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TENHO CERTEZA QUE NOSSOS FÉLIX NÃO ACEITARIAM

por Zé Roberto Padilha

Segundo minhas fontes esportivas, sempre renovadas e reativadas nas minhas idas ao Rio para rever a boleirada — como no último fim de semana, no bar Bigorrilho, no Leblon, durante o lançamento do livro sobre a vida de Doval —, esta é a nova orientação dada aos goleiros.

O mais novo “jeitinho brasileiro” de exportar esperteza e malandragem por meio de seus agentes de marketing.

“Quando vocês realizarem uma grande defesa, caiam e peçam atendimento médico. Assim, em vez de passar uma vez, a televisão vai exibir sua defesa várias vezes, dobrando o número de visualizações em horário nobre!”.

E tem mais: “Se for um frango, uma falha, mesmo que doa, levante rápido. Assim, esquecem disso mais depressa!”.

No tempo em que Dindon jogava no Andaraí, não sei. Mas no tempo em que eu era ponta-esquerda do Fluminense, tenho certeza absoluta de que Félix, Nielsen, Roberto, Jorge Vítorio, Paulo Sérgio, Paulo Goulart e Jairo jamais aceitariam fazer esse triste papel.

Onde pisavam, nem a grama nascia. E saíam para o jogo. Agora, com esses tapetinhos, querem permanecer caídos e atrasar a partida.

Eles nem tinham treinadores de goleiros, quanto mais influencers ou marqueteiros massificando seus feitos e amenizando seus defeitos.

Brazil! Zilda Zil Zil…

SÃO CRISTÓVÃO, OUTRA VEZ

por Paulo-Roberto Andel

Na segunda-feira passada eu tive a agradável surpresa em assistir o amistoso São Cristóvão versus Rússia Sub23 em Figueira de Melo, um acontecimento marcante e que, por parte da imprensa esportiva, foi tratado até com certo deboche inconveniente – se pensassem no vocabulário pernóstico que ostentam, talvez fosse diferente. De toda forma, o amistoso em casa fez do time cadete um assunto nacional.

Neste domingo, mal acordei para trabalhar e ploft: dei com a cara no celular em carregamento. Ainda meio grogue de sono, peguei o smartphone e logo surgiu uma foto espetacular, publicada pelo Marcelão, que faz um trabalho fantástico de valorização dos times do passado nas redes sociais. Quando me dou conta, é ele de novo: o São Cristóvão, posando antes de uma partida válida pela Segunda Divisão carioca no ano de 1986.

Não reconheci o estádio com sua arquibancada deserta, mas a foto indicava a escalação. Ao lado do goleiro Toninho, estavam perfilados em pé Carlão, Índio, Galocha, T. Roma e Palito. Agachados, Romeiro, Tiganá, Peu, Marconi e Helinho.

Ultimamente, o que mais se ouve nas transmissões de futebol é a expressão “jogador histórico”, geralmente atribuída aos craques vencedores, um equívoco porque a história é o conjunto total, não apenas de quem triunfou. A história não se limita às conquistas, há muito mais do que isso. A história é tudo, tudo, e não está amarrada exclusivamente aos super vencedores e protagonistas.

Logo que me tornei um torcedor mirim, aos dez para onze anos de idade, o meu Fluminense aplicou algumas goleadas sobre o querido São Cricri. Mas também perdeu uma por 1 a 0. Nunca mais me esqueci.

O futebol brasileiro terá grandes jogos neste domingo na Série A, como sempre acontece, e também terá dezenas de partidas com pouco ou nenhum público nos quatro cantos do país. Em todas elas, a história deste apaixonante jogo de bola ganhará mais um capítulo, pouco importando se numa arena confortável e economicamente poderosa ou em campos humildes subestimados.

De algum jeito, aquela foto publicada pelo Marcelão, feita há quase quarenta anos, carrega consigo um monte de história, mesmo que nenhum de nós saiba ao certo quais exatamente são. Não importa. Mesmo massacrados pela cartolagem, desprezados pelos veículos de comunicação, às vezes sobrevivendo em condições precaríssimas, os times brasileiros de menor visibilidade e investimento persistem e sobrevivem. Aí está o belo e valoroso São Cristóvão, eterno bicampeão carioca – clube de coração de um dos maiores pesquisadores da história do nosso futebol, Raymundo Quadros – que não nos deixa mentir, seja num inesperado amistoso internacional em Figueira de Melo, seja na simples lembrança de uma postagem no Facebook.

@pauloandel

CARTA ABERTA A WESLEY

por Zé Roberto Padilha

Bom dia. Nem sei se escrevo como ex-jogador, treinador, ou seria da parte de um torcedor brasileiro saudoso de ser representado em campo por jogadores de alto nível. Como o futebol que você tem praticado ultimamente.

O que sei é que falo como testemunha de uma safra de talentosos jogadores que se perderam na estrada que liga a fama ao abandono. A lista é extensa e tem, como pole position, Perivaldo. Que jogava na sua posição.

Muitos que estavam voando, como você, surgiram do sacrifício que uma promessa precisa cumprir para se destacar em alto rendimento. Dormem cedo, não bebem, trocam mensagens com a namorada e treinam bastante. Até atingir o nível técnico e físico como você atingiu com seu talento.

Em pouco tempo, com o aumento significativo de salários, trocam de carros, de cardápio, passam a conhecer a noite e, na balada, conhecem uma modelo.

Aquela que mal percebia sua presença quando disputou a Copinha e sonhava com a vaga do Rodnei. Diante da sua beleza, muitos esqueceram das namoradas que ralaram ao seu lado e os levaram até a rodoviária para seus primeiros testes.

E, entre um clássico e outro, foram para Campos de Jordão desfrutar das novas conquistas.

Aos poucos, seus antecessores que voavam, se apresentavam à frente em busca de uma linha de fundo no lugar dos pontas, que, hoje, voltam para marcar, começaram a tocar a bola.

O fôlego amador e juvenil foi dando lugar ao acomodamento natural diante da vida mais confortável que alcançou. E foi por esses caminhos novos, sedutores e ilusórios, que o futebol brasileiro perdeu o Daniel Alves. E cadê o Robinho, um dos Meninos da Vila, que hoje só consegue jogar bola durante o banho de sol?

Encerro essa missiva lembrando dos meninos que chegam às escolinhas com o sonho de serem como você. “Vocês viram? Até chutando bem de fora da área …”. Eles estão precisando, não só para o futebol, como para suas vidas, de bons exemplos. E, geralmente, eles se espelham em seus ídolos. Não os decepcione.

E parabéns pelo seu grande momento.

O QUE ESSE RAPAZ PRECISA MOSTRAR MAIS?

por Zé Roberto Padilha

Na posição mais frágil da história do nosso futebol, a lateral-direita, a ponto de Fagner, com todo o respeito, disputar duas Copas do Mundo, Perivaldo, uma, e Maicon, duas, não é possível que Marcos Rocha, por sua regularidade, titularidade há décadas em times poderosos, como Atletico-MG e Palmeiras, não mereça uma oportunidade.

Ninguém é mais previsível que o Danilo, titular e capitão da nossa modesta seleção. Não se apresenta no ataque e é um marcador comum. Poucos, no entanto, conseguiram um empresário e um relações públicas tão influentes como ele.

Marcos Rocha, como lateral-direito, foi quem mais deu assistência no Campeonato Brasileiro. Se há alguém que também merece, joga na mesma posição e anda voando, é o Wesley, lateral do Flamengo.

E se o futebol é momento, Dorival Jr. poderia nos explicar qual foi, ou é, ou será um dia o momento Danilo?

Escalações inexplicáveis como essa mostram porque estamos nos arrastando nas Eliminatórias.

O GIGANTE BAIANO

por Elso Venâncio

O zagueiro Júnior Baiano chegou ao Flamengo no final da década de 1980, sonhando em comprar para o pai, Raimundo Ferreira — o Seu Mundinho —, uma fazenda em Feira de Santana. Logo, com títulos e prestígio, a promessa feita ao sair de casa foi cumprida. Na final da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 1990, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Juventus/SP, garantindo um inédito título rubro-negro. Ele fazia parte do maior time já visto na Copinha e da última grande geração de jogadores formados na base do Fla, com Rogério, Piá, Fábio Augusto, Fabinho, Marquinhos, Marcelinho Carioca, Djalminha, Nélio…

Lançado no profissional pelo técnico Carlinhos, Júnior Baiano já foi campeão carioca em 1991 e, no ano seguinte, chegou ao título brasileiro. Na conquista nacional, o Flamengo venceu o Botafogo no primeiro jogo da final, por 3 a 0, e empatou por 2 a 2 na finalíssima.

Alguns lances violentos fizeram com que a fama de mau acompanhasse Júnior Baiano durante a sua carreira. Negociado com o São Paulo, aprimorou seu futebol com o mestre Telê Santana, deixando de ser o zagueiro desengonçado e às vezes furioso em campo. Num episódio marcante, se envolveu em polêmica com o árbitro Oscar Roberto Godoy, a quem acusou de estar bêbado num clássico entre São Paulo e Corinthians, no Morumbi.

Ao retornar ao Flamengo em 1996, depois de uma passagem pelo alemão Werder Bremen, Júnior Baiano viveu um um grande momento. Tanto é que chegou à Seleção Brasileira, fazendo parte da conquista da Copa das Confederações no ano seguinte. Só não foi campeão do mundo em 1998 em razão da convulsão sofrida por Ronaldo, no almoço que antecedeu a final contra a França. Na véspera, no campo anexo ao Chateau de Grande Romaine, em Lésigny, local de concentração a 20 minutos de Paris, um descontraído Ronaldo participava do racha — o tradicional “dois toques”. O clima era tão descontraído que mereceu um comentário do jornalista Mário Magalhães, autor do excelente “Marighella, o guerrilheiro que incendiou o mundo”:

— O poderoso Américo Faria virou churrasqueiro. 

O supervisor da Seleção Brasileira assava carnes para a comissão técnica na beira do campo. 

Ao fazer exames num hospital na capital francesa, a poucas horas do jogo, e chegar ao vestiário com o time aquecendo e Edmundo escalado, Ronaldo causou preocupação a todos. O time se desestabilizou, perdendo para a França por 3 a 0.

Na era Romário como melhor do mundo no Flamengo, era comum o Baixinho criticar os companheiros no vestiário: “Vocês não jogam p.… nenhuma. O Maracanã está cheio por minha causa”. Discussões e agressões aconteciam no intervalo e ao final de algumas partidas, sem que a imprensa tivesse conhecimento. Mas Romário respeitava três companheiros que não levavam desaforo para casa. Júnior Baiano era um deles, além de Clemer e Beto.

Após a Copa na França, Júnior Baiano se tornou ídolo no Palmeiras, chegando ao título da Copa Mercosul de 1998. Na vitoriosa campanha da Libertadores da América, com Felipão, em 1999, foi o artilheiro palmeirense na competição, com cinco gols. Nem assim deixou de ser identificado com o Flamengo, clube pelo qual, entre idas e vindas, disputou mais de 200 jogos. Passou também por Vasco e Internacional, bem como pelo Shangai Shenhua, America, Brasiliense, Macapá, Volta Redonda e Miami FC. Em suma, Júnior Baiano foi um gigante que marcou época nos clubes que defendeu, inclusive no exterior.