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O FENÔMENO FERNANDINHO

por Serginho 5Bocas

Definitivamente o jogador de futebol Fernandinho do Athletico Paranaense é um fenômeno, não pelo seu futebol, mas pelo seu poder de convencimento de que é um belo jogador.

Ao assistir o jogo entre o Athletico e Flamengo, fiquei impressionado com os elogios que ele recebeu, incluindo o prêmio de melhor em campo, por vários analistas, entre eles o maestro Junior, ex-jogador do Flamengo, que teceu rasgados elogios ao atleta, inclusive quando ele abriu a caixa de ferramentas, que é o seu maior predicado, “largando o aço” nos jogadores do Flamengo, sob o olhar enigmático do juiz.

Confesso que não entendi muito bem a opção do Junior, principalmente porque ele fez parte de uma escola de belas artes na Copa de 1982, mas gosto não se discute, cada um com seu “cada um”.

Juro que fiquei analisando o que posso não ter visto da fera. Provavelmente não entendo muito de futebol. Até o Guardiola já disse que o cara é bão e eu aqui, na minha insignificância, o que posso dizer? Disseram que ele tem experiência para bater e, por ser respeitado e consagrado, inibe os árbitros, é isso mesmo que eu ouvi?

Definitivamente, Fernandinho não é cego de bola, mas é “brucutu”. Brucutu é um adjetivo para aquele cara que tem as raízes do homem das cavernas, doidas para se manifestarem e se manifestam constantemente, neste caso, na partida de futebol. A sociedade aprendeu a controlar este tipo de personagem com regras, mas é preciso rigor e ficar atento para coibi-los de praticar suas maiores fantasias quando as coisas estão favoráveis

Fernandinho fenômeno esteve na seleção brasileira por um bom tempo e vale destacar duas participações inesquecíveis dele:

Em 2014, naquela Copa, naquele país da américa do sul, naquele dia medonho, que muita gente já esqueceu (eu nunca esquecerei), o meio de campo do Brasil foi composto por ele, Luiz Gustavo e Oscar…putz! Quer ganhar de quem?

O final do filme todo mundo lembra: o bandido mau espancou o mocinho, deu beijo na boca da mocinha e saiu carregando todo o ouro da diligência sem que os bravos guerreiros que atuam na Europa pudessem mostrar sua…, digamos assim, “arte”…meu pai!!!

Na Copa de 2018, novamente foi convocado, atuando e mostrando seu futebol em uma eliminação lamentável, contra a Bélgica, quando ele se enrolou com o Gabriel Jesus e fizeram um gol contra patético.

Definitivamente não entendo muito bem desses craques atuais do futebol, mas uma coisa eu garanto, que ele não me convence e peço a Deus para não jogar no clube que torço. Imagine o cara sair de casa e pagar ingresso para ver e ter um jogador desse como ídolo?

Vitor Belfort, a fera do UFC, quase foi jogador. Na adolescência, deu seus bicos no time Rio de Janeiro, que depois viraria CFZ, o clube do Zico. Ainda bem para nós que ele escutou os conselhos e foi lutar. Agora pensando bem, não foi tão bom para ele a decisão. Se tivesse insistido jogar bola, talvez hoje fosse um “belo” volante na Premier League, recebendo elogios do Pep Guardiola e jogando duas Copas do Mundo, nada mal, né?

Seu Tião, que era dono do bar que eu frequentava nas Cinco Bocas quando criança, gostava de falar uma frase emblemática sobre jogadores de futebol, que faço questão de reproduzi-la aqui, já que a ocasião pede:

“Um jogador desse naipe, não servia nem para carregar a chuteira de fulano”. Era a forma mais comum dele comparar um jogador limitado, frente a um craque, na concepção dele.

Nesta crônica, o jogador “desse naipe” vocês já sabem quem é. Pelo setor do campo que ele atua, vou citar um jogador antigo que se encaixaria perfeitamente como o fulano: Paulo Roberto Falcão!

Ah, se o seu Tião assistisse aos jogos do fenômeno paranaense! Aposto minhas economias que ele iria soltar a pérola famosa para o fenômeno da mídia.

Forte abraço
Serginho 5Bocas

OMNES OMNIBUS

por Claudio Lovato Filho

Parece um navio que se aproxima lentamente, navegando solene, a proa mais nítida no horizonte conforme ele deixa para trás a névoa que encobre o mar (mar de asfalto).

Ou então talvez lembre uma nave vinda de uma alguma galáxia distante, depois de uma viagem marcada por uma profusão de imagens indescritíveis, agora pousando suavemente com suas luzes mercuriais que iluminam a pista à frente.

Ou ainda, quem sabe, sugira mais que tudo um animal gigantesco, ao mesmo tempo ancestral e futurístico, que avança a passos vagarosos e cerimoniais, da maneira cautelosa e altiva que seu tamanho pede e sua importância exige.

As pessoas se aglomeram ao longo do caminho, dando espaço, abrindo alas, construindo um corredor, e empunham bandeiras e trapos, e soltam fogos e acendem luzes como para indicar a rota que o enorme ser/objeto dotado de faróis e rodas e aço e vidro deve percorrer (como se ele precisasse).

No meio da multidão que não para de crescer, um homem e um menino acompanham tudo com muita atenção (na verdade, hipnotizados). O homem com o braço sobre o ombro do menino, o menino com os olhos muito arregalados, a respiração sobressaltada, o coração que aos trancos e barrancos, num galope.

Quando o navio, a nave, a criatura monumental passa bem perto de onde eles estão, e a massa aumenta a intensidade de suas saudações ruidosas e reverenciais com cânticos e fogos e a tremulação das cores mais importantes do universo, os portões enfim se abrem.
E nesse momento, quando a viatura sobrenatural passa bem em frente ao ponto onde estão o homem e o menino, um dos ocupantes acena, e o menino tem a certeza de que foi para ele – o menino que só pensa em futebol; o menino que para sempre amará o futebol.

Alguns instantes depois, quando os portões se fecham e o veículo mítico finalmente adentra território sagrado (a casa, o templo, o estádio, o estádio!), deixando para trás a euforia e as homenagens e a cantoria, o menino percebe – de uma forma que ele só conseguirá elaborar com clareza muito tempo depois – que, na vida, a distância entre sonho e realidade às vezes é nenhuma, e que no futebol isso ocorre com frequência ainda maior.

A vida. O futebol. Paixão e agonia. Virulência e poesia. Crueza e fantasia. Omnes omnibus. Tudo para todos.

P.S.: Omnes Omnibus (do latim, “Tudo para Todos”) foi o nome dado, em 1826, na França, à primeira companhia de ônibus da História.

QUER APOSTAR?

Antes de desenvolvermos o artigo sobre o recente escândalo das apostas esportivas, é preciso esclarecer que esse tipo de má conduta não é uma exclusividade do Brasil.

No campeonato italiano da temporada 1980-81, por exemplo, jogadores e dirigentes de times como Lazio e Milan se envolveram em manipulações de resultados para se beneficiarem na loteria esportiva. Ambos os clubes foram punidos com o rebaixamento.

Suspeitas desse tipo de prática também ocorreram em 2009, envolvendo cerca de duzentas partidas, inclusive da Champions League. A lista é longa…

Nesse contexto, o questionamento que se pode fazer sobre o ocorrido especificamente no Brasil se resume a um suposto processo de educação mais frágil. Aqui não me refiro simplesmente às escolas, mas também aos lares, independentemente de classe social. Isso talvez explique algumas permissividades.

Atos como fraudar documentos, dirigir pelo acostamento, além de receber e dar propinas, entre outros, sāo tolerados e vistos como faltas pouco graves, ou pior, normais.

Também deve ser esclarecido que a manipulação de apostas não se restringe ao futebol. Há escândalos famosos que renderam inclusive obras culturais, tais como o filme “Eight Men Out” – que narra ações de suborno na principal liga de baseball nos EUA – e a série “The Hansie Cronje Story”, que conta a história do capitão da seleção de cricket  da África do Sul, também envolvido em operações escusas. A lista é longa…

Voltando ao atual escândalo no Brasil e analisando a situação pelo prisma de marketing, não há como negar que se trata de uma atitude deplorável, que mancha a imagem e a credibilidade da modalidade envolvida e de todos os seus stakeholders.

As consequências, nós só saberemos adiante, mas não custa lembrar que a decadência do turfe teve como uma de suas causas, as suspeitas de manipulação de apostas.

Será que o torcedor continuará acreditando na idoneidade dos atletas?

Como serão interpretados os próximos cartões amarelos e demais ações individuais prejudiciais ao próprio time?

Será que alguns árbitros também fazem parte do esquema?

Será que os atores citados acima terāo a devida tranquilidade para exercerem suas funções?

Não podemos negar que a paixão tem o poder de fazer com que se releve essas suspeitas, mas como fica a “razão” que deve permear os investimentos dos patrocinadores?

Será que eles acharāo interessante associar suas marcas a clubes e demais organizações esportivas que abrigam eventuais focos de corrupção?

As próprias empresas de apostas que patrocinam o futebol deveriam repensar se essa associação não é conflitante no presente momento.

Há os que simploriamente acham que basta regulamentar o jogo que o problema estará resolvido! Mas o que se entende por regulamentar? Simplesmente taxar, adequar à legislação local e cobrar melhores práticas de compliance?

Nāo sejam ingênuos, por favor! Não ignorem a economia paralela e informal, essa nunca acabará.

Ainda que a regulamentação seja necessária – já vislumbro a criação de uma agência regulatória com a devida criação de cargos com indicações políticas -, penso que a diminuição desse tipo de crime passe obrigatoriamente pela proibição de apostas que envolvam as ações dos jogadores de forma individual e na punição extremamente severa dos criminosos – corruptor e corrompido –, após um julgamento justo, sejam esses que forem.

Isso se faz urgente!

TEMPOS MODERNOS

por Paulo-Roberto Andel

Saí do trabalho com a missão de fazer a fé na Loto, pois organizo pequenos bolões com alguns amigos. Deixei o Sebo X e, em dez minutos, estava na minha agência lotérica preferida: rua da Relação, quase esquina com Gomes Freire.

Umas três ou quatro pessoas na fila única (algo sempre difícil para os brasileiros respeitarem) e, ao lado, um simpático botequim. Nele, uma televisão grandona com imagem de cinema.

Cinco e pouco da tarde. Leicester versus Liverpool.

Dois clientes com os olhos arregalados diante de todos os detalhes do jogo. As três ou quatro pessoas da fila da loteria, também. Um garotinho de bicicleta para pra olhar. Futebol é um acontecimento, amigos.

Falta para o Liverpool. No exato momento, com a fila parada, converso no WhatsApp com Catalano. Somos umas dez ou doze pessoas nos arredores da televisão. Todos estamos na espectativa do que vai acontecer.

A câmera dá um close em Sala, o craque egípcio. É impressionante como as tevês de hoje têm definição de imagem espetacular. Bom, o craque balbucia algo para seu companheiro, na imagem seguinte sai uma cobrança de falta maravilhosa e um golaço do Liverpool.

As pessoas riem, ficam felizes com a bela jogada. Ninguém é Liverpool ali. Só o Catalano, no WhatsApp, é Vasco, Vasco, Vasco e depois Tottenham e Internazionale de Milano.

O gol faz bem às pessoas. Melhor ainda quando ali ninguém torcia para o time que levou o gol.

Num susto a fila anda, falo com as garotas da lotérica sempre atenciosas, faço o bolão e saio. Hora de ir pra casa, depois de mais um dia de luta.

Ainda dou uma espiada no botequim, vejo um ataque do Leicester, o Liverpool dá a resposta e, em poucos segundos, junto tudo aquilo e fico pensando em como a nossa maneira de acompanhar futebol mudou. Sou do tempo em que se colocava papel celofane colorido na tela da TV, para enxergar além de preto e branco. Internet? Nem pensar. WhatsApp? O máximo que tínhamos eram os narradores no radinho, fazendo das partidas verdadeiros épicos – felizmente o rádio está aí até hoje. Jogos de times europeus, a gente só sabia pela querida revista Placar.

Antes de derramar uma lágrima, sonho em poder ver muitas e muitas partidas ainda. Hoje são tempos modernos, mas o amor é de antigamente. E falando em tradição, nessa terça tem o jogo da minha vida: Fla x Flu no Maracanã. Já são quase cinquenta anos acompanhando esse jogo que parece interminável, onde cada partida é apenas mais um capítulo. E lá vou eu fazer o velho caminho Presidente Vargas + Praça da Bandeira + Avenida Pelé até a roleta, a inesquecível rampa da UERJ e o campo dos sonhos.

O tempo vai passando, mas seja numa linda TV de alta definição ou no Maraca, pertinho da grama, o futebol é bom demais. Não é só o jogo pelo jogo, mas muita coisa em jogo, feito aquela que hipnotiza os clientes da fila de uma lotérica com uma só imagem.

MÁGOAS REVIVIDAS

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Bebeto e Romário foram protagonistas tanto na conquista da Copa América, em 1989, disputada no Brasil, quanto no tetracampeonato mundial, em 1994, nos Estados Unidos.

Na competição sul-americana, a seleção comemorou o título após 40 anos de jejum. Bebeto foi o artilheiro da competição, com sete gols, e também o craque do torneio. Romário marcou o gol do título, sobre o Uruguai, mas Bebeto era o maior jogador do país.

Já na Copa do Mundo, o destaque foi Romário, que ajudou o Brasil a levantar uma taça esperada pelo povo havia 24 anos. O ‘Baixinho’ tornou-se o ‘Número 1’, ou seja, o melhor jogador do mundo. Jogando juntos na seleção, Bebeto e Romário nunca perderam uma partida sequer, tal qual Pelé e Garrincha.

Diferentemente dos ídolos Zico e Roberto Dinamite, Bebeto e Romário, ao longo da carreira, revezaram-se entre Flamengo e Vasco, despertando idolatria e mágoa entre as gigantescas torcidas. Romário, apoiado pela imprensa, vestiu a camisa de super-herói nacional, ‘O Cara do Tetra’, o que incomodou bastante o seu parceiro de ataque.

“Rapaz, joguei muito” – Bebeto repetia.

Não é anormal estrelas do futebol terem o ego inflado.

“Ninguém ganha nada sozinho” – insistia Bebeto.

A fantástica seleção de 1982, montada por Telê Santana, sucumbiu diante da Itália, na ‘Tragédia do Sarriá’. Já a comandada por Carlos Alberto Parreira, 12 anos mais tarde, abandonou o futebol-arte, que encantava o mundo, e só chegou ao título, ainda assim de forma sofrida, na loteria dos pênaltis, porque naquele ano os dois maiores atacantes do mundo eram brasileiros.

Os poderes de Romário mexiam com Bebeto. Kleber Leite, devido ao acanhado estacionamento na Gávea, ao lado da arquibancada, criou, em letras garrafais, ‘A VAGA DO PRESIDENTE’. Logo, surpreendeu-se com um carro no local.

“Pinheiro, Pinheiro!!! De quem é esse carro aqui?”

Sem jeito, o chefe da segurança disse baixinho:

“Do Romário.”

Resignado, o presidente do clube se calou.

Bebeto nunca teve e nem pedia privilégios. Romário, sim, tinha acordo com os presidentes dos clubes onde jogou. Por exemplo, treinava somente à tarde:

“Não bebo, mas gosto da noite” – deixava claro, de cara.

Os técnicos não entendiam esse combinado. Menos ainda Bebeto.

Os dois se desentendem agora na Política, mas a verdade é que a antiga ferida não está cicatrizada. Romário, polêmico, nunca teve papas na língua:

“Zagallo me sacaneou em 1998. Em 1994, esperaram por Branco. Quanto a mim, logo eu, que sou homem-gol, fizeram o que fizeram…”

Romário se reelegeu, mas Bebeto fez campanha para um adversário do ex-companheiro.

“Traidor…” – reagiu o agora Senador da República.

Bebeto, o bom moço, estava engasgado com o antigo parceiro havia anos:

“Ele tá velho e esclerosado.”

O ‘Garotinho’ José Carlos Araújo chega aos 83 anos, no auge da carreira, motivado e com novos projetos. O grande nome do rádio esportivo lançou, com sucesso, o podcast ‘Cheguei’. Na estreia, as explosivas declarações de Romário. Nessa semana, Bebeto é o convidado! Vale a pena conferir esse papo!