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ORLANDO LELÉ ME FEZ PENSAR NA ALEGRIA DE ESTAR NO MARACANÃ

22 / janeiro / 2020

por André Felipe de Lima


“Indisciplinado? Olha, fui expulso de campo algumas vezes. E daí? Vocês estão lá em cima nas tribunas vendo o jogo e muitas vezes não sabem o que se passa em campo. Se sinto que meu time está sendo prejudicado, que um juiz está sendo sem-vergonha, vou em cima dele. No Vasco, se preciso, agirei da mesma forma. Não admito ser roubado e não entendo essa história de só o juiz poder errar. Claro, eu errei algumas vezes e até mereci ser punido. E os juízes?”

Como eu gostava do Orlando Lelé, que faria 71 anos hoje. Foi um lateral-direito casca-grossa, que não levava desaforo para casa. Foi sensacional no América e depois no Vasco ao longo da década de 1970. Lembro-me de um jogo do Vasco contra o Flamengo, em 1979. Eu na arquibancada. O Vasco não levou a melhor, embora tenha jogado à beça. O Flamengo fez dois a zero, com um gol contra do zagueiro Ivã e outro do Tita, que jogava com a camisa 10 no lugar do Zico. Aliás, como jogou o Tita naquela tarde. Mas o Vasco reagiu, com gols do Roberto Dinamite e do ponta Catinha. Mas era dia do Tita, que, com uma das cabeçadas mais lindas que já vi no Maracanã, marcou um golaço. Fim de papo e vitória rubro-negra. Mas o que me chamou atenção mesmo foi o Orlando. Antes do jogo, os jogadores do Vasco chutavam bolas para a geral, mas a do Orlando foi parar na arquibancada. Questionei-me o jogo inteiro e depois, na ida de trem para casa, o motivo que fez Orlando ter sido o único vascaíno a chutar aquela bola para a arquibancada e não para a geral. Coisa de menino. Só um menino mesmo para perder tempo com questionamentos como esse que sequer mudaria o rumo das coisas. Mas para os meninos, sim. Muda muito.

Pensava que Orlando era diferente, especial, só porque tinha chutado a bola para arquibancada e não para a geral. Queria muito que aquela bola caísse no meu colo. Também achava que Orlando a chutaria para fora do estádio. Queria que fizesse o mesmo que o Nelinho, o do Cruzeiro, fez naquele mesmo ano, chutando uma bola para fora do Mineirão. A bola do Orlando deveria ter parado no céu. Seria o mais justo.

Para mim, Orlando Lelé era o melhor lateral-direito do Brasil, não havia Nelinho ou Toninho, o do Flamengo, que estava em campo naquele jogo de 79. Era Orlando o melhor, e assim foi até o menino crescer. Cresci e Orlando não está mais aqui. Sabe de uma coisa? Hoje, no aniversário de 71 anos dele, decidi recordar o quanto aquele chute foi importante para mim. Fiz dele uma ingênua ontologia: a bola somos nós e, como a do chute do Orlando, deve sempre subir para sermos felizes, exatamente felizes como todos os vascaínos quando a bola caiu na arquibancada. Ah, como vibramos, como pulamos. Fiz daquele chute do Lelé a minha doce e feliz segunda-feira no colégio. As piadas dos colegas pela derrota do Vasco não me incomodaram. Orlando Lelé estava comigo, em meu coração e na minha alegria de criança. Hoje, compreendi aquele chute para a arquibancada. Aquela única bola era de todos nós que estávamos ali, naquele instante, amando o nosso Vasco. Orlando foi sábio e santo naquela tarde. Ele me fez compreender que a festa que fazíamos no estádio estava acima da vitória ou da derrota que poderíamos presenciar após o apito derradeiro do juiz. Orlando, com aquela bola que enlouqueceu a torcida na arquibancada, ensinou-me a ser um menino feliz simplesmente porque existe o futebol e o Maracanã.

1 Comentário

  1. Paulo Faria

    Orlando era o único lateral do Brasil que cruzava a bola que recebia na diagonal, sem aquele toque desnecessário que certos jogadores dão.

    Cansou de cruzar bolas na cabeça do Roberto Dinamite, recebendo os passes na diagonal e lançava as bolas e as defesas adversárias não tinham tempo para chegar a tempo para a marcação.

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