Escolha uma Página

DINIZ, UMA POSSÍVEL REVOLUÇÃO EM NOSSO FUTEBOL

por Paulo-Roberto Andel

Nos últimos tempos, a grande sensação do futebol atende pelo nome de Fernando Diniz. O jovem treinador, finalmente campeão pelo Fluminense, pauta redações e estúdios com seu trabalho e não poderia deixar de ser diferente – há muito tempo não se vê no futebol brasileiro algo que tão bem resgate o melhor das nossas raízes, expressas em talento, qualidade e beleza. Pelo menos no Rio de Janeiro é comum ouvir torcedores de outros times dizendo que gostam de ver o Flu por causa do futebol. E para os próprios tricolores, este é um momento de grande luminosidade técnica no século XXI, mesmo o clube tendo outros grandes momentos no período.

É claro que todos querem ganhar partidas e conquistar títulos. Agora, o que Diniz vem promovendo nos últimos tempos é uma velha máxima que o nosso futebol andou deixando de lado: é possível ser competitivo com talento e técnica, é possível ganhar e também com qualidade, mostrando um bom futebol. Nem todos percebem, mas Diniz, independentemente de figurar futuramente na Seleção, pode ajudar muito o futebol brasileiro, tirando-o do atoleiro em que há muito se encontra, sem abrir mão dos paradigmas completos do jogo.

Ganhar e jogar bem, com talento, com belas jogadas, com beleza plástica, foi algo condenado no Brasil há 41 anos, quando a Seleção Brasileira foi amaldiçoada pela derrota no Sarriá em 1982. A indignação com a eliminação foi tamanha que muitos passaram a defender a prioridade do futebol-força, onde não há espaço para nada que não seja o pragmatismo de resultados, ignorando toda a nossa história. Em nome da “competitividade”, a meta passou a ser o desprezo à qualidade, cujos resultados são bastante contestáveis. O futebol de nomes como Zenon, Pita, Dicá, Aílton Lira, Falcão, Sócrates, Zico, Deley, Andrade, Adílio, Mário Sérgio, Mendigo e outros deveria ficar em segundo plano. A moda passou a ser dos brucutus com grife, dos burocratas da bola e, como Nelson Rodrigues já dizia bem antes, dos idiotas da objetividadade.

Ainda não se sabe se o estilo de jogo proposto por Diniz vingará com grandes títulos, mas uma coisa é certa: ele já tem feito burburinho, causado admirações e suspiros, recobrando para muita gente o que já foi um dia reconhecido como a marca do nosso futebol. Tem causado debates e análises mais aprofundadas. Tomara que dê tudo certo: nosso futebol não pode abandonar seus momentos mais bonitos para sempre, esse resgate tinha que ser feito. Em caso de pleno êxito do treinador, a onda vai se espalhar e causar uma verdadeira revolução no futebol brasileiro. Assim seja, pois.

GOLS ESPETACULARES!

por Elso Venâncio, repórter Elso

Todos temos nossos gols marcantes, preferidos, inesquecíveis… Nas decisões, os gols ficam eternizados na memória do torcedor.

Gols de falta, como os de Zico, Petkovic, Rogério Ceni, Roberto Dinamite, Nelinho, Neto, Rivellino. Gols de pênalti, como as cavadinhas de Djalminha, Loco Abreu e até Zidane, em final de Copa do Mundo. Gols de placa, como o de Pelé contra o Fluminense, o de Marcelinho Carioca diante do Santos e aquele de Neymar, frente ao Flamengo, que lhe rendeu o ‘Prêmio Puskas’ de 2011.

Alguns são eternos, como os que deram títulos mundiais a nossos clubes. Como os dois de Renato Gaúcho, em 1983, contra os alemães do Hamburgo. Os dois de Nunes, também em Tóquio, diante dos ingleses do Liverpool. E os de Raí, frente ao Barcelona, na decisão de 1992.

Faço, porém, questão de relembrar três gols. Os que considero os mais espetaculares marcados em Copas do Mundo.

No Mundial na Suécia, o primeiro conquistado pelo Brasil, Pelé, aos 17 anos, tornou-se o mais jovem atleta a marcar numa Copa. Na final uma cena impressionou o mundo. O até então desconhecido camisa 10, um garoto magricela, ergue o braço direito pedindo a bola dentro da área. Imaginem a ousadia daquele que se tornaria o ‘Rei do Futebol’:

“Aqui, em mim!” – gritou, com voz grave.

Nilton Santos, a ‘Enciclopédia do Futebol’, que apesar de ser lateral-esquerdo era destro, olhou para a área e lançou, de longa distância, com a canhota. Pelé matou no peito, deu um chapéu no zagueiro sueco e da marca do pênalti fuzilou de direita. QUE ESPETÁCULO!

Em 1970, no México, um gol com participação coletiva de quase meio time registrou um dos últimos momentos do futebol-arte. Na decisão, 4×1 sobre os italianos, Piazza tocou para Clodoaldo, que rolou lateralmente para Gerson e recebeu de volta. De repente ‘baixou’ o espírito de Garrincha no ‘Corro’, que saiu driblando ou fintando um, dois, três, quatro adversários, até passar a Rivellino, que descobriu Jairzinho. O ‘Furacão da Copa’ deixou o grandalhão Fachetti, que lhe marcava homem a homem, sem chão ao passar rapidamente a Pelé, que, sem sequer olhar para o lado, tocou na direita, onde entrava Carlos Alberto Torres. A bola rolada limpa e linda, rente à grama, ainda se deu ao luxo de dar um leve quique no gramado antes de encontrar o pé do ‘Capita’, que bateu forte, cruzado, estufando as redes de Albertosi. QUE GOLAÇO!

Em 1986, argentinos e ingleses se enfrentaram, pelas quartas de final do Mundial, após a cruel e insana ‘Guerra das Malvinas’. Foi uma nova batalha, já que até hoje a Argentina não engole a derrota no arquipélago. Dois jogos antes da vitória por 3 a 2 contra a Alemanha, na decisão, nasceu o lance histórico. Diego Maradona pegou a bola ainda no seu campo, começou a se desviar dos adversários, foi para a meia direita e passou em velocidade por um, dois, depois driblou o goleiro Shilton e tocou para o fundo das redes. QUE SHOW DE GOL!

Quantos gols maravilhosos!!! E você, que certamente já viu inúmeros gols lindos, históricos ou de placa, qual o que mais te emocionou? Qual foi aquele que marcou a sua vida no futebol?

O MAU EXEMPLO

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::

Como um admirador do futebol, aproveitei o domingo ensolarado no Rio de Janeiro para assistir Vasco x Palmeiras, no Maracanã. Antes de mais nada, me chamou a atenção o fato de nenhum dos treinadores estarem na beira do gramado, visto que foram expulsos logo na primeira rodada.

O tema já foi abordado aqui na coluna algumas vezes, mas a confederação precisa tomar alguma atitude drástica para dar uma basta na falta de educação no banco de reservas. Tudo bem que o Barbieri não é de apelar, mas quantas vezes o Abel Ferreira já foi expulso? Li uma matéria que dizia que já foram 37 cartões amarelos e sete vermelhos desde a sua chegada. Os treinadores deveriam dar o exemplo para os jogadores e para a torcida, mas não é o que vemos por aí!

Sobre a partida, gostei da atuação do Vasco, mas era nítido que os jogadores não ia conseguir manter aquele ritmo por 90 minutos e deu no que deu. Por pouco o Palmeiras não conseguiu a virada.

Ainda estamos na segunda rodada do Brasileirão e já tivemos algumas trocas no comando dos clubes. No São Paulo, Dorival assumiu, ganhou de 3×0 do América-MG, mas ainda é muito cedo para dizer que isso já é fruto do trabalho dele. No Corinthians, a vida de Cuca não será nada fácil e não digo só pela pressão dos torcedores que foram contra a sua contratação. Trata-se de um time de veteranos, com Cássio, Fagner, Gil, Renato Augusto, Fábio Santos, Giuliano, Paulinho, que não sei se terá fôlego para uma competição tão longa. Além disso, Cuca terá um verdadeiro de teste fogo nesta semana, quando enfrenta o Remo, pela Copa do Brasil, precisando reverter os 2×0.

Assim como o Corinthians, o Flamengo precisa reverter o mesmo placar diante do Maringá. Por falar no rubro-negro, ouvi alguns flamenguistas dizendo que gostaram do desempenho do time mesmo com a derrota. Também já comentei que os jogadores do Flamengo são acima da média para o Brasil, mas não consigo ver um conjunto como o do Fluminense, por exemplo. Vejo um espaço entre os setores defensivo e ofensivo, o que prejudica e muito durante os 90 minutos.

Gostaria de encerrar a coluna com o futebol europeu. Manchester City e Real Madrid vão se enfrentar pela semifinal da Liga dos Campeões e é impossível cravar um favorito. A minha torcida, claro, é pelo futebol bem jogado do Guardiola, mas tudo pode acontecer, ainda mais se tratando de Real Madrid, um time muito bem treinado, que cresce nos momentos decisivos.

Pérolas da semana:

“Com um jogo contínuo pela ala esquerda ou ala direita, o time encorpado amassa o adversário por dentro no 4-1-4-1, abdicando da bola e centralizando a última linha de quatro com amplitude pelas beiradas”

“Para encaixar o modelo de jogo na zona central, o treinador tem gordura para queimar no time pesado e cascudo, que faz a ligação direta para o cara do X1 encaixar na zona por dentro e chapar na cara da bola”.

“Jogadores agudos pelos lados do campo, fazendo associação e baixando a linha de zagueiros na transição com o meia central na diagonal”.

Quanta asneira, geraldinos!

10 ANOS SEM O GODOFREDO CRUZ

por Wesley Machado

O antigo estádio Godofredo Cruz, do Americano Futebol Clube, fica localizado na Avenida 28 de Março, número 948, no Parque Tamandaré, em Campos dos Goytacazes-RJ.

O Estádio Godofredo Cruz foi inaugurado em 24 de janeiro de 1954 em uma rodada dupla entre Americano X Vasco e Goytacaz X Bangu.

Em 24 de agosto de 1975, no Godofredo Cruz, o Americano venceu o Santos por 2 a 1 na estreia do Campeonato Nacional em dia de grande festa no estádio e na cidade de Campos.

Menos de seis meses depois, no dia 17 de fevereiro de 1976, o Alvinegro Campista derrotou, em sua casa, o maior rival, o Goytacaz, por 1 a 0, gol de Paulo Roberto de pênalti, e conquistou o Eneacampeonato Campista.

Em 30 de março de 1983, o Godofredo Cruz recebe o que é considerado o maior público oficial da história do estádio, 22.853 pagantes na partida do Americano contra o Flamengo.

Em 28 de abril de 2002 o Americano ganhou, em seu estádio, o Vasco por 2 a 1 de virada e se sagrou campeão da Taça Guanabara, num dos maiores feitos do clube.

O último grande momento do Godofredo Cruz foi o amistoso de Túlio Maravilha com o Botafogo em 27 de dezembro de 2012. No ano seguinte, 2013, há exatos 10 anos, o estádio foi demolido.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 6

por Eduardo Lamas Neiva

Enquanto Gonzaguinha, Ruy e Magro se despedem da plateia agradecendo pelos aplausos, Zé Ary vai à vitrola e põe pra tocar a faixa “Futebol de Bar”, do disco “São Paulo-Brasil”, de Cesar Camargo Mariano, lançado em 1977.

Um músico: – Ótima escolha, Zé Ary! Cesar Camargo Mariano é muito fera.

Garçom: – E o nome da música tem tudo a ver com o que estamos presenciando: Futebol de Bar.

João Sem Medo: – Boa, Zé Ary. Muito boa!

Ao fim da música, a plateia volta todas as suas atenções aos quatro amigos, que aproveitam a deixa silenciosa para prosseguirem a conversa de onde haviam parado antes da interpretação de Gonzaguinha, Ruy e Magro de “Se o meu time não fosse o campeão” 

João Sem Medo: – Ainda nos anos 10 do século XX, as vitórias dos grandes clubes, principalmente nos clássicos, já estavam fazendo os torcedores vibrarem mais com a gozação após a vitória sobre um rival.

Ceguinho Torcedor: – É verdade, João. Certa vez, em 1915, encomendamos um jantar de vitória quando vencíamos o América por 3 a 0, mas quem apareceu no restaurante no Centro da cidade foram os americanos. Eles viraram pra 5 a 3.

Sobrenatural de Almeida: – A partir daí, os jantares só eram marcados quando o árbitro apitava o fim do jogo. hahahaha

Ceguinho Torcedor: – O problema era contratar a banda pra tocar. Os músicos ficavam escondidos. Se vencíamos, eles apareciam e tocavam a noite toda. Mas se perdêssemos, a banda ficava esperando a turma do time rival sair de frente do restaurante ou da sede pra ir embora de fininho.

Músico (do palco): – E os músicos não recebiam?

Ceguinho Torcedor: – Sim, recebiam. Eram pagos mesmo assim.

João Sem Medo: – Pros clubes grandes da zona sul do Rio, Fluminense, Botafogo e Flamengo, o pior era aguentar o gozo dos torcedores do América, que era até então, o único time grande da zona norte. E isso começou a criar rivalidades que iam pro campo, e a cordialidade já não era mais a mesma. Houve muita invasão de campo e pancadaria, inclusive no aristocrático estádio das Laranjeiras.

Ceguinho Torcedor: – Em 16, num Fla-Flu, Coelho Netto, que era deputado, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras e pai de Preguinho, grande ídolo tricolor…

Idiota da Objetividade: – … autor do primeiro gol da seleção brasileira numa Copa do Mundo, em 1930, no Uruguai.

Ceguinho Torcedor: – Ídolo tricolor de todos os esportes, o Preguinho. Um super-campeão, um multi-homem! Mas eu falava de seu pai, deputado, escritor, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras junto com Machado de Assis… pois bem, ele, naquele Fla-Flu de 1916, pulou o alambrado pra invadir o campo, inconformado com o árbitro, que tinha mandado repetir uma cobrança de pênalti pro Flamengo que Marcos Carneiro de Mendonça…

Idiota da Objetividade: – O primeiro goleiro da seleção brasileira!

Ceguinho Torcedor: – Exatamente, exatamente… Como eu falava antes de ser interrompido pelo Idiota, o árbitro mandou repetir uma cobrança de pênalti que Marcos Carneiro de Mendonça tinha defendido, e a elegância do Coelho Netto foi deixada nas sociais. Com sua bengala ameaçadora foi pra cima do juiz. Aquela ação do nobre deputado acabou incentivando a torcida tricolor a invadir o campo também. O jogo, que era vencido pelo Flamengo por 3 a 2, foi suspenso e disputado em outra data. O Fluminense acabou vencendo por 3 a 1.

Idiota da Objetividade: – Uma vergonha!

Sobrenatural de Almeida: – Naquele dia, eu já tinha feito o Fluminense perder um pênalti, cobrado pelo Riemer, pra fora.

João Sem Medo: – Naquele tempo, a regra determinava que se a confusão durasse pelo menos cinco minutos o jogo era suspenso.

Sobrenatural de Almeida: – O pessoal entrava na confusão de olho no relógio se o seu time estivesse perdendo.

Idiota da Objetividade: – Como sempre, o jeitinho brasileiro prejudicando o espetáculo.

João Sem Medo: – Mas nos primeiros anos do futebol tivemos também grandes exemplos de esportividade e honestidade. Mimi Sodré, um dos maiores nomes do escotismo brasileiro, é um deles. Mimi apontava ao árbitro quando cometia uma infração.

Garçom: – Isso existiu no Brasil? Ah, só antigamente mesmo.

João Sem Medo: – Mimi Sodré, campeão pelo Botafogo em 1910 e 1912, quando também foi artilheiro do campeonato, se a bola batesse na mão dele, não dava mais um passo sequer. Chegou a pedir ao árbitro pra anular um gol seu, num jogo da seleção brasileira militar.

Ceguinho Torcedor: Mario Filho contou também que Mimi Sodré tirou algumas vitórias do Botafogo com sua honestidade. Os outros jogadores do Botafogo tentaram mudá-lo, em vão.

Garçom: – Seu Mario Filho bem podia vir aqui pra contar essas e muitas outras histórias.

Ceguinho Torcedor: – Seria ótimo, mas infelizmente ele não poderá vir desta vez. De alguma forma, ele está presente, pois muito do que estamos contando ele revelou em seu clássico livro “O negro no futebol brasileiro” e em crônicas que assinou nos jornais em que trabalhou e comandou. Recomendo que leiam.

Sobrenatural de Almeida: – Mario Filho conta também que quando Mimi Sodré levantava o dedo, a arquibancada vinha abaixo, parecia gol, mas o “Menino de Ouro”, que depois virou “Velho Lobo” pros escoteiros, era muito querido da torcida por ser honesto demais. As moças davam gritinhos entusiasmados e todo mundo batia o pé na arquibancada. Assombroso o Mimi, assombroso!

Alguém na plateia: – Assombroso mesmo. Já pensou hoje um jogador pedindo ao árbitro pra anular um gol que marcou? É capaz de apanhar da própria torcida.

Sobrenatural de Almeida: – E ainda ser expulso de campo por desacato ao árbitro. (dá sua risada medonha) hahaha

João Sem Medo: – Aconteceu algo parecido, não tem muito tempo, num clássico em São Paulo…

Idiota da Objetividade: – … Isso mesmo, João. Foi no primeiro jogo da semifinal do Campeonato Paulista de 2017. O zagueiro Rodrigo Caio, do São Paulo…

João Sem Medo: – Hoje no Flamengo…

Idiota da Objetividade: – Isso mesmo. Ele, naquele clássico paulista,  disse ao árbitro que Jô, atacante do Corinthians, não havia atingido o goleiro tricolor Renan Ribeiro e sim ele próprio. Com isso, o cartão amarelo que havia sido dado pro Jô foi retirado pelo árbitro Luis Flávio de Oliveira.

João Sem Medo: – Alguns torcedores do São Paulo não gostaram. Parece que o técnico, o Rogério Ceni, e alguns jogadores do time tricolor também não.

Idiota da Objetividade: – O Corinthians, que já vencia por 1 a 0, depois fechou a vitória com mais um gol.

João Sem Medo: – No início da década de 10, o torcedor se manifestava poucas vezes, era mais contido durante os jogos. Até pelos próprios árbitros, como já dissemos. Às vezes parecia jogo de tênis. Mas com o passar do tempo, com o futebol ficando cada vez mais popular e os estádios ficando mais cheios, o barulho foi aumentando.

Ceguinho Torcedor: – Nos anos 20, o público cresceu ainda mais nos estádios de futebol, e as arquibancadas começaram a ficar sem os rostos conhecidos e passou aos poucos a receber a massa. O barulho aumentou muito e aí eu já não estava mais tão sozinho nos gritos. Mas era um solitário, pois a multidão é inumana, não tem cara.

Sobrenatural de Almeida: – Até música passou a ser cantada e tocada nas arquibancadas.

O papo estava tão animado que ninguém – ou quase ninguém – percebeu que Mussum tinha subido ao palco e aguardava a deixa pra poder se anunciar.

Mussum: – Cacildis! Vou aproveitar a brecha pra penetrar nessa área. Cês me permitem?

Os quatro amigos e o público concordam, com entusiasmo.

Mussum: – Obrigadis! Cês tão falando de torcedor e música, então vou cantar uma coisinha do Dicró, que está por aí, eu acho. Ele, depois de tomar umas e outras com a gente, vem aqui pra cantar umas boas também. “O torcedor”, vamo lá, rapaziadis!

Depois de se divertirem muito, todos aplaudem.

Mussum: – Obrigadis, minha gente! Olha, antes de me pirulitar, quero deixar um recado pros babacas racistas que sacanearam meu filho num estacionamento lá no Rio um tempo atrás. Eu pego vocês, me aguardem!

É mais aplaudido ainda. De pé.