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MAURO GALVÃO, CLASSE EM FORMA DE JOGADOR DE FUTEBOL

por Luis Filipe Chateuabriand

Mauro Galvão foi um zagueiro de extrema categoria que, no Brasil, defendeu Internacional de Porto Alegre, Grêmio, Bangu, Botafogo e Vasco da Gama.

Além destes, jogou no exterior, no futebol suíço.

Inteligente, sabia se posicionar na área de tal forma que os ataques adversários eram contidos com assiduidade.

Líder, também orientava o posicionamento dos demais defensores, contribuindo para que os times que defendia dificilmente fossem vazados.

Técnico, era capaz de fazer o desarme dos atacantes adversários com extrema facilidade, e ainda sair jogando.

Essas qualidades fizeram com que Mauro Galvão fosse o líbero da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1990, na Itália.

Eis o caso de um zagueiro que jogava muita bola!

COM A HIPÓCRITA CONIVÊNCIA DE TODOS

por Zé Roberto Padilha

O que Ramon Menezes fez para merecer estar à frente, interino que seja, da Seleção Brasileira de Futebol?

Sua experiência como treinador nada o credencia. Ganhou o que a não ser a amizade e simpatia do presidente da CBF?

Não são apenas os jogadores que sonham em defender a seleção. Eles sabem que para isso devem alcançar os grandes clubes e estarem acima da média entre todos que atuam na sua posição.

Do mesmo jeito, os treinadores brasileiros, entre eles Renato Gaúcho, Dorival Jr. e Fernando Diniz ocupam, hoje, um estágio profissional acima dos seus concorrentes. Era natural que tivessem direitos a esse oportunidade. Interina que seja.

Infelizmente o clientelismo, que se juntou ao nepotismo, e esse se aliou a rede de relacionamentos e parentes importantes, são os valores que continuam valendo no país desde seus primórdios para encaixar os Ramon Menezes em cargos importantes.

Pior que isso só a conivência e a omissão da imprensa esportiva, que acata em silêncio aberrações como essa.

Ramon Menezes, como treinador da nossa seleção, ostentando seu modesto e atual currículo, é uma piada. E um desrespeito a todos nós que amamos o futebol.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 11

por Eduardo Lamas Neiva

Seleção brasileira na Copa de 1934

Após a ovação a Carmen Miranda e Lamartine Babo, João Sem Medo reinicia o papo.

João Sem Medo: – Meus amigos, em 34, a delegação brasileira viajou 15 dias de navio para a Itália e, em 90 minutos, a vaca foi pro brejo. Isso, apesar de os quase 30 mil presentes no estádio Luigi Ferraris, em Gênova, fora os que subiram morros e telhados próximos, terem torcido pro Brasil.

Idiota da Objetividade: – O Brasil saiu perdendo de 3 a 0 pra Espanha no primeiro tempo e quando tentou reagir na etapa final ficou difícil. Houve um gol anulado, marcado pelo Luizinho, depois Waldemar de Brito perdeu um pênalti, defendido pelo grande goleiro Zamora, e a seleção brasileira foi derrotada pela espanhola por 3 a 1 e foi eliminada da Copa do Mundo logo na estreia.

João Sem Medo: – O gol do Brasil foi de um tal de Leônidas. Conhecem, né?

Ceguinho Torcedor: – Evidentemente. Ele foi a nossa grande figura em 38. Saímos daqui muito otimistas, houve uma longa preparação, a delegação chegou à França quase um mês antes do início da Copa e lá fizemos nossa primeira boa apresentação num Mundial. Ficamos em terceiro lugar, e Leônidas da Silva, o Diamante Negro, pôde assombrar o mundo com seu futebol de outro mundo.

Sobrenatural de Almeida: – Futebol assombroso!

Garçom: – E pra abrilhantar ainda mais este grande encontro e homenagear Leônidas da Silva, os Vocalistas Tropicais estão aqui pra cantar “Diamante Negro”, de David Nasser e Marino Pinto.

Todos aplaudem.

Nilo Xavier da Mota: – Obrigado, obrigado. É uma honra pros Vocalistas Tropicais estarmos aqui neste palco pra participar desta tabelinha entre futebol, muito bem representados por estes craques aqui na mesa principal, e música, a música brasileira. Vamos então a essa homenagem musical ao grande Leônidas da Silva.

São, mais uma vez, muito aplaudidos.

Garçom: – Muito obrigado, Nilo Xavier da Mota, Raimundo Evandro Jataí de Sousa, Artur Oliveira, Danúbio Barbosa Lima e Arlindo Borges.

Após a apresentação dos Vocalistas Tropicais, Leônidas da Silva passa a ser o centro da conversa no Além da Imaginação. Pairou até uma expectativa no ar se o Diamante Negro apareceria de surpresa…

Idiota da Objetividade: – Leônidas foi o primeiro brasileiro a ser artilheiro de uma Copa do Mundo, com 7 gols. A campeã, ou melhor, bicampeã, foi a Itália, que venceu o Brasil na semifinal por 2 a 1. Leônidas não jogou contra os italianos, porque, segundo o técnico Ademar Pimenta, estava machucado. Aquela Copa foi disputada em sistema eliminatório.

Sobrenatural de Almeida: – É o sistema que eu mais gosto: o mata-mata. hahahaha

Idiota da Objetividade: – O Brasil estreou na França com uma vitória de 6 a 5 sobre a Polônia, na prorrogação. Leônidas fez três gols.

Ceguinho Torcedor: – Espetacular Leônidas! Sensacional também Domingos da Guia. Nosso guardião da zaga começou o jogo com 38 graus de febre, que só piorou com a chuva que começou a cair pouco antes do jogo.

Sobrenatural de Almeida: – Com a minha intervenção ele salvou milagrosamente um gol na prorrogação, quando o Brasil vencia por 5 a 4. Batatais já estava fora do gol. No rebote, Willimonski ia fazer o gol, mas dei uma desviadinha e a bola acertou a trave

Ceguinho Torcedor: – Domingos da Guia foi outro grande herói do nosso scratch.

João Sem Medo: – No fim da partida, ele e Leônidas, que andavam meio brigados, se abraçaram emocionados.

Idiota da Objetividade: – Este foi o primeiro jogo de uma Copa do Mundo transmitido por uma rádio brasileira, a Rádio Clube do Brasil, do Rio de Janeiro. A narração foi de Gagliano Neto.

Ceguinho Torcedor: – O povo pôde ouvir o jogo na voz do grande “speaker”, como se falava na época.

Sobrenatural de Almeida: – O presidente Getúlio Vargas mandou instalar alto-falantes nas praças e outros locais públicos pra que todo mundo pudesse ouvir.

Idiota da Objetividade: – O pernambucano Leonardo Gagliano Neto já havia sido o pioneiro na narração de um jogo da seleção brasileira, um ano antes, durante o Campeonato Sul-Americano disputado na Argentina, pela Rádio Cruzeiro do Sul.

João Sem Medo: – O Getúlio, simpatizante do regime fascista de Mussolini, mandou três telegramas pro Gagliano pedindo que ele maneirasse nas emoções durante a semifinal contra a Itália. Getúlio depois elogiou o locutor, mas muita gente disse na época que Gagliano criticou muito o árbitro pelo pênalti, no mínimo duvidoso, de Domingos da Guia em Piola.

Ceguinho Torcedor: – O rádio é meu veículo predileto, por motivos óbvios. E aquele jogo contra a Polônia foi de matar um do coração. Saímos com 3 a 1 do primeiro tempo, mas os poloneses cresceram na segunda etapa e empataram. Fizemos o quarto, mas faltando um minuto pro fim, eles igualaram o marcador novamente: 4 a 4. Na prorrogação, Leônidas meteu dois, um com a chuteira rasgada, gol de meião e, quando a Polônia fez o quinto, já era tarde. Chorei lágrimas de esguicho, mas de alegria.

Idiota da Objetividade: – Nas quartas-de-final, contra a Tchecoslováquia, foram necessários dois jogos, pois o primeiro terminara empatado em 1 a 1, e não havia disputa de pênaltis naquela época. Dois dias depois, os times voltaram a se enfrentar muito desfalcados, mas o Brasil tinha Leônidas e ganhou por 2 a 1, com um gol do Diamante Negro, que já havia marcado no primeiro embate contra os tchecoslovacos. Mais dois dias, o time brasileiro estava extenuado, com Leônidas fora, e a Itália venceu a semifinal por 2 a 1. Na disputa do terceiro lugar, Leônidas marcou dois e o Brasil derrotou a Suécia por 4 a 2.

Ceguinho Torcedor: – Dizem que na Copa de 38 ele teria feito um gol de bicicleta que espantou o público e foi anulado pelo árbitro por não conhecer a jogada. Eu não vi, não posso falar. Você viu, João? (João finge que não escutou)

João Sem Medo: – Música, maestro!

Jorge Goulart (já no palco): – Às suas ordens, mestre João Sem Medo! Vamos com a Marcha do Bonsucesso, que destaca Leônidas como o maioral.

Jorge Goulart (muito aplaudido): – Esta marcha, do Lamartine Babo, que aqui nos dá a honra de sua presença, acabou sendo oficializada posteriormente como hino do Bonsucesso. Obrigado, minha gente.

HERÓIS DA RESISTÊNCIA

por Zé Roberto Padilha

Difícil explicar para nossos netos, pois os filhos foram testemunhas, que nossa cidade chegou a ter seus dois clubes de futebol na primeira divisão do estado. América FC e Entrerriense FC estavam entre os doze clubes no Cariocão de 1992.

Com estádios modestos, investimentos idem, como vão imaginar, ao sair da roda gigante, que naquele piso, digo, gramado, os maiores craques do nosso futebol se exibiram por ali.

Uma das explicações está na ousadia dos nossos cartolas que sempre estiveram à frente do seu tempo. Impossível não fazer justiça àqueles que partiam para a FERJ com poucas chances de disputar a segunda divisão, com a verba da prefeitura para jogar a terceira, mas voltavam de lá enfrentando o Fluminense logo na primeira rodada.

Um dia, porém, esta entrega desmedida, esse amor ao futebol, foi vencido pelo cansaço. Não tiveram crias que dessem sequência às suas obstinações.

Exigiram arenas, tínhamos apenas estádios. Os 4 árbitros que vinham de ônibus, deram lugar às vans que traziam 8. Como pagar com ingressos a 10 reais?

Deles, nossos heróis da resistência, guardo as últimas lembranças do derradeiro campeonato que entramos. Deve ter uns 10 anos. O América enfrentava o Miguel Couto, pela terceira divisão, no Estadio Odair Gama, com portões fechados. Não tinha liberação do Corpo de Bombeiros.

As 15h as duas equipes estavam em campo e o juiz aguardava o delegado autorizar seu início. E ele só daria seu ok se o América pagasse a taxa de arbitragem antes do jogo.

Aí nosso presidente, José Michel Farah, depois de muito relutar, foi ao carro e pegou um talão de cheques. E quando estava preenchendo, seu eterno diretor de futebol, Betinho Barbosa, chegou após furar o bloqueio.

“Por qu esse jogo não começa?”, esbravejou.

Farah respondeu:

“Só vai liberar se eu der o cheque!”.

Betinho, sem perceber a presença do delegado, nem deixou cair:

“Você sabe, Farah, que esse cheque não tem fundos!”.

A partida não foi realizada. Era mesmo o fim. Do fim.

Mas todos nós, que tivemos oportunidades profissionais diante de tamanha coragem e amor ao futebol, temos muito a agradecer a cada um deles. Na conta da gratidão, sobram mundos e fundos.

SÓCRATES EM NATAL

por Rubens Lemos

O Doutor Sócrates, verbete de inteligência no futebol, jogou apenas uma vez em Natal e encantou a plateia irrisória para o seu toque de enxadrista da bola. Apenas 8.335 pessoas foram ao Estádio Castelão ver o Botafogo de Ribeirão Preto (SP), primeiro clube do gênio vencer o América por 3×1 na abertura da segunda fase do Campeonato Brasileiro de 1976. O time paulista era muito melhor que o adversário do ABC pela Série B.

O futebol de Sócrates e a sua postura de gazela em campo e contestadora fora, começavam a tomar as manchetes dos principais veículos de comunicação.

Sócrates, aos 22 anos, usava a camisa 8 e cursava Medicina, algo raro e, para alguns, excêntrico, no meio da boleirada imediatista e gastadora dos cruzeiros parcos em comparação aos euros atuais pagos a gente sem criatividade sequer distante.

O São Paulo já anunciava interesse no gigante prodígio que acabaria sendo o maior talento do Corinthians ao lado de Rivelino. Sócrates seria o cérebro da decantada seleção do técnico Telê Santana, que jogou em Natal em janeiro de 1982 contra a Alemanha Oriental(Brasil 3×1) sem ele, machucado.

O mísero público naquele domingo, 10 de outubro de 1976, conseguiria, sem adivinhar, a primazia da contemplação de um futebol de antevisão de jogadas no meio-campo, de lançamentos e dribles curtos e o uso habitual do calcanhar como instrumento de superação do marcador.

O habilidoso e polêmico volante Juca Show ficou encarregado de marcar Sócrates e saiu de campo sem poder contar a sucessão de fintas levadas e o espanto diante da eficiência do adversário ao jogar de costas e, ainda assim, deixar os companheiros na cara do goleiro Otávio.

O América do técnico Sebastião Leônidas fazia boa campanha e venceria a Máquina Tricolor do Fluminense, bicampeão carioca, com Paulo César Caju e outros ídolos(menos Rivelino), por 2×1 num dos principais resultados de seus quase 108 anos de história.

Sócrates estudava e (pouco) treinava em 1976. Não precisava. Chegava para jogar com o fardamento de acadêmico, trocava de roupa no vestiário e empolgava multidões. Em Natal, sorridente, deu entrevista dentro do ônibus(foto), que levaria o time ao estádio.

Suas declarações revelavam ceticismo em relação ao futuro e desenhavam o perfil do homem que fazia de um jogo profissional, diversão e exercício de inteligência superior.

Artilheiro do Paulistão com 15 gols, Sócrates afirmava aos repórteres natalenses de rádio e jornal: “É um pouco difícil exercer as duas atividades(futebol e medicina). Mas os diretores do meu clube estão sendo bastante compreensivos e me dão as condições necessárias para que eu possa jogar futebol sem precisar interromper os meus estudos.”

Em 1976, o meio-campo da seleção treinada pelo lendário Oswaldo Brandão tinha de titulares Falcão, Rivelino e Zico, intocáveis segundo o treinador, quando questionado sobre Sócrates. Paternalista e, por vezes, grosseiro, Brandão afirmava que Sócrates deveria provar seu brilho num clube grande. “ O Botafogo não tem tanta expressão assim.”

Enquanto a delegação se juntava para deixar o Hotel dos Reis Magos rumo ao Castelão, Sócrates fazia uma profecia que os deuses da bola, felizmente, trataram de demolir. “Quero continuar jogando futebol, mas isso, é claro, vai depender da possibilidade de conciliar o esporte com a Medicina.”

Sócrates conduziu a partida contra o América com a soberania ainda imberbe. Fez lançamentos longos para os pontas Zé Mário(falecido precocemente de leucemia em 1977) e João Carlos Motoca, atuando bem abertos. No primeiro gol do Botafogo, Sócrates vislumbrou Zé Mário que recebeu com açúcar e afeto. Matou Otávio em leve toque.

No 2×0, Sócrates achou livre o lateral-esquerdo Mineiro, que ganhou de Olímpio, cruzou e João Carlos Motoca conferiu, sem chances para Otávio. Novamente Zé Mário, promessa que chegou a ser convocada para a seleção no ano de sua morte, foi presentado com a visão de jogo de Sócrates. Driblou o zagueiro Odélio e tocou sem chances para Otávio. O América diminuiu em gol contra de Jair.

Sócrates seria vendido ao Corinthians em 1978. Campeão Paulista em 1979/82/83, titular do escrete nacional de 1979 até 1986, parou de jogar no Flamengo em 1987, atuando em breve tempo de jaleco de médico. O alcoolismo já dominava o mito. Sócrates morreu em 2011, aos 57 anos.