por Marcelo Mendez
Falemos aqui de Biscoito…
Minha história com Biscoito começou a primeira vez que o vi em campo em Mauá, vestindo a camisa 2 do Dínamo no campo do Juá, também em Mauá. Era um domingo de sol pleno. O jogo marcado para as onze horas do impiedoso horário de verão castigava as peles que ali se encontravam e o jogo não era dos melhores.
Dínamo enfrentava e perdia para bom time do Moleque Travesso de São Paulo em partida válida pela Copa Amizade. No campo, os homens de chuteiras coloridas não faziam muito pelo verso. O match era dolorosamente mal jogado quando eis que de repente, a bola, cansada de tanto viajar por meio de bicões e outras rasgadas sem muita classe, chega aos pés do lateral direito do Dínamo.
O trajeto feito pela pelota é sofrido. Por entre buracos e touceiras de mato, ela quica até o lado irregular do campo do Juá. Para no pé direito que a apara e então surge Biscoito. Sem muito esmero ele a domina. Não tem pela bola o carinho e a intimidade dos craques ao tratá-la mesmo assim ela fica. Biscoito para, olha pra cara de seu adversário, joga a bola na sua frente e parte.
Como se não fosse haver o amanhã, Biscoito corre pela lateral do campo do Juá. Arrasta consigo a poeira, a preguiça, as teorias que de nada servem e com a força do grito de seu torcedor, chega ao fundo do campo e cruza a bola pra área. No bate e rebate, o atacante de seu time consegue recebê-la e sofrer o pênalti que empata aquele jogo e classifica seu time.
Esfuziante, Biscoito comemora entre os seus batendo em seu peito, de cara com seu torcedor. “Que sorte” – Pensei.
Fiquei com ele na cabeça até reencontrá-lo em uma semifinal da Copa Amizade em um jogo contra o Mocidade de Mauá. Seu time novamente perdia quando surge então uma falta quase do meio campo. Biscoito pega a bola e eu penso, “Vai isolar essa bola”. Quando ele bate, tal e qual um Nelinho, mete a bola no ângulo do goleiro. Uma pintura. Novamente ele classifica seu time e de novo comemora. E então veio o domingo último…
Dínamo e Guaraciaba jogavam um dos clássicos maiores da várzea do ABCD. O Guaraciaba, time campeão de Santo André, faz uma falta da entrada da área e lá vem Biscoito para cobrança. Ajeita a bola, olha para o árbitro e ao seu apito, bate na pelota mandando-a no ângulo, no trinco! Um gol que Zico assinaria. Novamente comemorou com força, com alegria, com a intensidade de mil sonhos de criança. Parecia saber que seu momento seria breve e então o aproveitou.
Ele tinha razão.
Durou até o tempo que o Guaraciaba conseguiu o empate que lhe servia e então, Biscoito não comemorou, mas seguiu firme, correu tudo que pode e ao fim do jogo não estava triste e nem poderia, por uma simples razão:
A história quando contada apenas do ponto de vista de quem sempre ganha nada mais é do que um máximo e rotundo erro.
Biscoito, além de ser mais do que apenas uma classificação ou um título, representa muito mais do que o craque pode representar. A sua insistência em contrariar o que há de lógico, o que há de óbvio e evidente, faz dele um Grande. Pouco importa se suas passadas não são longas, se seu futebol não é vistoso, ou se seu time não venceu. Às favas com essas quimeras.
Na várzea, tanto o sorriso, quanto o sofrimento, são belos desde que sejam de verdade.
Biscoito é de verdade.
Por conta disso e de outras coisas tantas quanto o verso pede, a ele vai essa homenagem minha, tão improvável quanto um de seus gols de falta.
Parabéns, amigo Biscoito!
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