O VASCO DA GAMA DE TODOS OS TEMPOS
por Luis Filipe Chateaubriand
No gol, a classe e elegância de Moacir Barbosa.
Na lateral direita, a seriedade de Augusto.
De zagueiro central, a liderança de Hideraldo Luiz Bellini.
De quarto zagueiro, a sensatez de Mauro Galvão.
Na lateral esquerda, a versatilidade de Mazinho.
Como primeiro volante, Fausto, a maravilha negra.
Como segundo volante, a sobriedade de Danilo Alvim.
Na ponta de lança, o descortino de Roberto Dinamite.
Atacante pelo lado direito, a impetuosidade de Edmundo.
Centroavante, o oportunismo de Ademir Marques de Menezes.
Atacante pelo lado esquerdo, a genialidade de Romário.
Barbosa; Augusto, Bellini, Mauro Galvão e Mazinho; Fausto, Danilo e Dinamite; Edmundo, Ademir e Romário.
E aí?
Vai encarar?
DEVE SER COMO ACELERAR UMA MERCEDES
por Zé Roberto Padilha
Terça, durante a transmissão de Flu X Strongest, lembraram da nossa Máquina Tricolor, versões 75 e 76. O bom momento da equipe de Fernando Diniz merece a comparação com aquele time que tinha quatro tricampeões mundiais (Félix, Marco Antonio, Paulo César e Rivelino) além de Toninho, Edinho, Gil, Mario Sergio e Pintinho que jogaram na seleção.
E que tive a honra de jogar ao lado do Zé Mario, Cleber, Erivelton e Manfrine. José Carlos Araújo, o Garotinho, nos chamava, pela correria danada que fazia, de “O acelerador da máquina”.
Talvez por ter machucado tanto, poucas vezes tive vontade de estar ali de novo, naquele tapete do Maracanã, pois as contusões e as conquistas se equivaleram. Até que deram um close na chuteira do Ganso.
Depois de muitos anos, me deu vontade de chorar. E de voltar a jogar.
Que coisa maravilhosa. Algo que deve acontecer com o Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial, que construiu e dirigiu o Copersucar, ao ver a nova Mercedes entrar na pista.
A nossa chuteira (foto) era de couro duro e as seis trava (duas na frente e quatro atrás) eram atarrachadas com pinos que atravessavam um solado frágil e feria todo o pé. A batida na bola doía por todo o corpo.
Já a do Ganso, denominada Nitro Charge Adidas, tem o cabedal fabricado com Hybrid Touch-screen, que combina os benefícios do couro e do sintético em um único material para obter leveza e conforto.
Traz a tecnologia Energy Pulse, unidade elástica localizada na frente do pé que oferece um retorno da energia empregada na corrida.
Já falei que deu vontade de chorar e jogar?
Tudo bem. Ganso merece. Eu e o Emerson merecíamos também.
Foi bom, deu vontade de vestir outra vez a camisa 11 tricolor e entrar em campo porque o Eduardo, meu neto, ligou dizendo que estava no setor leste.
“Perto da geral?”. Perguntei.
À esta altura, já delirava na ligação.
MESTRE ZIZA
por Péris Ribeiro
Como Pelé, não havia zagueiro que o marcasse. Como Pelé, aprendeu a bater para preservar a integridade. Justo a integridade de quem sabia mais em um campo de bola. De quem podia, sempre, dar gols e talento refinado de presente para as arquibancadas em festa.
Ah, que pena, torcedor de hoje, você não ter visto as coisas que esse Thomaz Soares da Silva inventava, num repente, a cada palmo de grama. Coisas que lhe davam um ar de Mozart tecendo filigranas ao piano. Ou faziam com que a gente sentisse que, ali, estava um Leonardo da Vinci criando obras primas com os pés, na imensa tela do gramado do Maracanã.
Mesmo assim, torcedor de hoje, de uma coisa tenha você a certeza: aquele moço moreno, de mediana estatura brasileira, mereceu como poucos a cognominação universal de Mestre. E foi como Mestre que imperou absoluto pelos nossos campos, por volta das décadas de 40 e 50.
Ídolo e espelho no qual procurava se refletir o então menino Pelé, aquele gênio por excelência do futebol viveu momentos de idolatria junto ao povo. E tais momentos, por sinal, só seriam comparáveis aos dedicados a mitos como o presidente Getúlio Vargas, o “Gegê Pai dos Pobres”. Ou a Francisco Alves, o inigualável “Rei da Voz” dos auditórios da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
Dono de muitas glórias, o que o Mestre Ziza costumava comentar era que, de algumas delas, chegava a guardar lembranças forte, eternas – certamente, um contrabalanço para a dolorosa perda da Copa de 50, em pleno Maracanã, para os uruguaios.
- No tricampeonato que ganhei com o Flamengo, onde já brilhavam o Domingos da Guia e o Perácio, dei logo o ar da minha graça, pois parti para a consagração bem no início da carreira, no começo dos anos 40. E na Seleção, também tive bons momentos. Ajudei o Brasil a ganhar a Copa Rocca da Argentina, em 1945. Ganhei a Taça Oswaldo Cruz dos paraguaios duas vezes. E fui campeão do Sul-americano de 1949, sendo considerado o maior jogador da competição – lembrava com carinho o velho Mestre.
Que gostava sempre, no entanto, de comemorar uma conquista toda especial:
- É que em 1957, aos 38 anos, provei a mim mesmo – e a muita gente que já duvidava do meu futebol – que não estava acabado. Que podia comandar um time, ainda. Então, ser campeão naquele ano com o São Paulo, foi uma emoção que mexeu muito comigo. Ainda mais, porque ganhamos do Santos do Pelé de 6 a 2, em plena Vila Belmiro. E do Corinthians, do Luizinho “Pequeno Polegar”, de 3 a 1, na grande decisão. Não há como negar. Aquele meu São Paulo era mesmo espetacular!
Particularmente, porque tinha o Poy no gol; o Mauro e o De Sordi, lá no fundo-de-zaga; o Maurinho, o Gino e o Canhoteiro arrasando no ataque. E o Dino Sani ali comigo, dominando o meio-de-campo…
Gênio na acepção do termo, eis que o que chega, até mesmo, a soar como inverossímil, é que aquele venerável Mestre Ziza – ou simplesmente, Zizinho – nunca tenha deixado de mostrar um total espírito guerreiro em campo. Solidário como poucos, era visto a acudir, a qualquer tempo e momento, o companheiro em apuros. Fosse na disputa de uma jogada ou no ato de uma covarde agressão, praticada por um zagueiro adversário.
Só que o que devia mesmo, isso sim, era jogar sempre de fraque e cartola. Sapatos de cromo, ao invés de chuteiras. Como o irretocável deus dos estádios, que sempre foi…
A MARCA DA REVOLUÇÃO DO CONTEXTO SUPERVISIONAL FUTEBOLÍSTICO
por Reinaldo Sá
Pensando rapidamente me lembro de alguns supervisores que marcaram o futebol, especialmente o carioca. Para mim, Roberto Seabra, que passou por alguns clubes, entre eles Fla, Flu e América, revolucionou esse cargo e, sem dúvida, valorizou e deu credibilidade a essa função. Hoje, a SAF (Sociedade Anônima do Futebol) evolui e já atua em alguns clubes brasileiros, sendo dois cariocas, Vasco e Botafogo. O cargo de supervisor resiste e também já foi chamado de gestor, manager e outras nomenclaturas menos cotadas. Mas ter um supervisor dava grife e muitos ficaram famosos.
Quem não se lembra do Catuca, da época de ouro do Bangu? E do folclórico Domingos Bosco, do Flamengo, que criava factóides para desviar a atenção dos jornalistas quando o time perdia? Era queridíssimo e ganhou espaço com a FAF, bem antes da SAF, Frente Ampla do Flamengo, capitaneada pelo vice Walter Clark, Márcio Braga e outros que deleitaram aos cantos do Galo de Quintino a cada triunfo conquistado no templo do futebol.
A principal função de um supervisor é intermediar questões entre jogadores e diretoria, mas alguns vão além.
Paulo Alvarenga substituiu Domingos Bosco e seguiu à risca de estar sempre observando as categorias de base. O vice-presidente do Vasco para estar bem cercado contratou Paulo Angioni e promoveu Isaias Tinoco, que era o responsável pelas categorias de base.
Em uma época árida, seca, o bicampeão mundial Nilton Santos levou a sua Enciclopédia e categoria para gerir em Marechal Hermes um Botafogo que buscava o brilho de outrora, ofuscado pela falta de títulos e a constante insegurança salarial, que era normalmente coberta por apaixonados torcedores, como Agnaldo Timóteo, Luizinho Drummond e Emil Pinheiro, que trouxe o brilho de uma conquista estadual depois de duas décadas em cima do Flamengo, com o gol do Maurício.
Mas Roberto Seabra é o meu preferido. Surge como supervisor na gestão de Lúcio Lacombe, em 1982 , com o objetivo de resgatar um América perdido no tempo. E foi buscar jogadores sem oportunidade, tais como o goleiro Gasperin, Chiquinho, Duilio, Airton, Pires, Gilberto, Elói, Lúcio, Gilson Gênio e a estrela rubra Luizinho Lemos. O resultado foi rápido! O entrosamento criado ainda na antiga sede da Rua Campos Salles e no Estádio Wolnei Braune, em Vila Isabel, fez desse revolucionário supervisor um ápice de sucesso que levou ao interesse do Fluminense e do Flamengo. Seabra era mais que um supervisor, era um gestor, era de tudo um pouco. Isso quando se nem sonhava com o futebol empresa. Roberto Seabra foi o ponto de apoio de passagem do futebol amador para uma gestão profissional. Máximo respeito por esse cargo!
NO FINAL, FICA A ESTÁTUA, VAI-SE O EXEMPLO
por Zé Roberto Padilha
Roberto Dinamite é o símbolo do Vasco. Um clube querido que traz nas suas origens o legado dos nossos colonizadores.
Pedro Álvares Cabral nos encontrou e devemos a eles não apenas a linguagem, as padarias, a exaltação às mulatas nativas, mas também ter criado uma associação esportiva simpática e vitoriosa.
Já o SAF entra na história do Brasil como uma daquelas naus piratas que um dia vieram buscar nossas riquezas. Holandeses, ingleses, franceses e até nosso vizinho, Francisco Solano Lopez, quis levar uma beirada da gente.
Nossa maior matéria prima, os jogadores de futebol, se juntaram ao pau-brasil, ao açúcar, a borracha, ao café e os diamantes e foram tornar o mundo mais feliz. Já o SAF não.
O maior estrago causado pelos SAFs com nossas origens desportivas é que o último lugar que eles visitam, nos clubes que assumem, é o salão de troféus. Seus gestores pouco se importam com suas salas da memória. Seus arquivos de lutas, conquistas e glórias.
Vão direto ao caixa. E por lá ficam, respiram e vão buscar lucros. Phoda-se se o Botafogo precisar do Jefinho, temos o Lyon, que seu treinador espere o Matheus Nascimento crescer.
Que se deixe de lado as fotos de Nilton Santos, Garrincha e Jairzinho e coloca-se a foto do presidente do Banco Central, Campos Neto, nos salões já não tão nobres.
E assim vai se apagando a história de uma estrela solitária em prol do lucro financeiro para poucos. E assim, Roberto Dinamite, vê todo seu exemplo de amor ao clube, não ao caixa, ser concretado.
Na verdade, a história, implacável, nos lembrará que tudo ocorreu debaixo do nosso descaso. Da nossa mais completa omissão.
Que meu Fluminense resista. Por Castilho, Preguinho, Pindaro, Fred e Pinheiro.