PROVA DE RESISTÊNCIA
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::
Não lembro a última vez que fui em dois jogos em dois dias consecutivos, mas neste fim de semana estive sábado no Maracanã para assistir o clássico entre Fluminense x Vasco e domingo no Nilton Santos para ver o meu Botafogo. Começando pelo líder, não poderia estar mais feliz nesse início de campeonato. Apesar de não ter jogadores excepcionais, é um time bem entrosado, com um sistema defensivo muito bem organizado, e com alguns jogadores velozes, como o Junior Santos, que driblam até o ataque para o Tiquinho Soares concluir. Acho só que falta treinar mais finalizações para acertarem o alvo!
São quatro vitórias em quatro jogos, mas o campeonato é longo e não vejo o elenco tendo substitutos à altura dos titulares em caso de lesões, suspensões ou até mesmo transferências. Não dá para negar que é um começo excelente, mas nessa competição ganha quem tem mais fôlego e um plantel de qualidade.
Por falar em fôlego, o Vasco ficou na roda para o Fluminense e deu sorte de sair com um pontinho do Maracanã. Achou um gol logo no início do jogo e foi só! Vi muita gente criticando o Fábio pelo erro, mas, no estilo de jogo do Fernando Diniz, os jogadores estão sujeito a isso e o mais bacana é que o treinador não deixa de encorajá-los. Inclusive, já vi o Alisson, do Liverpool, cometendo falhas até piores, que ninguém mais lembra, mas que também contava com a confiança do treinador Klopp.
O que não dá para esquecer é que o Flamengo acabou de pagar uma multa de quase 20 milhões pela rescisão do Paulo Sousa e já tem gente pedindo a cabeça do Sampaoli após mais uma derrota. Não sei como é o contrato do novo treinador do Flamengo, mas a panela de pressão já começa a sacudir na Gávea e já houve protesto no desembarque do time ontem.
Enquanto isso, Dorival Junior ganhou mais uma com o São Paulo e, embora ainda cedo, já vai caindo nas graças da torcida tricolor. Por outro lado, como era de se esperar, Luxemburgo não tem tido vida fácil no Corinthians. Vi até que ele se reuniu com os torcedores para pedir a confiança deles, mas isso se adquire dentro de campo. Sei que ele é malandro e isso pode até dar uma amenizada, mas de nada vai adiantar se as vitórias não vierem.
O mesmo posso falar do Vagner Mancini, no América-MG. Neste fim de semana, perdeu a quarta seguida no campeonato e, mesmo tendo feito um bom trabalho no clube, não continuará por muito mais tempo se não vencer os adversários.
Não gosto do comportamento do Abel Ferreira, mas também elogio quando tem que ser elogiado! Ganhou de 5 do Goiás fora de casa e, apesar de não jogar um futebol bonito, é muito eficiente durante as partidas. O Fortaleza, por sua vez, estou sempre elogiando e pode pular para a segunda posição caso vença o Corinthians hoje!
Para encerrar, vi muita gente comemorando o título da Copa do Rei do Real Madrid, de Vinicius Jr. e Rodrygo, e provocando o Manchester City, adversário na Liga dos Campeões. É bom não mexer com o Guardiola porque sabemos do que o técnico é capaz, né? Ou já se esqueceram da reviravolta do time dele até a liderança no Campeonato Inglês, um dos mais disputados do mundo? Tem tudo para ser um jogão!
Pérolas da semana:
“Para entrar por dentro e surpreender o adversário em um modelo de jogo com identidade própria, o ala faz um posicionamento corporal que se coloca à disposição da primeira ou da última bola”.
“A ligação rápida e direta faz o time espetar o último terço do campo e amassar o adversário com gordura, alargando o campo e queimando a largada antes da chapada na orelha da bola”.
SANTOS
por Zé Roberto Padilha
Não deve ser fácil a vida de um guardião, o tal último homem, se sua barreira de proteção e seus protetores são trocados a toda hora. Desse jeito, fica difícil se entrosar. E proteger a meta de toda uma nação.
Trocam tantos, pobre Santos, que quando uma bola é alçada sobre a grande área rubro-negra ainda escutamos um grito comum das peladas da várzea:
“Sai que é minha!”.
Em alguns jogos, são escalados Rodrigo Caio e Léo Pereira. Em outras, entra Fabrício Bruno e David Luiz. E se misturam em razão de contusões ou suspensões.
Quanto aos protetores dos seus protetores, em uma partida é o Thiago Maia quem joga muito e não protege ninguém. Na outra, o Vidal, mas, quem vai entrar hoje é o Pulgar.
Aí vem um cruzamento rasteiro em sua direção e ele, que não está entrosado o suficiente com a dupla atual, não sabe se sai ou se fica. Em uma fração de segundos, tem que avaliar se eles vão cortar o cruzamento ou deixar a bola correr por toda a extensão da área.
Daí ele, Santos, resolve sair para interceptar a bola e um toque sem querer do Vitor Roque desvia a bola para dentro do gol. O lugar que deveria estar segundo todos que não estão no seu lugar.
Com seu jeito simples, educado e discreto, Santos, após uma saída corajosa, deixou a arena lesionado e deve ficar um tempo fora do gol do Flamengo. Talvez o tempo suficiente para que todos reconheçam que mesmo os Santos precisam de proteção.
De Deus e dos seus.
DANTE NÃO TEM TREZE LETRAS
por Reinaldo Sá
O sonho de todo jogador é disputar uma Copa do Mundo pela seu país, mesmo estando do outro lado do Oceano Atlântico. Foi o caso do quarto-zagueiro Dante, que surgiu no interior da Bahia, e entrou numa verdadeira prova de fogo, quando substituiu o monstro Thiago Silva, suspenso pelo terceiro cartão amarelo, na semifinal de 2014. Vale lembrar que, somado a isso, o Brasil teve outra perda irreparável: a contusão do Neymar após uma entrada desleal do jogador colombiano Ospina. Ou seja, os bastidores não eram nada favoráveis, havia a pressão da torcida e da imprensa por ser em casa, o rendimento estava abaixo do esperado e tudo isso mexeu com o emocional do time brasileiro que entrou em campo contra a Alemanha.
Naquele 08 de julho, a tragédia do Mineirão deixou os jogadores “made in Brazil” atônitos, sem poder de reação, pois as jogadas do selecionado alemão revestido de rubro-negro recaíam, sobretudo, em cima do carente lado esquerdo do escrete canarinho, que se emudeceu a tantos erros. A inversão de David Luiz para a zaga central e a entrada de Dante na quarta zaga, por ser canhoto, somando à cratera na lateral-esquerda do galático Marcelo, fez da carreira do zagueiro baiano um verdadeiro inferno astral, sendo altamente criticado pela fervorosa mídia, ávida de ver o hexa em terras brasileiras.
Vale ressaltar, no entanto, que o futebol é feito de ciclos e não podemos esquecer que a própria Alemanha já perdeu de 8×3 para a seleção húngara do Mestre Puskas, se redimindo na final da Copa de 1954 ao ganhar do mesmo escrete húngaro por 3×2. A verdade é que esse jogo contra os alemães foi uma mancha que pistolou o nosso futebol, provocando marcas irreversíveis, e a necessidade de se reinventar depois do processo de exportação dos jogadores de sua terra nativa em busca do ouro, no velho continente europeu.
Naquele confronto no novo Mineirão, todos erraram, mas quem pagou pelo preço da catastrófica derrota, pela falta de ritmo de jogo, foi o Dante. Os demais ainda mostram o seu futebol seja no Brasil ou na Europa, levantando títulos e garantias para as suas famílias. Enquanto isso, se colocou uma pá de cal na carreira do zagueiro, que, através de nossas pesquisas, ainda está em atividade jogando pelo Nice, na França, mas poucos sabem.
UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 8
por Eduardo Lamas Neiva
A discriminação contra os negros no futebol continua sendo a pauta da mesa dos nossos quatro personagens e é acompanhada com atenção pelos presentes ao bar Além da Imaginação.
João Sem Medo: – Em Pernambuco, o clube que não aceitava os negros era o Náutico; no Ceará, o Manguari; no Pará, o Remo. Em todos os estados havia clubes aristocráticos que não permitiam que os pretos jogassem. No Rio, logo no seu primeiro ano na Primeira Divisão, contra tudo e contra todos, os vascaínos conquistaram brilhantemente o título carioca.
Idiota da Objetividade: – Foram 11 vitórias, dois empates e apenas uma derrota. O time titular dos Camisas Negras era formado no esquema hiper-ofensivo da época, um 2-3-5. O time era Nélson, Leitão e Mingote; Nicolino, Claudionor e Artur; Paschoal, Torterolli, Arlindo, Cecy e Negrito.
Músico (do palco): – Como vascaíno de coração, sinto então muito orgulho de apresentar aqui o Hino Triunfal do Vasco, para homenagear o pioneirismo do meu clube e em especial os Camisas Negras, campeões de 23. Sem nos esquecermos, claro, das raízes portuguesas da nossa História. Como a tecnologia nos permite, o escritor Bruno Castro, pesquisador dos hinos dos clubes cariocas, vai cantar comigo do Mundo Material, onde também vive muito bem, e vocês poderão vê-lo ali no telão com outros músicos. Ao vivo, literalmente.
Todos riem e aplaudem.
Músico: – Esse foi o Hino Triunfal do Vasco da Gama, o primeiro hino oficial do clube de São Januário. A composição é de Joaquim Barros Ferreira da Silva. Obrigado, Bruno!
Todos aplaudem.
Idiota da Objetividade: – O hino mais famoso, que todos conhecem, nasceu como Marcha do Vasco, composta em 1949 por Lamartine Babo, que é também o autor dos hinos de outros clubes do Rio de Janeiro: América, seu time do coração, Flamengo, Fluminense, Botafogo, Bangu, Madureira, São Cristóvão, Olaria, Bonsucesso e até do Canto do Rio, de Niterói.
Após a execução do Hino Triunfal do Vasco da Gama e a informação do Idiota da Objetividade sobre os hinos criados por Lamartine Babo, o papo seguiu em frente com a década de 20 do século passado à mesa. João Sem Medo interrompeu rapidamente seu rápido almoço para dar tratos à bola.
João Sem Medo: – Enquanto o Vasco começava a surgir como grande potência no Rio de Janeiro, lá em Minas o América ia conquistando o seu oitavo título seguido e chegaria ao deca-campeonato mineiro em 1925.
Idiota da Objetividade: – O América mineiro foi o primeiro clube do mundo a conseguir dez títulos seguidos da mesma competição. Depois do América Mineiro, só o ABC de Natal, que de 1932 a 41 venceu todos os campeonatos do Rio Grande do Norte, igualou o recorde.
João Sem Medo: – A Juve quase chegou ao deca na Itália.
Idiota da Objetividade: – Após conquistar o título italiano por nove vezes seguidas, entre a temporada de 2011-2012 e 2019-2020, a Juventus de Turim ficou em quarto lugar no campeonato de 2020-2021. A Inter de Milão conquistou o scudetto.
João Sem Medo: – E o Bayern de Munique é deca na Alemanha e pode ser undeca ou hendecampeão este ano. Está perdendo a graça por lá.
Ceguinho Torcedor: – Mas o assunto era o Coelho…
Sobrenatural de Almeida: – Isso mesmo. Olha, eu tive algumas participações no deca-campeonato do América.
Ceguinho Torcedor: – Foi realmente algo sobrenatural.
Sobrenatural de Almeida: – E muito mais na classificação pra fase de grupos da Libertadores no ano passado.
Os outros três: – Assombroso!
A plateia se diverte e ri à vontade.
Sobrenatural de Almeida: – Em 1925 todos desistiram de disputar o campeonato. Tentaram se unir contra o papa-títulos, mas o América venceu o Atlético por 4 a 1 e foi campeão, decacampeão, porque todo mundo ficou com medo do Coelho. A seleção mineira daquele ano tinha dez jogadores do América e bateu os cariocas por 6 a 1.
Garçom: – Por falar no América mineiro, vejam só quem veio aqui pra cantar o seu amor ao clube: Fernando Brant!
Aplausos de todos.
Fernando Brant: – Muito obrigado, gente. Vocês sabem que fui conselheiro do América e sempre muito apaixonado pelo clube. Compus com o Toninho Horta este hino não oficial que vocês vão poder ouvir agora. Obrigado.
REI MORTO, REI NÃO POSTO
por Zé Roberto Padilha
De repente, o mundo do futebol, branco e previsível, vê desembarcar na Suécia, em 1958, um menino negro, hábil e atrevido. Era jogador de futebol de um país pouco conhecido chamado Brasil.
Veio com ele, disputar a Copa do Mundo, um súdito de pernas tortas e dono de um drible impossível de ser contido. Garrincha.
E um príncipe etíope, que batia uma falta em que a bola perdia a força e caia após ultrapassar a barreira. Como uma folha seca. Didi.
Foi impossível ao Rei Gustavo, sentado em sua Tribuna de Honra, não descer para entregar a Copa Jules Rimet a uma nação amiga que apresentava a todos sua majestade.
Pelé, aos 17 anos, iniciaria seu reinado realizando jogadas impensáveis, dribles nunca dantes realizados e marcando mais gols do que todos os ataques até então reunidos.
Depois dele, o futebol nunca mais foi o mesmo.
Gols de chutes disparados antes da linha do meio campo foram tentados contra goleiros adiantados. Bolas deixadas de um lado e corridas para pegar do outro lado deixando goleiros uruguaios perdidos. E pênaltis inovados batidos com paradinha.
Ao nos deixar, o Brasil, não pode empossar um principe Charles no seu lugar. Sua linha sucessória, movida a genialidade, não a ancestralidade, lhe concedeu, no máximo, um goleiro modesto chamado Edinho.
Sábado, em festa, o Reino Unido empossa o novo Rei. Por aqui, os 40 maiores clubes do nosso futebol começam a disputar sua maior competição com seu trono vazio.
E pelo que estamos assistindo, um país que há duas décadas não se impõe ganhando uma Copa do Mundo, que apostou suas fichas em quem cresceu no mesmo berço santista, e se frustrou com Neymar, tão cedo não teremos um novo Rei do Futebol a admirar e reverenciar.