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MESQUITINHA, NOSSO TIME DE RUA DE PARALELEPÍPEDOS

por Wesley Machado

Assistindo ao excelente vídeo do Museu da Pelada sobre o Onze Rubros de Quintino, lembrei-me do nosso time de rua de paralelepípedos, o Mesquitinha, que também era rubro, vermelho ou grená, como queira. O Mesquitinha foi batizado por mim com este nome porque morávamos na rua Professor Mesquita, no bairro Pecuária, em Campos dos Goytacazes-RJ.

Tínhamos cerca de 10 anos de idade. E, como não tínhamos campo para jogar, jogávamos na rua mesmo. Rua de paralelepípedos. Com as tradicionais lambretas/chinelos servindo de gol. Ou até mesmo uma pedra de paralelepípedo solta. A bola saía no meio-fio. Jogávamos descalços. E tínhamos de parar o jogo quando passava um carro. Esta rua só tinha casas de um lado. Pois do outro lado é o muro do Parque de Exposições Agropecuárias.

Como não tínhamos campo na nossa rua, jogávamos como visitantes no campo da outra rua, contra o time que não tinha nome, chamávamos de “Outra Rua” mesmo. Este era o nosso clássico de maior rivalidade: Mesquitinha x Outra Rua. Denominamos o campo deles de “Chiqueirinho”. Porque quando chovia, o campo – que tinha mais terra do que grama, ficava todo enlameado e cheio de poças d’água.

Uma vez ganhamos deles lá dentro da casa deles. Não lembro detalhes, mas lembro que ganhamos e, se não me falha a memória, eu fiz o gol que definiu a decisão por pênaltis. Saímos de lá comemorando muito! Eu vestia a camisa 8 do Mesquitinha. A camisa era rubro/vermelha/grená com os números verdes, parecendo com a da Portuguesa de Desportos ou a Seleção de Portugual.

Para fazer nosso jogo de camisas, compramos camisas de tecido branco e tingimos de vermelho. A minha saudosa Vó Ezilea, que era costureira, costurou os números em verde. Jogávamos com a camisa sem escudo. Um dos jogos mais prestigiados nos paralelepípedos da Rua Professor Mesquita foi outro clássico, desta vez com o Cajuzinho, do bairro vizinho, Caju.

Se não me falha a memória também ganhamos este jogo, que teve a assistência de muitas pessoas nas calçadas, que receberam convites de papel feitos por mim, como se fossem ingressos de cortesia para um jogo público. Foram bons tempos aqueles na Rua Professor Mesquita, em especial com o Mesquitinha, que vai ficar para sempre guardado nas minhas memórias infantis do início da década de 1990.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Quem acompanhou a coluna da semana passada sabe que eu avisei: a vantagem do Flamengo era considerável, mas não tinha nada definido. Não deu outra!

Podem falar o que quiser do Estadual, que não vale nada, que ninguém liga, mas quero saber quem gosta de perder uma decisão para o rival? Pode ser até na sinuca, ninguém quer dar esse gostinho! Não por acaso, o Maracanã estava lotado e o técnico Vitor Pereira até poupou os titulares na Libertadores para a grande final. Não deu certo! Inclusive, também já comentei algumas vezes sobre o quanto isso me irrita! Jogador tem que jogar, ganhar entrosamento com os companheiros e honrar a camisa do clube. Sem contar que, com as tecnologias de hoje em dia, a recuperação é muito mais rápida.

O Fluminense dominou o jogo do início ao fim e confesso que fiquei muito feliz com o título por alguns motivos. O primeiro é que Fernando Diniz merecia demais essa conquista para se consolidar e calar a boca daqueles que ficam perturbando sobre resultados. Como já comentei, acho que ele pode desenvolver mais o comportamento, mas elogio desde os tempos de Audax. Depois do título, agora todo mundo exalta! Aí é mole…

Para quem não consegue enxergar, apesar da escola gaúcha, Diniz se esforça diariamente para resgatar o futebol bonito e coletivo que os brasileiros têm na essência. Por muito tempo fomos reféns do futebol de resultado, de jogar por um gol ou uma bola, como dizem por aí, e confesso que já estava perdendo as esperanças. Diniz é luz no fim do túnel e vejo como um bom nome para assumir a Seleção Brasileira no futuro!

No Campeonato Paulista, o Água Santa quis jogar de igual para igual com o Palmeiras e sabemos que não dá. Mais do que merecido o título de Abel Ferreira, que, apesar de tudo, comanda um time eficiente. O Atlético-MG segue o mesmo caminho, sem ser um time brilhante, mas também levantou a taça. Isso não significa que podemos descartar a campanha do América-MG. Torço para que o Coelho mantenha esse nível e brigue na parte de cima do Campeonato Brasileiro.

Por falar no Brasileirão, Vasco e Botafogo enfrentam, respectivamente, Atlético-MG e São Paulo na estreia da competição e prevejo um ano difícil. Torço muito para que se mantenham na Série A, mas será preciso apresentar um futebol muito acima do que vimos no Carioca! Vamos aguardar…

Pérolas da semana:

“Linhas baixas confortáveis com janela aberta para incomodar o time consistente com bolas fatiadas para os atacantes agudos por dentro verticalizarem o encaixe”.

“Para superar o jogo pesado e pegado, desenha-se uma linha de 5 ou de 3 para que o time reativo que não gosta da bola seja obrigado a subir a última linha na diagonal ou vertical”.

IMPORTÂNCIA DO TÉCNICO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O futebol brasileiro mudou. E para pior, já faz bom tempo.

Com a carência dos talentos em campo, os técnicos passaram a ter mais importância do que tinham. O melhor exemplo é Fernando Diniz, que conquistou domingo o bicampeonato carioca. O Fluminense joga o melhor futebol do país e, desde o seu início, no Audax, o treinador já mostrava que seus times têm um propósito e jogam ofensivamente. Diniz prova que não precisamos de portugueses ou europeus. Isso é moda, logo passa.

O Flamengo começou e perder o Carioca quando a comissão técnica se recusou a ter facilidade para vencer na Libertadores, ao preferir escalar reservas na estreia da competição. Inegável que o clube tem elenco, mas não técnico. Já o Palmeiras, bicampeão paulista, tem elenco inferior, mas tem técnico.

João Ferreira, o ‘João Grandão’ da Rádio Capital, me ligou de São Paulo para lembrar que os jogadores do Corinthians chegaram a comemorar com um churrasco a saída do português Vitor Pereira. Não duvido que aconteça o mesmo agora no Ninho do Urubu ou na Gávea.

O momento hoje é outro. Os grandes craques faziam a diferença e tinham personalidade. Vicente Feola, campeão do mundo em 1958, era bom de garfo e, nos jogos à tarde, acabava fotografado cochilando no banco. No Santos de Pelé, Lula dirigiu o time na maior calmaria por mais de 10 anos.

Tostão conta em um de seus livros que, em um amistoso da seleção na Europa, os jogadores se reuniram no centro do campo e, com a liderança do ‘Canhotinha de Ouro’ Gerson, trocaram posicionamentos e o esquema. O técnico era ninguém menos que Zagallo, que na coletiva não passou recibo. Falou do resultado positivo dizendo que mexeu taticamente. À noite, no hall do hotel, conversou com Gerson madrugada adentro.

Na vida, onde a renovação é constante, saber se relacionar é uma arte. Por que a CBF pensa em Carlo Ancelotti, aos 64 anos de idade, se Diniz dá fortes sinais de que pode resgatar o verdadeiro futebol brasileiro?

MALHADO O JUDAS, QUE VOLTE JESUS

por Marcos Eduardo Neves

Judas chegou sorrateiro, mas bastante mal-intencionado, no Brasil. Primeiramente, fez a segunda maior torcida do país estagnar. Insatisfeito, caiu de paraquedas na maior do país. E a fez sofrer ainda mais.

Em poucos meses à frente do Flamengo, desde o começo, Judas mostrou-se desinteressado. Aliás, interessadíssimo. Esforçou-se como ninguém para desmontar uma máquina quase imbatível. Transformou nossa estima em chacota e nossa moral em escárnio.

Judas tinha o aval de alguns apóstolos, que acreditaram em suas profecias. Contudo, em plena Páscoa, foi crucificado. Não para renascer em três dias, mas para morrer de vez, da noite para o dia, na nossa História.

Na Páscoa comemora-se a ressurreição de Cristo. Porém, ao fim desta última, a Nação Rubro-Negra celebra a morte de Judas. Um Judas chamado Vitor Pereira. Certamente, daqueles portugueses que adora contar piadas de brasileiros. Vai sorrir muito por ter freado a segunda maior torcida brasileira e ter feito a maior passar por uma via-crucis que ninguém merece.

Mesmo malhado, Judas sobreviveu por mais tempo que devia. Perdeu Supercopa, Recopa, semifinal de Mundial, Taça Guanabara e Campeonato Carioca. Perdeu até para o Vasco. Fez o diabo para interromper uma série invicta do Flamengo fora de casa na Libertadores. Tudo sob religiosas palmas de cegos dirigentes.

O problema para Judas foi que os verdadeiros fiéis rubro-negros o apedrejaram incessantemente. Por todos os pecados cometidos, e não foram poucos. Crucificamos esse Anticristo antes dos dirigentes. E agora celebramos sua morte eterna no Mais Querido, que espera a prometida volta do Messias.

Messias que tem o nome de Jesus. Jorge Jesus. Como canta Roberto Carlos, ‘Ele está para chegar’. Está a caminho. E mesmo se demorar, o importante é que o mal está longe do Ninho.

Morremos por poucos meses, mas desde já renascemos. Do fundo do poço nos reergueremos para dar a volta por cima ainda em 2023. À beira do abismo, vimos a sombra da morte, mas lutando, conseguimos extirpar esse câncer do clube.

O trauma foi forte? Foi, sim. Mas um novo ‘Eu’ renasce no coração de cada rubro-negro. Livrai-nos de todo mal, sempre acreditei. Agora, vamos com tudo. Rumo à glória eterna.

NEGROS SÃO MELHORES

por Rubens Lemos

Em seu best-seller Subterrâneos do Futebol, depois rebatizado Histórias do Futebol, o jornalista e ex-técnico da seleção brasileira, o superlativo João Saldanha estabelecia a verdade universal sobre DNA do futebol.

Metido, como treinador, cartola ou chefe de delegação nas intermináveis excursões do Botafogo que ajudaram a liquidar Mané Garrincha, Saldanha, o João Sem-Medo, justificou jogos em países colonizados e sem tradição: “É uma questão biológica: onde tem crioulo, tem bom futebol”.

João Saldanha era a pura verdade, sendo verdade ou mentira. O negro e o mulato estão desaparecendo do gramado varridos pelo futebol neoliberal ou excludente, que tira dos campos e clubes os habitantes de bairros ou comunidades pobres, onde está concentrada a população que fascinava os estádios de cimento e marquise, de povo desdentado e multidões enlouquecidas por tanta beleza.

Zico é branco e gênio. Sócrates foi branco e gênio como loiro e gênio é Falcão. Reinaldo era branco e gênio, o Reinaldo do Atlético Mineiro. Ademir da Guia, galego sarará e gênio. Tostão, gênio de cara de ovo. Rivelino, gênio e branco descendente de italianos. Taffarel, nosso maior goleiro em todos os tempos, parecia um eslavo.

Mais para cá, Rivaldo, um moreno, jogava mais do que o branco Ronaldo que jogava muito, mas não tinha a cintura de elástico do Ronaldinho Gaúcho. Bebeto era ótimo. Romário, bem superior. E quase escurinho.

Danças tribais africanas e o samba influenciavam o futebol. Estimulavam a ginga nata dos neguinhos de favela, dos crioulinhos de malabarismo em sinal de trânsito. Havia olheiros e não apenas “empresários”, nem todos, óbvio, desonestos.

Os olheiros ganhavam pouco ou não ganhavam nada, que não uma carteira do clube para entrar de graça no jogo do domingo. E eles descobriam os futuros craques nos subúrbios infectos que os tais negociantes de hoje jamais poriam os pés, para não sujar seus sapatos de 700 reais.

O Brasil disputou todas as Copas do Mundo, mas só venceu a primeira quando os negros, mulatos e morenos ocuparam o time. Por idiotice e preconceito, produziram um relatório dizendo que os negros eram fracos e suscetíveis a sentimentalismos em competições.

Desconfio que tudo motivado pelo maldito segundo gol que o pobre Barbosa, negro, tomou na derrota para o Uruguai no Maracanazo de 1950. E ele não teve culpa. Nem no primeiro, tampouco no segundo da virada uruguaia de 2×1.

Então o Brasil em 1958, começou com Gilmar (branco e com Castilho, branco, na reserva, qualquer um estaria ótimo); De Sordi (branco), Bellini (branco), Orlando (branco) e a Enciclopédia Nilton Santos que era único ainda que fosse verde; Dino Sani (branco) e Didi (mulato e intocável, pois nunca haverá outro Didi); Joel (branco), Dida (branco), Mazola (branco) e Zagallo (branco).

Estreamos com um enganoso 3×0 sobre a Áustria. Contra os ingleses, Gilmar defendeu até pensamento e evitou o gol bretão, enquanto esquentavam a bunda, Pelé, Vavá (moreninho) e ninguém menos que Garrincha, mulato de Pau Grande. Pau Grande, calma, é a terra de Garrincha.

Para se classificar, o Brasil derrotou o tal futebol científico da União Soviética com show de Garrincha, gol de Vavá e espetáculo de Pelé: 2×0. Contra o País de Gales, 1×0, Pelé. Nas surras na França (semifinal), gols de Vavá, Didi, Pelé, Pelé e Pelé
e Suécia (decisão), por igual placar de 5×2, Vavá, Vavá, Pelé; Pelé e Zagallo, a crioulada transformou o Estádio Rasunda Solna, numa passarela de pagode.

E, para enterrar a tese ridícula sobre os negros, o lateral-direito De Sordi alegou contusão na véspera da finalíssima. O melhor jogador da Suécia era o ponta-esquerda Skoglund. O crioulo, ele gostava de ser chamado assim, Djalma Santos, entrou no fogo, tranquilo como cobrara o pênalti que ninguém quis bater contra a Hungria (4×2 pra eles), em 1954, anulou o extrema sueco e ainda foi eleito o melhor lateral-direito da Copa do Mundo.

Neto carnal de um negro com uma branca maravilhosa (minha mãe-avó), vomito preconceitos. Joga quem sabe jogar. Mas hoje, quando se olha para o gramado e se vê um preto, geralmente é estrangeiro. Falta melanina africana no futebol do Brasil.