ZICO E GABIGOL
por Rubens Lemos
O erro começou quando Pelé se despediu do Santos em 1974. No exato instante em que o Deus se ajoelhou e abriu os braços dizendo acabou a festa, a camisa 10 do clube deveria ter sido abolida. Depois, Pelé foi obrigado a vê-la torturada por gente do naipe de Totonho, Toinzinho(esse era até razoável), Mococa e Rubens Feijão. Banalizaram o manto.
Sem o Rei, a camisa 10 tirou do Santos a luz da exclusividade genial. A seleção brasileira perdeu a glória da onipotência, mas Pelé foi sucedido por luminares como Rivelino e Zico.
Depois, Silas não esteve à altura da responsabilidade em 1990 tampouco Raí em 1994. Rivaldo jogou um bocado em 1998 e 2002, Ronaldinho Gaúcho bailou improdutivo em 2006, Kaká fraquinho em 2010, Neymar medíocre nas três Copas disputadas.
Hoje, não há ninguém digno da camisa 10, tornada por Pelé, símbolo de superioridade quando a usou por acaso em 1958. O mundo adotou o 10 como marca do melhor do time. Maradona era 10, Platini era 10, Matthaus era 10, Zidane 10 também, Messi, o 10 derradeiro, insuperável.
Meu Vasco teve um 10 que não jogava na função meio-campista da dezena. Roberto Dinamite, centroavante, tomou para si, graças a jornadas eternas de tão espetaculares, o número que, na tradição, seria de um companheiro mais recuado. O último 10 do Vasco foi Roberto Dinamite e está difícil surgir outro, ainda que, depois dele, Bebeto, Juninho Paulista, Dener e Edmundo tenham honrado o fardamento da categoria.
Acontece um novo atentado à memória e à verdade do bom senso no futebol e o Zico é a vítima. Zico, amigos, foi meu Pelé Branco, meu adversário querido pela lindeza do jogo e o caráter irretocável. Zico tinha a chave e o coração do Maracanã guardados com ele.
Ronaldinho Gaúcho foi o que de mais próximo apareceu ostentando a camisa do mito nascido em Quintino. Petcovic não fez feio. Os dois, multiplicados por 500, jamais amarraram a chuteira da entidade franzina e espetacular. Agora é intragável consumir Gabigol, a faceta mais ridícula da fase dos enganadores, com a posse da camisa de Zico.
Gabigol é chato diplomado. Supera os programas de auditório, todos. O flamenguista deve encabeçar uma campanha para que ele, o intrometido, seja contemplado com a 136. Enquanto houver Flamengo, nada pode ser comparado ao Galinho. Tirem a 10 do enganador e respeitem a imortalidade de Zico.
ANO DE LUTO
por Lédio Carmona
2023 foi concebido para ser um símbolo de luto do Vasco.
Roberto Dinamite morreu no oitavo dia desse ano maldito.
O maior ídolo se foi. O torcedor não o verá mais. Não pode mais abraçá-lo. Ficou a estátua. A saudade dos seus quase 800 gols e um vazio incomensurável.
Nada poderia ser maior do que essa perda. Mas toda maldição é pouca para quem vive de amar o Vasco nas duas últimas décadas.
A perda precoce do maior ídolo é insuperável.
É maior do que o risco de um novo rebaixamento. Qual é a novidade? Caiu quatro vezes em 15 anos. Qual é o espanto se cair a quinta?
O time joga como nunca e perde como sempre dentro da sua casa. Há anos é assim. A fúria do caldeirão engole seu próprio dono.
Por sinal, São Januário e seu torcedor seguem mal tratados. Abandonados, sucateados e clamando por um mínimo de bons tratos e modernidade.
Para piorar, a ira do torcedor machucado depreda o monumento de cimento. Esfarela o pouco que ainda resta do patrimônio da instituição. E maltrata mais o coração sofrido de milhões de apaixonados por uma causa chamada Vasco.
A cada futricagem dos dirigentes, o torcedor vê sua paixão ser pisoteada e sufocada com gás de pimenta. Vascaíno de verdade não sofre por politicagem, muito menos tem cartola como ídolo.
Vascaíno de verdade vive de paixão. Não se alimenta de bravata de engravatados, nem de promessas inférteis de milionários dolarizados, incapazes de entender o que significa ser Vasco. Vascaíno sem relutância vive de memórias, chora pelo presente e sonha com o futuro.
Amaldiçoaram o Vasco. Não sei quem foi exatamente, mas o trabalho se comprovou exemplar. Maquiavélico. Mas só uma coisa essa tal criatura tentou, porém nao conseguiu. A alma do vascaíno nunca será sequestrada. Nem ela, nem sua memória.
O vascaíno se acostumou a viver e se alimentar de sua história e de suas lembranças. Com esse patrimônio, ninguém mexe. É o que sobrou até o dia em que o resgaste seja pago e a grandeza do Vasco devolvida ao seu desamparado torcedor. Enquanto houver a saudade, o Vasco será imortal.
“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 15
por Eduardo Lamas Neiva
Com o fim da música “Pacaembu” nas caixinhas de som, muitos aplausos. Antes que cessassem, Idiota da Objetividade é ligeiro e retoma a pelota.
Idiota da Objetividade: – Além do Pacaembu, também houve partidas no Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre; no Durival de Brito, em Curitiba; na Ilha do Retiro, no Recife; no Independência, de Belo Horizonte, e, claro, no Maracanã, construído especialmente para aquela Copa, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial.
Sobrenatural de Almeida: – Ah, lá no Independência eu aprontei a maior zebra da História: Estados Unidos um, Inglaterra zero.
Idiota da Objetividade: – Mas nenhum dos dois times se classificou para a fase final. A classificada no Grupo 2 foi a Espanha.
Todos (de pé, alegremente, brindando): – “Eeeeeeeeu fui às touradas de Madri, pararatibum-bum-bum, pararatim-bum-bum-bum”!!!
Enquanto a turma toda canta, dança e batuca a marchinha gravada 12 anos antes por Almirante e a Orquestra Odeon, e que fez muito sucesso em 1949, com Carmen Miranda, a Pequena Notável voltava ao palco, desta vez com João de Barro, o Braguinha, e ambos são muito aplaudidos. O público não para de cantar o refrão de “Touradas em Madri”, até que Braguinha pega o microfone para se dirigir aos presentes.
Braguinha: – Muito obrigado, minha gente. Naquele dia eu chorei na arquibancada do Maracanã. Chorei de emoção. E se vocês não pararem eu vou chorar novamente.
Todos riem e o aplaudem. A música começa e todo mundo em pé canta e dança junto com Carmen Miranda e Braguinha. Uma festa completa.
Ao fim, a ovação é enorme. Carmen Miranda e Braguinha deixam o palco, sendo cumprimentados e cumprimentando quem estivesse pela frente. Zé Ary se apressa e anuncia.
Garçom: – Vou localizar aqui no nosso rádio do tempo a narração do Antônio Cordeiro, da Rádio Nacional, justamente naqueles minutos finais de Brasil e Espanha. Dá pra ouvir um pouco o público cantando ao fundo.
Ceguinho Torcedor: – Agora o Braguinha vai chorar lágrimas de esguicho!
Garçom: – Achei! Aqui está!
Todos ficam emocionados, o público aplaude, volta a cantar, e Braguinha chora copiosamente de novo, como se estivesse outra vez na arquibancada do Maracanã. É abraçado por amigos e louvado por todos:
“Braguinha, Braguinha, Braguinha…”
Ceguinho Torcedor: – Que dia, que espetáculo, que goleada, que maravilha aquele povo todo no Maracanã cantando e a seleção dando um baile na Espanha…
João Sem Medo: – Um dia muito especial pro nosso futebol, sem dúvida alguma.
Músico (no palco): – E pra nossa música também, seu João.
João Sem Medo e os demais concordam. Após a euforia, alguns devem ter se lembrado do que ocorreu no jogo seguinte e se aquietaram. Zé Ary não deixou a bola cair e pediu que os amigos seguissem em frente no bate-papo.
Idiota da Objetividade: – Esse jogo contra a Espanha foi o segundo da seleção brasileira na fase final da Copa do Mundo de 1950. No primeiro jogo, uma goleada ainda maior: 7 a 1 sobre a Suécia.
Sobrenatural de Almeida: – No dia em que a seleção brasileira derrotou a Espanha por 6 a 1, tinha de 152 mil pagantes no Maracanã. Pagantes e delirantes. Assombroso! (dá sua risada medonha)
João Sem Medo: – Tinha muito mais gente. Umas duzentas mil. Tinha gente saindo pelo ladrão.
Todos concordam. Houve quem dissesse: “Muito mais até!”
Fim do Capítulo 15
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EVARISTO DE MACEDO – 90 ANOS – MESTRE NO FUTEBOL E NA VIDA
Rio de Janeiro, 22 de junho de 2023.
Em 22 de junho de 1933, na casa 57 da rua ABATIRÁ, Engenho Novo, Rio de Janeiro, nas mãos de uma parteira, nascia EVARISTO DE MACEDO, hoje fazendo 90 anos de idade.
O velho é um cara de hábitos simples, muito discreto e nunca foi chegado a holofotes. Por isso, as comemorações serão em casa, com a família, pensando em Chamaco, seu amado filho falecido em março. Mas pra falar de Evaristo, nada melhor do que relembrarmos a sua intensa, bonita e emocionante história, facilmente encontrada no Google:
Bom aluno, estudou nos colégios Felisberto de Menezes e Granbery, sempre se destacando nas competições de futebol. Nas peladas de rua, nem se fala. Como jogador, muito cedo, aos 16 anos, iniciou no Madureira, o famoso tricolor do subúrbio carioca, onde um dia foi apenas acompanhar o teste de um amigo. Faltou gente no treino e ele completou o time reserva. Resultado: o amigo voltou e ele ficou. Foi convocado às Olimpíadas de Helsinki–Finlândia (1952) e logo depois foi contratado pelo Flamengo onde se transformou em um de seus maiores ídolos até hoje. Na época, era aspirante a Tenente do exército (CPOR). Na Gávea, primeira passagem, ficou de 1953 a 1957, sagrando-se tricampeão carioca. Na Seleção Brasileira principal, juntamente com seu Mestre Zizinho e outros craques, jogou as eliminatórias de 1957 classificando o Brasil para a copa de 1958 no Chile. Há mais de 60 anos mantém o recorde de gols (5) em um único jogo oficial da Seleção Brasileira contra a Colômbia. Com o passe livre nas mãos, e em grande transação para a época, foi para o Barcelona logo após as eliminatórias, o que inviabilizou a sua permanência na Seleção Brasileira e a participação no grupo que conquistou a Copa do Mundo de 1958. O Barcelona não o liberou, uma vez que a Espanha não se classificou para a Copa, dando-se sequência ao campeonato espanhol. Das terras espanholas torcia por seus ex-companheiros. No Barcelona foi astro, craque e sempre artilheiro, dividindo prestígio com nada mais nada menos que Ladislau Kubala, a seu ver o maior ídolo de todos os tempos do time catalão. Jogou e fez gol na inauguração do Camp Nou, um dos estádios de futebol mais importantes e famosos do mundo. Ao fim de 5 temporadas, e de muitas conquistas e glórias, se transferiu para o poderoso Real Madrid. Agora, ao lado de Di Stefano, Puskas e Cia, ajudou o clube merengue a conquistar títulos importantes. Na Espanha foi tetra campeão espanhol e conquistou duas Copas da UEFA, hoje a famosa Champions League. No modelo atual da competição foi duas vezes vice (61 Barça e 63 Real), conquistas que bateram na trave. Em 1963 queriam que se naturalizasse espanhol, mas essa não foi a sua vontade o que antecipou a sua volta ao Brasil, recusando propostas de clubes europeus. No retorno ao Brasil, veio para o Flamengo onde jogou até 1966, pendurando as chuteiras naquele ano. Jogador disciplinado, ganhou o prêmio Belfort Duarte. Como Professor de Educação Física pela UFRJ e com grande experiência nos campos de futebol, pôde exercer com maestria a carreira de treinador de 1967 a 2005, aprendendo com os grandes treinadores que teve. Iniciou no América/RJ, ficando quase 40 anos à beira dos gramados, tomando sol, chuva, gritando e se esgoelando! Mas fazia o que mais amava. Passou por diversos clubes do Brasil (em alguns por mais de uma vez). Trabalhou no Nordeste nos queridos Bahia e Santa Cruz, tendo salários iguais aos dos treinadores de grandes centros e conquistando muitos títulos que se orgulha em falar, em especial o Brasileiro de 88 pelo ECBahia e o Fita Azul pelo Santa Cruz. Dirigiu seleções nacionais (Brasil, Qatar e Iraque). Foi às Olimpíadas, a Torneios Internacionais e a Copas do Mundo. Recusou alguns convites de grandes clubes e de seleções do exterior. Chegou à Seleção Brasileira em 1985, mas não se dobrou a interesses empresariais e publicitários. Onde não foi bem semeou o terreno para conquistas futuras. Ajudou muitos profissionais, alguns hoje bem famosos. Costuma dizer que não se arrepende de nada, nada mesmo, pois nunca violou ou contrariou seus princípios, caráter, ideias e temperamento. De forte personalidade, algumas vezes teve que “sair no braço” para se impor. Sempre foi autoritário e exigente com a disciplina e o respeito. Apesar disso, manteve seu espírito boleiro, gozador e brincalhão que até hoje rende boas gargalhadas e histórias e “causos” narrados por ex-jogadores e jornalistas. Foi o mesmo por onde passou e ao longo da extensa carreira sempre esteve trabalhando, sinal de que o caminho percorrido foi certo, apesar de alguns obstáculos. Costumava dizer que “se tivesse o dom de ensinar futebol faria isso para meus filhos”. Mas orientava seus jogadores, às vezes demonstrando e fazendo com perfeição. Dizia também que “não mais vivo do futebol e sim para o futebol” e que “somente vou parar quando ninguém mais me quiser”. Isso não aconteceu. Parou apenas porque seus joelhos já não mais aguentavam o sacrifício. Insistia em participar das atividades com seus jogadores nos famosos rachões. Teimoso como sempre! Aposentou-se em 2006, ainda com propostas de trabalho, inclusive de fora do país! Faltou-lhe conquistar um grande título como técnico do Flamengo, mas se conforma: “sempre fui chamado para resolver crises e apagar incêndios”. Assim, entre a carreira de jogador e a de treinador foram 60 anos de dedicação ao futebol! Muitas conquistas e vitórias, e muitas derrotas, também! Muitos acertos e muitos erros, também! Muitas alegrias e muitas decepções, também! Muitas amizades e poucas inimizades, também! É claro que ao longo de 60 anos na mesma profissão muita coisa aconteceu. Mas o saldo é extremamente positivo e isso se constata facilmente quando se vê que até hoje é respeitado e reverenciado por onde quer que passe. Não há qualquer dúvida de que dignificou a classe de jogadores e de treinadores. Dentro e fora do Brasil. Na Espanha, como jogador, abriu portas. No Oriente Médio, como treinador, também o fez. A sua passagem pelo Qatar foi uma marca para aquele país, mas sempre diz que “sem a colaboração de outros brasileiros nada teria conseguido”. A pedido do Emir do Qatar, Sheik Hamad, até com o famigerado “Sadam Hussem” e filhos, no Iraque, trabalhou e foi respeitado. Isso na Copa do Mundo de 1986, no México. Dizia: “Nunca achei que seria o melhor, mas sempre lutei e me dediquei para estar entre os melhores, e isso consegui em toda a minha vida no futebol.”
Esse é Mestre Evaristo, o Eva, que fez gols em Conselheiro Galvão, Maracanã, Camp Nou e Santiago Bernabeu e no Confiança e Curupaiti, pelo clube dos 18, seu time de peladas do Grajaú!
Mas isso tudo é conhecido do mundo do futebol. Basta fazer uma breve pesquisa na internet e saberemos quem foi Evaristo de Macedo, filho de Evaristo e Luiza (saudosos), irmão de Naísa (saudosa), casado há 66 anos com sua amada Norma, pai de Chamaco (saudoso), Pepe e Pitusa, avô de Luizinho, Anninha, Dudu e Rennan, bisavô de Maria Augusta, Gabriel e Maria Izabel que vem aí. Sem esquecer de Terezinha, Renato, Carlos, Fernanda, Marcela, Bruna e Sushi, o fiel cãozinho.
Como chefe de sua família, EVA continua em campo, sendo um GRANDE CAMPEÃO!
AGORA O NOSSO NONAGENÁRIO CAMPEÃO!
Parabéns MESTRE, somos o seu time da vida!
Sua Família!
VAI SE FERRAR, ANCELOTTI
por Zé Roberto Padilha
Sou do tempo em que treinadores pelo mundo dariam suas vidas para treinar a seleção brasileira de futebol.
Ter em mãos a mais cobiçada matéria prima do mundo da bola, artistas e virtuoses que alcançaram o que nenhum outro país conquistou, o pentacampeonato mundial, seria para ele a suprema glória.
A sua consagração.
Agora, você, Ancelotti, que é vice-campeão espanhol, perdeu a Champions, vem nos dizer que aceita o convite da CBF, mas só se for para daqui a um ano. Que prefere continuar dirigindo um clube. E, pasmem! Que vai impor um técnico de sua confiança para realizar a transição.
Vai se ferrar! Você e esse “famoso quem” que não nos representa, mas foi alçado à presidência da entidade maior do nosso futebol. E que nos faz passar vergonha pelo mundo.
Ah! Nelson Rodrigues, o “Complexo de Viralatas” voltou. A suprema humilhação de um país colonizado que baixa a cabeça, o tronco e os membros, para os seus colonizadores.
Vicente Feola, Aymoré Moreira, Zagallo, Parreira e Felipão. Esses foram os brasileiros que levaram nossa seleção a impor sua hegemonia.
Quem disse que precisamos lhe esperar um ano nunca jogou bola, presidiu um grande clube ou ganhou como dirigente um título expressivo.
Intervenção na CBF já! E vai se ferrar, Ancelotti!