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E A GARRA, GABIGOL?

por Zé Roberto Padilha

O último Fla x Flu que assisti, com a vitória do Fluminense por 2×1, levei pra casa uma atuação de garra e entrega pouco comum de um jogador: Gabigol.

Poucas vezes vi um jogador lutar tanto contra os adversários, raras vezes com a bola e todas as outras com árbitros, bandeirinhas e comissão técnica adversária.

Como fui treinador, teria muito orgulho de ter no time um jogador assim. E não era decisão.

Na final, uma cena logo no começo do jogo me chamou a atenção. Ao dividir uma bola na lateral com Marcelo, Gabigol não deixou o corpo. Pelo contrário, se contorceu todo para não se chocar com o craque tricolor.

E esse excesso de respeito de quem menos respeitava quem quer que fosse nas divididas, deixou uma pista.

Ou ele respeitou demais o currículo do Marcelo, e puxou o freio de mão, e não entrou com o mesmo espírito e garra na decisão, ou olhou para o banco e viu a imagem de quem não havia mais porque lutar.

Inerte, indefeso, abandonado à beira de um banco de reservas, entregue á própria sorte, seu treinador, Vitor Pereira, começava a ser fritado. Vaiado é desfenestrado.

E a garra Gabigol, tão elogiada por mim, tem currículo pra dividir a bola, simpatia para defender um cargo e uma nação para se submeter à sua decisão de lutar ou não por ela?

MARCOS PEZÃO É O ÚLTIMO ROMÂNTICO DA BOLA

por Marcos Vinicius Cabral

A frase “Nenhum jogador é tão bom como todos juntos”, dita por Alfredo Di Stéfano (1926-2014), cairia ‘como uma luva’ na vida futebolística de Marcos Aurélio Pereira Marinelli, de 60 anos. Conhecido craque nos campos de várzea em que jogou, o camisa 5 mantém o amor à bola a quem chama de “companheira fiel”.

Técnico em eletrotécnica e morador de Icaraí, Zona Sul de Niterói, Marinelli cobre o corpo massacrado pela ação de marcadores implacáveis e tenta (em vão) passar despercebido. É boa gente, bom amigo, excelente ser humano e jogador incomparável. Como bem definiu o sobrinho Thiago da Costa Lopes, de 37 anos.

“Marcos Marinelli é pessoa física. Mas o Marcos que eu conheço é o Pezão, fenômeno dentro e fora de campo. O que eu posso dizer deste jogador? Inclassificável, inquestionável e incomparável nas vezes em que calçou chuteiras e foi se divertir. É assim que ele encara o futebol, como uma diversão. Mas é um pai para mim com conselhos e por meio dessa simplicidade se agiganta perto de nós”, contou ao Museu da Pelada.

E completou: “Essa virada de jogo ou toque na bola sem olhar de Ronaldinho Gaúcho, já era feito por ele nos campos em que jogou. Olha, para ser sincero, muito antes do R10 nascer. Gênio!”, diz sorrindo.

Mas Marcos Pezão vai voando com os pés. Onde tem uma boa pelada, lá está ele. Vestido com uma bela camisa social, calça jeans na maioria das vezes e sapatos brilhantes como a cor do cabelo refletido pelos raios solares, ele chega e dispensa apresentações. O ex-lateral esquerdo que enfrentou em jogo amistoso o Grêmio de Renato Gaúcho, Mário Sérgio, Tarcísio e Baltazar, defendendo o Tamoyo, clube da Região dos Lagos, é a simplicidade em pessoa.

O que Marinelli quer é passar despercebido. Mas o futebol que joga (recentemente foi campeão e eleito o melhor jogador do Campeonato de Veteranos em Magé, na Baixada Fluminense, em 2022) não deixa que craques como ele não sejam notados.

Mas Marcos Pezão foi e continua simples. É, no meio de tantos pássaros de valor incomensurável no céu do futebol que leva jogadores às nuvens, um pardal.

Não um pássaro sem valor. Não! Marcos Pezão é um pardal no sentido em querer ser livre. Talentoso como tem demonstrado em qualquer campo de várzea, a morte para ele é ficar sem jogar futebol. O pardal, no entanto, morre se for trancafiado em uma gaiola. Triste verdade.

Marcos Pezão, morte, pardal, futebol, liberdade… tudo relacionado ao céu de quem não enxerga estrela maior que esse craque é, não só como jogador, mas como pessoa.

Voa, Marcos Pezão! Vá bater asas! Vai sobressair dos demais craques que desfilaram pelos tapetes verdes de São Gonçalo, Niterói, Maricá, Itaboraí, Cabo Frio, Saquarema, Araruama, Nova Friburgo e Magé, cidades em que os campos de futebol receberam os pés talentosos de um craque como Marcos Pezão. Estes que conduziram a bola melhor do que muitos pardais usavam as asas para voar.

MESQUITINHA, NOSSO TIME DE RUA DE PARALELEPÍPEDOS

por Wesley Machado

Assistindo ao excelente vídeo do Museu da Pelada sobre o Onze Rubros de Quintino, lembrei-me do nosso time de rua de paralelepípedos, o Mesquitinha, que também era rubro, vermelho ou grená, como queira. O Mesquitinha foi batizado por mim com este nome porque morávamos na rua Professor Mesquita, no bairro Pecuária, em Campos dos Goytacazes-RJ.

Tínhamos cerca de 10 anos de idade. E, como não tínhamos campo para jogar, jogávamos na rua mesmo. Rua de paralelepípedos. Com as tradicionais lambretas/chinelos servindo de gol. Ou até mesmo uma pedra de paralelepípedo solta. A bola saía no meio-fio. Jogávamos descalços. E tínhamos de parar o jogo quando passava um carro. Esta rua só tinha casas de um lado. Pois do outro lado é o muro do Parque de Exposições Agropecuárias.

Como não tínhamos campo na nossa rua, jogávamos como visitantes no campo da outra rua, contra o time que não tinha nome, chamávamos de “Outra Rua” mesmo. Este era o nosso clássico de maior rivalidade: Mesquitinha x Outra Rua. Denominamos o campo deles de “Chiqueirinho”. Porque quando chovia, o campo – que tinha mais terra do que grama, ficava todo enlameado e cheio de poças d’água.

Uma vez ganhamos deles lá dentro da casa deles. Não lembro detalhes, mas lembro que ganhamos e, se não me falha a memória, eu fiz o gol que definiu a decisão por pênaltis. Saímos de lá comemorando muito! Eu vestia a camisa 8 do Mesquitinha. A camisa era rubro/vermelha/grená com os números verdes, parecendo com a da Portuguesa de Desportos ou a Seleção de Portugual.

Para fazer nosso jogo de camisas, compramos camisas de tecido branco e tingimos de vermelho. A minha saudosa Vó Ezilea, que era costureira, costurou os números em verde. Jogávamos com a camisa sem escudo. Um dos jogos mais prestigiados nos paralelepípedos da Rua Professor Mesquita foi outro clássico, desta vez com o Cajuzinho, do bairro vizinho, Caju.

Se não me falha a memória também ganhamos este jogo, que teve a assistência de muitas pessoas nas calçadas, que receberam convites de papel feitos por mim, como se fossem ingressos de cortesia para um jogo público. Foram bons tempos aqueles na Rua Professor Mesquita, em especial com o Mesquitinha, que vai ficar para sempre guardado nas minhas memórias infantis do início da década de 1990.

LUZ NO FIM DO TÚNEL

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Quem acompanhou a coluna da semana passada sabe que eu avisei: a vantagem do Flamengo era considerável, mas não tinha nada definido. Não deu outra!

Podem falar o que quiser do Estadual, que não vale nada, que ninguém liga, mas quero saber quem gosta de perder uma decisão para o rival? Pode ser até na sinuca, ninguém quer dar esse gostinho! Não por acaso, o Maracanã estava lotado e o técnico Vitor Pereira até poupou os titulares na Libertadores para a grande final. Não deu certo! Inclusive, também já comentei algumas vezes sobre o quanto isso me irrita! Jogador tem que jogar, ganhar entrosamento com os companheiros e honrar a camisa do clube. Sem contar que, com as tecnologias de hoje em dia, a recuperação é muito mais rápida.

O Fluminense dominou o jogo do início ao fim e confesso que fiquei muito feliz com o título por alguns motivos. O primeiro é que Fernando Diniz merecia demais essa conquista para se consolidar e calar a boca daqueles que ficam perturbando sobre resultados. Como já comentei, acho que ele pode desenvolver mais o comportamento, mas elogio desde os tempos de Audax. Depois do título, agora todo mundo exalta! Aí é mole…

Para quem não consegue enxergar, apesar da escola gaúcha, Diniz se esforça diariamente para resgatar o futebol bonito e coletivo que os brasileiros têm na essência. Por muito tempo fomos reféns do futebol de resultado, de jogar por um gol ou uma bola, como dizem por aí, e confesso que já estava perdendo as esperanças. Diniz é luz no fim do túnel e vejo como um bom nome para assumir a Seleção Brasileira no futuro!

No Campeonato Paulista, o Água Santa quis jogar de igual para igual com o Palmeiras e sabemos que não dá. Mais do que merecido o título de Abel Ferreira, que, apesar de tudo, comanda um time eficiente. O Atlético-MG segue o mesmo caminho, sem ser um time brilhante, mas também levantou a taça. Isso não significa que podemos descartar a campanha do América-MG. Torço para que o Coelho mantenha esse nível e brigue na parte de cima do Campeonato Brasileiro.

Por falar no Brasileirão, Vasco e Botafogo enfrentam, respectivamente, Atlético-MG e São Paulo na estreia da competição e prevejo um ano difícil. Torço muito para que se mantenham na Série A, mas será preciso apresentar um futebol muito acima do que vimos no Carioca! Vamos aguardar…

Pérolas da semana:

“Linhas baixas confortáveis com janela aberta para incomodar o time consistente com bolas fatiadas para os atacantes agudos por dentro verticalizarem o encaixe”.

“Para superar o jogo pesado e pegado, desenha-se uma linha de 5 ou de 3 para que o time reativo que não gosta da bola seja obrigado a subir a última linha na diagonal ou vertical”.

IMPORTÂNCIA DO TÉCNICO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O futebol brasileiro mudou. E para pior, já faz bom tempo.

Com a carência dos talentos em campo, os técnicos passaram a ter mais importância do que tinham. O melhor exemplo é Fernando Diniz, que conquistou domingo o bicampeonato carioca. O Fluminense joga o melhor futebol do país e, desde o seu início, no Audax, o treinador já mostrava que seus times têm um propósito e jogam ofensivamente. Diniz prova que não precisamos de portugueses ou europeus. Isso é moda, logo passa.

O Flamengo começou e perder o Carioca quando a comissão técnica se recusou a ter facilidade para vencer na Libertadores, ao preferir escalar reservas na estreia da competição. Inegável que o clube tem elenco, mas não técnico. Já o Palmeiras, bicampeão paulista, tem elenco inferior, mas tem técnico.

João Ferreira, o ‘João Grandão’ da Rádio Capital, me ligou de São Paulo para lembrar que os jogadores do Corinthians chegaram a comemorar com um churrasco a saída do português Vitor Pereira. Não duvido que aconteça o mesmo agora no Ninho do Urubu ou na Gávea.

O momento hoje é outro. Os grandes craques faziam a diferença e tinham personalidade. Vicente Feola, campeão do mundo em 1958, era bom de garfo e, nos jogos à tarde, acabava fotografado cochilando no banco. No Santos de Pelé, Lula dirigiu o time na maior calmaria por mais de 10 anos.

Tostão conta em um de seus livros que, em um amistoso da seleção na Europa, os jogadores se reuniram no centro do campo e, com a liderança do ‘Canhotinha de Ouro’ Gerson, trocaram posicionamentos e o esquema. O técnico era ninguém menos que Zagallo, que na coletiva não passou recibo. Falou do resultado positivo dizendo que mexeu taticamente. À noite, no hall do hotel, conversou com Gerson madrugada adentro.

Na vida, onde a renovação é constante, saber se relacionar é uma arte. Por que a CBF pensa em Carlo Ancelotti, aos 64 anos de idade, se Diniz dá fortes sinais de que pode resgatar o verdadeiro futebol brasileiro?