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AS RECEITAS DOS CLUBES 2021-22

por Idel Halfen

Baseado no relatório Football Money League, que é publicado há dezesseis anos pela Deloitte, a Jambo Sport Business elaborou um estudo no qual analisa os dados sobre as receitas dos clubes que mais faturaram na temporada 2021-22.

Entre as informações que constam do estudo podemos destacar:

• O Manchester City foi o clube que mais faturou na temporada, repetindo o feito de 2020-21, agora com 99,1 milhões de receita. 
• Em relação à temporada passada, além da ordem de classificação, houve apenas uma alteração no que diz respeito aos times: a saída da Juventus e a volta do Arsenal. 

• As receitas dos dez clubes que mais faturaram com matchday aumentaram 1.019,4%, pois as mesmas foram bastante prejudicadas na temporada anterior. Embora o percentual tenha sido bastante significativo, o montante apurado ainda é inferior ao aferido nas temporadas 2015-16, 2017-18 e 2018-19.
• Já as receitas advindas do broadcasting caíram 13,2%, fato que pode ser explicado pelo bom resultado do ano anterior, o qual contou com valores que não tinham sido pagos em 2019-20 em função da pandemia, lembrando que a apuração dos valores se dá em regime de caixa. O período atual representa o terceiro maior dessa linha desde que o estudo é realizado.
• A rubrica commercial, por sua vez, apresentou um crescimento 10,9%, o que a deixa como a maior da história do estudo. Aqui a variação positiva do câmbio para os clubes ingleses influenciou esse resultado.
• O somatório das três linhas de receitas recorrentes cresceu 15,1%, o que deixa o montante inferior apenas ao alcançado em 2018-2019.
• A Premier League, além de abrigar o time com maior faturamento, é o campeonato com mais clubes entre os TOP 10 (seis). Em segundo aparece a La Liga (Espanha) com duas equipes. Completam a relação com um time cada: Bundesliga (Alemanha) e Ligue 1 (França).

• Vale atentar para o processo de queda do Barcelona: líder em 2018-19 e 2019-20, quarto na temporada seguinte e sétimo na atual.
• Sobre o Manchester City, deve ser ressaltado que em 2006-07 o clube não ficou nem entre os TOP 20 e só começou a aparecer no estudo a partir de 2007-08 ocupando a 20ª posição. Apenas em 2011-12 ficou pela primeira vez entre as 10 equipes que mais faturaram, quando foi o 7º colocado.
• Na 2ª colocação, pela quarta vez consecutiva, ficou o Real Madrid, que é o clube que mais vezes ocupou a liderança no estudo, foram dez edições entre as dezesseis realizadas.
• Completa a relação dos cinco primeiros: Liverpool, Manchester United e Paris Saint Germain.
• O clube de Paris também merece ser destacado devido ao fato de ser o que mais faturou tanto com matchday como com commercial. Já as receitas com broadcasting fazem do clube apenas a 18ª força, razão pela qual não tem uma classificação geral melhor. Essa pouca representatividade é função do menor montante referente aos direitos de transmissão distribuído pela Ligue 1 em relação às demais grandes ligas.
Essas e muitas outras informações constam no estudo que pode ser acessado através do link https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturam-2006-activity-7035950154524299264-bfIM?utm_source=share&utm_medium=member_desktop, assim como dados que permitem a elaboração de diversas análises.

A CASA DOS VETERANOS

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Passado o Carnaval, finalmente consegui voltar a caminhar na rua sem tropeçar em garrafas ou latas de cerveja e logo fui abordado por um vendedor do quiosque:

– PC, o que achou do retorno do Marcelo ao Fluminense?

Parei para refletir e em poucos segundos consegui montar mais do que um time inteiro de veteranos com Fábio no gol, Fágner, Fábio Santos, Gil, Filipe Luis, David Luiz, Carli, Gum, Felipe Melo, Hulk, Nenê, Diego Souza, Cano, Luiz Adriano e por aí vai! A realidade é que jogar no Brasil virou uma teta e espertos são eles que aproveitam a oportunidade para voltar pra casa!

Sobre o Marcelo em si, acho uma excelente contratação para o futebol carioca, mas não acredito que vá jogar de lateral. Sempre admirei a habilidade dele, mas nunca foi forte defensivamente. Já não é mais um garoto e acho muito difícil atuar numa posição que gera tanto desgaste físico, correndo atrás da garotada.

Por falar nos meninos, li que o Endrick saiu chorando de um jogo do Paulista por estar numa seca de gols. Se Roberto Miranda, Jairzinho e Nilson Dias ficavam algumas partidas sem marcar, o que podemos esperar de um garoto de 16 anos? Uma hora ou outra o gol vai sair e só não podem sacá-lo do time para não abalar a sua confiança!

No fim de semana, também assisti Botafogo x Flamengo! Confesso que as expectativas já não eram altas, mas foi pior do que eu imaginava. Já falei algumas vezes o quanto acho péssimo o fato de pouparem jogador, né? Na minha época, ninguém gostava de ceder a vaga porque tinha o risco do reserva fazer uma excelente partida e virar titular. O que vemos hoje em dia é uma disputa para ver quem vai jogar menos.

Sobre o clássico, sem clubismo, acho que a arbitragem favoreceu o Flamengo ao não dar um pênalti e por anular um gol, que, na minha visão, foi legal. Quero ver o que os “titulares absolutos” do Flamengo vão aprontar depois do papelão que fizeram fora de casa. Tenho muitos amigos flamenguistas que já estão cantando vitória, mas vale ressaltar que o Del Valle tem um time organizado e que pode surpreender amanhã no Maracanã! Vamos aguardar!

Pérolas da semana:

“Marcação alta com ligação direta para atacar por dentro dos espaços ou pelos lados do campo com alas das escolas de samba para desfilarem na passarela do sambódromo ao invés do Maracanã”.

“Time mais encorpado com dinâmica de jogo consistente e intensidade com ritmo vertical ou diagonal dando tapa na orelha ou cara da bola de chapada ou estilingaço na direção da bochecha da rede”.

“Conectar ou encaixar o contra-ataque buscando várias bolas (só existe uma) na partida dinâmica para recalcular a rotação e destravar e jogar espetado”.

Analistas de computadores com linguajar insuportável estão acabando com o prazer de se assistir um jogo de futebol na televisão!

O ÍDOLO SAMARONE

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Em Pé: Oliveira, Felix, Denilson, Galhardo, Assis e Marco Antonio | Agachados: Cafuringa, Didi, Mickey, SAMARONE e Lula

Samarone foi um Ídolo no Fluminense. Chegou ao clube com 18 anos, contratado por 60 milhões de cruzeiros junto à Portuguesa Santista. A moeda mudou, mas pode acreditar, era muito dinheiro! Na época, Carlos Alberto Torres, o ‘Capitão do Tri’, era a maior transação da história do nosso futebol. O Santos pagou 200 milhões para tirar o já consagrado lateral das Laranjeiras.

Em algumas conquistas do Tricolor, Samarone foi destaque absoluto. Como, por exemplo, a Taça de Prata de 1970, que era o Campeonato Brasileiro naquele tempo. Por sinal, muitos o consideram o mais difícil de todos os tempos, por contar com os tricampeões do mundo, que haviam vencido a Copa do México, logo após a conquista e posse definitiva da Taça Jules Rimet.

Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denilson e Didi; Cafuringa, Flávio (Mickey), Samarone e Lula. Contundido, Flávio Minuano não pôde jogar as finais. Mickey, seu substituto, marcou gols decisivos nos últimos jogos. Inclusive o do título.

Esse grupo também foi campeão carioca em 1969 – naquele Fla-Flu que terminou 3 a 2 para o tricolor e o imortal Nelson Rodrigues teceu como o maior clássico de todos os tempos, dizendo que ‘vivos e mortos saíram de suas tumbas’ para juntos irem ao Maracanã. Além de vencer o Estadual de 1971: 1 a 0 no Botafogo, time que por contar com tantos craques era chamado de ‘Selefogo’.

O sinal da Rádio Globo ecoava forte no Maracanã. Torcedor com o radinho de pilha colado no ouvido, o locutor Waldir Amaral ressoou para todo o país:

“São cinco horas e trinta e dois minutos na mais linda cidade do mundo. Rio, capital mundial do futebol. Domina no peito Samarone, o catimbeiro Samara, lança Lula em diagonal e… gol!!! Lula, 11 é a camisa dele. Indivíduo competente o Lula. Tem peixe na rede…”

Denilson, o ‘Rei Zulu’, usava a braçadeira de capitão e tinha moral, por ter disputado a Copa de 1966, na Inglaterra. Só que o líder da equipe era mesmo Samarone. Até controlar a arbitragem ele fazia como ninguém.

Armando Marques, o número 1 do apito, chamava todos os jogadores pelo nome e sobrenome:

“Senhor Wilson Gomes (Samarone), o senhor está passando dos limites. Pare já de gesticular!”

Raçudo, de meias arriadas e com dribles curtos, peito estufado e cabeça erguida, Samarone obrigava Cafuringa e Lula a dar inúmeros piques em direção ao gol adversário. Irrequieto, numa ocasião cometeu falta dura no violento e temido zagueiro Moisés, o ‘Xerife’. Waldir Amaral alertou:

“Estão mexendo no formigueiro…”

Mário Vianna, ‘com dois enes’, comentarista e ex-árbitro, era uma espécie de VAR: decidia o que estava certo ou errado com o microfone. De repente, ele decretou:

“Tem que expulsar! Armandinho, Armandinho… eu vou descer! Vou descer!!!”

Os geraldinos reagiam na hora. Uns a favor, outros contra.

De repente, Flávio Minuano perde um gol. No ato, Samarone reclama:

“Não pode! Gol feito!!!”

Minuano, um dos grandes artilheiros do futebol nacional, retrucou na mesma hora:

“Vai tomar no seu c*…”

Tempo bom aquele… Eram tantos craques com a camisa 10: Pelé, Tostão, Gerson, que trocara a 8 pela dez, Silva Batuta, Ademir da Guia, Rivellino, Dirceu Lopes, Edu, enfim, ficava difícil para o técnico da seleção convocar Samarone. Aliás, naquela época o país parava para ouvir e discutir os relacionados. Hoje, o torcedor está a cada dia mais frio e distante da seleção que por tantas décadas foi uma verdadeira paixão nacional.

O BOM FILHO… VOCÊ SABE!

por Zé Roberto Padilha

O Fluminense tem sido um grande laboratório de craques. Rodolfo, Diego Souza, Thiago Silva, Carlos Alberto, Roger, Jean, Andre..

Eles chegam em Xerém por volta dos 13 anos, superam peneiras, jogam todas as divisões de base e são revelados na Copa São Paulo de Juniores.

Depois, ganham o mundo. Poucos chegam ao Real Madrid ou ao Barcelona.

Marcelo é uma dessas joias raras que deixou o tricolor para ocupar a lateral esquerda do clube espanhol. Desde sua chegada, os cruzamentos sobre área foram substituídos pelas assistências. Os chutes para a frente deram lugar ao sair tocando a bola, e o seu domínio revelou momentos de absoluta cumplicidade.

Fora seu inesgotável arsenal de dribles que desmontam retrancas adversárias.

Pep Guardiola, quando lançou seu Tic Tac, chegou a sonhar com ele para se juntar a Daniel Alves, Iniesta, Xavi, Rakitic e Messi, para alcançar um Dream Team.

Hoje, aos 34 anos, Marcelo retorna às Laranjeiras. No auge de uma idade em que a maturidade encontra atalhos para correr menos e produzir mais, ele será a cereja do bolo que o Fluminense servirá ao mundo do futebol.

Se ano passado o clube fez bonito, venceu o estadual e chegou em terceiro no Brasileirão, com Marcelo se credencia a disputar, em igualdade de condições, a Copa Libertadores da América.

CHUTEIRAS NUNCA PENDURADAS

por Claudio Lovato

– Está tudo bem, meu querido! – ele respondeu enquanto eu me acomodava no sofá da sala do pequeno apartamento em que ele morava.

– Tudo tranquilo! – ele acrescentou, para reforçar e, assim me pareceu, tentar convencer a si próprio de que aquelas palavras iniciais carregavam a verdade, ou ao menos alguma verdade.

– Vamos tocando a vida! – ele disse em resposta à minha pergunta sobre o que ele costumava fazer no dia a dia.

– Dou minha caminhada de manhã, todo santo dia. Depois faço alguma para comer em casa ou almoço no quilo do Waldemar, aqui embaixo, depois vou para uma sesta. Mais tarde desço para bater papo com os amigos, e à noite é futebol ou um filmezinho na TV. É mais ou menos assim.

Fazia um dia bonito de sol, e a claridade invadia toda a sala e a cozinha, separadas apenas por um balcão com tampo de mármore.

– Nos fins de semana dou uma chegada no bar do Gilson para tomar uma coisinha, que ninguém é de ferro. Mas tem que ser devagar, devagarinho, porque a saúde já não permite exageros. O mais importante é conversar com o pessoal, falar de futebol! – ele comentou quando perguntei sobre o que fazia aos sábados e domingos.

Ele calçava sandálias de couro cru com correias nos calcanhares. Vestia camiseta branca e bermuda jeans com bolsos grandes nas laterais. Estava em boa forma física, e o único incômodo que parecia enfrentar se localizava no joelho direito, que ele volta e meia esfregava.

Perguntei sobre os filhos.

– Eles moram longe, todos os três, um deles vive fora do país, acho que você sabe. De vez em quando eles aparecem, o Thiago traz as crianças, é uma festa! – tomei o cuidado de não mencionar em momento nenhum a esposa falecida.

Ele percebeu que eu olhava para os porta-retratos sobre a mesinha de centro. Eram muitos. Uma parte das fotos eram registros de momentos de família; a outra, imagens dele nos tempos de jogador, ao lado dos companheiros de então.

– É, meu querido, é assim mesmo. A verdade é que a gente acha que vai estar preparado para a hora de parar, mas nunca está! – ele disse, apontando para a garrafa térmica e arqueando as sobrancelhas, num oferecimento da segunda xícara de café, que recusei com um gesto.

– Mas um dia você simplesmente para, porque não dá mais, ponto final; não tem mais como continuar, e aí você se vê forçado a encarar uma nova realidade, a sua nova vida, em muitos casos o seu novo você! – ele disse, me olhando direto nos olhos.

– O seu novo você…. – repetiu, e então sorriu com indisfarçável amargura.

– Os resultados variam de pessoa para pessoa. Tem gente que toca a vida numa boa. Tem gente que se afunda. E tem aqueles que não pensam no assunto e assim conseguem ser mais felizes que os outros! – disse isso e sorriu de novo, e era aquele mesmo sorriso triste.

– Pensar demais geralmente não ajuda muito. “A gente acaba aprendendo isso na vida! – ele disse.

Conversamos mais um tempo sobre lembranças especiais: os títulos mais importantes, gols – que não foram poucos, considerando-se que ele havia sido volante a vida inteira, aliás, “centromédio”, camisa 5, sempre –, as convocações para a Seleção, os prêmios.

Então passeamos pelo apartamento, em cujas paredes disputavam espaço fotos dele vestindo a camisa dos quatro clubes que defendeu ao longo de toda a carreira. Em uma delas, ele aparecia ao lado do treinador que o havia promovido aos profissionais e com o qual trabalhou por muitos anos, em três clubes diferentes.

– Pois é, meu querido! O tempo passa mesmo… – ele me disse enquanto olhávamos para essa foto, nós dois lado a lado, de pé no corredor.

Em seguida, apontando para outra foto, posicionada um pouco mais ao fundo do corredor, uma foto em que ele aparecia com uma lata de cerveja na mão, só de calção, no meio de uma festa no vestiário após a conquista de um título estadual, ele disse:

– Pô, fui feliz pra caramba, rapaz! – e sorriu, dessa vez sem nenhum traço de melancolia.

Voltamos à sala, eu já me preparando para ir embora, juntando minhas coisas, quando ele contou, olhando pela janela para o sol que começava a se por, que, um dia desses, havia lido uma história – um conto – em que o autor dizia que a saudade é uma faca cega que te corta em fatias finas.

Saí dali me perguntando como escrever sobre tudo aquilo de uma maneira verdadeira e justa.

Cheguei em casa com uma tremenda vontade de ouvir Paulinho da Viola e tomar uma cerveja. Mais de uma. E foi exatamente o que eu fiz.