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LUIZA CALAZANS ENTRE OS PROGRESSOS E DESIGUALDADES DO FUTEBOL FEMININO

Aos 17 anos, já no time principal do Fluminense, ela conta as dificuldades e gratificações na decolagem profissional

por Maria Clara Baroni e Ursula Villela

Foto: Daniel Brasil

​Maria Luiza Calazans de Faria tem 17 anos e já conquistou seu espaço no time de futebol profissional do Fluminense. Mas a história da jovem no esporte não é algo recente. Ela começou a jogar bola junto com a irmã gêmea, Duda Calazans, com apenas quatro anos de idade, em uma quadra na frente de sua antiga casa. A largada teve uma influência significativa do pai e do irmão, que haviam jogado profissionalmente, e da irmã mais, que até já foi convidada para jogar fora do país.
Apesar desse DNA, Maria Luiza enfrentou, como a maioria das jogadoras, preconceitos estruturais. Desde que o mundo é mundo, o gênero feminino encontra diversas dificuldades na busca da igualdade. No universo esportivo, não é diferente. Pelo contrário, a ideia de que o futebol é “coisa de menino” ainda está enraizada na sociedade. Assim, mesmo depois de escutar durante muito tempo opiniões machistas e preconceituosas sobre o desejo de se tornar jogadora, Luiza persistiu.
Aos 10 anos, encarou a primeira peneira e entrou para o Fluminense. A rede de apoio formada por familiares e amigos próximos ajuda a superar discriminações e os desafios para conciliar as rotinas esportiva, escolar, familiar, social.

Enquanto busca o amadurecimento técnico, tático e físico, a jovem atleta sonha, é claro, em “alcançar a seleção brasileira principal”, que busca o primeiro caneco mundial da Copa da Austrália e da Nova Zelândia, entre 20 julho e 20 de 20 julho. Ela também quer jogar no Lyon, da França, uma das referências mundiais em futebol feminino, com oito título da Liga dos Campeões, principal competição de clubes do mundo.

O sonho é embalado, aos poucos, pelo empenho nos treinos e pelos primeiros títulos: o Sul-Americano do ano passado, pela seleção brasileira sub-17 e o Brasileiro sub-19, pelo Fluminense, em 2020. O clube carioca foi seu primeiro e único que já jogou – está jogando há 6 anos no mesmo time. Há seis anos no clube carioca, ela aponta a melhor estrutura às atletas como uma das principais diferenças que marcaram a transição da base para a equipe profissional. Recém-promovida ao elenco que vai disputar a Série A1 nacional no próximo ano, ela conta, no papo reproduzido abaixo, a dureza de conjugar os estudos e os treinamentos, a perseverança que venceu a desconfiança alheia, a alegria de chegar à divisão de elite nacional. Também anima-se com os avanços do futebol feminino no país, mas reconhece a montanha de desigualdade ainda por superar.

Como era a rotina na base do futebol feminino tricolor?

O Fluminense tinha uma parceria com a Daminhas da Bola, iniciativa que apoiava o desenvolvimento educativo e prático do futebol feminino no Brasil. A gente estudava de manhã cedo e depois partia para o núcleo de treinamento das categorias de base do clube, em Xerém (município de Duque de Caxias). A maioria das meninas estudava em um colégio em Caxias. A gente saía da aula, esquentava a comida na escola, pegávamos o ônibus às 12h30 e chegávamos a Xerém por volta das 13h30. Começávamos a treinar às 14h. Quando o treino era nas Laranjeiras, saímos mais cedo da escola.

Como era estrutura esportiva, além dos treinos em campo?

Que desafios você encarou mais nesse tempo?

Foto: Betinho Martins

Quando comecei, não havia grande estrutura para a gente, como de fisioterapia, por exemplo. A preparação se concentrava no campo mesmo. Antes do treino, em Xerém, fazíamos academia, sem muitos recursos. Mas ajudava a gente um pouquinho. Hoje, no elenco profissional, a estrutura é muito diferente. Temos academia, nutrição, médico.

Bom, ano passado, quando ainda jogava pela base, foi muito difícil. Machuquei o joelho e tive que conciliar a escola, o treino e o tratamento. Era duro. Recebia todos os trabalhos online, não conseguia tirar dúvida com o professor. E ficar esse tempo sem jogar também me afetou muito.

Fora dificuldades de estrutura, muitas jogadoras enfrentam preconceitos e são desestimuladas a seguir adiante. Você enfrentou também esses obstáculos?

Com certeza. Muitas pessoas falaram para eu desistir. Diziam que eu não iria conseguir, Foi bem chato, mas a minha família sempre apoiou e correu atrás comigo. As pessoas que falaram essas coisas para a gente hoje em dia agem como se nada tivesse acontecido.

Como é o dia a dia agora que você treina no time profissional?

Treinamos a semana toda no CT do Fluminense mesmo. O treino começa às sete da manhã. Como moro na Zona Norte, acordo às cinco e pego um ônibus até lá. No campo, o treino vai até as 10h30. À tarde, temos academia a partir das 16h. Basicamente, é isso.

Quais são as principais diferenças na migração base para o profissional?

Na base, treinávamos no campo, a partir das 10h, toda segunda, quarta e sexta. Às terças e quintas, o trabalho era feito pela internet, via Zoom. Os técnicos nos mandavam os exercícios, e fazíamos de casa mesmo. Já no adulto, além de irmos todos os dias para o CT, vemos vídeos de jogos e treinos, e treinamos na academia em busca de uma performance cada vez melhor.

Que campeonatos você está disputando?

As competições estão quase todas no final. Chegamos à final do Campeonato Brasileiro A2, contra o RedBull Bragantino. Como tenho 17 anos, também disputo ainda os campeonatos de base ainda. Ficamos em terceiro no Brasileiro Sub-20. Em setembro, começa o Campeonato Carioca, tanto do Sub-2 quanto do adulto. E, em dezembro, temos a Copinha (um dos principais torneios de base do país).

O principal objetivo do time, chegar à série A1, foi alcançado, certo?

Sim. Era o nosso maior objetivo do ano: conseguir o acesso para a série A1. Desde o começo, nosso técnico colocou, na nossa cabeça, a ideia de que o time não podia ficar mais um ano na A2, de que tínhamos que subir para a série principal. Ver que essa meta se concretizou é muito gratificante para todas nós.

De todos os desafios que você enfrentou para se profissionalizar, qual foi o mais difícil?

Foi a lesão que sofri no ano passado, quando eu estava no auge. Rompi um ligamento do joelho. Foi muito difícil, mesmo com os apoios da minha família e do pessoal do Fluminense. Eu pensava: “Será que eu vou voltar bem?”. Ou “Mas e se não der certo?”. Graças a Deus, depois de longos nove meses, voltei muito bem.

O clube a acompanhou nesse período de recuperação?

Sim. Inclusive, quando eu soube do laudo oficial, a primeira pessoa com quem eu conversei lá foi a psicóloga. Recebi acompanhamento físico, psicológico, nutricional do clube até o fim do tratamento.

Apesar dos avanços recentes, as diferenças entre o futebol feminino e o futebol masculino ainda são enormes no Brasil. Na sua opinião, quais são as principais disparidades?

Acho que as principais disparidades são de investimento, visibilidade e infraestrutura. Ainda há muitas carências nesses pontos. Mas o futebol feminino vem crescendo, é inegável. Por exemplo, o Sportv vai transmitir a Copa do Mundo feminina. Isso é um passo muito grande. É muito difícil lidar com essa desigualdade, mas, ao mesmo tempo, é animador ver que mudanças estão acontecendo.

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Conteúdo produzido por estudantes da PUC-Rio, sob orientação do jornalista Alexandre Carauta, professor de Jornalismo Esportivo do Departamento de Comunicação da universidade.

ELES TORCEM ATÉ MORRER PELO REENCONTRO DO AMERICA COM A HISTÓRIA

Entusiastas como André de Paula, fundador da torcida AnarcomunAmerica, renovam devoção ao clube em jornadas na Segundona do Carioca

por João Vitor Lopes e Rodrigo Carauta

“Hei de torcer, torcer, torcer, hei de torcer até morrer, morrer, morrer”. Os versos iniciais de um dos mais belos hinos do futebol brasileiro retratam bem a perseverança apaixonada vivida pelos torcedores sobreviventes do América. Há décadas eles resistem à decadência do clube que encantava o Rio com o indefectível uniforme vermelho e jogadores bons de bola.

Foto: Claudio Maratona

Passados 41 anos da coroação como “campeão dos campeões”, o declínio esportivo, econômico e midiático não desbota a importância histórica do America Football Club (sem acento, frisam os tradicionalistas), fundado em 1904, na Tijuca, Zona Norte carioca. Tampouco diminui a idolatria reciclada nas arquibancadas do subúrbio, da periferia e do interior fluminenses. A devoção – escancarada já no hino composto, em 1945, por Lamartine Babo, ele próprio torcedor americano – renova-se entre a realidade de partidas sofríveis na segunda divisão do Carioca e o sonho de voltar à elite do futebol.

Foto: Ana Bonacin

Boa parte dos que acompanham o America no prolongado purgatório não conheceu seus tempos de glória. No entanto, gerações distintas de torcedores alimentam, com o Diabo, uma relação acima dos resultados. Cultivam uma conexão além do futebol, uma identificação movida a afeto.

O time hoje flerta com a zona de rebaixamento para a terceira divisão do Campeonato Estadual. Martírio inimaginável para um clube que soma sete títulos cariocas – o último em 1960 – e arrebatou, em 1982, o Torneio dos Campeões. Convidado para esta competição nacional, que reunia os campeões e vice-campeões brasileiros, o America roubou a cena. Venceu o Guarani por 3 a 1 na final. Mais do que a conquista singular, a equipe rubra encantou por reunir talentos como Pires, Eloi, Moreno, Gilson Gênio.

Sucessivos desacertos administrativos, políticos e financeiros empurraram o clube ladeira abaixo no fim do século passado. Para torcedores e dirigentes atuais, inúmeras são as razões de o America ter sumido das principais competições e dos holofotes. Envolvem desde brigas com a Federação do Rio e com a CBF até uma sequência interminável de equívocos gerenciais.

Conhecido como o clube mais simpático do Rio, “segundo time de todos”, o Mecão desfruta de um apoio generalizado à sonhada e difícil volta por cima. Parte dos torcedores preferiria, contudo, vê-lo temido pelos rivais, em vez de tratado como amigo da vizinhança:

“Fico feliz quando passo com a camisa do América e o porteiro brinca: ‘Aqui é Flamengo, nada de America neste prédio’. Precisamos recuperar esse reconhecimento”, enfatiza André de Paula, o André das Faixas, criador da torcida AnarcomunAmerica. Ele integrava às três centenas de abnegados que incentivavam o time contra o Macaé na ensolarada tarde de 27 de maio. Mesma data, lembra André, do 0 a 0 entre o Mecão e o Besiktas, da Turquia, em 1959.

Os entusiastas agregados no estádio de Edson Passos, na Baixada, buscavam não só a vitória do anfitrião sobre a equipe costeira. Almejavam, acima de tudo, um reencontro com dias melhores.

Diante da decadência americana, uma parcela dos torcedores refugia-se na nostalgia. Alguns deles apontam a mudança do campo – do Andaraí para Edson Passos – como um dos motivos da derrocada, e de certa perda de identidade. Na arquibancada, olhares desanimados suspiram saudades do “America de verdade”.

Outros mantêm a animação e a fé. Vibram com cada vitória chorada na Segundona. Desencavam formas independentes de ajudar o clube. Assim se comportam os integrantes da AnarcomunAmerica.

Liderada por André, a torcida nasceu em 2018 também como resistência ao governo que começaria naquele ano. Um resgate das origens do clube, justifica o fundador. Ele argumenta que futebol e política costumam se misturar:

“A ditadura sabotou Zico nas Olimpíadas de 1972, por conta de perseguições ao seu irmão Nando (Fernando Antunes Coimbra). Já havia sabotado Edu, seu outro irmão, não convocado para a Copa de 70, apesar do ano magnífico”, exemplifica.

Não obstante os ideais políticos, a campanha principal da torcida organizada concentra-se em atrair novas adesões ao America. Não raramente a organização banca o ingresso e o transporte daqueles que não podem arcar com os custos para ver o time nos gramados. Sem esforços deste tipo, o duelo contra o Macaé, pela terceira rodada da Série A2 do Estadual, teria reunido menos ainda do que 328 torcedores.

O sol vespertino atormentava tanto quanto a sacrificada qualidade técnica do jogo. A equipe tentava corresponder ao clamor da arquibancada. Acumulava gols perdidos.

A partida aproximava-se do fim quando esperança converteu-se em desespero. Aos 44 minutos do segundo tempo, o Macaé achou o gol em um escanteio. Quem não faz, toma, ensina a máxima do futebol.

A torcida mal esboçou reagir. O golpe parecia nem doer mais. Gritos pediam Romário, torcedor ilustre, para presidente do clube. Foram logo abafados por integrantes da AnarcomunAmerica.

O bate-boca tornou-se inevitável. Confusão no campo e na torcida. Apesar da frustração, os alvirrubros, escaldados com o longo inferno, aparentavam não se abalar. Uns guardavam os instrumentos de percussão. Outros combinavam o encontro para o jogo seguinte, garimpavam aspectos positivos da partida, faziam contas para fugir de mais um rebaixamento.

A despeito dos percalços, o vice-diretor de Planejamento e Comunicação do America, Marcelo Burgos, confia na recuperação esportiva e social. Projeta a expansão da torcida impulsionada por uma integração comunitária e histórica:

“Esperamos expandir novamente a nossa torcida, conquistando o público dos arredores de Edson Passos com projetos sociais, oficinas e com um trabalho de base, principalmente do futebol feminino, que tem dado bons resultados. Além deste vínculo local, apostamos na identificação do público com as origens e a história do América”. Burgos completa:

“Quando a obra do Shopping em Campos Salles (sede do clube, na Tijuca) ficar pronta, até o fim do ano, começará a cair um bom dinheiro pro América. Quantia que pode servir para reestruturar o clube e reaproximá-lo do público geral, com ganhos esportivos”.

Em busca de horizontes mais doces, os adoradores do Diabo ancoram-se na tradição, nas glórias e nas histórias que eternizam o America Football Club entre os grandes. Algumas delas são lembradas por André das Faixas, uma enciclopédia, nesse breve papo extraído naquela tarde de sol, futebol, paixão:

Como você virou o torcedor do América?

Fui com o meu pai, rubro-negro, ver um jogo do Flamengo no Maracanã. O América jogava a preliminar. Quando olhei para aquela camisa vermelha, pensei: esse é o time para o qual vou torcer. Isso foi em 1985, quando o America ficou quase o ano todo sem vencer. Depois, estudando a história do clube, descobri que era o time não só com a camisa mais bonita, mas também com o hino mais bonito.

Você se identificou também com a história do clube…

Sim. O America Football Club nasceu na Gamboa, um bairro proletário, fundado por anarquistas, daí a cor preta. Depois é que mudou para o vermelho. O anarquismo era a ideologia dominante dos operários. O clube nasceu, portanto, num bairro pobre, com a camisa preta, para combater os grandes da época. Por isso, era chamado pejorativamente de urubu de sarjeta. É um clube historicamente protagonista de resistências políticas, o que se refletiu em brigas com a Federação do Rio. Assim, o America acaba sempre prejudicado, apesar de ser campeão da lisura, da disciplina, da simpatia. O America pacificou o futebol carioca, ajudando a unificar as duas ligas (em 1937). Fez, com o Vasco, o Clássico da Paz.

Outro marco histórico refere-se ao, como se diz hoje, ao fair play de Belfort Duarte, que se acusava ao cometer uma infração…

Isso mesmo. Ele teve a honradez, por exemplo, de falar para o juiz que a bola não tinha entrado, num gol consignado a favor do America. Foi um grande zagueiro, um líder do primeiro título estadual americano, em 1913. Belfort Duarte destacava-se também pela lisura. Nunca foi expulso. Por isso, inspirou o prêmio que leva o seu nome, concedido aos jogadores que passam dez anos sem serem expulsos. O Alex, maior zagueiro central que eu vi jogar, também nunca foi expulso. O estádio do Coritiba, até pouco tempo atrás, era chamado Belfort Duarte. Há de se ressaltar ainda a importância histórica do clube contra o racismo. O America foi um dos primeiros a receber negros em suas fileiras, fato destacado por Mário Filho no livro “O Negro do Futebol Brasileiro”.

E os marcos esportivos do América?

No campo das glórias esportivas, fora os sete títulos estaduais e a conquista do Torneio dos Campeões, o America é o vingador do futebol brasileiro. Ganhou por 3 a 1, em 1951, do Uruguai, representado pelo Peñarol, vingando o Maracanazo (vitória do Uruguai sobre o Brasil, 2 a 1, na decisão da Copa de 1950, no Maracanã). Em 1948, o America jogou oito vezes no exterior para defender a primeira Fita Azul. Em 1959, foram 17 jogos. Em 1961, mais sete jogos. O America e a Portuguesa de Desportos são os únicos clubes brasileiros que têm a Fita Azul (título honorífico concedido pela antiga Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF, ao time brasileiro com a melhor excursão no exterior). Temos também várias taças internacionais, como a conquistada em Nova York.

Que outras referências históricas ou curiosidades singularizam o América?

É o clube com mais homônimos no Brasil, cerca de 190. Até 1940, tínhamos a maior torcida do Brasil. Falando nisso, a torcida Brigada Rubra enfrentou a ditadura militar, como a AnarcomunaAmerica vem enfrentando [movimentos antidemocráticos]. Colocamos, no estádio, uma faixa contra a Reforma da Previdência, por exemplo.

Como surgiu a ideia dessa torcida?
Surgiu no governo Bolsonaro, homofóbico, racista, arbitrário. Como achamos que o futebol sempre foi instrumentalizado pelas elites, resolvemos fundar a AnarcomunaAmerica. Sempre nos manifestamos nos jogos, na política interna do clube, na política nacional.

Como vocês se organizam para acompanhar os jogos?
Vamos a todos os jogos do masculino e do feminino e a alguns da base. Não importa a colocação, estamos em todas as partidas. Nunca pedimos nem aceitamos ajuda da diretoria. Somos independentes. Temos uma cotização entre nós, sócios da torcida. Cooperamos para que os torcedores pobres possam ir aos jogos. A gente paga o ingresso deles e fornece o transporte nas longas viagens. Alugamos kombis para nos levar nos jogos inacessíveis por transporte público.

Esses esforços conseguem renovar a torcida?
Isso é um trabalho lento. Não temos nenhum meio de comunicação. Depois que conhecem a história do América, muitos passam a torcer pelo clube. Por outro lado, futebol é resultado. O pessoal quer ir pro clube que está ganhando. Neste sentido, fica difícil convencer uma pessoa a torcer pela América. Mas posso te garantir que, lentamente, a AnarcomunaAmerica está crescendo.

O que esperar do América nos gramados em 2023?
Bom, acho que o América não deverá subir [para a elite do Carioca], porque a Federação dificulta. E a diretoria não a enfrenta. Faz a política da boa vizinhança, mas acabamos sempre prejudicados. Portanto, acho que ainda não sairemos desse atoleiro. Mas tenho esperança quanto ao trabalho de base que está sendo feito. Será que Romário, chamado para assumir o clube, poderá transformar o seu prestígio em mudanças efetivas para o América? Eis uma grande interrogação. Acredito que ele tenha condições de captar recursos para o clube. Eu espero que ele também enfrente va Federação.

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Fim da entrevista

Se o Shopping levará o clube a caminhos mais prósperos no futebol, não sabemos ao certo. O que se sabe é que independente disso seus fiéis torcedores estarão apoiando. Um até brincou que não seria tão ruim cair pra terceira divisão, pois pelo menos, seriam adversários diferentes. Retomando o que disse no início, esse sentimento vai muito além dos valores do futebol. Vai na contramão da lógica resultadista, nacional, ou até global. Ver que a graça, talvez, não esteja apenas na vitória, no título, na divisão de elite, mas sim no processo, no ato de torcer em si, cada um na sua forma. Ter também o clube como uma figura próxima, que convirja com sua história e valores. É o esporte na sua mais pura essência. Como disse o André: O America é tão superior que não precisa nem vencer”

E nós somos tão superiores, que não precisamos nem vencer. O America é uno e múltiplo. Essas são as razões que me fazem cada vez mais me ligar ao America, estando ele vitorioso no campo, ou sendo derrotado no campo, uma vez que o America está muito acima das vitórias conjunturais que possam acontecer no campo.

A COPA DE 86 CONTINUA VIVA EM MIM

por Marcos Vinicius Cabral

Por esses dias, tomando meu sol no terraço de casa em companhia de Bidu, meu dachshund de 12 anos, relembrei do dia 21 de junho de 1986. Não me perguntem o porquê da lembrança, mas recordei-me do jogo.

Eu, garoto de quase 13 anos, que amava Beatles, The Smiths, e Rolling Stones no cenário internacional, e Titãs, Barão Vermelho, e Legião Urbana no BRock dos anos 1980, era mais um sentado no chão no meio de uma multidão apinhada de torcedores na Avenida 70, como era conhecida a vila de moradores ao lado da fábrica Fluminense de Tecidos no Barreto, em Niterói.

Muitos ali – inclusive o pusilânime que escreve – ansiavam pelo título que seria o tetracampeonato mundial que os deuses do futebol não permitiram a talentosa geração de 82 conquistar em gramados espanhóis.

Brasil e França queriam mostrar ao mundo um futebol capaz de vencer a desconfiança e o insuportável calor que fazia no Estádio Jalisco, em Guadalajara. A partida, válida pelas quartas de final da Copa do México, colocaria frente a frente dois gênios da bola: Platini, ídolo da Juventus, e Zico, maior jogador da história do Flamengo.

Com a cabeça de Bidu refestelada sobre meu pé-esquerdo, o sol aquecia nossos corpos e lapsos de memórias faziam-me, de forma involuntária, lembrar de lances daquela partida memorável.

Vestido com a camisa branca do Flamengo – a mesma do título mundial de clubes em 81 – número 10 que meu saudoso pai me deu de presente por passar de ano no colégio, eu era mais um no meio da multidão.

De olhos fechados, enquanto Bidu fazia um dos meus pés de travesseiro e dormia, lembrei perfeitamente daquela tarde de sábado, 21 de junho. Lá se vão 16 anos do tricampeonato mundial da Copa do Mundo no México, no qual o Brasil brilhou com Pelé, Jairzinho, Rivellino, Tostão, Gerson, Carlos Alberto Torres e Cia.

Mas naquele 21 de junho, o dia estava estranho. Sobejamente estranho. Muito mesmo. Os fantasmas da Copa de 82 voltavam quatro anos depois para assombrar.

Enfrentaríamos no México a matreira Seleção da França, com meio-campo afinado por músicos de uma orquestra parisiense: Giresse, Tiganá, Platini e Fernández.

O mundo parou para assistir Brasil e França. Quem passasse encararia Alemanha Ocidental na semifinal. O time de Telê Santana estava alquebrado e nem de longe parecia com o de 1982, a dos desfiles encantadores e marcantes na terra de Pablo Ruiz Picasso (1881-1973).

Rubro-negro, prestes a completar 13 anos, sofri porque jogadores que me encantaram quatro anos antes não eram mais os mesmos: Éder não foi, Leandro se negou a ir, Falcão não vivia bom momento, Cerezo cortado, e a categoria de Sócrates (1954-2011), já no Flamengo, não era a mesma. Além deles, Renato, que voava, não foi chamado.

Outra injustiça foi a não presença de Roberto Dinamite (1954-2023) no México. Para piorar a situação e desespero de todos, desfigurava-se o timaço de 1982. As ficham estavam apenas em um jogador que atendia pelo nome de Zico.

Restava Zico. Corajoso, extraía forças sabe-se lá de onde para enfrentar uma gravíssima contusão de ligamento no joelho e jogar a terceira Copa do Mundo na carreira.

Melhor camisa 10 que vi jogar, o Galinho de Quintino fez o possível e impossível para estar dentro de campo em condições de jogo.

Viu o joelho direito ser assassinado pelas travas da chuteira do miliciano Márcio Nunes, do Bangu, naquele nefasto 29 de agosto de 1985, no Maracanã. Mas Zico reforçou a musculatura da perna e treinou como um louco. Normal que o corpo respondesse tamanha dor sentida.

O medo pairava no ar. Como curativo emocional, em silêncio, dizíamos nas mais secretas introspecções: “Eles têm o Platini, e nós, o Zico”.

Com atuações discretas, mas com outro significado de jogar futebol, o Brasil havia percebido a entrada de Zico contra Irlanda do Norte e Polônia.

Se não foi o jogador decisivo, nosso 10 impôs categoria, driblou, lançou e viu espaços que outros jogadores dificilmente enxergavam.

Roendo unhas e com nervos à flor da pele, acompanhei o jogo diante do aparelho de TV colocado em frente da casa de Toninho Carcará e dona Eleuza, pais de Luiz Antônio, Carlos e Kátia.

Gritamos em alto e bom tom e vibramos muito quando Muller e Junior tabelaram para Careca abrir o placar.

O Brasil tocava a bola pondo os bléus para bailar. Até que um cruzamento despretensioso de Rocheteau desviou em Branco e proporcionou o empate. Gol de Platini.

Minutos depois, chamado, Zico substituiu Muller. Ao receber a bola de Junior, aos 27′ do segundo tempo, no círculo do meio-campo, nosso camisa 10 enfia na medida para Branco, que faz o ‘facão’ e é derrubado por Joël Bats.

Ioan Igna, árbitro romeno que apitava o jogo, marca o pênalti. Zico bateu e perdeu. Com o coração apertado, chorei. Minhas lágrimas tinham endereço certo: não eram pela Seleção Brasileira, mas por Zico. Fim de jogo. O 1 a 1, por incrível que pareça, despertou em mim o pragmatismo de um garoto de apenas 12 anos.

Minutos tonitruantes de uma prorrogação nervosa e a insuportável disputa por pênaltis em seguida. Sócrates e Júlio César perdem. Zico faz. A França comemorou a vitória, embora Platini tenha chutado a cobrança por cima da meta de Carlos.

Ao fim de tudo, a TV foi desligada. As bandeirinhas nas cores verde e amarelo sendo arrancadas pelos vizinhos. Uns, esboçavam raiva, outros, eram desânimo em forma de gente. Camisas eram retiradas do corpo para esconder o rosto e disfarçar o indisfarçavel choro de quem não acreditara no que acabara de presenciar.

A tristeza não era comparada à Copa de 82, claro, mas doeu muito. Fez sangrar um machucado chamado esperança que estaria encascado por quatro anos.

Difícil foi ir à escola na segunda-feira, dia 23, e seguir normalmente a vida. Ver meu saudoso pai acordar cedo para ir trabalhar. Receber as contas de luz, água, IPTU e observar ruas sendo desarrumadas. Juntar os cacos da derrota para, arrebentado por dentro, ter que esperar pelo quarto título na Copa do Mundo seguinte.

Mas eu, queria alguém para conversar. Muitos ali também queriam. O silêncio fez barulho. E o que antes era celeuma se transformou na perda de algo valioso para alguns ali, inclusive para mim, que garoto, engoli a seco o grito de “campeeeeeããããooooo!”.

Passados 37 anos, confesso que queria no apito final do árbitro, abraçar Junior e Zico, jogadores do meu Flamengo. A vontade era desligar o interruptor deles com o mundo. Preservá-los das críticas. Distanciá-los dos abutres que adoram momentos como esses para aparecerem.

Entendi, depois de certo tempo, que no futebol, há coisas que não se podem explicar aos normais. Para entender determinadas derrotas, como essa contra a França, em 86, no México, ou a contra a Itália, em 82, na Espanha, só sendo louco mesmo.

Quem sabe que, uma das maiores inexplicabilidades do futebol, talvez, seja a geração de Leandro, Sócrates, Cerezo, Junior, Careca, Edinho, Falcão, Éder e Zico não ter conquistado uma Copa do Mundo.

Pode ser. Mas para aquele garoto de apenas 12 anos, fechar os olhos e lembrar daquela Copa do Mundo de 1986 dói no corpo. Fere a alma. Torna o espírito torcedor pequeno, do tamanho de um grão de mostarda. A Copa do Mundo de 86 ainda não terminou.

UMA MÁQUINA DE SONHOS

por Zé Roberto Padilha

O relógio do Mineirão marcava 44 minutos do segundo tempo, em uma época em que ainda se permitiam relógios nos estádios de futebol. Eles que ajudavam a torcida vitoriosa ficar berrando para o juiz acabar o jogo, e a que tivesse perdendo implorasse alguns minutos a mais. E o escanteio era a nosso favor. O placar apontava Cruzeiro 1×1 Fluminense, e o Campeonato Brasileiro de 75 se aproximava do fim.

Paulo César Caju, nosso camisa 8, foi batê-lo e ao notar mais homens de azul do que tricolores no interior da grande área, gritou para eu encostar e trocar passes na linha de fundo, junto à bandeirinha, até o tempo se esgotar. O empate fora de casa, a duas rodada do fim, já nos classificava. Esgotado por correr 89 minutos naquele gramado fofo, vigiando de perto os mísseis do arsenal do Nelinho, recusei o convite.

E me plantei na intermediária. A pressão do Cruzeiro era insuportável e certamente viria um contra-ataque após a cobrança do escanteio. Nosso centroavante, Manfrini, não era alto. E até o Edinho, nosso melhor cabeceador, não se arriscou a atravessar o campo.

Mas PC parecia não ter mais força sequer para alçar aquela bola. E continuou a berrar: “Encosta aqui ô juvenil!”. Mesmo começando a minha carreira e diante das ordens de uma velha raposa tricampeã do mundo, resisti. E devolvi o grito da linha do meio de campo. ” Joga essa po… lá pro abafa!”.

Contrariado, Paulo César bateu o corner direto. A bola fez uma curva incrível e enganou o goleiro Raul, que caiu dentro do gol enroscado com ela. E um gol inesquecível, olímpico, garantia de vez a nossa presença nas semifinais do Brasileiro junto ao Inter, Corinthians e o próprio Cruzeiro.

Como sonha todo mundo no país do futebol, eu era jogador de um grande time quase imbatível, cujo goleiro, Félix, era uma lenda tricampeã mundial. Nas laterais, dois modernos apoiadores: um mais forte, Toninho Baiano, que chegava rapidamente à linha de fundo, outro mais técnico, também tricampeão mundial, chamado Marco Antônio.

Na zaga, um jogador experiente, dono de um chute impressionante, chamado Silveira. Ao seu lado, um fenômeno de 19 anos, Edinho, se apresentava ao futebol. Zé Mário, um incansável e inteligente cabeça de área nos protegia, deixando espaço para o livre pensar de duas genialidades: Rivelino e Paulo César Caju. No ataque, a explosão e o oportunismo do Búfalo Gil, ao lado da inteligência natural de um Manfrini, decidiam tudo a nosso favor.

Nesse paraíso da bola rolando, eu, tricolor fanático desde criancinha, ganhara de presente a camisa 11. E percorria, com e sem a bola, os quatro cantos do Maracanã, do Mineirão, do Serra Dourada, onde quer que o Fluminense se apresentasse feliz toda vida. Vestia a camisa que era minha bandeira nas arquibancadas e trocava passes com meus ídolos. E ainda por cima era pago para isso.

E quando estava próximo de mais um título, depois de ganhar invicto a Taça Guanabara, o Campeonato Carioca e encantar o Torneio de Paris, o relógio tratou de me despertar.

Decepcionado, me levantei naquele dia de um sonho inesquecível e fui tomar meu café pra lá de mal- humorado. Porém, antes de sair para o trabalho, na Prefeitura de Três Rios, passei pela sala e me deparei com poster da Revista Placar. Para minha alegria, nele vi a minha foto em meio a todas aquelas feras. E aquela imagem me fez recordar uma passagem inesquecível de minha vida como atleta profissional de futebol.

Que bom saber que tudo aquillo fora realmente vivido e jogado. E que apesar de vir evitando maiores decepções ao recordar a dura realidade com a qual nós, ex-atletas, nos deparamos após nossa precoce retirada do cenário esportivo, fiquei feliz ao descobrir que poderia, e não me seria proibido. mesmo que dormindo, relembrar com orgulho cenas da minha vida esportiva sem o trauma que machuca a maioria dos meus colegas.

Aquelas feras que construíram a nossa admirável história, verdadeiros ídolos que, uma vez abandonados, se entregaram às lembranças nas mesas dos botequins. Sem a justa aposentadoria, estudos que poucos tiveram acesso, muitos ainda circulam entre o álcool, a jogatina e as drogas.

E levam retratinhos do time no bolso da camisa, como a provar que um dia foram importantes na vida esportiva de um país que vive a lhes virar as costas.

* texto do livro “Crônicas de um ex-jogador”, disponível como e-book na Amazon e Cultura.

PASSADO E PRESENTE

por Serginho 5Bocas

Às vezes me questiono se o futebol do passado era melhor ou pior do que o do presente. O bom senso recomenda ter prudência numa análise deste tipo, porque podem ter fatores bons e ruins para cada lado da balança, é só não se deixar levar. Pensando nisso, elenquei alguns pontos observados para a nossa resenha:

No passado recente, jogadores costumavam vibrar quando faziam gols e a torcida também dava um sonoro “uhhhhh”, para bolas na trave e dribles desconcertantes.
Hoje, é comum vermos jogadores que vibram exageradamente chegando a cerrar os punhos, quando dão um chutão pra lateral ou um carrinho, daqueles feios ou criminosos, que sujam a bunda e a dignidade do jogador, puro jogo de cena lamentável.

Antigamente, a gente sofria com as atrasadas de bola para o goleiro, quando um time tentava segurar um resultado, fazendo “cera”. Argentinos e uruguaios eram os mestres da “milonga” futebolística. Atualmente, é comum e irritante ver seu time bater um escanteio e observar sem acreditar que a bola está sendo recuada do córner até o goleiro do seu time, por falta de habilidade ou de culhão mesmo, sob a desculpa de que está atraindo o adversário para ficar em maior número ou para manter a posse de bola. Então tá, me engana que eu gosto.

Sempre existiram jogadores “catimbeiros”, que simulavam ter sofrido faltas para ganhar tempo ou irritar o adversário. Mas atualmente tenho a sensação que essas mesmas e terríveis simulações desagradam mais. Não que seja uma novidade, mas porque as inúmeras câmeras que agora transmitem o jogo, nos revelam toda a malandragem ou falta de ética das simulações grotescas e ridículas, fazendo a gente se envergonhar, até mesmo com nossos próprios jogadores.

No passado, não tão distante assim, os árbitros toleravam muitas reclamações dos jogadores e, por essa postura, tinha muito jogador que mandava no jogo. Agora a FIFA orientou os árbitros a aumentarem o rigor, chegando a tolerância zero com as irritantes reclamações. Não acho que chega a ser errado, mas o esquisito é que não se usa o mesmo critério para as agressões desleais, tolerando as entradas violentas com muita parcimônia e paciência, gerando em muitos casos o revide da vítima e a expulsão conjunta.

É límpido e claro na minha retina que os goleiros do passado quase não usavam os pés durante a partida. O primeiro que eu vi demonstrando até uma certa habilidade, apesar dos riscos, foi o “paredão” argentino Ubaldo Fillol, quando veio defender o Flamengo na década de 80, em substituição ao também lendário Raul Plassman. Fillol foi um suspiro de inovação, apesar dos gols de cobertura que levou. Depois dele, só veríamos de novo aquele jeito de jogar com os famosos Higuita e Jorge Campos. Hoje em dia, goleiro jogar com pé já está sendo um requisito para a posição, mas confesso que é coisa para cardíaco ou quem está a fim de ficar. Acredito que é um processo lento e nem todos os arqueiros estão aptos para a tarefa. Apesar dos riscos, a ideia está com pinta que veio pra ficar.

Antigamente a gente via os técnicos sentadinhos no banco de reservas, sem dar um “pio”. Tenho saudades da época em que os treinadores passavam a semana tramando o que seria apresentado no jogo e tinham o intervalo e a substituições para reverter algum ponto. Hoje, os treinadores parecem que estão em transe, gritando e se descabelando na beira do campo, que faz parecer que é um traço de modernidade de nossos professores ou “misters”. Nem vou falar da falta de educação das palavras e dos gestos que eles exibem quando são contrariados por alguma marcação dos juízes, mas hoje ficar gritando sem ser ouvido, com as vozes encobertas pelos gritos das torcidas, passam a impressão de sapiência qualidade.

No tempo em que Don Don jogava no Andaraí, Oto Glória fez sucesso na terrinha, levando os patrícios a um honroso terceiro lugar na Copa de 1966. Felipão, após ser campeão do mundo com o Brasil em 2002, desceu em Portugal e levou os caras a uma final de Eurocopa e uma semifinal de Copa do Mundo em 2006. Agora é um tal de português desembarcar por aqui, que fica parecendo que ser treinador português é certificado de qualidade e garantia de sucesso. Como o mundo dá voltas.

Quando eu era moleque, adorava escutar jogos no rádio para ouvir a emoção da voz dos locutores, narrando as grandes jogadas e ouvir as entrevistas com os jogadores na saída de campo, quando se colhia impressões da partida e pérolas engraçadíssimas das feras. Atualmente, só entrevistas agendadas, normalmente coletivas, só com o técnico e mais um jogador escolhido, colocado estrategicamente na frente do painel dos patrocinadores, um saco!

Somos dinossauros de uma época em que câmeras filmando o jogo era um luxo, que os erros de arbitragens quase não eram notados, exceto pelo Mario Viana da cabine de rádio. Bem diferente de hoje, em que o VAR domina a cena, como uma muleta para boa parte dos árbitros, que não tem coragem para tomar as decisões mais críticas e preferem se proteger, aparando-se na tecnologia.

Além disso, há uma enorme quantidade de câmeras que mostram a mesma jogada de vários ângulos, destruindo a fragilidade humana dos árbitros e bandeirinhas, pois muitas vezes não são capazes de avaliar corretamente e dar o veredito final somente com os recursos humanos. A máquina (VAR) é boa, mas fez o jogo ficar carente de replay, para conferir de perto todos os lances e nivelou por baixo todos os homens de preto, já que dificilmente algum arbitro mantém decisão contrária ao VAR quando é chamado para os “conferes”. O ruim do VAR é que quando você quer, ele não quer e quando você já estava feliz que ele ficou quieto, ele aparece de repente colocando água no chopp.

Para finalizar, não tenho certeza absoluta se as coisas melhoraram ou pioraram, mas ficaram diferentes e a gente tem que ir se adaptando, pra não ficar só reclamando, em vez de comemorar e aproveitar o que ainda existe de bom neste esporte apaixonante.

Forte abraço
Serginho 5Bocas