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OS 40 ANOS DE UM DIVISOR DE ÁGUAS

1 / agosto / 2022

por Paulo-Roberto Andel

É impressionante a velocidade do tempo. Um dia desses, nos esbaldávamos com craques e partidas a valer não somente no Maracanã, mas pelo Brasil agora. Então veio a Copa da Espanha e, por conta de tudo que já se sabe, nosso mundo mudou para sempre.

De 1958 a 1970, o Brasil ganhou três dos quatro mundiais disputados. Mesmo sem a força de antes, ficamos entre os quatro primeiros nas Copas da Alemanha e da Argentina. Com o time dos sonhos montado por Telê Santana, o penta era tratado como mera formalidade a ser cumprida, só que a história seguiu por outros caminhos.

A derrota no Sarriá foi drástica para o futebol brasileiro e mexeu com o esporte em todo o mundo. Vendeu conceitos absolutamente equivocados: quem joga melhor tende a perder, a força é mais importante do que a técnica, o talento não é primordial, não adianta jogar bem e perder. O equívoco é tão grande que, de lá para cá, ganhamos apenas dois Mundiais, ambos em cima do talento. Bebeto e Romário em 1994; Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Rivaldo em 2002. Claro que o Brasil campeão nestas duas edições não se resumia a estes cinco jogadores, mas eles explicam boa parte do sucesso.

Há 40 anos, tínhamos jogadores que eram unanimidades mundiais. Falando de Seleção, você tinha Leandro, Júnior, Cerezo, Sócrates, Falcão e Zico. Ok, mas imagine que só pelas meias, o futebol brasileiro tinha jogadores como Renato, Pita, Arturzinho, Deley, Mendonça, Geovani, Mário Sérgio, Adílio, Jorge Mendonça, Jair, Humberto e tantos outros. Aos poucos, o drama da Espanha foi ceifando o talento brasileiro e priorizando o brucutu, o marcador implacável e até violento, o destruidor. Era melhor ganhar jogando feio? O fato é que pioramos e ganhamos pouco.

O que sempre nos diferenciou do resto do mundo foi a profusão de jogadores fora de série que produzimos. Aos poucos eles foram escasseando, diminuindo, até chegarmos a 2022. Vamos à Copa do Catar com boas chances, um time promissor com jogadores que brilham no exterior e prometem voos mais altos, mas com um único – e contestado – super astro: Neymar. Em tempos idos, a Seleção tinha mais uns três ou quatro nomes de super astros titulares.

Em 40 anos, os campinhos desapareceram, as peladas de rua, os jogos na praça. Até no futebol de praia as coisas mudaram, com menos campos. Nossa fábrica de craques foi sendo desativada aos poucos. Será que realmente valeu a pena a vitória do “futebol-força” para os brasileiros?

Nas últimas semanas, a sensação do Brasileirão tem sido o Fluminense, com atuações de futebol ofensivo e bonito, na contramão de botinadas e regimes de força. Seu mentor é o treinador Fernando Diniz. Cantado e decantado nas resenhas esportivas da TV, Diniz tem em seu grande mérito a tentativa de resgate do nosso futebol, do jeito que era quando ele mesmo era um garoto buscando oportunidades como jogador. Andorinha solitária do cenário brasileiro, Diniz pode ser o vetor de uma maravilhosa epidemia entre os treinadores, “infectando-os” para que, num futuro próximo, sejamos capazes de recuperar o tempo perdido.

O Brasil é o país do futebol, não dos brucutus. Que outros treinadores entendam isso e que possamos, um dia, rever em campo ao menos parte do que já tivemos de melhor: um futebol onde a bola era a verdadeira majestade.

@pauloandel

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