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O ATLÉTICO MINEIRO DE TODOS OS TEMPOS

por Luis Filipe Chateaubriand

No gol, a experiência de Victor, o “São Victor”.

Na lateral direita, o chute forte de Nelinho.

Na zaga central, a boa colocação de Vantuir.

Na quarta zaga, a classe de Luisinho.

Na lateral esquerda, a impetuosidade de Guilherme Arana.

Para volante, a serenidade de Gilberto Silva.

Como meia direita, a polivalência de Toninho Cerezo.

Como meia esquerda, a genialidade de Ronaldinho Gaúcho.

Na ponta direita, a presteza de Paulo Isidoro.

Como centroavante, o espetáculo chamado Reinaldo.

Na ponta esquerda, a técnica de Éder Aleixo.

Victor; Nelinho, Vantuir, Luisinho e Guilherme Arana; Gilberto Silva, Toninho Cerezo e Ronaldinho Gaúcho; Paulo Isidoro, Reinaldo e Éder.

E aí?

Vai encarar?

VALEU A PENA SER UM “CABAÇUDO”

por Zé Roberto Padilha

O Torneio de Paris, em 1975, foi disputado pelos donos da casa, Porto ou Sporting de Lisboa, não me lembro, Atlético de Madrid e Fluminense. Como o PSG ainda não era tão forte, contrataram o maior jogador em atividade. E lhe deram a camisa 10 para dar glamour ao time e ao torneio: Cruyff.

Um ano antes, na Copa da Alemanha, marcou um dos gols com que a Holanda eliminou o Brasil por 2×0.

Quando o Fluminense o enfrentou, eu e Carlos Alberto Pintinho aproveitamos o intervalo e fomos pedir um autógrafo ao Cruyff do outro lado do campo.

Na volta, tomamos uma dura de uma velha raposa mordida, que estava naquele fatídico 2×0, Paulo Cézar Cajú. Nosso ídolo não nos poupou criticas :

– Com Felix, Marco Antonio e Rivelino aqui, tricampeões do mundo, pra que pegar autógrafo de quem não ganhou nada?

E completou:

– São dois cabaçudos mesmo!

Semana passada contei essa história para o meu neto. E mostrei a flâmula que ganhamos. E só agora, 48 anos depois, notei que foi nela que Cruyff nos concedeu a assinatura.

Bem, senhores colecionadores, cartas e propostas para a direção. Não é todo dia que o Cruyff vestiu a camisa que, hoje, pertence a Messi. Estou precisando pagar o IPTU e a assinatura de O Globo.

Acreditem, nem sabia que na galeria de um “cabaçudo” tinha uma preciosidade dessas. E você, Pintinho, guardou a sua?

NOVO FRACASSO DA SELEÇÃO

por Elso Venâncio

Ao longo dos últimos anos, os adversários vêm perdendo o respeito pela antes temida e poderosa Seleção Brasileira. Cheguei a ouvir que Marrocos era favorito, que deu a lógica. Como assim? É a primeira derrota sofrida em toda a História para essa escola africana.

O resultado não pode ser recebido com naturalidade. Ou o jejum superior a 20 anos sem conquistar Copa do Mundo alguma passou também a ser um fato normal?

Flávio Costa disse que o futebol brasileiro cresceu da boca do túnel para dentro do campo. Hoje, a fragilidade é dentro e fora de campo.

Péris Ribeiro, o biógrafo do Didi, acaba de me presentear com o livro “Paulo Machado de Carvalho – ‘O Marechal da Vitória’”. Confesso a falta que faz um ‘Marechal da Vitória’. Um dirigente que, depois de ouvir Didi e Nilton Santos, falou com Feola para escalar Pelé e Garrincha na Copa de 1958, a da Suécia, da nossa primeira conquista mundial.

Tite não deveria ter dirigido a Seleção após o fracasso na Rússia. A derrota nas quartas de final estava anunciada. O técnico convocou veteranos, como Daniel Alves, amigo do Neymar, sem nenhum questionamento. Apenas Telê Santana, o nosso grande comandante, perdeu uma Copa e foi mantido na seguinte.

Mestre Telê foi afastado por Giulite Coutinho, mesmo tendo formado um time que encantou o mundo, em 1982, na Espanha. Passaram pelo cargo Carlos Alberto Parreira, Edu, Evaristo de Macedo, até que, bem próximo à Copa do México, Telê foi reconduzido ao cargo, por Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid.

Antes do Mundial no Catar, todos sabiam que Tite não continuaria. A CBF decidiu esperar por Carlo Ancelotti, apostando no italiano, velho conhecido de alguns jogadores e ex-jogadores. A hora seria de Fernando Diniz, pelo que vem realizando, pela idade e pela forma ousada de jogar. Nós deixamos de ser protagonistas quando abandonamos o vitorioso futebol-arte.

Essa onda de técnicos europeus faz o Flamengo sonhar com Jorge Jesus, que se um dia voltar, certamente melhorará o time, sim. Disso não há dúvidas. Só que ele não repetirá o trabalho espetacular, mas atípico, que fez em 2019.

Que também não haja dúvidas em relação a isso.

SEM ESPERANÇA

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Antes que me perguntem, não assisti Brasil x Marrocos. Mesmo sendo um apaixonado por futebol, certas coisas não consigo engolir e prefiro não ver do que me aborrecer! Soube que perdeu e para mim não foi nenhuma novidade por dois motivos: já não somos mais aquela Seleção que impõe respeito e não é de hoje que os marroquinos jogam um futebol bonito de se ver. Ou já esqueceram que eles chegaram à semifinal da última Copa do Mundo?

Infelizmente temos que aceitar a nossa realidade! Ouvi um amigo dizer que hoje Casemiro é o melhor jogador do nosso time! Preciso falar algo mais? Os tempos mudaram, rapaziada! Não sou saudosista, sou realista!

Tentei me distrair vendo as Eliminatórias para a Eurocopa 2024 e também me surpreendi com a quantidade de países no torneio. Tudo bem que todos merecem uma chance, mas, na minha concepção, assim como a Conmebol, é mais uma estratégia da UEFA para arrecadar ainda mais grana. Sabe qual é o resultado disso? Jogos sofríveis e goleadas arrasadoras, como os 6×0 de Portugal contra Luxemburgo, com direto a dois gols de Cristiano Ronaldo.

Aqui no Brasil, as semifinais do Gauchão foram decididas nos pênaltis. Enquanto o Grêmio conseguiu a classificação no sufoco, o Internacional de Mano Menezes deu adeus após perder para o Caxias. Até quando?

Vi as imagens terríveis do quebra-quebra no final do jogo no Beira-Rio e quero saber qual será a punição que a federação gaúcha vai aplicar para o Inter! Esse é o exemplo que o clube dá para a torcida? Não é culpa só dos jogadores, mas não vi os seguranças agindo, por exemplo, o que torna a situação ainda mais preocupante! Um torcedor invadiu o campo com uma criança de colo e deu um chute no jogador do Caxias! Parece até cena de filme de terror, mas é a realidade do futebol brasileiro!

O único torneio que salvou meu fim de semana foi a Copa do Nordeste, que elogio não é de hoje! Bem antes de virar modinha, exaltava as partidas e os times, que não têm medo de jogar e estão sempre buscando o gol. Neste fim de semana não foi diferente e gostei de ver Fortaleza, Ceará, ABC e Sport na semifinal da competição.

Asneiras dos analistas de computadores que nós geraldinos não entendemos porcaria nenhuma:

“O treinador adota um modelo para potencializar seus jogadores agudos e o pitbull atleta para não perder sua identidade. Assim, conecta e frequenta a parte de dentro do campo com jogadas agudas, estacionando o busão e tabelando com a trave”.

“Com uma leitura de jogo horizontal, o time é obrigado a ficar mais com a bola para elaborar, encaixotar e tornar o modelo de jogo consistente e centralizados. Para isso, é necessário flutuar na beirada do campo, verticalmente, para desalinhar as torres gêmeas”.

“Sem a linha de cinco plantada, as assistências com intensidade espetando a bola na vertical tornam a transição para além da zona de conforto, passando pelo lado de fora e descongelando a posição”.

Basta desse linguajar que só confunde os geraldinos!

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – 2

por Eduardo Lamas

Capítulo 2

A música “Só se não for brasileiro nessa hora” (Galvão e Moraes Moreira) está acabando e João Sem Medo parece imerso naquela melodia e sua letra (“Só se não for brasileiro nessa hora…”), quando avista na porta do Além da Imaginação o seu grande amigo Ceguinho Torcedor, que entra auxiliado pelo Idiota da Objetividade e o Sobrenatural de Almeida.

João Sem Medo (de pé pra recebê-los): – Meus amigos, sejam muito bem-vindos! Hoje a resenha promete. Esses aqui saíram das crônicas do meu amigo Nelson Rodrigues especialmente pra esta resenha, Zé Ary. Este aqui é o Ceguinho Torcedor, ele não vai ver você, nem ninguém aqui direito, mas enxerga longe; Sobrenatural de Almeida, com todo respeito, este aqui apronta, e o Idiota da Objetividade, que veio aqui pra tirar um pouco da nossa fantasia. hahahaha Ele é o nosso copidésque!

Ceguinho Torcedor: – Que prazer, João! Garçom, traga-me um copo de leite, por favor. (a João) Meu amigo e irmão João Sem Medo, preciso tratar minha úlcera a pires de leite. Ela lambe como uma gata.

Agora é a vez de os músicos irem entrando aos poucos no restaurante-bar e arrumando seus instrumentos no palco. O bar neste momento já tinha muitas de suas mesas ocupadas.

João Sem Medo: – Amigos, o futebol brasileiro é uma coisa jogada com música. E a música aqui hoje também promete muito. Ceguinho, os músicos estão chegando.

Ceguinho Torcedor: – Que maravilha. O que vão tocar? Uma ópera, o “Rigoletto”?

Garçom: – Não, seu Ceguinho. Eles vão tocar música popular brasileira com grandes artistas, alguns já presentes aqui.

Sobrenatural de Almeida: – Artistas que são de outro mundo!

Garçom: – Isso, eles vão tocar músicas que falam de futebol. Do nosso futebol.

Ceguinho Torcedor: – Muito bem. Interessante.

João Sem Medo: – Pelo que o Zé Ary me contou, são músicas que todo torcedor de futebol deveria conhecer. 

Ceguinho Torcedor: – O torcedor é cego de paixão pelo seu clube. Mas o pior cego é o que só vê a bola.

João Sem Medo: – O torcedor é na verdade um distorcedor de fatos… 

Ceguinho Torcedor: – … Se os fatos o desmentem, pior pros fatos.

João Sem Medo: – … E é um grande saudosista. Principalmente quando seu time vai mal. E como nossa seleção vem muito mal das pernas já tem tempo, o melhor é falar do passado glorioso do nosso futebol, não acham? Recordar é viver! Isso dá samba, canção, marchinha, chorinho… Hum, chorinho de alegria, por favor, Zé Ary!

Com o grupo musical já a postos, um deles se levanta para se dirigir aos presentes.

Donga: – Saudações a todos! Nós, Os Oito Batutas, temos a honra de tocar aqui pra vocês novamente após tanto tempo. Estamos aqui em sete, então, pra completar o grupo, vamos chamar ao palco um ilustre integrante do nosso grupo que está lá no fundo. Vem pro palco, Pizindim!

Ceguinho Torcedor: – Os Oito Batutas aqui! Pixinguinha! Isso é fantástico.

Sobrenatural de Almeida: – Assombroso!

João Sem Medo: – Espetacular!

Pixinguinha se levanta de sua mesa no fundo do bar e se dirige ao palco sob fortes aplausos. Com o mestre na flauta, Os Oito Batutas tocam com maestria o clássico “Um a Zero”, de Pixinguinha e Benedito Lacerda.

Todos aplaudem de pé. 

Ceguinho Torcedor: – Ah, que bons tempos aqueles! Amigos, eis uma verdade eterna: o passado tem sempre razão. Por exemplo: o futebol antigo. Era, a meu ver, um fenômeno vital muito mais rico, complexo, intrincado. Hoje, os jogadores, os juízes e os bandeirinhas se parecem entre si como soldadinhos de chumbo. Não encontramos, em ninguém, uma dessemelhança forte, crespa, taxativa. Não há um craque, um árbitro ou um bandeirinha que se imponha como um símbolo humano definitivo.

Sobrenatural de Almeida: – Tá muito saudosista, Ceguinho.

Ceguinho Torcedor: – Nada mais antigo que o passado recente, meu amigo. Esta música que tocaram há pouco me lembra o Garrincha driblando, mas ela foi feita muito antes de o Mané nascer, vocês todos sabem muito bem disso.

Pixinguinha (antes de deixar o palco): – Essa música se chama “Um a Zero” e é uma homenagem à primeira grande conquista do futebol brasileiro, o Campeonato Sul-Americano de 1919. Muito obrigado.

Pixinguinha é mais uma vez aplaudidíssimo e se dirige novamente ao fundo do restaurante, agora acompanhado dos outros sete batutas.

João Sem Medo: – Ganhamos de 1 a 0 do Uruguai, no estádio das Laranjeiras, que tinha sido construído praquela competição, a terceira entre seleções da América do Sul.

Ceguinho Torcedor: – Um jogo épico, senhores! Um jogo épico decidido pelos pés de Arthur Friedenreich.

Sobrenatural de Almeida: – Com a minha intervenção, é claro.

João Sem Medo: – Tá bom, Almeida.

Ceguinho Torcedor: – Foi uma partida dramática, assistida por 25 mil torcedores no estádio do Fluminense e mais uns 10 mil nos barrancos próximos.

Idiota da Objetividade: – Brasil e Uruguai haviam terminado o torneio empatados em pontos e foi necessária a disputa de uma final.

João Sem Medo: – Os uruguaios foram pro jogo ainda abalados pela morte de seu goleiro Roberto Chery, que se chocou violentamente com um atacante chileno durante a competição.

Ceguinho Torcedor: – É isso mesmo. Eu estava lá, na arquibancada das Laranjeiras. Eu, meu amigo Gravatinha… Ainda éramos crianças, mas me recordo bem. Ninguém se continha de tanta expectativa e apreensão. Jogamos demais, demais.

Idiota da Objetividade: – Demais mesmo, o jogo terminou sem gols no tempo normal. Passou a prorrogação de 30 minutos e nada, apesar das muitas chances pros dois lados.

Ceguinho Torcedor: – Eu estava lá, eu estava lá. Gravatinha não pôde vir hoje pra atestar o que estou falando, mas podem confiar. Foi um grande jogo, meu coração não mente.

Zé Ary se dirige ao velho rádio em cima de uma estante, sintoniza na estação certa e todos podem ouvir a narração do gol de Friedenreich vinda do além de qualquer imaginação, pois o rádio só começou a transmitir jogos de futebol na década de 30, e – pasmem! – com imagens da partida projetadas num telão.

Transcrição da narração fictícia do gol: “Brasil no ataque. Neco invade o território uruguaio pelo lado direito, Foglino está em seu encalço. Neco leva na linha de fundo, cruza, Heitor bate firme, Saporiti defende, larga, o balão de couro sobra pra Friedenreich, é gol. Gooooooooool do Brasil, Friedenreich, Friedenreich, aos três minutos da segunda prorrogação! Nooooooooo placaaaaaaaaaaarrrrrr: Brasil uuuuuuuuuuum, Uruguai zerooooo”.

Todos no restaurante fazem uma festança com o gol, como se tivesse ocorrido naquele instante.

Sobrenatural de Almeida: – Que coisa linda! Que coisa linda eu fiz.

Idiota da Objetividade: – Ainda foram jogados mais 27 minutos, mas o placar ficou mesmo no 1 a 0 pro Brasil, que se tornaria assim, pela primeira vez, campeão sul-americano de futebol.

Sobrenatural de Almeida: – Eu desviei levemente a bola chutada pelo Heitor, por isso o Saporiti não conseguiu segurar. Já não aguentava mais aquele jogo sem gols.

Idiota da Objetividade: – Esta conquista ajudou muito a popularizar o futebol no Brasil.

Se você não acompanhou, confira o capítulo anterior da série:

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – 1 » Museu da Pelada