por Marcelo Vieira
Nos dias que antecedem e sucedem o carnaval – e outros feriadões parecidos – o brasileiro se dedica a uma arte verdadeiramente nacional: dar o migué. Materializam-se atestados que alegam doenças crônicas, infecções virulentas e outros males do corpo e da alma. Antepassados ressuscitam só para serem falecidos de novo nessas datas. Há notícias de quem tenha matado a mesma avó oito vezes em um intervalo de quatro anos.
A prática do migué, que não se restringe apenas a faltar ao trabalho – pode ser um corpo mole, pipocar na hora de rachar a conta, deixar marotamente aquela louça para outrem lavar e por aí vai -, ganhou esse nome a partir da contração da expressão “dar uma de Miguel”. Mas a pergunta é que Miguel é esse??? Provavelmente é Dom Miguel, irmão de Dom Pedro I, que se aproveitou da ausência do irmão mais velho, que estava curtindo uma de imperador no Brasil, para casar com a sobrinha e usurpar o trono português. Mas, país afora, há muita gente que jura ter conhecido o Miguel que deu origem ao termo – seria um músico, um pinguço ou um boleiro, dependendo da versão.
Como tudo que é preferência nacional, o migué encontra no futebol sua mais genuína expressão. Boleiros de norte a sul, da série A até a Z, valem-se dele para evitar cartões (sair de perto e fingir que o negócio não é contigo), reverter laterais (bate rapidinho e segue o jogo) e, claro, fazer cera. Porém, a mais pura expressão do migué futebolístico é fingir ou exagerar na gravidade de lesões. Tanto que esse ramo específico da malandragem ganhou um nome de DNA completamente futebolístico: chinelinho.
Temos então que aquele jogador, supostamente contundido, passa a frequentar o centro de treinamento calçando os indefectíveis chinelos de dedo em vez das chuteiras ou tênis. O chinelinho pegou geral e extrapolou as quatro linhas, os estádios e o universo esportivo. Hoje em dia, em muitas regiões do país, tirar férias, entrar de licença médica ou qualquer folga fora da rotina virou “calçar o chinelinho”. É a pátria de chinelos.
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