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OS ESCRITORES E A BOLA

13 / outubro / 2022

por Paulo-Roberto Andel

Seis da tarde, outubro quente, e acabo de voltar do trabalho. Banho tomado, roupa trocada, cama feita, então me deito e, com o quarto silencioso e meio escuro, fecho meus olhos e paro para pensar em futebol.

Hoje é o Dia Mundial do Escritor. Consequentemente, tem tudo a ver com futebol. Quanto dessa paixão que carregamos pelo esporte não vem dos livros, revistas e jornais que um dia lemos? As histórias que decoramos, os lances que vimos de outro jeito. As crônicas, os contos. As grandes resenhas.

Minha carreira de leitor mirim começou com escritores da pesada: Achilles Chirol, João Saldanha, Nelson Rodrigues, Sandro Moreyra, William Prado, todos facilmente encontrados nos jornais do sofá. Depois veio a turma da Revista Placar e, com ela, Juca Kfouri e Marcelo Rezende – sim, ele mesmo.

Já adulto jovem, me deparo com Xico Sá, Peninha, Ruy Castro (fenomenal), o espetacular Tostão, o saudoso Paulo Júlio Clement, Fernando Calazans e pronto: a bola tem letras por todas as partes. Ah, não dá para esquecer que o mestre Ivan Lessa mandava seus pitacos futebolísticos na BBC de Londres, geralmente enaltecendo seus heróis botafoguenses dos anos 1940.

O Brasil tem um exército de escribas monumentais que já enalteceram nosso futebol. Basta lembrar nomes como os de Alcântara Machado, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes e Mário de Andrade, por exemplo. E até quem odiava o esporte lhe dedicava linhas, caso de Lima Barreto. Gênios que deixaram suas marcas no jogo de bola.

Para fechar, que tal um grande lance de um dos maiores craques da escrita mundial? Eis o monumental Eduardo Galeano, falando do grande momento desse jogo que vivemos como paixão:

O GOL

_”O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol é cada vez menos freqüente na vida moderna.

Há meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum.

O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre gooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço.”_

2 Comentários

  1. Tarciso

    Paulo com sua literatura do Futebol e a poesia urbana, eu com minha paixão descontrolada pela obra de Guimarães Rosa.
    Todos os gostos, todas as tribos.
    E viva o escritor!

    Responder
  2. Tadeu cunha

    Ccrd plenamente,sem escritores e suas obras independente de matizes estariamos ainda na idade da pedra LASCADA.

    Responder

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