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ONDE ESTÁ AQUELE GAROTO DA FOTO?

por Paulo-Roberto Andel

Graças à internet, qualquer torcedor pode se divertir e até mesmo com uma quantidade incomensurável de fotos e pôsteres de times de futebol, em todo o mundo. Não é diferente no Brasil, nem no Rio.

Imagine o Maracanã. Quanta gente já jogou ali? São nomes, nomes e nomes. Muitos foram conhecidos e consagrados, outros nem tanto, alguns simplesmente não foram. E quem jogou no maior estádio do mundo num único dia ou noite? Times do interior, times de outros estados, times de menor investimento. Cada um a seu modo, eles viveram a experiência fantástica de subir as escadas dos velhos e maravilhosos túneis do mesmo jeito que Pelé e Garrincha.

Volta e meia me deparo com uma foto de time no Maraca, vejo os jogadores e, se for dos anos 1970 em diante, tenho familiaridade porque tenho sido um torcedor. É um mergulho maravilhoso ao recordar nomes e rostos de jogadores que vi quando criança, ou li nos jornais e na fabulosa Revista Placar. Para a humanidade, 40 anos não são nada, mas para a vida individual é muita coisa, são muitas lembranças. Onde foi parar fulano? E beltrano que morreu? Sicrano mudou para o interior?

Há um tipo de foto que me comove ainda mais: a dos times de juniores, à época chamados de juvenis. Em cada uma delas, você encontra ao menos um jogador conhecido e até mesmo um craque consagrado, ali registrado como um menino desconhecido. Agora, em sua maioria, as imagens mostram jovens que, tão perto do sonho da bola, simplesmente desapareceram e sequer defenderam suas equipes profissionalmente. Nomes desconhecidos, rostos sem identificação. O que foi feito de cada um deles? Muitos jogaram para mais de cem mil torcedores em preliminares dos clássicos, mas não chegaram ao topo da carreira. Outros eram grandes promessas que ficaram pelo caminho. O que será que aconteceu?

Em tempos difíceis, onde o futebol brasileiro está sendo posto à prova pelo escândalo que envolve jogadores e apostas, o que será que pensa aquele senhor maduro que, há quarenta anos, vivia o sonho juvenil do futebol no Maracanã que jamais se tornou uma realidade profissional?

Onde está aquele garoto da foto, além das vagas lembranças da nossa meninice?

O ORGASMO

por Zé Roberto Padilha

Talvez no Parrô do Valentim, em Itaipava, você sinta algo parecido quando um pedacinho dos sonhos, um bacalhau na brasa, com azeite português, alcança suas entranhas abertas com um Quinta dos Carvalhais, branco, do Dão, alcançados no Bordeaux ao lado.

Talvez, porque esse prazer aí de cima tem preço e lugares marcados. Já marcar um gol não tem preço. Tem um prazer único em que o Nino (foto) alcança o êxtase. Anestesiado, não sabe pra que lado corre, a quem abraça, a quem agradece.

No esporte mais cultuado no país, vinte e dois homens entram em campo toda semana para tentar, com uma bola nos pés, aninhá-la dentro de uma cobiçada e perseguida gruta. Ela tem 7,32m por 2,44 de altura.

Pequena diante da imensidão dos campinhos, estádios e arenas, ornada com redes, protegida por um goleiro, vigiada por zagueiros e monitorada pelo VAR, quando a gente consegue introduzir a bola em suas redes o paraíso é alcançado por seus pés.

Pode ser em uma pelada na encosta de um morro, no Espinhaço, em Monte Castelo, porque nem todos os orgasmos foram alcançados em lençóis de seda de frente para o mar de São Conrado.

São momentos únicos, inexplicáveis, que atiram seu ego, elevam sua autoestima ao mais alto estágio da cobiça humana.

Claro, não falo de quem goza desse prazer diariamente. Falo de Nino, não do Cano, imagino o Vidal, não o Gabigol, vale menos para oTiquinho e para o Pedro Raul do que para os esforçados mortais que o cobiçam ao seu lado.

Em 17 anos de futebol, marquei tão poucos gols (87, sendo 32 de penaltis) que lembro de cada um. Particularmente, um contra o Corinthians, no Maracanã, jogando pelo Fluminense.

Marco Antonio ameaçou bater direto e rolou a bola ao lado da barreira. Entrei nas costas do Zé Maria e toquei na saída do Ado. O que senti? Um orgasmo. E esse prazer não se explica. Se sente.

No meu caso, passou mais rápido porque o Rivelino, e o Vaguinho, com dois gols, viraram o placar para 3×1. Mas o gostinho do bacalhau, da Noruega, o tinto português, permaneceram vivos dentro de mim.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 10

por Eduardo Lamas Neiva

O racismo no futebol continua sendo o papo no bar “Além da Imaginação” e a bola está com o comentarista que o Brasil consagrou.

João Sem Medo: – Esse racismo entranhado em muitos clubes brasileiros é que acabou levando o futebol ao profissionalismo na década de 30. Os jogadores passaram a ser empregados dos clubes, tratados como tal, e isso foi uma forma de os dirigentes evitarem a mistura deles com a parte social na sede. Amadorismo, propriamente, já não existia há muito tempo. Com pouquíssimas exceções de jogadores ricos, o resto já era profissional de alguma forma. E, na verdade, foi o jeitinho brasileiro pra contornar a questão, pois os clubes que rejeitavam o profissionalismo, no fundo não queriam mesmo era abrir as portas ao negro. E aí caíram num dilema: ou fechavam o departamento de futebol ou aceitavam o profissionalismo. Isso causou uma cisão violenta.

Sobrenatural de Almeida: Foi por isso que a seleção brasileira disputou a primeira Copa do Mundo com um time enfraquecido…

João Sem Medo: – Foi. Eu assisti àquela Copa, morava ali perto da fronteira com o Uruguai. Aliás, assisti a todas as Copas do Mundo.

Todos os outros três (desconfiados): – Sim, claro…

Garçom: – Senhoras e senhores, como a conversa está nos tempos do amadorismo no futebol brasileiro, temos música no palco para ilustrar o tema.

José (Giuseppe) Rielli (no palco, com seu acordeão): É “vero”! “La canzone” se chama “Amadores da pelota”, de Antônio Teixeira Borges.

Garçom: – O bar Além da Imaginação tem a honra, então de apresentar José… Giuseppe… Como devo apresentá-lo: José ou Giuseppe Rielli?

José (Giuseppe) Rielli: – Giuseppe, como “io” assinava em 1914.

Garçom: – Então, com vocês, Giuseppe Rielli!

Todos aplaudem o italiano que veio para o Brasil ainda criança no fim do século XIX. Ele agradece e se despede. João Sem Medo continua. 

João Sem Medo: – Por causa dessa rixa entre amadoristas e profissionalistas, pro Uruguai, em 30, a seleção brasileira só levou um paulista, Araken Patusca, que estava brigado com o Santos, onde foi grande ídolo e artilheiro.

Idiota da Objetividade: – Araken já estaria sendo contratado…

Ceguinho Torcedor: – Estaria sendo, Idiota???

Idiota da Objetividade: – Peço desculpas. Tentando ser mais objetivo: Araken já estaria apalavrado com o América do Rio na época. Ele é primo de Arnaldo Patusca da Silveira, autor do primeiro gol da História do Santos Futebol Clube, e filho do primeiro presidente do clube santista: Sizino Patusca. O gol de Arnaldo foi feito na vitória de 2 a 1 sobre o Santos Athletic Club, em amistoso realizado em 1912.

João Sem Medo: – O Santos tem uma grande história antes mesmo de Pelé. Mas voltando ao que falávamos… a CBD, que deu origem à CBF, com sede no Rio, era amadorista, enquanto que uma tal de Federação Brasileira de Futebol e a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), um dos muitos nomes que a Federação Paulista de Futebol teve, eram profissionalistas. Acabou que só foram jogar a primeira Copa jogadores do Rio e o Araken, que aproveitou que o navio da seleção passou pelo porto de Santos e se juntou à delegação.

Sobrenatural de Almeida: – Mas fomos eliminados logo na primeira fase!

João Sem Medo: – Sim. Com uma derrota na estreia pra Iugoslávia, por 2 a 1, e uma vitória de 4 a 0 sobre a fraca Bolívia.

Idiota da Objetividade: – Araken Patusca fez parte de uma fabulosa equipe do Santos, que no Campeonato Paulista de 1927 marcou 100 gols em 16 partidas, média recorde mundial de 6,25 por jogo. Só Araken fez 31 gols, mas o time santista terminou em segundo lugar. O campeão foi o Palestra Itália, que deu origem ao Palmeiras e que conquistava ali o bicampeonato paulista. Ele só conseguiu ser campeão no Santos, em 1935, mas em grande estilo: marcou um dos gols dos 2 a 0 sobre o Corinthians, na última partida da competição.

Garçom: – Esse Araken era bom mesmo, né?

Idiota da Objetividade: – Araken estreou no Santos, no início da década de 20, saindo da arquibancada direto pro campo, fazendo 4 gols no empate em 5 a 5 com o Jundiaí. Ele tinha apenas 15 anos, senhores. Araken ainda jogou no Paulistano, no São Paulo e no Flamengo. E escreveu um livro sobre a excursão que o Paulistano fez à Europa em 1925, quando atuou ao lado do grande Friedenreich, o maior artilheiro de todos os tempos, com 1.329 gols, reconhecidos pela Fifa.

João Sem Medo: – Os jornais franceses, encantados com a série de shows de bola em gramados europeus, chamaram os brasileiros de “Os reis do futebol”. E este é o título do livro do Araken Patuska.

Ceguinho Torcedor: – Ainda bem que depois da divisão toda, entre amadoristas e profissionalistas, o futebol brasileiro pôde ter um pouco de paz.

João Sem Medo: – A partir daí nosso futebol deu saltos gigantescos, projetou-se internacionalmente pela qualidade extraordinária de nossos craques, apesar do núcleo dirigente tentar sempre atrapalhar. Mas de 1930 até 35 foi o pior momento da História do futebol brasileiro. Eu não presenciei muito, mas eu sei também que o incêndio de Roma aconteceu, né?

Ceguinho Torcedor: – Verdade, meu amigo, é o óbvio ululante!

João Sem Medo: – Foi uma fase de grande crise política e econômico-financeira, depois da crise mundial dos anos 30, no começo dos anos 30.

Ceguinho Torcedor: – A crise mundial de 29 com a quebra da Bolsa de Nova York.

João Sem Medo: – Isso mesmo. Toda a seleção brasileira… toda! Do goleiro ao ponta-esquerda, foi pra Itália, Argentina e Uruguai. E os jogos aqui, eu fazia jogo de infantil, juvenil… Foi terrível, não tinha dinheiro pra comprar material, chuteira, não tinha nada. Os campos vazios, o que era um reflexo da crise mundial. Essa crise foi ferocíssima até 35, por aí. De 30 a 35. Em 34, na Itália, ainda no meio da cisão e dessa crise toda, fomos mal de novo, eliminados logo no primeiro jogo, pela Espanha.

João Sem Medo é interrompido por aplausos direcionados ao palco. Ele mesmo só se dá conta depois e revela ao Ceguinho Torcedor o que está acontecendo.

João Sem Medo: – Meu amigo, estão no palco simplesmente Carmen Miranda e Lamartine Babo.

Ceguinho Torcedor: – Extraordinário, épico, monumental!

João Sem Medo: – O povo aqui os reconheceu logo e já começou a aplaudir antes mesmo de serem anunciados.

Garçom: – Nem preciso mais anunciar a próxima atração, né, Seu João? Vou deixar a bola com eles.

Carmen Miranda: – Muito obrigada.

Lamartine Babo: – Agradeço muito. Agradecemos muito. Bom, futebol e música sempre foram a minha cachaça, vocês sabem muito bem. Pro carnaval de 34, ano da segunda Copa do Mundo, lançamos esta marchinha chamada “2 x 2”.

Carmen Miranda: – Vocês vão gostar. Quem já conhece, de ouvir novamente. E quem nunca ouviu, de conhecer.  

São aplaudidíssimos. Com Lamartine dando a mão a Carmen, os dois deixam o palco ovacionados e se dirigem a uma mesa para ouvirem o recomeço do papo e aguardar a vez de retornarem.

E EM XERÉM, NÃO VAI NADA?

por Zé Roberto Padilha

Basta citar André, Martinelli e Alex Sandro para entender a importância que Xerém representa não só para o Fluminense, mas para o futebol brasileiro, como centro formador de talentos.

Só que Xerém não é uma pessoa, é um município da Baixada Fluminense onde mora Zeca Pagodinho. O Centro de Treinamentos das divisões de base do Fluminense fica em Xerém. E é comum, e injusto, quando surge uma fera, os comentarista falarem: “Foi formado em Xerém!”.

Sendo assim, é preciso fazer justiça aos profissionais que por lá trabalham e já provaram que possuem tanto o olhar de Lince, para enxergar uma craque aos 13 anos, como uma equipe técnica e física para aprimorar fundamentos, acompanhar seu crescimento e orientá-lo em sua conduta disciplinar.

Que tal dar nomes, conceder os méritos, fazer justiça a esses profissionais que por lá trabalham e já nos apresentaram Thiago Silva, Marcelo, Ricardo Gomes, Pedro, Gérson, Diogo Silva, Roger, Carlos Alberto e tantos outros.

Fernando Diniz é o funcionário modelo que coloca o produto no mercado, distribuindo-os de acordo com suas funções. Mas é preciso exaltar aqueles que preparam a massa, a colocam para dormir cedo, são testados em Sub-13, 15, 17 e 20 para, só então, saírem do forno para o deleite dos que amam o futebol-arte.

Já passou da hora dos tablóides esportivos nos apresentarem esses competentes profissionais e seus métodos de trabalho. Eles devem ter muitos exemplos para dar e muitas boas histórias pra contar.

O FLUMINENSE DE TODOS OS TEMPOS

por Luis Filipe Chateaubriand

No gol, a frieza de Castilho.

Na lateral direita, a atitude de Carlos Alberto Torres.

Na zaga central, a imponência de Thiago Silva.

Na quarta zaga, o dinamismo de Edinho.

Na lateral esquerda, o estilo de Marinho Chagas.

De primeiro volante, a classe de Didi.

De segundo volante, a inteligência de Gerson.

De ponta de lança, a exuberância de Rivelino.

Na ponta direita, a liderança de Romerito.

De centroavante, o oportunismo de Fred.

Na ponta esquerda, o frescor de Paulo Cesar Caju.

Castilho; Carlos Alberto, Thiago Silva, Edinho e Marinho; Didi, Gerson e Rivelino; Romerito, Fred e Paulo Cesar.

E aí?

Vai encarar?