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OU ELE OU EU

por Elso Venâncio

Marcelo merece respeito e consideração como ídolo eterno do Fluminense, mas ninguém está acima da instituição. No futebol, os grandes astros, com raras exceções, são supervaidosos e gostam de mandar e desmandar. Nenhum jogador pode ficar chateado por ficar no banco ou entrar quase no fim do jogo.

— Não toque em mim. Para de fazer média com a torcida! — disse Marcelo ao técnico Mano Menezes, de forma intempestiva, na beira do campo. Foi a gota d’água numa relação há tempos desgastada. Mano sabia dos problemas enfrentados pelo seu antecessor, Fernando Diniz, o que o encorajou a bater de frente com o multicampeão.

O caso Marcelo lembra Gabigol, que, sem limites no Flamengo, extrapolou e criou atritos. Só agora, depois de um ano perdido, o atacante rubro-negro foi enquadrado e voltou a ser decisivo.

Craques costumam derrubar treinadores e até companheiros de time. Romário, após a derrota no famoso Fla-Flu de 1995, com gol de barriga do Renato Gaúcho, disse para a diretoria do Flamengo: “Ou ele (Vanderlei Luxemburgo) ou eu”. O artilheiro era o todo poderoso, num clube que tinha dificuldade para pagar salário e não estava estruturado para receber o então maior jogador do mundo. Rodrigo Fabri, contratado com status de craque junto ao Real Madrid, preferia chutar a gol do que dar assistências ao Baixinho. Nâo à toa, foi para o banco de reservas e acabou negociado. 

Evaristo de Macedo foi o único que não perdeu o controle do grupo naquele conturbado Flamengo. “Aqui, quem mandou sou eu. Sou eu!”, gritou no vestiário, reprimindo Romário. 

Também podemos lembrar de Djalminha, joia da base rubro-negra, que encarou e partiu para a briga com Renato Gaúcho num Fla-Flu, em 1993, no Caio Martins. Renato dava as cartas e avisou: “Ou ele ou eu”. Então com 31 anos, Renato ficou, enquanto Djalma, de 22, foi emprestado ao Guarani de Campinas, se tornando posteriormente um dos grandes do futebol no Brasil e no exterior.

A atual posição da diretoria do Fluminense seria diferente se Marcelo estivesse em forma e fazendo a diferença. Talento ele tem, mas, estando com a vida resolvida, demonstra não ter paciência para que volte a atuar em alto nível. Ainda se encontra acima do peso e tendo sucessivas contusões.

É fato que Marcelo se tornou uma lenda viva no Real Madrid, pelo qual jogou 16 temporadas, conquistando 25 títulos. Com 36 anos e agora fora do Fluminense, ele tende a voltar ao clube espanhol, mas como gestor ou embaixador. Até mesmo porque o seu filho Enzo, que nasceu em Madri, é uma das maiores revelações da base merengue, sendo constantemente convocado para a seleção sub-15 da Espanha. 

Marcelo também está eternizado em Xerém. Bastar dizer que o Fluminense batizou com o seu nome o campo em que forma diversos craques.

a menina no alambrado

por Claudio Lovato Filho

Pois é, menina. O que eu posso te dizer?

Tem gente falando que você exagerou, que se arriscou sem necessidade.

Outros, que você só queria aparecer e que deu mau exemplo.

Será?

Eu não vi nada disso. Eu vi paixão.

Alguém poderia me perguntar: “E se fosse a sua filha, machucada daquele jeito por causa do arame farpado, correndo o risco de despencar do alambrado e se arrebentar?”

Pois é, menina. Como eu responderia a isso?

Não sei.

“Eu não posso por ser mulher?”, você perguntou quando foram lhe entrevistar depois do jogo.  

Certeza que se em seu lugar fosse um menino a repercussão seria outra. Todo mundo sabe. O mundo é assim.

Você disse que queria voar, e, como não podia, subiu no alambrado.

Você tinha que extravasar de algum jeito, não é? Aquilo tudo no seu coração tinha que sair de algum jeito.

A verdade é que, naquele momento, o coração do El Cilindro era você.

O coração do futebol era você.

O futebol era você.

Marianela, Mari, o que você foi fazer, hein?

E o Yuri estava lá, no lugar certo, na hora certa, como costuma acontecer com todos os fotógrafos bons de bola.

Naquele momento, você era a mensagem; e ele, o meio.

Se você fosse minha filha eu talvez estivesse escrevendo tudo isto numa cama de hospital, caso tivesse sobrevivido ao infarto.

Mas cá estamos todos nós, todos firmes e fortes, você, o Yuri Laurindo, eu e todos nós que sabemos que a verdadeira essência do futebol está toda lá, simbolizada na foto.

A sua imagem no alambrado do El Cilindro.

Seu joelho cortado, seu braço “desansando” sobre o arame, suas lágrimas, seu amor por um clube, por um escudo. Tudo lá, naquela imagem.

O que mais eu posso dizer?

O CRAQUE DA MODA

por Elso Venâncio 

Luiz Henrique, 23 anos, é o craque da moda do futebol brasileiro. Atacante canhoto, ele possui dribles e velocidade impressionantes para quem tem 1,82m de altura. Além de ser goleador, também dá assistências, deixando os companheiros na cara do gol.

Entre o final da década de 1960 e o início dos anos 1970, Paulo Cézar Caju, do Botafogo, recebeu do locutor esportivo Waldir Amaral, da Rádio Globo AM-RJ, o apelido de Craque da Moda. Campeão do mundo pela Seleção Brasileira em 1970, Caju era um meia adaptado à ponta-esquerda que desequilibrava em campo. O botafoguense João Saladanha ficava ao lado do Waldir Amaral nas Jornadas Esportivas. Era “o comentarista que o Brasil consagrou” e tinha opiniões marcantes.

— Esse PC é um garoto grande jogando bola no meio de crianças — dizia Saldanha.

Em ótima fase atualmente, Luiz Henrique tem momentos em que lembra Paulo Cézar Caju, só que jogando pela direita e usando a perna esquerda. O camisa 7 é o astro nas vitoriosas campanhas do Botafogo, líder do Campeonato Brasileiro e virtual finalista na Libertadores. Além disso, empurrou a capenga Seleção Brasileira rumo às recentes vitórias nas Eliminatórias. Saiu do banco nas duas últimas partidas, sempre para decidir. Primeiro marcou o gol da virada contra o Chile, nos 2 a 1, em Santiago. No jogo seguinte, contra o Peru, entrou já com 2 a 0 no placar para o Brasil, mas ainda deu passe para o gol de voleio do Andreas Pereira e fechou a goleada com um chute de fora da área.

Revelado em Xerém pelo Fluminense, em que chegou aos nove anos, Luiz Henrique foi negociado com o Real Betis, da Espanha, por 8 milhões de euros, em julho, de 2022. Para repatriá-lo, John Textor desembolsou 20 milhões de euros, sendo o maior e melhor investimento feito pelo Botafogo.

Pelé eternizou a camisa 10, que se tornou referência, sendo usada pelos craques dos times de futebol. O Botafogo é excessão à regra, pois tem a camisa 7 como mística. Foi esse o número usado por Jairzinho, Maurício e Túlio Maravilha, além do inesquecível Garrincha, a Alegria do Povo. Agora, Luiz Henrique é quem honra esse legado.

A próxima missão alvinegra na Libertadores é um jogo de risco, por ser no Uruguai, contra o Peñarol. Nas derrotas, os uruguaios costumam partir para a briga. Mas o célebre Papai Joel lembra que, “quando o Botafogo ganha, aparecem torcedores de tudo quanto é lado”. Confiantes, estão nas ruas, em sua maioria vestindo a gloriosa camisa de número 7.

ISSO VALE SIM, ARNALDO!

por Zé Roberto Padilha

Em meio ao mar de descaso na cessão de programas de iniciação esportiva gratuito às novas gerações, do jeito que tivemos o privilégio de desfrutar nos anos 70 e 80, eis que a TV Rio Sul, subsidiária da TV Globo no Sul Fluminense, organiza uma Copa de Futsal para crianças até 10 anos.

Crianças que estavam trancadas em seus quartos jogando no Playstation Barcelona X Real Madrid, deixaram seu sedentarismo de lado, calçaram seus tênis e foram eles, seus pés, que correram atrás da bola ao vivo, no lugar do joystick, em direção às quadras para suar suas camisas.

E 234 equipes, de várias cidades cobertas pela emissora, tiraram os pais dos seus afazeres e os colocaram nas arquibancadas para torcer pelos seus novos heróis. E nada como ter o esporte, bem cedo, como escudo na vida daqueles que vão encontrar todo o azar de opções para destruir as suas vidas.

Então, Arnaldo César Coelho, nosso árbitro consagrado e comentarista de árbitragem respeitado, o responsável por esse grande feito da TV Rio Sul, a qual dirige, receba nossos cumprimentos.

Ah! Se todos fossem iguais a você, Arnaldo, o nosso país seria o país do esporte. Não aquele que trata o esporte como uma subproduto, e depois vai para Paris jogar nas costas dos seus atletas um desempenho da qual nunca contribuíram para alcançar qualquer podium.

Isso sim, Arnaldo, pode!

DA SÉRIE “NINGUÉM ME CONTOU. EU OUVI”

por Zé Roberto Padilha

Em 75, fomos receber Paulo Cézar Cajú no Galeão. Era uma das feras que Francisco Horta contratara para a Máquina Tricolor. Quase todos os jogadores foram até lá.

Toninho Baiano, para lembrar ao PC do meio ruim onde estava se metendo, foi logo perguntando:

– Que terno é esse, Caju? Horrível!

Ele nem deixou quitar:

– É, tem razão, custou barato. Cara foi a passagem!

E aí Toninho fechou :

– Que bom. Isso mostra que o mau gosto é universal!

Mesmo assim, com ou sem esse terno, fomos bicampeões carioca, duas vezes semifinalistas do Campeonato Brasileiro e Campeão do Torneio de Paris.