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O PONTO D DO FUTEBOL

por Zé Roberto Padilha

Era jogador do Santa Cruz, bicampeão pernambucano, quarto colocado na Campeonato Brasileiro de 78, e literalmente “voava”. Era uma terça-feira feira de recreativo no Arruda e, dia seguinte, enfrentaríamos o Fluminense, no Maracanã.

O Internacional iria enviar um olheiro para confirmar esse bom momento. E nos fazer uma proposta. Aí veio uma dividida, estúpida, inconsequente por se tratar de um treino recreativo, e perdi os meniscos.

E nunca mais fui o mesmo. Assim como o Bruno Henrique. E, agora, o Pedro. Os joelhos são, ao serem atingidos, o Ponto D dos jogadores de futebol. D de dores, decepções, derrotas, despedidas.

Deixado de lado, fui procurar abrigo em clubes da Série B, de cobranças menores, antes se pendurar definitivamente as chuteiras.

Agora, leio que no lugar de se apoiar nos avanços da medicina esportiva, dos estudos dos seus pares, fisiatras e fisioterapeutas, esse Profeta do Apocalipse, Fábio Mashered, que coordena a preparação física de um grupo de elite do futebol brasileiro, vem a público externar sua incompetência. E seu pessimismo.

Se com tudo que tem à sua disposição no Flamengo, ele joga a toalha, admite perder para as lesões que poderia evitar, caso estudasse mais, imaginem onde o preparador físico do nosso glorioso Asa, de Arapiraca, entre tantos pelo país, iria buscar exemplos e inspirações?

OS TREZE GOLS DE FALTA DO BRASIL EM COPAS DO MUNDO

por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
(Professor de História e pesquisador do futebol)

Do total de 237 gols marcados em Copas do Mundo, a Seleção Brasileira fez 13 em cobranças de falta, sendo a líder no quesito, não só por participar de todas as Copas, mas também por contar com os melhores batedores num determinado período de sua história. Para comparar, a Alemanha, que foi a 20 edições do torneio, duas a menos que o Brasil, vem em segundo lugar (junto com Argentina e Espanha), tendo marcado apenas cinco gols dessa maneira.

O primeiro gol de falta do Brasil numa Copa do Mundo aconteceu na quinta edição do torneio, em 1954, na Suíça, em sua partida de estreia contra a Seleção Mexicana. Quem assinou a proeza foi Didi, um dos monstros sagrados do futebol mundial. Naquela Copa, a Seleção Brasileira parou nas quartas de final, eliminada pela Hungria. Mas, graças a uma nova cobrança de falta do mestre da folha seca, no duelo contra o Peru em 1957, diante de 120 mil pessoas no Maracanã, o Brasil se garantiu para a próxima Copa, na Suécia, onde conquistaria, pela primeira vez, a posse da Taça Jules Rimet.

Depois de Didi, a Seleção só foi marcar outro gol de falta em Copas em 1966, na Inglaterra. Desta vez, em dose dupla e com autoria da dupla que era imbatível quando vestia a camisa canarinho ou azulada do Brasil: Pelé e Garrincha. Para tristeza do futebol, essa partida, contra a Bulgária, foi a última dessas duas lendas jogando juntos pela Seleção Brasileira. O gênio das pernas tortas virou um ex-jogador em atividade, enquanto Pelé seguiu, por mais uma década, com o seu incontestável reinado no mundo do futebol.

Na Copa de 1970, no México, Vossa Majestade marcou mais um gol de falta para o Brasil. Foi contra a Romênia, num chute com efeito que abriu o placar na partida que fechava a participação brasileira na fase de grupos. Era o segundo gol do Brasil em tiros livres diretos na competição, pois Rivellino, na estreia em Guadalajara, contra a Tchecoslováquia, já havia feito o seu, cobrando com violência uma falta em que a bola foi na direção de Jairzinho que, posicionado ao lado da barreira, se deslocou no momento exato dela passar e estufar a rede adversária. Por esse gol, Rivellino ganhou o apelido de Patada Atômica, justificado na Copa seguinte, em 1974, na partida contra a Alemanha Oriental, num lance bem parecido. Desta vez, Jairzinho se posicionou à frente da barreira, se inclinando para abrir uma fenda por onde a bola adentrou’ sem defesa para o goleiro alemão.

Nas Copas seguintes, em 1978 e 1982, o Brasil fez mais três gols de falta. Os dois primeiros na Copa da Argentina, com Dirceu carimbando a meta peruana, e Nelinho disparando mais um de seus mísseis contra a meta polonesa. Quatro anos depois, na Copa da Espanha, Zico marcava um golaço contra a Escócia, abrindo a porteira para a goleada de 4 a 1. Depois disso, a Seleção Brasileira só voltou a marcar um gol de falta em 1994, com Branco, numa batida de efeito venal. Interessante observar que, em sua trajetória, a bola quase esbarrou em Romário, que precisou se contorcer todo para evitar o desvio em suas costas. Era o décimo gol de falta do Brasil em Copas, gol que tirou a Seleção Brasileira do sufoco àquela altura da partida de quartas-de-final contra os holandeses, atordoada que estava depois de sofrer o empate quando ganhava por 2 a 0.

A campanha que resultou no quinto título mundial para o Brasil, em 2002, contou com mais dois gols de falta. Um, de autoria do lateral Roberto Carlos, contra a China, num petardo que alcançou a velocidade de 120 km por hora. O outro, marcado pelo bruxo Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra, numa cobrança que surpreendeu a todos, atacantes brasileiros e defensores ingleses, que esperavam um cruzamento e acabaram vendo a bola encobrir o goleiro David Seaman.

O último gol de falta da Seleção em Copas, aconteceu naquela que foi a mais indigesta para os brasileiros, em 2014, ano que o Brasil sediava o torneio pela segunda vez e imaginava apagar, de uma vez por todas, a decepção da Copa perdida em 1950. Nas quartas-de-final contra a Colômbia, a perfeita cobrança de falta do zagueiro David Luiz garantiu a vaga brasileira na semifinal. Mas para quê? É o que muitos torcedores se perguntam até hoje depois que viram a Seleção Brasileira passar pelo maior vexame da história do futebol, sendo goleada pela Alemanha por 7 a 1, piedosamente, é bom que se diga, pois se faltasse clemência aos alemães, o massacre teria sido pra lá de dez.

MUITO PRAZER, IGOL JESUS

por Wesley Machado

Comentei há um tempo atrás com um amigo flamenguista sobre Igor Jesus e ele perguntou:

– Quem é Igor Jesus?

Bem, meu caro, agora você já deve saber.

Mas não o culpo.

Eu também tinha certa desconfiança no início quando o jogador havia acabado de chegar.

Por mais que suas estatísticas recentes fossem boas.

Porém nos primeiros jogos, Igor Jesus perdeu muitos gols.

Eu já estava ficando sem paciência e um amigo botafoguense disse que quando entrasse a primeira bola dele a porteira abriria.

Meu amigo estava certo.

Já são seis gols de Igor Jesus nos últimos sete jogos.

Números seis de Nilton Santos e sete de Garrincha.

No sábado, na vitória de 2 a 0 sobre o Fortaleza, Igor Jesus acabou com a partida fazendo os dois gols que valeram a volta do Botafogo à liderança do Brasileirão.

Façamos justiça ao artilheiro do time em 2023, Tiquinho, hoje reserva de Igor Jesus, mas que no lance do segundo gol fez uma linda jogada de calcanhar, complementada com o passe preciso de primeira do excelente meia Marlon Freitas, o homem que faz a equipe alvinegra jogar.

Voltando ao novo artilheiro, na ausência do artilheiro de 2024, Júnior Santos, com 18 gols, desponta Igol Jesus, como está sendo chamado agora e que caiu nas graças da torcida botafoguense, em especial das crianças por sua comemoração imitando um anime.

Ainda é cedo para dizer se vai se tornar ídolo.

Para tanto será preciso que continue fazendo seus gols e ajudando o Glorioso na arrancada para o título.

Veremos.

OS RICOS RIVAIS

por Elso Venâncio

A histórica frase “Estamos em outro patamar”, dita pelo atacante Bruno Henrique, do Flamengo, cabe também agora ao rival Botafogo. Há frases similares, como “temos dinheiro”, de John Textor, e “vamos pagar (o terreno do novo estádio) em cash”, de Rodolfo Landim.

As recentes contratações do Thiago Almada e Luiz Henrique, pelo Botafogo, e Carlos Alcaraz, pelo Flamengo, marcaram definitivamente uma nova era no futebol brasileiro. Inicialmente, voltavam os veteranos descartados da Europa. Eles chegavam jogando com ilusório destaque e recebendo altos valores, já que o valor do passe sempre é somado ao salário. 

Ao abrir os cofres, o Flamengo mudou o mercado com Arrascaeta, Gabigol, David Luiz, Filipe Luis, Gerson, De La Cruz… O Botafogo retrucou, já tendo investido mais de R$ 366,3 milhões desde a chegada do seu mandatário, Textor. Destaque para as contratações de jovens com poder de revenda, pagando parceladamente. Luiz Henrique, destaque do Campeonato Brasileiro, já está na Seleção Brasileira. 

Para ter o argentino Alcaraz, de 21 anos, o Flamengo desembolsou R$ 110,6 milhões. Desta forma, superou o valor pago pelo Botafogo para ter Luiz Henrique, que liderava a relação dos mais caros, com R$ R$ 106,6 milhões. Luiz Henrique e Alcaraz só ficam atrás do argentino Thiago Almada, de 23 anos, campeão mundial pelo seu país. Com os R$ 137,4 milhões investidos pelo Botafogo, Almada é o novo recordista do futebol brasileiro neste quesito. São jogadores com potencial para atuar em qualquer parte do planeta.

Olhando para o passado, podemos lembrar o caso de Romário, ídolo que retornou ao país por vontade própria. Após a conquista do tetracampeonato mundial pela Seleção Brasileira, em 1994, o Baixinho poderia continuar no Barcelona ou escolher outro grande clube europeu. Acabou sendo repatriado pelo Flamengo, que não estava estruturado para receber o maior jogador do mundo e, mesmo com a intensa compra-e-venda, não deu a ele um time que pudesse buscar títulos de grande expressão. Romário só treinava à tarde. Se o salário atrasasse, nem aparecia. 

Outro caso a ser citado é o de Rodrigo Fabri, emprestado pelo Real Madrid ao Flamengo com status de craque, em 1998. Chutava de qualquer distância. Não era de tentar tabelas e muito menos dar assistências. Eis que Rodrigo, de repente, saiu do time. Nem no banco ficava, até ser negociado.

Era um tempo de menos profissionalismo. Novamente sobre Romário, certa vez ele não concentrou, por estar contundido, mas apareceu no vestiário dizendo que ia jogar. E entrou em campo com incentivos de dirigentes, sob comentários como o de que médicos havia vários, mas Romário, só um.

Top-5 das maiores contratações no Brasil:

Thiago Almada (Botafogo) – R$ 137,4 milhões

Alcaraz (Flamengo) – R$ 110,6 milhões

Luiz Henrique (Botafogo) – R$ 106,6 milhões

Pedro (Flamengo) – R$ 88,2 milhões

Gerson (Flamengo) – R$ 85 milhões

O Flamengo briga por título nas três competições que disputa (Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil), enquanto o Botafogo lidera o Brasileiro e também está vivo na Libertadores.

ROMÁRIO RAIZ

por Rubens Lemos

Em 1986, quando estourou de vez no Vasco, Romário recebeu jornalistas da Revista Placar na Vila da Penha, área pobre do Rio de Janeiro, onde morava com a família. Mostrou a cozinha do casebre onde se apertava com os irmãos, apresentou amigos de infância, caminhou pelas vielas e se despediu para sair ao treino em São Januário.

Romário seguiu em seu carro e a equipe de Placar atrás. Com menos de um quilômetro de trajeto, policiais militares fecharam o veículo do ainda cabeludo atacante, fizeram-no descer e revistaram suas roupas e o automóvel.

Um deles, ao reconhecê-lo, pediu e recebeu um autógrafo daquele que viria a ser o maior homem ofensivo do futebol. Palavra de Tostão e de Cruijff. O PM, morto de vergonha, foi sincero:

– Pô, Romário, desculpa aí, mas um mulato dirigindo um Monza novinho por essa área, a gente tem que desconfiar.

Hoje sucata, o Monza, da GM, era carro de luxo da época. O fotógrafo da Placar registrou a cena e o repórter – por sinal Tim Lopes, barbarizado por traficantes sádicos -, escreveu indignado seu texto.

Romário tem toda a razão em ser do jeito que é, desconfiado e enojado de hipocrisias. Romário em 1994, quando carregou sozinho nas costas, nas arrancadas e golaços a seleção brasileira do tetracampeonato, fez o asqueroso presidente da CBF, Ricardo Teixeira mandar de volta ao Brasil um sobrinho, que menosprezara o irmão do craque durante um treino.

– Ou ele volta ou eu não piso mais em campo!

O sobrinho mimado recebeu bilhete internacional da Varig. De retorno.

Passado na casca da malandragem, Romário sabia que o homem vale aquilo que pode oferecer e os salamaleques a ele dirigidos nos Estados Unidos significavam apenas a dependência de sua genialidade, engolida a seco pelo técnico Parreira e o coordenador e avô da retranca, Zagallo, que lhe pediram socorro para classificar o Brasil nas Eliminatórias quando a vaga esteve sob risco. Romário deu show sobre os uruguaios e bananas para os falsos.

Quando candidato e depois eleito deputado federal, foi tratado com ironia grosseira e comparado a personagens picarescos, do tipo do Cacique Juruna de antanho. Fez um bom mandato, enfrentou a Bancada da Bola, denunciou a corrupção na Copa do Mundo e dela foi banido, como sua bela página histórica pudesse ser arrancada.

Tão competente deputado federal, Romário consagrou-se Senador da República e, por aclamação, foi eleito presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes. Preconceituosos saíram da toca e passaram a estocar nas redes antissociais a sua escolha, a sentenciá-la de ridícula.

Poucos são mais brasileiros do que Romário. Seus amigos, são os seus amigos do tempo de favela, dirigentes escroques, sempre tratou na merecida insolência. Romário na Comissão de Educação merece aplauso. Ele será a figura política, o mandato é fruto do dono e de uma assessoria competente.

Romário, por sinal, não figura em listagens sujas de desvios de dinheiro, lotadas de notáveis com diplomas e pós-graduações acadêmicas. Que nunca vão moldar um caráter. Tampouco educação. Ou uma personalidade capaz de orgulhar seu povo.