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HENRIQUE DE LATA

por Zé Roberto Padilha

Basta você se colocar no lugar do centroavante do Cruzeiro, Bruno Rodrigues. Artilheiro do time, perde, jogando em casa, o pênalti que reduziria a vantagem tricolor. Porém, é salvo pelas irregularidades cometidas: Fábio se adiantou e jogadores tricolores invadiram a grande área. E o juiz autoriza uma nova cobrança.

Ufa! Ganhei uma nova chance.

Aí você vai ajeitar a bola e seu reserva não lhe permite bater a penalidade. Agressivamente, a retira das suas mãos, sem a menor educação, como a dizer:

“Chega, você já teve a sua chance. Deixe pra quem sabe!”.

A cena, mostrada para todo o país, é um péssimo exemplo para um futebol que acaba de descer aos porões da desonra quando seus atletas profissionais se mostram capazes de vender resultados.

Bruno Rodrigues lutou pela bola, a recuperou e bateu ele mesmo. Para fora. Estava nervoso, não lhe foi dado crédito quando falhou, foi questionado e humilhado por um questionável veterano enquanto se preparava para consertar o erro.

A diretoria do Cruzeiro precisa afastar Henrique de Lata, ex-Dourado. Não há elenco que suporte um atleta com tamanha falta de respeito e companheirismo.

Na saída, aos repórteres, declarou:

“Foi tudo no sentido de ganhar!”.

Eis a questão, tudo diz respeito aos valores que você coloca à frente para vencer.

Pois desse jeito, de cada um por si diante de um esporte coletivo, um cartãozinho amarelo por R$ 40 mil, que nossa classe vai perdendo o respeito e a confiança da sociedade.

EU SÓ ACREDITO PORQUE ESTAVA JOGANDO

por Zé Roberto Padilha

Era um clássico, entre Flamengo x Vasco, pela terceira rodada do Campeonato Carioca, que não era revestido de qualquer outro ingrediente. O campeonato apenas começava a aquecer.

E aí, o carioca, que decide seu programa em cima da hora, resolveu combinar com todo mundo ir ao Maracanã depois da praia. Era um domingo ensolarado, dia 4 de abril de 1976.

Por mais rodado o Zico, excursionado o Roberto Dinamite, ninguém ali realizara anteriormente o aquecimento com o teto ameaçando cair. O barulho era ensurdecedor e ficamos a imaginar: o que estaria acontecendo dentro do maior estádio do mundo?

Aí vem o primeiro aviso: o jogo iria atrasar 20 minutos porque a PM subiu ao anel superior para retirar torcedores que foram espremidos até o teto. Uma loucura.

Quando entramos em campo, vivemos uma sensação semelhante a do Queen, no Rock in Rio 95, quando milhares de pessoas entoaram Love of my Life. Aquela sensação que será vivida por poucos mortais. De qualquer arte.

174.773 pessoas se acotovelaram para assistir uma exibição de gala do Zico. Ele fez dois na nossa vitória por 3×1, o outro foi marcado pelo Luizinho, naquela partida que registrará para sempre o terceiro maior público da história do Maracanã.

De vez em quando encontro um ex-atleta que viveu comigo aquela doce loucura, e ficamos a resenhar. Outro dia foi o Dé, que marcou o gol do Vasco. E ele me perguntou:

“Quantas vezes você acordou suado, no meio da noite, com a cama tremendo e um barulho infernal à sua volta?”

Disse que senti isso algumas vez. A sorte é que, anos depois, joguei pelo Bonsucesso um clássico contra o Americano, em Teixeira de Castro, pelo mesmo Campeonato Carioca.

O silêncio era tão grande que não foi difícil voltar a dormir.

BEBETO NA BERLINDA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

A transferência do Bebeto para o Vasco soava inacreditável. Parecia tão surreal, que eu anunciava a negociação pela Rádio Globo e a imprensa, em geral, mantinha-se calada.

Após um jogo entre Flamengo e Remo, em Belém, tive uma longa conversa com José Moraes, então procurador do craque. De cara, senti que teria de trabalhar a notícia, pois ela sacudiria duas gigantescas torcidas rivais. Era outra época, sem internet, que foi a responsável por sepultar o furo de reportagem. Hoje a informação é fracionada, sai sempre em tempo real.

O aperto de mão entre Eurico Miranda e José Moraes aconteceu ‘no fio do bigode’, em plena concentração do Brasil, em Teresópolis. O dirigente vascaíno era diretor de futebol da seleção brasileira, que conquistaria dentro em breve a Copa América após um longo jejum de 40 anos. Bebeto foi o artilheiro da competição. Marcou sete gols e era o maior jogador do país.

Zico ganhava US$ 20 mil por mês e, seguro do acordo feito por Bebeto com o Vasco, seu procurador pediu o dobro do salário que o maior ídolo da história do clube recebia.

No intervalo de uma das partidas do clube, na Gávea, pedi para a produção da rádio ligar para o presidente Gilberto Cardoso Filho, que estava em Portugal. Tivemos um ríspido diálogo, no ar, com Gilbertinho negando a possibilidade de perder o atacante:

“Estou jantando sempre com o (Antônio Soares) Calçada, aqui em Lisboa. Faz uma entrevista com ele.”

Retruquei que eu não confiava no então presidente cruz-maltino.

“Você está afirmando um fato que não existe! Bebeto é do Flamengo e ponto final.”

Pedi à Rádio para que ela preservasse a gravação da matéria. Senti Gilberto Cardoso completamente desinformado e imaginei a proporção do final do caso. Quando o dirigente se deu conta da rasteira que levou do amigo Calçada, tentou, sem sucesso, negociar o jogador para a Roma e, depois, o Bayern de Munique.

Uma comissão de ilustres rubro-negros dirigiu-se à Granja Comary. Márcio Braga, George Helal, Kleber Leite, Josef Bernstein e Moisés Akerman se reuniram para tentar convencer o artilheiro a permanecer na Gávea. Diante da repercussão do assunto, Bebeto, aconselhado pela esposa Denise, acabou recuando:

“Vou ficar no Flamengo.”

Já o procurador dele, não:

“Palavra é palavra, e ele vai cumprir.”

Naquela época, simplesmente, concretizava-se a maior transação do futebol brasileiro. O Vasco vendeu o meia Geovani para o Bolonha, da Itália, e depositou o valor do passe de Bebeto na Federação: US$ 2,5 milhões. O atacante foi ameaçado de morte e andava assustado, cercado por seguranças. À noite, em sua casa, na Barra da Tijuca, pelo menos dez guarda-costas cercavam sua mansão que ele recebeu do novo clube.

Foi a mais tensa e polêmica negociação da história do futebol brasileiro.

PROVA DE RESISTÊNCIA

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Não lembro a última vez que fui em dois jogos em dois dias consecutivos, mas neste fim de semana estive sábado no Maracanã para assistir o clássico entre Fluminense x Vasco e domingo no Nilton Santos para ver o meu Botafogo. Começando pelo líder, não poderia estar mais feliz nesse início de campeonato. Apesar de não ter jogadores excepcionais, é um time bem entrosado, com um sistema defensivo muito bem organizado, e com alguns jogadores velozes, como o Junior Santos, que driblam até o ataque para o Tiquinho Soares concluir. Acho só que falta treinar mais finalizações para acertarem o alvo!

São quatro vitórias em quatro jogos, mas o campeonato é longo e não vejo o elenco tendo substitutos à altura dos titulares em caso de lesões, suspensões ou até mesmo transferências. Não dá para negar que é um começo excelente, mas nessa competição ganha quem tem mais fôlego e um plantel de qualidade.

Por falar em fôlego, o Vasco ficou na roda para o Fluminense e deu sorte de sair com um pontinho do Maracanã. Achou um gol logo no início do jogo e foi só! Vi muita gente criticando o Fábio pelo erro, mas, no estilo de jogo do Fernando Diniz, os jogadores estão sujeito a isso e o mais bacana é que o treinador não deixa de encorajá-los. Inclusive, já vi o Alisson, do Liverpool, cometendo falhas até piores, que ninguém mais lembra, mas que também contava com a confiança do treinador Klopp.

O que não dá para esquecer é que o Flamengo acabou de pagar uma multa de quase 20 milhões pela rescisão do Paulo Sousa e já tem gente pedindo a cabeça do Sampaoli após mais uma derrota. Não sei como é o contrato do novo treinador do Flamengo, mas a panela de pressão já começa a sacudir na Gávea e já houve protesto no desembarque do time ontem.

Enquanto isso, Dorival Junior ganhou mais uma com o São Paulo e, embora ainda cedo, já vai caindo nas graças da torcida tricolor. Por outro lado, como era de se esperar, Luxemburgo não tem tido vida fácil no Corinthians. Vi até que ele se reuniu com os torcedores para pedir a confiança deles, mas isso se adquire dentro de campo. Sei que ele é malandro e isso pode até dar uma amenizada, mas de nada vai adiantar se as vitórias não vierem.

O mesmo posso falar do Vagner Mancini, no América-MG. Neste fim de semana, perdeu a quarta seguida no campeonato e, mesmo tendo feito um bom trabalho no clube, não continuará por muito mais tempo se não vencer os adversários.

Não gosto do comportamento do Abel Ferreira, mas também elogio quando tem que ser elogiado! Ganhou de 5 do Goiás fora de casa e, apesar de não jogar um futebol bonito, é muito eficiente durante as partidas. O Fortaleza, por sua vez, estou sempre elogiando e pode pular para a segunda posição caso vença o Corinthians hoje!

Para encerrar, vi muita gente comemorando o título da Copa do Rei do Real Madrid, de Vinicius Jr. e Rodrygo, e provocando o Manchester City, adversário na Liga dos Campeões. É bom não mexer com o Guardiola porque sabemos do que o técnico é capaz, né? Ou já se esqueceram da reviravolta do time dele até a liderança no Campeonato Inglês, um dos mais disputados do mundo? Tem tudo para ser um jogão!

Pérolas da semana:

“Para entrar por dentro e surpreender o adversário em um modelo de jogo com identidade própria, o ala faz um posicionamento corporal que se coloca à disposição da primeira ou da última bola”.

“A ligação rápida e direta faz o time espetar o último terço do campo e amassar o adversário com gordura, alargando o campo e queimando a largada antes da chapada na orelha da bola”.

SANTOS

por Zé Roberto Padilha

Não deve ser fácil a vida de um guardião, o tal último homem, se sua barreira de proteção e seus protetores são trocados a toda hora. Desse jeito, fica difícil se entrosar. E proteger a meta de toda uma nação.

Trocam tantos, pobre Santos, que quando uma bola é alçada sobre a grande área rubro-negra ainda escutamos um grito comum das peladas da várzea:

“Sai que é minha!”.

Em alguns jogos, são escalados Rodrigo Caio e Léo Pereira. Em outras, entra Fabrício Bruno e David Luiz. E se misturam em razão de contusões ou suspensões.

Quanto aos protetores dos seus protetores, em uma partida é o Thiago Maia quem joga muito e não protege ninguém. Na outra, o Vidal, mas, quem vai entrar hoje é o Pulgar.

Aí vem um cruzamento rasteiro em sua direção e ele, que não está entrosado o suficiente com a dupla atual, não sabe se sai ou se fica. Em uma fração de segundos, tem que avaliar se eles vão cortar o cruzamento ou deixar a bola correr por toda a extensão da área.

Daí ele, Santos, resolve sair para interceptar a bola e um toque sem querer do Vitor Roque desvia a bola para dentro do gol. O lugar que deveria estar segundo todos que não estão no seu lugar.

Com seu jeito simples, educado e discreto, Santos, após uma saída corajosa, deixou a arena lesionado e deve ficar um tempo fora do gol do Flamengo. Talvez o tempo suficiente para que todos reconheçam que mesmo os Santos precisam de proteção.

De Deus e dos seus.