DÉCADA DE 1990: SÓ NÃO VALEM BRASILEIROS E CAMPEÕES DO MUNDO
por Israel Cayo Campos

Antes de mais nada, é necessário explicar que as décadas começam sempre no ano terminado no numeral 1 e terminam no ano de numeral 0. Por exemplo, a década de 1990 começou no ano de 1991 e só terminou no ano 2000. Entendemos dessa forma pois o calendário cristão começa no ano um e portanto para chegar a uma década (dez anos), numa conta simples, percebemos que só conseguimos dez anos completos a partir do ano dez depois de Cristo.
Como vivo a me criar desafios, e pelo fato de ter vivido intensamente o futebol dos anos 1990, decidi montar a minha seleção da década. Contudo, colocar vários campeões mundiais não teria graça e muito menos se colocasse o “pachequismo” de escolher jogadores brasileiros. Portanto, estabeleci uma própria regra onde eu tentaria montar uma seleção dos melhores dos anos 1990, com justificativas rápidas, mas sem os citados anteriormente como argumento: Brasileiros que acompanhei melhor e jogadores que já foram campeões do mundo.
A seleção ficou assim, ao final falem se concordam ou discordam, e se discordam, qual seriam as alterações seguindo a regra estabelecida ou até a sua própria Seleção totalmente diferente. Vamos lá!
Goleiro: Gianluca Pagliuca.

Arqueiro da Seleção italiana nas Copas de 1994, onde foi vice campeão e 1998. Pagliuca sempre foi um goleiro bem posicionado e muito elástico. A minha camisa 01 é dele!
Lateral Direito: Javier Zanetti.

A camisa número dois da minha Seleção de jogadores gringos infortunos em Copas do Mundo fica com o lateral direito Javier Zanetti, que foi titular a partir da Copa de 1994 e não lagou mais a posição. Além disso, até hoje é uma das grandes “bandeiras da Internazionale de Milão”, atuando por dezenove anos no clube, sendo desses, de 1995 ao ano 2000 compreendentes a década de 1990.
Lateral Esquerdo: Paolo Maldini.

Como diria o grande narrador João Guilherme “Há necessidade de explicação”. Maldini que também atuava como zagueiro fica com a camisa três da minha seleção. Sendo esse um dos maiores defensores da história do futebol.
Zagueiro: Taribo West.

O nigeriano, que depois iria defender as cores da Inter de Milão, era conhecido pela sua rapidez e ótima colocação defensiva. Atuando por sua Seleção, onde foi um dos maiores ídolos das super águias e do modesto Auxerre da França. Onde venceu o Campeonato Francês e duas Copas da França. Além é claro de ter o maior título até hoje da história de sua seleção: A medalha de ouro olímpica em 1996. Ele fica com a camisa número quatro.
Zagueiro: Fernando Hierro.

Inteligente, ídolo do Real Madrid duas vezes (no Século XX, tendo conquistado mais uma no século seguinte), além de exímio cobrador de bolas paradas. Um zagueiro que atuava também como volante e com uma grande quantidade de gols em sua carreira. A camisa seis é dele!
Volante: Clarence Seedorf.

Na minha seleção decidi jogar com apenas um volante. Seedorf com sua mistura europeia com futebol sul-americano, sendo campeão da Champions com Ajax e Real Madrid (ainda seria campeão no século XXI pelo Milan sendo o primeiro jogador a ser campeão por três times diferentes do torneio), é o escolhido. É com ele que fica a a camisa cinco.
Meio Campo: Sebastian Verón.

Um dos melhores meias do final do Século XX. Um uma classe refinada, belos passes e lançamentos. Verón foi um dos até pouco valorizados, mas com certeza de um talento gigantesco pelos clubes que atuou e também pela seleção argentina. Fica com a camisa onze que usava por sua seleção.
Meia atacante: Roberto Baggio.

De todos os aqui citados, Robbie Baggio talvez seja o mais injusto ou azarado de todos os jogadores no quesito Copas do Mundo. Deu o azar de enfrentar a Argentina de Maradona e o Brasil de Romário. Para esse que vos escreve, é o maior jogador italiano de todos os tempos. A camisa dez desse elenco fica para ele.
Atacantes pela direita: Raúl.

Até o aparecimento do Cristiano Ronaldo, era o maior camisa sete do maior time do mundo (o Real Madrid), além disso, apesar das pipocadas de sua Seleção em Copas do Mundo, Raúl González Blanco se tornou o maior artilheiro da história da Champions até o aparecimento dos dois grandes gênios do Século XXI. No Real, ganhou todos os títulos possíveis, sendo só no século XX, duas Champions, dois campeonatos espanhóis, uma Supercopa da Espanha e um mundial de clubes que os vascaínos lembram bem! Ele fica com a camisa sete da minha seleção.
Atacante pela esquerda: Dennis Bergkamp.

Um atacante que muitas vezes parecia sumido em campo, mas que quando aparecia, pobre dos defensores adversários. Com títulos pelo Ajax, Internazionale e seu querido Arsenal, só faltou ao genial holandês um título por sua seleção. Passou perto na Euro disputada em casa no ano 2000. Na minha seleção ele fica com a camisa oito.
Centroavante: Gabriel Batistuta.

Atrevo-me a dizer que o argentino Batistuta está no mesmo nível de Ronaldo e Romário, mas sem a sorte de vencer Copas do Mundo ou atuar por grandes clubes. Tendo passado boa parte da década de 1990 atuando pela modesta Fiorentina. Mesmo assim conquistou títulos de Copa América com sua seleção e artilharias pela “Velha Viola”. Um atacante de arranque, força e muita direção nos chutes. Apesar de não ter sido campeão do mundo, marcou em duas Copas disputadas durante os anos 1990, marcou nove gols no torneio. Ele fica com a camisa nove da minha seleção.
Agora o desafio é de vocês: Montem suas seleções dos anos 1990 sem brasileiros, o que evita escolhas óbvias e sem nenhum campeão do mundo! Aguardo seus escretes.
GRAMADO SINTÉTICO OU NATURAL?
por Idel Halfen

O questionamento que dá título ao artigo é o começo de uma nova polarização que em breve estará ainda mais presente em diversos círculos de conversas. Um lado defendendo o campo de grama sintética, alegando maior durabilidade, o que é correto, enquanto outro lado atacará a citada superfície acusando-a de ser responsável por um maior número de contusões.
A propósito, como a maioria das discussões atuais, as partes não se aprofundarão no tema, mas proferirão “verdades incontestáveis”. Acrescento que alguns se pautarão em estudos até bem elaborados, mas que não serão conclusivos, não obstante a argumentação enfática por parte dos “defensores” de cada lado.
Tive a oportunidade de ler dois materiais muito interessantes e com alto teor científico, isto é, com boas metodologias, amostragens aceitáveis e bem detalhadas. Cada um concluindo que a grama do vizinho é pior.

Na verdade, ambos os estudos deixam de contemplar a superfície onde os atletas treinam, os desgastes acumulados, a carga de treinamento, os equipamentos utilizados e a constituição genética dos atletas, entre outros. Óbvio que a inclusão de todas essas variáveis deixaria os estudos extremamente complexos, até porque necessitaria de se ponderar cada uma delas, o que, certamente daria margem a contestações.
Isso significa que não é possível concluir?
Pois é, provavelmente qualquer conclusão estará sujeita a indagações cujas respostas não darão a assertividade necessária.
O exemplo do gramado, por mais que tenha sua importância dado o crescente número de estádios que estão aderindo ao artificial, serve aqui para jogarmos luz nas fragilidades encontradas nos mais diversos tipos de análises, o que não necessariamente guarda relação com algum tipo de manipulação, ainda que elas existam.
Penso que, na maioria das vezes, a preguiça de minerar dados, aditivada pela ignorância a respeito, seja a responsável por essa espécie de superficialidade.

Qual área comercial nunca foi cobrada por uma queda nas vendas? Qual delas mostrou de forma embasada o comportamento daquele setor? Qual delas apresentou um estudo de elasticidade? Qual delas solicitou ao departamento de inteligência de mercado algum estudo comparando as compras dos clientes nos últimos meses, índices de positivação e demais indicadores que ajudassem a entender as razões dos resultados?
Também não surpreenderia tomar ciência que, no caso do aumento de vendas, houvesse certo desinteresse na detecção das causas.
Falta tempo para isso! Falta recurso para isso! São afirmações que procedem, pois, de fato, no curto prazo a análise de indicadores acaba sendo preterida em relação à busca por receitas imediatas. Todavia, se houvesse investimento e, principalmente, crença na sua utilidade, as chances de crescimento sustentável dos resultados seriam muito maiores.
Parecem preferir o “achismo” ou o estudo superficial como base para suas decisões, assim como temos os que preferem algum tipo de gramado pinçando estudos que lhes deem razão.
SOLICH X FLÁVIO COSTA
por Elso Venâncio

O Fla-Flu decisivo de 1963, época que o Campeonato Carioca se destacava como a competição mais importante do país, detém o recorde mundial de público entre clubes: 194.603 pagantes, fora os penetras de sempre. Frente e frente estavam os rivais e desafetos: Flávio Costa, comandando o Flamengo, e Fleitas Solich, no Fluminense.
Flávio nasceu em Carangola/MG. No Flamengo, se tornou um lateral raçudo, mas com pouca técnica, recebendo o apelido de “alicate” por conta dos seus carrinhos, que nem sempre visavam a bola. Já o paraguaio Solich, um meia clássico, começou no Nacional de Assunção e fez sucesso no Boca Juniors, onde foi tetracampeão argentino.”El Maestro” estreou com 18 anos na Seleção Paraguaia, tendo disputado quatro edições do Campeonato Sul-Americano, atual Copa América. Líder nato, costumava acumular as funções de jogador e técnico por onde passava.
Como treinadores, tanto Flávio Costa quanto Fleitas Solich foram tricampeões estaduais pelo Flamengo. Flávio o fez em 1942, 1943 e 1944, no primeiro tri da história rubro-negra. Solich igualou o feito em 1953, 1954 e 1955, já na era Maracanã. Reconhecido por Zagallo como seu mestre no futebol, o”Feiticeiro Paraguaio” é o segundo técnico com mais jogos à frente do Flamengo: 504. Só fica atrás do próprio Flávio Costa, com as suas 765 partidas.
Considerado um treinador linha dura, Flávio Costa foi contratado pelo Vasco para domar as feras do Expresso da Vitória. Trata-se do maior esquadrão da história cruzmaltina, até hoje um dos maiores do futebol mundial, marcando época de 1944 e 1953. Foi comandando esse timaço que Flávio conquistou o Sul-Americano de 1948, equivalente à Copa Libertadores da América. Também dirigiu a Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950, deixando escapar o título mundial na histórica derrota para o Uruguai. Apesar do trauma, seguiu em atividade, alcançando o status de ter oito títulos cariocas: cinco pelo Flamengo (1939, 42, 43, 44 e 63) e três pelo Vasco (1947, 49 e 50). Como primeiro campeão do Maracanã, o Vasco teve o direito de escolher o lado da sua torcida na arquibancada. Também constam no currículo de Flávio Costa passagens por Portuguesa-RJ, Santos, São Paulo, America, Bangu, Colo-Colo (do Chile) e Porto (de Portugal).
Fleitas Solich, por sua vez, encerrou a carreira podendo se orgulhar de ter lançado os dois maiores artilheiros do Flamengo em todos os tempos: Dida e Zico. Dirigiu a Seleção Paraguaia, na Copa de 1950 e no título sul-americano de 1953, e também a Peruana, além de ter sido cotado para comandar a Brasileira no Mundial de 1958. Entre os clubes, trabalhou em vários, incluindo Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Fluminense, Atlético Mineiro, Bahia e Real Madrid (da Espanha).
Na decisão do Carioca de 1962, o lendário Flávio Costa colocou Gérson para ajudar Jordan na marcação de Garrincha. Após o Flamengo perder o título para o Botafogo (do técnico Marinho Rodrigues), Flávio discutiu com Gérson, ocasionando a saída do Canhotinha de Ouro para o rival campeão.
No Fla-Flu de 1963, o Maracanã entupido de gente fazia lembrar a Copa de 1950. O Flamengo, dono da melhor campanha, chegou para o clássico com a vantagem de ser campeão com o empate. Flertou com a derrota num lance em que Escurinho, na grande área, tentou encobrir Marcial. Muitos tricolores ficaram de pé, já vibrando, mas se calaram diante da defesa do goleiro rubro-negro. Marcial ainda segurava a bola quando o árbitro Cláudio Magalhães apitou pela última vez. Melhor para o Flamengo (e também para Flávio Costa, campeão diante de Fleitas Solich).
ERA TUDO NOSSO
por Paulo-Roberto Andel

Perto das nove da noite, Copacabana fervilhava por volta de 1982. No entanto, a areia da praia ficava quase toda livre por um motivo curioso: não havia luz na orla. As pessoas praticavam os esportes até quando era possível enxergar alguma coisa.
Geralmente saíamos da casa do Fred, na Figueiredo Magalhães. Eu, Fred, às vezes o Ricardinho. Noutras, o Marco Antônio. Ou qualquer amigo de bobeira disposto a chutar bolas imperdíveis ou fazer gols na famosa trave do Juventus, time orgulho do bairro e do futebol de praia. Se conseguisse o quarteto, o ideal era jogar dupla de praia com dois goleiros. Se não desse, a solução era individual: cada um dava cinco chutes a gol e se preparava para defender outros cinco.
Como já disse, a praia estava deserta às nove da noite. A gente gostava daquilo, um futebol solitário, a trave, o mar, o murmúrio das águas do Atlântico Sul. O Fred gostava mais de ser goleiro, eu preferia chutar em gol. Então embarcávamos no campo dos sonhos, tentando imitar os craques que jogavam naquele tempo. Um chute de efeito era do Éder ou do Nelinho, peritos no assunto. Uma cabeçada de zagueirão? Edinho. Uma arrancada pela esquerda: Júnior ou Pedrinho. Aliás, Júnior foi nosso vizinho a vida toda, também craque do Juventus e não saía da Figueiredo, além de ter uma loja de artigos esportivos na Siqueira Campos.
Goleiros eram Raul, Paulo Victor, Leão. O Fred gostava do Birken Meyer, que jogava no Cosmos (!) de Nova York.
Uma bola na trave, na forquilha. Outra triscando. A gente imitava a torcida no Maracanã: “UHHHHHHHHH”.
Às vezes aparecia um ou outro garoto perdido querendo jogar a de fora. Não chegava a ser raro, mas o horário não ajudava muito.
Dez da noite. Batia a escuridão. De longe a fina linha retangular sugeria o que realmente era. Tentávamos acertar o gol. Fred era pesado e grande, mas voava e espalhava. Ricardinho também. O Marco era bom mas era baixinho, então buscar o ângulo era uma alternativa. Fui um goleiro razoável no máximo. Fiz o que pude.
Em certo momento a gente desistia. O breu tomava tudo. Luzes, só nos faróis que cruzavam a avenida Atlântica a passeio ou em busca de emoções diferentes na orla mais famosa do mundo. A gente se olhava, mal falava e estava tudo entendido: vamos voltar outro dia. Pegávamos os chinelos e tchau. Ah, claro, e a nossa bola de 27 gomos, pois alguns já tinham caído.
Hora de voltar para casa. Onze da noite, mais de duas horas de futebol no escuro. A gente descia boa parte da Figueiredo Magalhães. Geralmente eu carregava a bola, mas ela não era minha. Embaixo do condomínio Camões, a galera do Juventus se espremia num boteco. Duas quadras depois, o Marco Antônio virava à esquerda pela Barata Ribeiro. Eu e Fred íamos até o Shopping dos Antiquários, onde estávamos em casa. O Ricardinho andava mais um pouco, cruzando o Bairro Peixoto. Fizemos isso algumas dezenas de vezes juntos e fomos felizes. Afinal, para garotos de treze e catorze anos, o futebol é o mundo e mais: ainda tínhamos um futuro imenso pela frente – a Copa da Espanha, o Torneio dos Campeões, o Campeonato Carioca, era muita coisa: Edinho, Cláudio Adão, Junior, Adílio, Zico, Tita, Luisinho, Moreno, Leandro…
A bola. A bola. O inesquecível silêncio na beira do Atlântico Sul, o céu de duas mil estrelas, a Copacabana dos anos 1980. Nosso Maracanã era de areia.
Onde estão meus amigos?
@p.r.andel
JUSTIÇA COM A SELEÇÃO SUB-20
por Zé Roberto Padilha

Quando o Brasil foi goleado pela Argentina, na estreia do Campeonato Sul-Americano, a imprensa esportiva recheou suas páginas com duras críticas. Aos jogadores e ao técnico Ramon Menezes.
Eu não fui exceção, também critiquei o total desentrosamento da nossa zaga, completamente envolvida pelo ataque argentino.
Desde aquela derrota, porém, a seleção brasileira foi se recuperando. Se superando em campo. E à medida que vencia seus adversários. as notícias iam desaparecendo. Na mesma proporção. A quem interessa mesmo as boas notícias?
Domingo, o Brasil alcançou o título e espaços mínimos foram concedidos à seleção. O caderno de esportes de O Globo, na segunda, simplesmente ignorou a conquista. Deu destaque de página inteira a João Fonseca, e no verso uma entrevista com Alexander Zverev.
Os patrocinadores do Rio Open investiram forte para ocupar cada veículo de comunicação. E conseguiram ofuscar o título dos nossos meninos.
Uma tremenda injustiça a toda a nossa seleção que deu a volta por cima. E, mesmo assim, vão desembarcar no Galeão sem a cobertura que mereciam.
Somos alimentados diariamente por más noticias. Mesmo Fachel e Silvana, simpáticos toda vida, desde cedo nos abastecem com as ações de traficantes, engarrafamentos nas vias de acesso ao Rio e tiroteio nas Linhas Vermelha e Amarela.
Nesse instante, um Sargento foi executado em Bangu e uma delegacia foi invadida. O helicóptero de Genilson Araújo segue atrás de uma bala perdida e desvia sua rota em locais onde ONGs realizam ações voluntárias em prol de comunidades carentes.
Soube também que o Padre Marcelo Rossi iniciou uma campanha para distribuir cestas básicas a muitas famílias no complexo do alemão. Só que não teve tiroteio, agressões, roubos e violências. Apenas boas ações.
E a quem interessa parar para ler e assistir as boas ações? Os fãs de Bruce Willis, de Jonh Wick, como eu?
O Ibope nem mexe.