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DESONRA NAS MANCHETES

::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Não poderia começar essa coluna sem falar do assunto que dominou as manchetes pelo mundo! Eu, como jogador de futebol, me sinto extremamente triste com tudo que vem acontecendo em relação à manipulação de resultados por conta de apostas esportivas.

Se não bastasse o jejum de mais de 20 anos sem levantarmos uma Copa do Mundo, agora viramos chacota e perdemos toda credibilidade por conta dessas falcatruas e acho que a investigação ainda está longe do fim. Trata-se de uma desonra para o futebol brasileiro, mas confesso que não me surpreende! Sabem por quê? Porque, teoricamente, quem deveria dar o exemplo faz até pior! Quantas vezes vimos a FIFA e a CBF anos atrás envolvidas em escândalos? Não vou nem perder meu tempo listando, pois tenho mais o que fazer e falar disso me faz mal! Simplesmente inacreditável!

Lembrando meus tempos de jogador, o que existia era o famoso “bicho”, um incentivo financeiro oferecido por dirigentes ou empresários para que ganhássemos os jogos, o que é super válido até hoje! O Manga adorava isso e até hoje ninguém esquece que contra o Flamengo ele fazia a feira no dia anterior porque o bicho era certo! Kkkkkk! Em 82, também por conta de fraude com apostadores, Rossi ficou suspenso por dois anos e só conseguiu disputar aquela fatídica Copa porque a FIFA aceitou reduzir sua pena. Podíamos ter ficado sem essa!

O que não consigo entender é como jogadores com salários tão altos se submetem a esse risco por “merreca” se comparado ao que ganham. Depois dessa polêmica, me digam qual time vai querer contar com os jogadores envolvidos? Qual torcida vai aceitar uma contratação dessa? Lamentável, amigos!

Mesmo diante de tudo isso, não consigo deixar de assistir e acompanhei a rodada de perto! O Fluminense não empolgou como estamos acostumados, mas venceu bem. O Botafogo perdeu a primeira e já ouvi muita gracinha. O campeonato é longo e o importante é manter a confiança e a defesa segura. O Corinthians arrancou um empate contra o São Paulo em Itaquera, entrou na zona de rebaixamento e Luxemburgo disse que a torcida tinha que comemorar! Kkkk! Respeito muito o Luxa, mas já falei que sem resultado não tem conversa!

O Vasco perdeu para o Santos em casa e já tem muito torcedor desanimado. Depois de um início animador, agora são só seis pontos somados em seis jogos. Por fim, o América-MG tomou quatro do Cruzeiro e não sei até quando Vagner Mancini será mantido no cargo. E o Abel Ferreira continua bem grosseiro! Até quando vamos permitir esse comportamento?

Pérolas da semana:

“Transição passiva qualificada na última linha de três do campo para ajudar o marcador a correr para trás e proporcionar um encaixe automático na consistência coletiva”.

“Para explorar o corredor pelos lados, o jogador de beirinha aplica ao contexto uma intensidade para elaborar a segunda bola e espaçar o terreno por dentro, buscando uma identidade”.

“Atacante agudo por dentro busca o falso nove proporcionando uma ligação direta e verticalizar a bola viva”.

Passem no Félix Pacheco para autenticar! Kkkkk!

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 9

por Eduardo Lamas Neiva

Fernando Brant é muito aplaudido após a execução da música em homenagem ao América Mineiro, inclusive pelos nossos quatro principais personagens.

João Sem Medo: – Obrigado, Brant, muito prazer. Gostei da tua música.

Idiota da Objetividade: – Gostei também, mas esta música não é a oficial. A marcha que se tornou oficialmente o hino do América mineiro foi composta por Vicente Motta, também autor do hino do Clube Atlético Mineiro.

Ceguinho Torcedor: – Ah, Idiota, deixa de tanta objetividade!

João Sem Medo: – No hino oficial do América, a letra destaca a classe aristocrata do clube.

Garçom: – Desculpe por me intrometer, senhores. Mas não teve uma história de um jogador no Fluminense que usava pó de arroz?

Ceguinho Torcedor: – Há controvérsias…

Idiota da Objetividade: – Que nada, tá na História.

João Sem Medo: – Carlos Alberto era um mulato que foi do segundo time do América do Rio pro primeiro time do Fluminense, ainda na década de 10, e passava pó de arroz no rosto por causa do racismo. Nos jogos entre os dois times, os torcedores do América chamavam o Tricolor das Laranjeiras de “pó de arroz”. Mas esta história é polêmica, há muitas versões.

Idiota da Objetividade: – A versão oficial do Fluminense é que Carlos Alberto desde os tempos em que jogava no América já passava pó de arroz após fazer a barba. E num jogo, em 1914, entre os dois times, pouco depois de 13 jogadores do América se transferirem para o Tricolor…

Ceguinho Torcedor: – Entre eles o monumental goleiro Marcos Carneiro de Mendonça!

João Sem Medo: – Isso mesmo, ele e um irmão dele.

Idiota da Objetividade: – Naquele jogo de 1914, a torcida americana vendo o suor fazer o pó de arroz sair do rosto de Carlos Alberto, ex-jogador do seu clube, começou a gritar como ofensa “pó de arroz, pó de arroz”. Mas, segundo o Fluminense, a torcida tricolor abraçou o jogador e adotou o pó de arroz.

Garçom: – Ah, senhor Idiota, o senhor me desculpe, mas eu não caio nessa, não.

Idiota da Objetividade: – Eu só relato o que está na versão oficial do clube. Você pode ir ao site do Fluminense e procurar.

João Sem Medo: – Versão oficial quase nunca é verdadeira, a História deste país só confirma o que digo.

Ceguinho Torcedor: – Carlos Alberto era um bom rapaz, muito fino, elegante. Ele entrava em campo e a torcida da geral gritava “Pó de arroz”. Um dia ele não jogou e os gritos continuaram.

João Sem Medo: – O Fluminense era mesmo “Pó de arroz”, querendo ser mais chique, mais elegante, mais aristocrático que os outros.

Garçom: – Amigos, aproveitando a deixa tricolor, vamos receber aqui no palco do Além da Imaginação, Américo Jacomino, mais conhecido como Canhoto, para tocar o seu tango “Fluminense”.

Todos aplaudem.

Canhoto: – Muito obrigado. Este tango em homenagem ao Fluminense foi gravado originalmente em 1927, pela Odeon.

Ao fim da execução do tango “Fluminense”, por Canhoto, toda a plateia aplaude o artista, que deixa o palco agradecendo. Há uma pequena dispersão, alguns vão ao banheiro. Ceguinho Tricolor pede ajuda para fazer o mesmo e é levado pelo Sobrenatural de Almeida numa rapidez de coelhinho de desenho animado. Assombroso!

Com todos de volta aos seus lugares, o papo é retomado, com Ceguinho dando o primeiro passe.

Ceguinho Torcedor: – O mulato Friedenreich, que tinha olhos verdes, também queria parecer branco e passava horas tentando achatar o cabelo duro e rebelde no vestiário. Usava uma toalha, pois o pente não bastava. Era craque, artilheiro, mas entrava quase sempre por último em campo. E era sempre ovacionado.

Sobrenatural de Almeida: – Ele acabava chamando mais atenção, ainda mais com aquele cabelo cheio de brilhantina. Um assombro!

Todos riem.

Fim do capítulo 9

HENRIQUE DE LATA

por Zé Roberto Padilha

Basta você se colocar no lugar do centroavante do Cruzeiro, Bruno Rodrigues. Artilheiro do time, perde, jogando em casa, o pênalti que reduziria a vantagem tricolor. Porém, é salvo pelas irregularidades cometidas: Fábio se adiantou e jogadores tricolores invadiram a grande área. E o juiz autoriza uma nova cobrança.

Ufa! Ganhei uma nova chance.

Aí você vai ajeitar a bola e seu reserva não lhe permite bater a penalidade. Agressivamente, a retira das suas mãos, sem a menor educação, como a dizer:

“Chega, você já teve a sua chance. Deixe pra quem sabe!”.

A cena, mostrada para todo o país, é um péssimo exemplo para um futebol que acaba de descer aos porões da desonra quando seus atletas profissionais se mostram capazes de vender resultados.

Bruno Rodrigues lutou pela bola, a recuperou e bateu ele mesmo. Para fora. Estava nervoso, não lhe foi dado crédito quando falhou, foi questionado e humilhado por um questionável veterano enquanto se preparava para consertar o erro.

A diretoria do Cruzeiro precisa afastar Henrique de Lata, ex-Dourado. Não há elenco que suporte um atleta com tamanha falta de respeito e companheirismo.

Na saída, aos repórteres, declarou:

“Foi tudo no sentido de ganhar!”.

Eis a questão, tudo diz respeito aos valores que você coloca à frente para vencer.

Pois desse jeito, de cada um por si diante de um esporte coletivo, um cartãozinho amarelo por R$ 40 mil, que nossa classe vai perdendo o respeito e a confiança da sociedade.

EU SÓ ACREDITO PORQUE ESTAVA JOGANDO

por Zé Roberto Padilha

Era um clássico, entre Flamengo x Vasco, pela terceira rodada do Campeonato Carioca, que não era revestido de qualquer outro ingrediente. O campeonato apenas começava a aquecer.

E aí, o carioca, que decide seu programa em cima da hora, resolveu combinar com todo mundo ir ao Maracanã depois da praia. Era um domingo ensolarado, dia 4 de abril de 1976.

Por mais rodado o Zico, excursionado o Roberto Dinamite, ninguém ali realizara anteriormente o aquecimento com o teto ameaçando cair. O barulho era ensurdecedor e ficamos a imaginar: o que estaria acontecendo dentro do maior estádio do mundo?

Aí vem o primeiro aviso: o jogo iria atrasar 20 minutos porque a PM subiu ao anel superior para retirar torcedores que foram espremidos até o teto. Uma loucura.

Quando entramos em campo, vivemos uma sensação semelhante a do Queen, no Rock in Rio 95, quando milhares de pessoas entoaram Love of my Life. Aquela sensação que será vivida por poucos mortais. De qualquer arte.

174.773 pessoas se acotovelaram para assistir uma exibição de gala do Zico. Ele fez dois na nossa vitória por 3×1, o outro foi marcado pelo Luizinho, naquela partida que registrará para sempre o terceiro maior público da história do Maracanã.

De vez em quando encontro um ex-atleta que viveu comigo aquela doce loucura, e ficamos a resenhar. Outro dia foi o Dé, que marcou o gol do Vasco. E ele me perguntou:

“Quantas vezes você acordou suado, no meio da noite, com a cama tremendo e um barulho infernal à sua volta?”

Disse que senti isso algumas vez. A sorte é que, anos depois, joguei pelo Bonsucesso um clássico contra o Americano, em Teixeira de Castro, pelo mesmo Campeonato Carioca.

O silêncio era tão grande que não foi difícil voltar a dormir.

BEBETO NA BERLINDA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

A transferência do Bebeto para o Vasco soava inacreditável. Parecia tão surreal, que eu anunciava a negociação pela Rádio Globo e a imprensa, em geral, mantinha-se calada.

Após um jogo entre Flamengo e Remo, em Belém, tive uma longa conversa com José Moraes, então procurador do craque. De cara, senti que teria de trabalhar a notícia, pois ela sacudiria duas gigantescas torcidas rivais. Era outra época, sem internet, que foi a responsável por sepultar o furo de reportagem. Hoje a informação é fracionada, sai sempre em tempo real.

O aperto de mão entre Eurico Miranda e José Moraes aconteceu ‘no fio do bigode’, em plena concentração do Brasil, em Teresópolis. O dirigente vascaíno era diretor de futebol da seleção brasileira, que conquistaria dentro em breve a Copa América após um longo jejum de 40 anos. Bebeto foi o artilheiro da competição. Marcou sete gols e era o maior jogador do país.

Zico ganhava US$ 20 mil por mês e, seguro do acordo feito por Bebeto com o Vasco, seu procurador pediu o dobro do salário que o maior ídolo da história do clube recebia.

No intervalo de uma das partidas do clube, na Gávea, pedi para a produção da rádio ligar para o presidente Gilberto Cardoso Filho, que estava em Portugal. Tivemos um ríspido diálogo, no ar, com Gilbertinho negando a possibilidade de perder o atacante:

“Estou jantando sempre com o (Antônio Soares) Calçada, aqui em Lisboa. Faz uma entrevista com ele.”

Retruquei que eu não confiava no então presidente cruz-maltino.

“Você está afirmando um fato que não existe! Bebeto é do Flamengo e ponto final.”

Pedi à Rádio para que ela preservasse a gravação da matéria. Senti Gilberto Cardoso completamente desinformado e imaginei a proporção do final do caso. Quando o dirigente se deu conta da rasteira que levou do amigo Calçada, tentou, sem sucesso, negociar o jogador para a Roma e, depois, o Bayern de Munique.

Uma comissão de ilustres rubro-negros dirigiu-se à Granja Comary. Márcio Braga, George Helal, Kleber Leite, Josef Bernstein e Moisés Akerman se reuniram para tentar convencer o artilheiro a permanecer na Gávea. Diante da repercussão do assunto, Bebeto, aconselhado pela esposa Denise, acabou recuando:

“Vou ficar no Flamengo.”

Já o procurador dele, não:

“Palavra é palavra, e ele vai cumprir.”

Naquela época, simplesmente, concretizava-se a maior transação do futebol brasileiro. O Vasco vendeu o meia Geovani para o Bolonha, da Itália, e depositou o valor do passe de Bebeto na Federação: US$ 2,5 milhões. O atacante foi ameaçado de morte e andava assustado, cercado por seguranças. À noite, em sua casa, na Barra da Tijuca, pelo menos dez guarda-costas cercavam sua mansão que ele recebeu do novo clube.

Foi a mais tensa e polêmica negociação da história do futebol brasileiro.