada, os jogadores se calam e na rodada seguinte esses bobalhões vão ganhar ingresso das respectivas diretorias e farão a mesma coisa com outro rival nos estádios.

Confesso que estou cansado! Ontem mesmo fui ao Maracanã com um casal de amigos franceses para assistir Vasco x Fluminense e, mesmo de camarote, tive que fazer uma série de recomendações e prepará-los psicologicamente para o clima das torcidas. Para evitar o tumulto no fim do jogo, costumo sair antes do apito final e por pouco não perdi a pintura do Cano!

Em meio a tantas firulas, chuteiras rosas, brincos e moicanos, o atacante argentino é a prova de que a simplicidade é o melhor caminho. Quase sempre com um toque na bola, o goleador supera o adversário e ontem não foi diferente. No primeiro gol, aproveitou um cruzamento da direita e chutou de primeira. No segundo, estava atento e marcou um golaço com a sua perna “ruim”. Impressionante como é objetivo e efetivo! Por mais golaços e menos estilhaços!

Pérolas da semana:

“O professor gosta de verticalizar e intensificar as jogadas para criar identificação do adversário e lateralizar a rotação passando por cima do jogador agudo ou falso nove”.

“O encaixe do modelo de jogo serve para ficar confortável ao ter uma leitura perfeita, fazendo com que o último jogador do losango fatie a bola viva ou a segunda bola”.

Que besteira é essa, geraldinos? Futebol não se lê, se enxerga e se vê!

A FORÇA DO ‘BOLA EM JOGO’

por Elso Venâncio, o Repórter Elso

A Rádio Tupi fez um gol de Placa ao contratar Eraldo Leite, um dos campeões de audiência do Rádio Esportivo. Homenageado pela FIFA, pelas 11 Copas do Mundo que cobriu in loco, inspirou gerações, além de liderar a classe há anos, como Presidente da Acerj, a Associação dos Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro.

O responsável pela portaria do meu prédio não me responde o ‘Bom Dia’ e resmunga:

– A Globo não teve condições de manter o Eraldo?

Falo que a Tupi acertou.

Contemporâneos, estudamos no Liceu de Humanidades, em Campos dos Goytacazes, nossa terra natal. O início foi na Rádio Continental – éramos chamados de ‘Os Tremendões’, pois meio que ‘imitávamos’ os famosos ‘Trepidantes’ Deni Menezes e Washington Rodrigues, da Globo. Pouco tempo depois, a dupla de repórteres de campo, cada qual com seus 16, 17 anos, já estava na Difusora, a mais ouvida da cidade.

No Rio, trabalhamos na Rádio Nacional e, mais tarde, por quase duas décadas, na Globo.

O ‘Bola em Jogo’ já teve o comando dos inesquecíveis Luiz Ribeiro e Gilson Ricardo, sendo apresentado todo domingo ao meio dia. Nesse horário, de segunda a sábado, tem a ‘Patrulha da Cidade’, 57 anos no ar, o mais antigo e bem sucedido programa da emissora.

Lembro um fato que retrata a força do ‘Bola em Jogo’. No Facebook há um grupo chamado ‘Saudades da Velha Rádio Globo’. Os internautas respondem a pergunta ‘qual o programa que mais te dá saudades?’. Relaciono, pela ordem, os eleitos:

1 – ‘Enquanto a Bola Não Rola’

2 – ‘Turma da Maré Mansa’ – comandado por Antônio Luiz

3 – ‘Programa Haroldo de Andrade’

4 – ‘Panorama Esportivo’ – conduzido por Gilson Ricardo

5 – ‘Globo Esportivo’ – o do ‘Garotinho’ José Carlos Araújo

Destes cinco, três são esportivos, o que dá a exata noção do que representa o futebol no Rádio.

‘Enquanto a Bola Não Rola’, concorrente do ‘Bola em Jogo’, foi criado por Kleber Leite e teve cinco apresentadores: além do próprio idealizador, Loureiro Neto, eu, Ronaldo Castro e Eraldo Leite tivemos o prazer de comandá-lo.

Quando apresentei, começava às 14 horas, direto do Maracanã, no Espaço Globo.com, marcando o lançamento do portal, em frente à ‘Calçada da Fama’. A direção da Globo acabou transferindo a atração para o meio dia, com o intuito de combater o crescimento do ‘Bola em Jogo’. O Ibope até melhorou, mas não ultrapassou o da Tupi.

A Globo jogou pesado: Armando Nogueira, Fernando Calazans, João Máximo, Oldemário Toguinhó, José Trajano, Paulo César Vasconcellos, Luiz Mendes, Alberto Helena Jr., enfim, nomes de peso do Jornalismo foram contratados. Treinadores como Zagallo, Parreira, Felipão e Evaristo de Macedo também, além de jogadores e ex-jogadores, nomes do quilate de Didi, Gerson, Carlos Alberto Torres, Paulo Cézar Caju e até mesmo Ronaldo ‘Fenômeno’. Apenas Didi e Gerson eram fixos; os convidados revezavam-se a cada semana.

Grandes debates discutiam o futebol brasileiro, mas a concorrente sempre teve um público fiel no horário. A Super Rádio Tupi, hoje, aposta numa programação popular, com grandes comunicadores e, agora, com o craque Eraldo Leite no ‘Bola em Jogo’, para deixar o ouvinte na ‘cara do gol’.

CANO DE PLACA

por Paulo-Roberto Andel

O golaço redime, o golaço liberta.

Ele desafia paradigmas e definições. Muda roteiros de forma inesperada.

E deixa sua tatuagem para sempre nos corações e memórias.

Há mais de sessenta anos, em alguma ocasião vemos os gols e a alegria de Garrincha na final carioca de 1962. Outros se emocionam com a arrancada de Rondinelli e sua cabeçada monstruosa em 1978. Outros, com o voo esguio e certeiro de Assis em 1984. Esses gols nunca vão acabar.

Mas também há os grandes gols de partidas que não necessariamente decidiram títulos, mas estão condenados à eternidade. O fantástico drible de Mendonça em Júnior em 1981, os mil dribles de Washington em 1987. O chutaço de Neto do meio da rua em 1991. Os golões de Roberto contra o Corinthians em 1980. São muitos e muitos gols.

Neste domingo, o argentino German Cano fez história no Maracanã. Um gol de placa, dos mais bonitos da história do estádio. Chutou do meio de campo e fuzilou o goleiro vascaíno, completamente batido. O estádio viveu um de seus grandes momentos.

Até então, Cano já estava consagrado no futebol carioca e brasileiro, por sua carreira no Vasco e agora no Fluminense, com mais de 40 gols na temporada 2022. Desta vez, assim como a bola que chutou cruzou o Maracanã até ganhar as redes, ele mesmo ganhou o mundo de vez. Não há lugar na Terra onde não se esteja falando do golaço que aconteceu no coração do Rio de Janeiro, no outrora maior estádio do mundo.

Lembram que o golaço muda roteiros? Pois é. Num jogo de muita luta, transpiração e lances razoáveis, o Vasco foi melhor do que o Fluminense no primeiro tempo, cujo destaque foi o veteraníssimo goleiro Fábio, do Tricolor. Melhor, mas sem a capacidade de definição. E no segundo tempo a coisa ficou mais equilibrada, até que o mesmo Cano aproveitou um cruzamento e marcou com oportunismo. Desesperado, o Vasco se lançou em busca do empate, sem êxito, novamente esbarrando em Fábio até que o corte final aconteceu – e a magia do futebol prevaleceu. O golaço tornou tudo pequeno no Maracanã.

As crianças tricolores que estavam no Maraca hoje vão perseguir o Fluminense para sempre, assim como outros garotos perseguiram por causa de Assis e Washington e eu, criança, vi Pintinho e Cristóvão destruírem o Fla x Flu de 1979, mais Paulo Goulart pegando pênalti. E Edinho e Rivellino. Eu ainda persigo o Fluminense.

Não precisa ser um título, uma decisão. Às vezes, não precisa nem ser um clássico. Basta que num segundo surja a magia do grande momento do futebol: ela explode e encanta pelo resto da vida.

@pauloandel