AINDA SOBRE FUTEBOL
por Paulo-Roberto Andel
O que tem de mágico e apaixonante neste jogo que encanta as pessoas há mais de cem anos?
Um jogo de futebol nunca é só um jogo de futebol. São vários jogos e mil coisas acontecendo ao mesmo tempo enquanto a bola rola.
Pode ser no Maracanã, no Engenhão ou na TV: a cada passe, drible ou gol, a cada bela jogada, todos os olhos se tornam infantis, embevecidos pela magia da bola. Repare num botequim quarta-feira à tarde nos jogos da Champions. Ou à noite, nas partidas do Brasil.
O massacre do Fluminense sobre o River Plate fez os tricolores mergulharem pela insônia por todo o país. No Maracanã, perto dele, em todo o Rio de Janeiro e em outros Estados.
Agora, para entender o que é o futebol, basta acompanhar um garotinho humilde, trabalhador, bem pequeno, carregando seu pacote de caixinhas de Mentos para vender no Centro, nas estações do VLT. Orgulhosamente vestido com sua camisa laranja esgarçada e poída do Fluminense, do mercado popular, ele caminha como um pequeno príncipe pelas ruas do Centro. Enquanto luta pela própria sobrevivência e de sua família, o escudo tricolor que estampa aquela camisa é seu brasão de nobreza.
Quase tudo está errado ali: ele deveria estar brincando, sorrindo, se divertindo bem alimentado e feliz, não trabalhando, mas diante de toda aquela evidente dificuldade, o futebol dá cidadania ao menino. A única coisa certa é a pequena felicidade que nos inebria, a pequena grande felicidade do futebol.
A vida é dura e injusta demais, mas não há mal da natureza que derrube o amor de um garotinho pelo seu clube de futebol. O esporte do coração é a luz para um garotinho, é seu pertencimento, seu norte.
Lá vai o menino, lutando muito, sonhando como nunca, tendo o Fluminense como oxigênio, andando feliz com sua camisa e seu lindo escudo.
Quando a bola rola, todos temos dez ou oito anos de idade.
O MITO DA SELEÇÃO DE 1982
por Luis Filipe Chateaubriand
É sem sombra de dúvida que a Seleção Brasileira da Copa do Mundo de 1982 era uma grande seleção.
Porém, trata-se de uma seleção superestimada.
O time de Zico, Sócrates, Falcão, Júnior, Leandro e companhia era muito bom tecnicamente, porém deficiente do ponto de vista tático.
Duvida?
Aos fatos:
· No primeiro jogo da Copa – vitória de 2 x 1 sobre a União Soviética –, os soviéticos tiveram dois pênaltis ao seu favor não assinalados; ou seja, a Seleção deveria ter perdido logo o primeiro jogo.
· No segundo jogo da Copa – vitória de 4 x 1 sobre a Escócia –, o time escocês era fraco, fácil de ser vencido.
· No terceiro jogo da Copa – vitória de 4 x 0 sobre a Nova Zelândia –, o time neozelandês era de uma fragilidade enorme.
· No quarto jogo da Copa – vitória de 3 x 1 sobre a Argentina –, o time argentino estava mal, Kempes estava mal, Ardiles estava mal, Passarela estava mal, Maradonna estava mal.
· No quinto jogo da Copa – derrota de 3 x 2 para a Itália –, os italianos dominaram o jogo amplamente, mereceram vencer.
Então, a Seleção Brasileira de 1982, decantada em “prosa e verso”, era boa, mas encontrou adversários fáceis, foi ajudada pela arbitragem e, quando realmente encarou uma “parada dura”, perdeu.
Esses são os fatos.
O ÍDOLO RIVELLINO
por Elso Venâncio, o repórter Elso
O ídolo de Maradona é um brasileiro:
“Eu cresci querendo ser Rivellino” – dizia ‘El Pibe de Oro’.
Simplesmente, Diego o idolatrava:
“Pelé ou Rivellino?”
“Rivellino!” – respondia, sem pestanejar.
“E Maradona ou Rivellino?”
“Rivellino!”
O ‘Garoto do Parque São Jorge’, famoso por decidir jogos com seus dribles, lançamentos, cobranças de falta, habilidade e elegância com a perna esquerda, foi massacrado pelos próprios corintianos após a derrota de 1 a 0 para o Palmeiras, na final do Paulistão de 1974. A pressão ficou insuportável, com o jejum alcançando duas décadas sem títulos. A Fiel, única torcida do país que usa quando quer o poder que tem, resolveu afastar do clube o tricampeão do mundo, um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos, como se fosse ele o único culpado.
Ao mesmo tempo, o Juiz Criminal Francisco Horta assumia o Fluminense. Em 1975, o dirigente conseguiu dobrar uma ‘velha raposa’, Vicente Matheus, folclórico presidente do Timão, contratando o craque para o tricolor carioca. Também tirou Paulo Cezar Caju do Olympique de Marselha e, botando fogo no futebol carioca, instituiu a política do ‘troca-troca’. Rivellino e Paulo Cezar, se jogassem hoje, estariam na Europa disputando o prêmio de melhor do mundo.
Rivellino estreou num sábado de Carnaval, justamente contra seu ex-clube, o Corinthians. No amistoso, fez três na goleada por 4 a 1, diante de mais de 40 mil tricolores no Maracanã. Um mês após chegar ao Rio, conquistou a Taça Guanabara, diante do América, que tentava o bicampeonato. De quebra, marcou o gol do título, no fim da prorrogação. Após um teimoso 0 a 0, soltou a ‘Patada Atômica’ batendo uma falta de longe. A bola explodiu na barreira, mudou de direção e entrou. Horta, das tribunas, entoou:
“É o gol do alívio! Falavam que gastamos muito dinheiro, mas agora o nosso craque é campeão!”
Em seu primeiro Campeonato Carioca, Riva fez um gol histórico contra o Vasco. Cara a cara com o marcador Alcir Portella, aplicou um elástico arrasador, tocando a bola por entre as pernas do adversário. Seguindo o lance, entrou na área, passou por Renê e, quando o argentino Andrada saiu do gol fechando o ângulo, olhou para um lado e chutou no outro. Lance genial do camisa 10 das Laranjeiras!
Mais tarde, Horta chamou outro fora de série para conversar:
“Mestre Didi, você vai ser campeão da Libertadores e do mundo. Depois, assume a Seleção. Que tal? Topa ser meu técnico?”
“Topo, Presidente”.
O destino roubou o sonho do título brasileiro e da Libertadores. Derrotas para o forte Internacional, de Porto Alegre, em 1975, e para o fraco Corinthians, nos pênaltis, no ano seguinte. Dois jogos, duas semifinais, ambas no Maracanã. Ainda assim, aquele timaço fez História. A Máquina Tricolor tornou-se bicampeã carioca e venceu gigantes da Europa ao conquistar o Torneio de Paris, a Copa Viña Del Mar e o Troféu Teresa Herrera.
Hoje Rivellino mora em um sítio, na pequena Vinhedo, a 75 km da capital paulista. Vai a São Paulo apenas às quartas-feiras, para participar do ‘Cartão Verde’, mesa-redonda da TV Cultura. Mas é, e sempre será, um dos Monstros Sagrados do Futebol.
PANELA DE PRESSÃO
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::
A convite do goleirão e meu parceiro Renha, estive no Clube Caiçaras para ver a pelada de sábado e me impressionei com o preparo físico do já veterano Ricardinho “Ruço”. Ao comentar com o Bruno “Pijama”, tive que ouvir um “PC, além de correr muito, ele tem um dinamismo para quebrar as linhas!”. Kkkkkk!
A que ponto chegamos!! Os analistas de computadores estão contagiando até os peladeiros! Aí já é demais! Brincadeiras à parte, foi ótimo rever essa rapaziada, que há tanto tempo se reúne e mantém viva a tradição de bater uma bolinha com os amigos!
Já que falamos de preparo físico, gostaria de ressaltar que é nítido que esse é um dos pontos mais fracos do Flamengo atual e não é de hoje que eu comento isso. Além de ser um time repleto de veteranos, como David Luiz, Everton Ribeiro, Filipe Luis e cia., os jovens também parecem estar longe das condições ideais. Mesmo com um a mais por quase todo o segundo tempo, ainda levaram o terceiro gol do meu Botafogo e saíram derrotados do Maracanã.
Nem preciso falar o quanto estou feliz com a liderança e os 100% do alvinegro na competição, mas já falei que o torcedor não pode se iludir com esse início. O campeonato é longo e muita coisa ainda pode acontecer. Sobre o Flamengo, é bom Sampaoli abrir o olho contra o Racing para não perder mais uma e começar a pressão em cima dele.
Perdi a conta de quantas vezes já elogiei o Fernando Diniz, mas no sábado ele cometeu um dos erros que mais me irrita no futebol e também já comentei algumas vezes aqui: poupar o time. Não vou me estender muito no assunto, mas nunca vou entender abrir mão dos principais jogadores do time pensando em um outro jogo, por mais importante que ele seja. Sem Ganso, Cano, Keno, Marcelo e Arias, se tornou presa fácil e só não levou uma goleada maior porque Fábio fechou o gol. Aliás, qual é o sentido de poupar todo mundo, menos o jogador mais velho, de 42 anos? Vai entender…
Confesso que estou preocupadíssimo com a situação do América-MG! Depois de um início de ano muito bacana, o time perdeu as três primeiras partidas do Brasileirão e precisa abrir o olho antes que seja tarde demais. Claro que ainda é cedo, mas esse pontinhos podem fazer a diferença nas últimas rodadas.
Assim como todos, fui pego de surpresa com a contratação de Vanderlei Luxemburgo no Corinthians. Tem que ter coragem e bater no peito para assumir um time desse porte, mas será preciso se reinventar para fazer sucesso. Respeito muito a trajetória do Vanderlei, mas só o nome não basta!
Depois de dois jogos empolgantes, o Vasco perdeu para o Bahia em casa. Cheguei a comentar algumas vezes que o torcedor não podia se iludir, que o time precisa de um meia armador e isso ficou evidente no jogo de ontem!
Para fechar a coluna, gostaria de reforçar que os portugueses seguem dando maus exemplos pelo mundo. Estou cada dia mais convicto que grosseria, falta de educação e palavrões fazem parte dessa escola portuguesa. Ex-treinador do Flamengo e atualmente na Salernitana, Paulo Sousa foi expulso contra o Napoli após uma grosseria exagerada contra o árbitro. No Brasil, Luís Castro, do Botafogo, também tomou vermelho pelo mesmo motivo! Abel Ferreira vive indo para o chuveiro mais cedo! Até quando? Precisamos fazer algo urgente!
Pérolas da semana:
“Dar a posse de bola para o adversário equilibrar o termômetro, alinhar o esquadro e fazer a leitura antes do último terço do campo. Dessa forma, o treinador consegue povoar o terreno e encaixotar o adversário”.
“Compactado nas linhas intensas, o jogador proativo ataca os espaços para chapar a bola viva e espetar entre as linhas das zonas do adversário”
Os geraldinos seguem sem entender nada!
ELE VOLTOU
por Zé Roberto Padilha
Quando vi o Santos sair jogando na linha intermediária, trazendo para o futebol o “goleiro-linha” do Futsal, de tantos riscos que o Tiquinho quase marcou, fiquei pensando no sábio Zagallo, meu treinador no Fluminense, em 1972.
Zagallo dizia que o futebol era simples. Se alguém tinha que inventar, esses eram seus jogadores quando pisavam na linha intermediária adversária. Não ele.
Ali, na improvisação e longe da nossa meta, tudo era permitido ousar. Foi dali pro gol que criamos obras de arte e encantamos o mundo. Daí para trás, fomos iguais a todo mundo.
E quando o adversário tinha um jogador expulso, nos deu uma lição que encontrou poucos sábios seguidores: colocou dois pontas bem abertos e deu uma aula de ocupação geométrica.
“Só sentiremos esse ganho, de ter um homem a mais, se ampliarmos o espaço. E abrindo as pontas, e não afunilando centroavantes, teremos vantagens.”
Nunca mais vi qualquer treinador pensar assim quando ficam com um a mais.
Zagallo se aposentou e, pelo que temos visto, deixou poucos seguidores. Estamos diante de uma nova safra de alunos do Professor Pardal. Laptop no lugar das prancheta, querem inventar algo que inove e eleve seu nome mundo do futebol afora.
O goleiro-linha, o Airton Lucas mais recuado justo no momento em que melhor atacava, três zagueiros… bem Zagallo agradece. Afinal, poucos são tão Botafogo quanto ele.