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TONHÃO, A MARCA DO ZAGUEIRO RAIZ

por Reinaldo Sá

Ele chegou ainda no tempo árido da Academia Palmeirense, que estava ávida a triunfos. Coincidência ou não, as promessas contratadas não tinham bons rendimentos, e eram dispensados pela diretoria alviverde sem dó, nem piedade.

Todavia, algo de revolucionário mudaria os alicerces do Parque Antártica! Através da famosa parceria da Parmalat, aliada à gestão de José Carlos Brunoro, gestor de futebol com experiência internacional do vôlei, uma nova era surge.

Foi diante desse cenário que Tonhão, parceiro de Cleber e futuramente do bicampeão mundial interclubes Antônio Carlos, impôs respeito à linha de defesa palmeirense, visto que até os habilidosos atacantes pensavam duas vezes em tirar onda com o xerife.

Com sua marca de um líder na grande área, o zagueirão foi peça fundamental na quebra do jejum de dezessete anos sem título. Não tinha a cadência de Luis Pereira, nem a técnica de Polozi, mas a raça de um guerreiro, um líder nato. E é assim que sempre lembraremos de Tonhão.

Dono de um vigor físico impecável, Tonhão nos deixou hoje, mas estará vivo na memória do torcedor palmeirense!

Descanse em paz, eterno Tonhão!

O CAMPO

por Claudio Lovato Filho

Diante si, tão pouca coisa: o campo do bairro e o gol com a rede esfarrapada.

Diante de si, tão pouca coisa, mas ainda assim o suficiente para impulsionar seus sonhos mais preciosos.

O menino superou o alambrado que isola o campo de todo o resto e agora caminha pelo gramado, fazendo embaixadas imaginárias com a bola que sua fantasia inventou.

Fantasia? Que nada! A mais pura realidade produzida pelo seu coração de menino.

Tudo isso que ele agora vislumbra com absoluto fascínio é fruto da mais poderosa vontade, e um dia vai ser a mais concreta realidade (ele sente isso, pressente, mas sem definir com nenhuma dessas palavras; não ainda).

Então ele agora está de frente para o gol, no lugar em que poderia ficar a marca do pênalti se alguma marcação houvesse naquele campo e, com uma paradinha perfeita, manda toda a sua emoção e todos os seus desejos e todas as suas certezas e todos os seus receios de insucesso para o fundo da rede.

Agora ele corre para o abraço dos companheiros e, por fim, escala o alambrado para chegar bem perto da torcida, a torcida enlouquecida que não para de vibrar pelo que ele fez, que não para de gritar o nome dele, não para, não para, nunca vai parar.

E diante de si, lá no começo, havia tão pouca coisa.

Tão pouco e, ao mesmo tempo, tanto.

LEMBRANÇAS QUE O VENTO TRAZ

por Marco Antonio Rocha

As bandeiras cortam o ar e, a cada movimento, revelam-se de uma forma diferente. Como a capa de um super-herói, ganham vida no vento em um balé que poderia não ter fim. E pouco importa se são pequenas, médias, grandes, gigantes, bandeirões… todas escondem um mistério que hipnotiza até mesmo os olhos menos atentos.

As bandeiras coloriram toda minha infância, adolescência e juventude, como lembranças de épocas mais leves como seus tecidos. Estavam na varanda de casa durante as Copas de 82, 86, 90 e 94, devidamente acompanhadas de fitilhos verdes e amarelos, cuidadosamente cortados e amarrados a fios, como rabiolas de pipas que tentavam conquistar a companhia do azul do céu.

Estavam na janela do Chevette do meu pai, cortando a Avenida Brasil, a caminho do São Januário. Aqueles poucos quilômetros esculpiam uma inesquecível mistura de sons… O pano amarrado no bambu, tremulando ao vento, com a Cruz de Malta impecavelmente esticada; o rádio informando o panorama do estádio na chegada dos times; o barulho das buzinas a cada vascaíno que cruzava com a gente…

Os anos se passaram, perdi meu companheiro de estádio e ganhei outro. A vida perdeu grande parte da leveza de seus tecidos, mas conservou uma boa dose de plasticidade e romantismo. Foi só meu filho crescer um pouco que, igualmente apaixonado por bandeiras, um dia me fez um pedido no estádio: “Pai, será que eles me deixam tentar?”. Deixaram! E lá estava o moleque sacolejando um enorme pano branco, com o desenho de uma Cruz de Malta maior que ele. A descoberta virou hábito e a cada partida passamos a conjugar o verbo bandeirar.

Mas neste sábado, antes de irmos para Vasco x Atlético-MG, pela primeira vez ele manifestou o desejo de levar uma bandeira de casa. Improvisamos um cabo de vassoura que encontramos na garagem e seguimos para São Januário. Uma moto passou e buzinou, alguém no ônibus gritou Vasco! No rádio, os repórteres falavam da movimentação da torcida e o barulho do pano invadia o carro. Entramos em São Januário e, como nunca havíamos feito, nos abraçamos longamente, emocionados. Um rapaz que via a cena de longe se aproximou, elogiou o carinho mútuo e aconselhou o moleque a sempre me ouvir, porque sou seu herói. Sim, pais são heróis que usam capas feitas de bandeiras, que ganham vida no vento em um balé que poderia não ter fim.

O PROFESSOR DE GEOMETRIA

por Zé Roberto Padilha

Didi, para muitos, foi o Rei da Folha Seca. Jogando pela seleção brasileira e pelo Botafogo, desenvolveu uma técnica única de bater uma falta.

Batia na bola por baixo, num ponto G, com uma rosca sutil. E ela, ao ultrapassar a barreira, descia plainando sobre a meta como uma folha seca caindo de uma árvore. Para desespero dos goleiros.

Como treinador, no Fluminense, nos concedeu uma lição de Geometria. Felizmente, para o Flamengo, Ramon Diaz, técnico do Corinthians, não teve acesso a essa aula nos vestiários.

No Brasileirão de 1975, era titular da Máquina Tricolor e enfrentávamos o Sport, num sábado à tarde no Maracanã. Eles, como o Corinthians, tiveram um jogador expulso. E Didi me trocou no intervalo pelo Mario Sérgio.

E deu explicações inquestionáveis: como ponta esquerda, eu fechava o meio-campo, Mário Sérgio abria nas beiradas procurando a linha de fundo. Ele pegou o quadro negro e disse uma máxima que nenhum comentarista esportivo percebeu em caso de uma expulsão.

– A gente só vai levar vantagem se abrirmos os espaços. Abrindo o Gil e o Mário Sérgio nas beiradas, estaremos abrindo o leque. Ampliando o campo e criando dificuldades para quem tem um a mais. Comigo jogando, disse, vamos encurtar o espaço e aí não pesará tanto o fato de ter um a mais.

Que eu saiba, Didi não estudou na PUC, não se aprofundou em cálculo para a bola descair, muito menos se enveredou pela Geometria para entender de ocupação de espaços.

Estudos nos fornecem conhecimento, mas aos nosso professores de futebol, autodidatas, como Pelé, de fibras fortes, antepassados do Príncipe Ivair, que aprenderam a driblar a escravidão, e do Garrincha, que gingavam e dançaram Capoeira para se livrar da marcação, bastou uma bola, um campinho de pelada e liberdade de criação para o Brasil apresentar ao mundo toda a sua inteligência e genialidade.

Uma pena que vivem a fechar os campos de peladas que são o nosso Vale do Silício. Outro Bill Gates, tão cedo.

O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO E A LISTA DOS 128 CLUBES PRINCIPAIS

por Luis Filipe Chateaubriand

Em texto anterior a este, argumentava que 128 clubes deveriam ter calendário a temporada inteira, sendo considerados os 128 clubes principais de nosso futebol.

Mas quem seriam eles?

Eis a lista:

·         Dezesseis Clubes de São Paulo: São Paulo, Santos, Corínthians, Palmeiras, Bragantino, Bragantino, Guarani, Ponte Preta, Portuguesa de Desportos, Inter de Limeira, Santo André, São Caetano, Ituano, Audax, Botafogo de Ribeirão Preto, Água Santa, Paulista de Jundiaí.

·         Dezesseis Clubes do Rio de Janeiro: Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Portuguesa, Campo Grande, Madureira, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Volta Redonda, Nova Iguaçu, Americano, Goytacaz.

·         Sete Clubes do Rio Grande do Sul: Grêmio, Internacional, Juventude, Caxias, Novo Hamburgo, Brasil de Pelotas, São José.

·         Sete Clubes de Santa Catarina: Figueirense, Avaí, Criciúma, Chapecoense, Joinville, Brusque, Marcílio Dias.

·         Sete Clubes do Paraná: Athletico Paranaense, Coritiba, Paraná Clube, Londrina, Operário, Grêmio Maringá, Cascavel.

·         Sete Clubes de Minas Gerais: Atlético Mineiro, Cruzeiro, América, Villa Nova, Tupi, Caldense, Tombense.

·         Cinco Clubes de Pernambuco: Sport, Santa Cruz, Náutico, Central, Porto.

·         Quatro Clubes do Espírito Santo: Rio Branco, Desportiva, Vitória, Serra.

·         Quatro Clubes da Bahia: Bahia, Vitória, Fluminense de Feira de Santana, Galícia.

·         Quatro Clubes do Ceará: Fortaleza, Ceará, Ferroviário, Guarany de Sobral.

·         Quatro Clubes da Paraíba: Botafogo, Sousa, Treze, Campinense.

·         Quatro Clubes de Goiás: Goiás, Atlético Goianiense, Vila Nova, Anápolis.

·         Quatro Clubes do Pará: Remo, Paysandu, Tuna Luso, Águia de Marabá.

·         Quatro Clubes do Amazonas: Amazonas, Nacional, Rio Negro, São Raimundo.

·         Três Clubes de Sergipe: Sergipe, Confiança, Itabaiana.

·         Três Clubes de Alagoas: CSA, CRB, ASA.

·         Três Clubes do Rio Grande do Norte: América, ABC, Baraúnas.

·         Três Clubes da Paraíba: Flamengo, River, Parnahyba.

·         Três Clubes do Maranhão: Sampaio Corrêa, Moto Club, Maranhão.

·         Três Clubes do Distrito Federal: Gama, Brasiliense, Ceilândia.

·         Três Clubes do Tocantins: Araguaína, Tocantinópolis, Gurupi.

·         Três Clubes do Mato Grosso do Sul: Operário, Dourados, Corumbaense.

·         Três Clubes do Mato Grosso: Cuiabá, Mixto, Luverdense.

·         Dois Clubes do Acre: Rio Branco, Independência.

·         Dois Clubes de Rondônia: Vilhena, Ji Paraná.

·         Dois Clubes de Roraima: São Raimundo, Atlético Roraima.

·         Dois Clubes do Amapá: Ypiranga, Trem.

Esses 128 clubes preferenciais no futebol brasileiro devem disputar as divisões do Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e as Copas Interestaduais (Copa Rio / São Paulo, Copa Sul / Minas / Espírito Santo, Copa do Nordeste e Copa Verde).