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ATÉ QUANDO?

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Eu tinha tudo para estar feliz, soltando fogos, com a vitória do Guardiola e, consequentemente, do futebol arte na Liga dos Campeões, mas conseguiram me irritar! É sempre assim, essas hienas da hipócrita imprensa só reconhece e valoriza depois que vem o título.

Nos tempos de jogador, Guardiola era um volante clássico, fino, de toques na bola, que dava gosto ver jogar. Quando se tornou treinador, além dos atributos essenciais que aprendera dentro de campo, se desenvolveu ainda mais e o resultado está aí.

Para refrescar a memória de vocês, vou lembrar os feitos do espanhol até aqui. Foi ele o responsável por transformar aquele Barcelona que conquistou a Liga dos Campeões e encantou o mundo com um toque de bola que deixava os adversários na roda. Na sequência, depois de ganhar tudo, topou o desafio de assumir o Bayern de Munique e fez o milagre de transformar o futebol físico e de força alemão em um futebol bacana de se ver, trazendo resultados expressivos.

No City, chegou com a missão de fazer o clube conquistar sua primeira Liga dos Campeões da história e, depois de bater na trave, quando perdeu injustamente para o Chelsea nos pênaltis, conseguiu neste fim de semana o que ele tanto merecia! Eu, como jogador de uma geração que sabia jogar bola, fico muito feliz com a visão que esse cara tem! Inclusive, ele já declarou algumas vezes que se inspira nas Seleções de 70 e 82 para implementar seu estilo de jogo. O título só veio para calar a boca daqueles que o criticavam.

Sabe qual é o pior? Tem gente comparando o Abel Ferreira ao Guardiola… kkkkkk! Com todo respeito, o treinador do Palmeiras nunca comandou nenhum grande de Portugal, chegou ao pobre futebol brasileiro, um cemitério de veteranos que são rejeitados na Europa, e vive dando péssimos exemplos de comportamento na beira do gramado. Neste fim de semana, por exemplo, quase saiu na mão com Calleri após uma dividida dentro de campo. Não lembro a última vez que vi uma situação tão tosca no futebol!

Sei que já bati nessa tecla várias vezes, mas até quando vão deixar esse português agir assim de forma impune? Pior que isso, até quando a imprensa vai continuar exaltando esse cara que não jogou em lugar nenhum?

Pérolas da semana:

“Com um tipo de encaixe que favorece a ligação direta, o jogador de beirinha procura chapar na orelha da bola para surpreender e atacar as linhas verticais e diagonais da marcação alta”.

“Para providenciar um losango no último terço do campo, a leitura de jogo se faz de área à área, de forma consistente, de modo que o atacante agudo aproveite a segunda bola central”.

MESMO COM O SANGUE COAGULADO, EU SEMPRE IREI DE TORCER

por Reinaldo Sá

O coração rubro é cativante mesmo tendo poucos títulos, mas a sua relevância no contexto futebolístico nacional, não pode ser apagada. Mesmo que os gênios dos bastidores tentem, não dá para ofuscar a trajetória rubra. Comandada à época pelo Almirante Álvaro Grego, que obteve um honroso terceiro lugar que na Taça de Ouro de 1986, depois de ser eliminado pelo São Paulo, a equipe americana sofreu um baque em suas estruturas sentido até os nossos dias atuais.

Quando foi criada a Copa União em 1987, a CBF alegou que não tinha condições estruturais para financiar o torneio que se intitulava como campeonato. Daí surgiu a primeira liga brasileira, que foi o Clube dos Treze, e tinha mais três convidados mais bem ranqueados, tais como o Náutico, Santa Cruz de Pernambuco e a Portuguesa de Desportos de São Paulo, que formavam o módulo verde, equivalente hoje a primeira divisão. Já o módulo amarelo seria a segunda divisão, e nessa estava incluído o América, terceiro colocado da temporada de 1986, o vice campeão brasileiro Guarani e o Sport Clube do Recife, de onde haveria um cruzamento dos dois melhores colocados em cada módulo. A direção do América, com o apoio do ex-presidente da CBF e também ex-presidente Giulite Coutinho, não aceitou esse regulamento e decidiu por não disputar o torneio, contando com o apoio de Guarani e Sport, que optaram por disputar o módulo amarelo. Nos bastidores o clube rubro não obteve o apoio dos representantes do Clube dos Treze, tendo à época Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo, e Márcio Braga, presidente do Flamengo.

Sendo assim, a CBF puniu o América ao rebaixamento para a terceira divisão do campeonato nacional. Vários gestores passaram pela antiga sede da Rua Campos Salles 118 e não conseguiram reverter o quadro de caos em que a equipe rubra foi colocada injustamente. Daí veio o declínio no âmbito regional e, antes da virada do milênio, a sua nova casa situada em Edson Passos, na Baixada Fluminense, foi um progresso não bem entendido por seus fervorosos torcedores em pequena escala, longe da mídia oficial, porém presente nas redes sociais.

O futuro é incerto pois a luta por um lugar ao sol é árida, seca e solitária, mesmo que as estatísticas mostrem que o América está entre o 50 maiores clubes do Brasil. Hoje o que sobrou do pavilhão foram os escombros para a construção de um shopping em que a nova sede estará inserida nela e as disputas na Segunda Divisão do estadual carioca e a Copa do Rio. Daí vai a frase, Deus salve o América.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 13

por Eduardo Lamas Neiva

Carmen Miranda deixou o palco mais uma vez muito aplaudida, Leônidas se despediu do Além da Imaginação à francesa e os 4 amigos retornaram à resenha, mantendo o Diamante Negro no comando do ataque.

João Sem Medo: – Meus amigos, mesmo campeão em 35 pelo Botafogo, depois de ter jogado no Vasco, Leônidas deixou o clube por causa do racismo. E foi parar no Flamengo, onde foi campeão carioca em 39.

Garçom: – É verdade que o Flamengo começou a ganhar mais torcida por causa dele? É o que ouvi falar.

João Sem Medo: – Depois da Copa de 38, principalmente, Leônidas virou até garoto-propaganda de chocolate, cigarro…

Idiota da Objetividade: – Leônidas foi um dos homens mais populares do Brasil na década de 40, dividindo as honras com Orlando Silva, o Cantor das Multidões, e o presidente Getúlio Vargas, conhecido como o Pai dos Pobres.

Sobrenatural de Almeida: – É, Leônidas ajudou o Flamengo a se tornar popular, mas quando o São Paulo veio ao Rio com um caminhão de dinheiro para contratá-lo, nenhuma viva alma rubro-negra foi se despedir do ídolo na Central do Brasil. Isso foi assombroso.

Ceguinho Torcedor: – Mas na capital paulista foi recebido por uma multidão de filme épico. Até o prefeito o carregou nos ombros. Foi uma festa que parou a cidade.

Idiota da Objetividade: – Leônidas fez o São Paulo conquistar cinco títulos paulistas na década de 40 e começar a rivalizar com Palmeiras e Corinthians, formando o grande Trio de Ferro da Terra da Garoa. O Homem-Borracha, como Leônidas era conhecido também, levou o São Paulo aos títulos paulistas de 43, 45, 46, 48 e 49.

Garçom: – Tem uma música aqui que é perfeita pra ilustrar isso aí.

Zé Ary vai ao notebook do bar, ajeita as caixinhas e seleciona a faixa 5 do site de Hélio Ziskind.

Clique para ouvir!

Todos ouvem com atenção, muitos até aplaudem ao fim da execução da música, apesar de o artista não estar presente ao local.

Ceguinho Torcedor: – Leônidas da Silva foi um gigante do nosso futebol!

Garçom: – Fico curioso pra saber por que ele não defendeu a seleção brasileira na Copa de 50?

João Sem Medo: – O técnico Flavio Costa tinha uns problemas com ele, Zé Ary.

Idiota da Objetividade: – Leônidas da Silva acabou não sendo convocado para a Copa do Mundo de 1950 pelo técnico Flavio Costa, porque ambos  tinham desavenças desde os tempos de Flamengo. Muitos anos mais tarde, Flavio Costa admitiu ao jornalista Andre Ribeiro, que escreveu uma biografia de Leônidas, ter errado ao não convocar o Diamante Negro para o primeiro Mundial de Futebol realizado no Brasil. No ano seguinte, em 1951, encerrou a carreira e foi treinador do São Paulo em 73 jogos.

Sobrenatural de Almeida: – É, mas ele mesmo disse que não se deu bem como treinador, porque tinha um temperamento muito difícil.

Ceguinho Torcedor: – Isso é típico dos gigantes, daqueles que se entregam de alma. E o que me importa são os atos, os sentimentos. É a alma que está em questão.

Idiota da Objetividade: – Posteriormente foi o primeiro jogador a se tornar comentarista de futebol. O Diamante Negro foi um comentarista de rádio dos mais laureados.

Os outros três: – Laureados, Idiota?

João Sem Medo: – Ele quis dizer premiados, um dos comentaristas mais premiados.

Idiota da Objetividade: – Exatamente. E o hino do São Paulo, embora composto por Porfírio da Paz em 1935, só foi oficializado em 42. Justo quando Leônidas estava chegando por lá.

Músico (do palco): – Tinha uma estrofe que falava do Palmeiras, mas não era o Palestra Itália, e sim a Associação Atlética Palmeiras, que se fundiu ao Paulistano para dar origem ao São Paulo. Pra evitar confusões, Porfírio trocou na última estrofe Palmeiras por Floresta, local onde ficava o clube tricolor, e a letra ficou “Do Floresta também trazes um brilho tradicional” em vez de “Do Palmeiras também trazes um brilho tradicional”. Vamos tocar aqui pra vocês.

Os são-paulinos presentes, muito entusiasmados, cantaram junto com o grupo e fizeram uma grande algazarra no fim da execução do Hino tricolor. Respeitosamente, os demais aplaudem.

GARRINCHA E EU

por Zé Roberto Padilha

Ele estava encerrando sua carreira. Defendia nosso saudoso Olaria. E o direito de ficar com sua amada, Elza Soares. Eu, começando a minha. Não fiquei diante de um ponta direita. Me posicionei em frente a uma lenda. Depois de Pelé, o maior jogador de futebol brasileiro de todos os tempos.

O que fazer?

O árbitro chegou a tirar o apito da boca. Já não era mais o juiz ocular da história. Era testemunha.

Se o futebol se tornou uma profissão, deixou de ser visto como um oficio de desocupados, dos marginais e não instruídos, e eu me agarrei a ela, foi porque ele e outros heróis, ao alcançarem a posse e guarda da Taça Jules Rimet, tornaram nosso país o templo do futebol.

De excluídos, evitados, passamos a ser respeitados. Valorizados, admirados e bem pagos. O maior redistribuídor de rendas e oportunidades aos jovens carentes e excluídos.

O fotógrafo, tal a arte prestes a ser pintada por pincéis das pernas tortas, teve tempo de registrar esse momento vivido no maior estádio do mundo. De estar ali, vestindo a camisa 5 do Flamengo, paralisado diante de Mané Garrincha.

O que aconteceu?

No lance, nem sei, provavelmente me driblou e procurou chegar à linha de fundo. Mas depois, me lembro direitinho: fui até a Igreja mais próxima agradecer a Deus. Pelo privilégio de estar ali, defendendo uma nação diante do seu principe. Vivendo esse momento lindo.

Foram tantas as emoções em uma só jogada que valeram por toda a minha história.

Ze Mário

*psicografado por quem jogou ao lado.

BASTIDORES DA BOLA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Eurico Miranda dizia que ‘jogo à vera’ tinha Léo Feldman no apito. Por não fazer média com os dirigentes, ele nunca se tornou árbitro FIFA.

Para ser sincero, a imprensa não divulga nem dez por cento do que acontece nos bastidores. No vestiário, por exemplo, principalmente durante o intervalo e após os jogos, surgem duras discussões e até brigas ou agressões entre jogadores, técnicos, dirigentes.

Romário, quando era o número 1 do mundo, esculhambava os companheiros:

“Eu encho o Maracanã. Vocês não jogam porra nenhuma.”

Ao ouvir isso, o zagueiro Jorge Luiz explodiu. Partiu com tudo para cima do atacante. Joel Santana não conseguia calar o artilheiro. O técnico Evaristo de Macedo assumiu o comando do time rubro-negro e enquadrou o ‘Baixinho’:

“Aqui, só eu falo. E joguei muito mais do que você.”

As reuniões que definem a arbitragem para jogos decisivos são quentes. Ao longo de décadas, Eurico Miranda foi o mandachuva, fora de campo. As decisões do futebol carioca e brasileiro passavam por seu gabinete, em São Januário, aquele com vista para o gramado. Na parede, uma foto do dirigente o apresentava recebendo um troféu do ‘Velho Guerreiro’, o vascaíno Chacrinha, com direito à sua famosa buzina na mão.

O cartola cruz-maltino fazia as tabelas e o regulamento das competições, sem que ninguém o contestasse. Com seu inseparável charuto, Eurico possuía vários aliados e era temido não apenas pelos adversários como até pelos presidentes da CBF. Para se ter ideia, o Vasco recebia o mesmo valor que o Flamengo, nas cotas de TV.

Imagine o cartola hoje, nos encontros com a Libra e com o Futebol Forte…. Com o aval do Governo e da Justiça, Flamengo e Fluminense há quatro anos gerem o Maracanã. Você acha que Eurico Miranda aceitaria essa situação?

Durante um arbitral na FFERJ – a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro –, como a porta estava entreaberta ouvi os gritos de Eurico na semana de um Flamengo x Vasco. Por sinal, jogo em que o sérvio Petkovic faria o gol do tricampeonato estadual, em 2001, cobrando aquela falta histórica no gol à esquerda da Tribuna de Honra, ao lado da massa rubro-negra. O presidente Edmundo Santos Silva era o representante do Flamengo. E teve que ouvir Eurico decretar:

“Jogo à vera é com o Léo.”

Não satisfeito, o homem forte do Vasco repetiu:

“Jogo à vera é com Léo.”

O árbitro sempre foi, é e seguirá sendo o personagem mais marcado nos estádios. Todos são atacados o tempo todo, desde a entrada até saírem de campo:

“Ei, juiz, vai tomar no c…”

O Léo a que Eurico se referia era justamente Léo Feldman, que faleceu na última quinta-feira, dia 1º de junho, aos 67 anos, em decorrência de um persistente tumor na garganta. Professor de Educação Física no CEFET, a escola técnica federal que fica próxima ao Maracanã, Feldman era bastante respeitado. Até por sempre manter distanciamento dos dirigentes.

O grande Armando Marques, destaque da arbitragem brasileira, trabalhou em duas Copas do Mundo: as de 1966, na Inglaterra, e a de 1974, na Alemanha. Também conduziu diversas decisões estaduais e nacionais. Cometeu erros, como qualquer ser humano comete, como o inacreditável gol do tricolor Wilton, que usou a mão para marcar no Fla-Flu de 1968, válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Meia década depois, equivocou-se na contagem dos pênaltis da decisão do Paulistão de 1973, fazendo com que Santos e Portuguesa dividissem o título. Léo Feldman, que apitou a decisão do gol de barriga de Renato Gaúcho, em 1995, podia errar. Nesse lance, cravou na súmula que o gol foi marcado por Ailton.

A verdade é que quando o aspirante à FIFA Léo Feldman estava em campo, não tinha conversa fiada com ele, não. O jogo sempre era à vera!