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O REI E A DIVA

por Rubens Lemos

Na fotografia, Maria Creuza, uma das melhores intérpretes da Bossa Nova, está entregando a Bola de Prata de melhor atacante do campeonato nacional de 1972 a Alberi, o Negão, o Deus do ABC. A Revista Placar registrou e publicou na época. Reizinho, filho de Alberi, postou na internet. No programa Airton e Lolita, da TV Tupi.

Faz quatro meses e cinco dias da morte de Alberi. E a saudade dele ainda dói em mim. Quando Alberi estava doente, havia a mobilização dos amigos e ele sempre resistia. No dia 28 de outubro, o corpo que nós, mortais, julgávamos infalível, descansou.

Então, na cruel e natural sequência da vida, a velocidade inalcançável das redes sociais vai eliminando sentimentos; amor, solidariedade, amizade, alegria, idolatria e nostalgia. Alberi é eterno. Ouço a canção de Cartola na voz de Maria Creuza e concordo com o título: Pouco Importa. A morte não venceu o Negão.

EU ESTAVA LÁ

por Zé Roberto Padilha

Um dia iria acontecer. Era apenas a terceira rodada da Taça Guanabara, no estadual de 76, e mesmo sendo um clássico, a partida entre Flamengo x Vasco nem tinha ares de decisão. Mas ao sair da praia, milhares de cariocas combinaram o mesmo programa. Vamos ao Maracanã?

Durante o aquecimento, já sentimos que o teto balançava mais do que o normal. E veio a notícia que a partida atrasaria 20 minutos em razão da polícia retirar torcedores do alto do anel superior. Não cabia mais ninguém e foram tentar assistir lá do céu.

Quando entramos em campo, deparamos com uma cena digna de um show do Queen no Rock in Rio. É quando o artista se depara com todos os sonhos que buscou. Quando sua arte é reconhecida e ela alcança seu momento mais sublime.

174.770 será um público que jamais será alcançado em partidas de futebol. Os estádios se encolheram e as assinaturas do Canal Premiére cresceram.

E um camisa 10 como o nosso, que a súmula informava ser Arthur Antunes Coimbra, que realizou uma assistência e marcou dois gols na vitória do Flamengo por 3×1, tão cedo irá aparecer.

Outro dia conversando com o Dé, que marcou o gol do Vasco, perguntei se de madrugada ele era despertado por aquele barulho infernal e triunfal. Ele confirmou que sim. Cenas e ruídos que, pelo visto, jamais nos deixarão.

Mas já agendamos um psicólogo. Antes que o Vasco empate a partida.

*Vasco X Flamengo foram à final da Taça GB naquele ano. Público de 123 mil pagantes.

A PELADA DE GALA DO GALO

por Mauro Ferreira

Da mesma forma que a bola pune, a bola elege. Há 70 anos, em março de 1953, resolveu entregar seus dengos e segredos a um pirralho nascido filho de português. Se 13 anos antes havia apontado seus gomos para um bairro pobre da cidade mineira de Três Corações, dessa vez encontrou no carioquíssimo subúrbio de Quintino, no Rio de Janeiro, mais um de seus raros, raríssimos escolhidos.

Não à toa, o menino ganhou nome de rei. Um rei nascido história, senhor da távola. Franzino como o outro, não arrancou da pedra uma espada; fez da bola a sua espada e com ela arrancou “ohs”, “ahs”, suspiros e a alegria de tanta gente sofrida.

Arthur era pequeno e o apelido – inevitável – foi se modificando ao longo do tempo, do crescimento, e dos campos onde ia mostrando aos outros os tais segredos e dengos que a bola havia lhe dado. Primeiro, Arthurzinho, seguido por Arthurzico e, por fim – coisa de brasileiro – o minimalista Zico. Mais fácil de ser lido, escrito, gritado e… louvado. Elevado à categoria de semideus. Assim como Deus, quatro letras; assim como Pelé, quatro letras.

Arthur fez 70 anos dia 3 de março. Setenta. Dois dias antes, na sua pelada de toda quarta-feira, no CFZ, entrou em campo. No primeiro toque na bola…gol! Mesmo com o joelho ainda acusando a entrada maldosa de décadas atrás. Só que o tal Arthur, ainda é – e pra sempre será – o escolhido da bola.

Não à toa, foi para muito alem do rei da távola. Foi ser divino. Atende, em oração, pelo nome de:

ZICO.

70 E CONSEGUE, ZICO

por Marcos Eduardo Neves

Se tentar fazer um texto diferente hoje, talvez não consiga. Mas se tentar e conseguir, me dou por satisfeito. Afinal, não é um texto qualquer.

Quando 70 criar algo novo para um velho ídolo, o sarrafo aumenta. Ainda mais quando esse ídolo é uma referência, um amigo. Na hora que 70 bolar alguma coisa assim, o coração bate mais forte, as palavras fogem, é algo realmente difícil.

Vou dizer o que quero falar sobre ele. Alguém que 70 marcar mais de 800 gols mesmo dando mais passes que finalizando, consegue. 70 ser o maior artilheiro do palco sagrado do futebol mundial, consegue. Alguém que 70 ser o símbolo máximo do clube mais populoso de uma nação, consegue. 70 acertar aquela falta no ângulo, igual êxito. 70 dar o gol, é capaz do artilheiro perdê-lo, mas ele o salva no rebote.

70 ser gentil, é mais que qualquer um. 70 ser humilde, sabe ainda ser generoso. 70 ser brincalhão, alegra qualquer ambiente. 70 mostrar-se líder, não tenta: simplesmente, o é, desde que se entende por gente.

70 ser o melhor, consegue; 70 ser o maior, consegue….

70 ajudar os amigos, faz. Como faz também, hoje, 70 anos. E, para mim, continua sendo meu camisa 10 predileto, mais que isso, único. Aquele que entrava em campo puxando os companheiros, nos deixando confiantes para enfrentar quem quer que fosse.

Parabéns pelos 70, amigo ídolo! E obrigado por tudo, desde quando nos conhecemos até hoje. Dou glória a Deus pela glória de ter te visto trabalhar, jogando. E mais ainda por, tempos depois, permitir me aproximar daquele que eu julgava ser, simplesmente, inalcançável.

Curta muito o seu dia, Galinho. 70, você sabe, consegue – melhor, já conseguiu! Felicidades hoje e sempre. Você é eterno.

Saudações rubro-negras, brasileiras e mundiais. E, bom, se não ficou bom o texto, perdão. Ao menos tentei. Se tentei…

ZICO 70

por Serginho 5Bocas

Hoje é o aniversário do Galinho de Quintino e eu fiquei pensando se seria capaz de escrever alguma coisa para homenageá-lo sem ser repetitivo, até porque muita coisa já foi escrita e falada sobre ele. Então como montar essa equação? Não sei, mas vou tentar!

Sou um dos milhões de fãs “número 1” que o Zico tem. Pessoas que não se conhecem, mas que nutrem o mesmo sentimento, o de idolatria. Gente de vários cantos do planeta que o amam e que tremem quando ficam de frente com a fera, já tive essa oportunidade e deu ruim pra mim.

Zico é uma raridade nos dias de hoje, foi também em sua época, que era recheada de craques, mas que mesmo naqueles idos, poucos jogavam em um só clube e eram verdadeiros torcedores dentro de campo. Uma joia de valor incalculável para o torcedor, pois já pensou saber que o seu o seu ídolo é um torcedor tão fanático feito você? Ele era e ainda é!

Zico foi um daqueles raros craques, que aumentaram o tamanho do clube. Ele não jogou em um clube rico, que potencializou o seu talento, muito pelo contrário. No início da carreira, esteve ao lado de muita “baba” e se esforçou ao extremo para puxar o sarrafo para o andar de cima e conseguiu com louvor. O Flamengo de Zico tocou o topo do mundo e deixou uma marca de qualidade indelével na história do futebol.

Zico no Flamengo foi um personagem diferente de Messi, por exemplo, que fez carreira no milionário Barcelona, que era recheado de craques para lhe ajudar durante toda a sua carreira ou de CR7, que teve números estratosféricos quando jogou no time galáctico do Real Madrid, que lhe dava todo o suporte para bater recordes. Eles não foram colocados à prova em um time mais modesto, para mostrar o quanto poderiam oferecer.

Nesse quesito, ele foi do naipe de Pelé no Santos, de Falcão no Roma e de Maradona na seleção argentina e no Napoli, que jogaram em times que eram menores até as suas chegadas, mas que transformaram tudo ao seu redor com as suas presenças e talentos. Não é fácil explicar isso para quem vê futebol hoje em dia, de times milionários, verdadeiras seleções mundiais, mas acreditem: ele fez isso.

O Wikipedia mostra em uma pesquisa sobre recordes das Copas do Mundo, que Zico foi o jogador com mais gols e passes para gols da Copa de 1982 (4+4). Eles montaram uma tabela de pontos que dá o mesmo valor para um gol e um passe e pouca gente ao longo de todas as Copas conseguiu ter números desta monta nos dois quesitos. Pelé em 1970 fez 10 pontos (4+6), Maradona em 1986 também fez seus 10 (5+5) e Ronaldo Fenômeno em 1998 fez 7 pontos (4+3). Apesar disso, eu tenho que ouvir de muita gente, que nem viu Zico em campo, dizer que não jogava nada com a amarelinha, quanta maldade e inveja.

Outro lado que pouca gente comenta é o seu engajamento no sindicato dos jogadores profissionais do Rio na década de 70, quando seu colega de profissão Zé Mário era o presidente. Lembro dos encontros no Maracanãzinho para jogos de futebol de salão com a renda ou mantimentos destinados a SADEF ou das várias “peladas” do Flamengo ou da Seleção Brasileira, para reverter a renda para sobreviventes de enchentes, entre outras iniciativas com o viés altruísta, numa época em que o social nem era moda.

Não é pra qualquer um ser o ídolo de Ronaldo Fenômeno, David Beckham, Seedorf, Roberto Baggio, Alex, Leandro, Aquinagua, Michael Laudrup, Tigana, Amaral, Vampeta, Edilson, Tite, Leonardo e muitos outros de uma lista incontável. Zico era “o cara” na seleção dos “caras” da Copa de 1982. Ele deu seu nome para muitas crianças que nasceram naquela época, atraiu diversos novos torcedores para o Flamengo e, na Udinese, seus fanáticos torcedores diziam que a presença dele no time era como ter um motor de Ferrari num fusquinha, tal a musculatura que ele deu aquele time franzino.

No ano de 2000, estive uma única vez no CFZ, clube do Zico, num torneio de veteranos com craques aposentados dos quatro grandes clubes do Rio de Janeiro. Lembro como se fosse hoje que, ao final da partida entre Vasco e Flamengo, pais e filhos se apertaram na arquibancada e gritavam por um autógrafo de todos os jogadores que saíam do campo, num sol de meio-dia no Rio de Janeiro.

Os ex-jogadores iam se afastando, acenando com a mão, mas ninguém parou para falar com as crianças e os adultos ali presentes. Exceto Zico, que fez um sinal de longe, quando distribuía autógrafos (ainda não havia selfies) e veio falar com o povo. Zico pediu para organizarmos uma fila e falou com todos que ali estavam. Fotos e autógrafos para uma imensa legião de fãs num sol escaldante. Eu tive a sorte de tirar uma foto com meu ídolo, que guardo até hoje com todo o carinho. É por essas e outras que Zico foi e ainda é ídolo de tanta gente.

Não sei se consegui resolver a equação que citei no início desta crônica, de falar diferente do meu ídolo, mas joguei o jogo sem “amarelar” e como sempre digo a plenos pulmões:

“Nunca fui tão feliz antes e nem depois de Zico”

Parabéns pra você, Galinho!

Forte abraço
Serginho 5Bocas