por Elso Venâncio
Jorge Jesus ficou pouco mais de uma semana no Rio, deslumbrado com seu status de ídolo. A situação do conterrâneo português Paulo Souza, que desarruma o time mais do que arruma, fez aumentar o coro de “Volta, Jesus”. O treinador campeão da Libertadores de 2019 rodou a cidade, reencontrou amigos e jogadores, além do seu restaurante preferido. Na Sapucaí, durante todo o Desfile das Campeãs, era uma celebridade. Até ir ao encontro de dirigentes e jornalistas e chutar a ética profissional, pensando estar entre amigos, onde poderia abrir seu coração. Acabou virando uma espécie de “traíra” – termo muito usado no futebol.
Isso me fez sentir falta dos furos de reportagem. Essas entrevistas coletivas chatas, os treinos fechados e a falta de contato do torcedor com seus ídolos vêm adormecendo a imprensa. É estatística pra lá, estatística pra cá, mas… cadê a notícia?
Sim, até que há algumas. Só que repetidas ou requentadas. Não há mais a disputa saudável pela informação. Onde estão os GRANDES FUROS DE REPORTAGEM?
Durante um programa na TV, junto a Cahê Mota, que representa com brilhantismo na Globo a nova geração do Esporte, debatemos o tema. Ele explicou que hoje é tudo em tempo real. A redação cobra postagens imediatas, antes, durante e após os fatos. Ninguém tem paciência para suportar a ansiedade e trabalhar uma notícia.
Os chefes têm culpa no cartório. Não cobram mais boas informações. Veículo grande tem obrigação de INFORMAR COM EXCLUSIVIDADE. Hoje é muita gente atrás do computador, atenta aos twitters. O celular virou instrumento de trabalho, mas nada como a apuração olho no olho! Indo pra rua! Buscando “A Notícia”.
Jantei recentemente com meu amigo Sérgio Lobo, o Lobinho, do SporTV:
“Você tem o telefone do Landim?” – pergunto. “Você liga para o presidente?”
“Não. Não temos contato.”
Como assim? Argumento que Landim é um dos personagens do futebol dos mais agradáveis que conheço. É acessível e valoriza quem está ao seu lado. Lobinho ainda completou dizendo que o presidente Mário Bittencourt, do Fluminense, lê as mensagens e um assessor retorna.
As redes sociais aproximam as pessoas, atualmente contatamos qualquer um. Teve até o caso de um paulista que ligou para o Michel Temer quando ele era o Chefe do Executivo. E o Presidente da República, simplesmente, assim o atendeu:
“Sim, sou eu” – respondeu Temer.
No futebol, noto que há um abismo cada vez maior entre os setoristas, que vem diminuindo a cada dia, e quem comanda os clubes. O que dificulta ainda mais o vazamento das grandes notícias, aquelas capazes de abalar estruturas.
Em 1997, o “Maestro” Junior, que nunca se firmou como técnico, foi afastado após um empate do Flamengo com o Madureira, em Conselheiro Galvão. No tenso e acanhado vestiário, assim que eu o questionei sobre o jogo, ele declarou que não era treinador. Disse que estava apenas “colaborando”.
“Mas… como assim?” – perguntei, surpreso.
Não obtive resposta.
No início da madrugada, recebo a informação de que Evaristo de Macedo tinha ido para o apartamento do então presidente rubro-negro, Kleber Leite, no Posto 6, ao lado do Forte de Copacabana. Dei plantão por lá. A reunião, que contou também com Plínio Serpa Pinto e Michel Assef, só terminou depois das três da manhã. Porém, o Rio amanheceu ouvindo, pela Rádio Globo, o nome do substituto do recém-demitido “treinador”.
Sei que o momento é outro e que vida de repórter não é fácil. Mas a busca pela notícia tem que ser constante e não ficar restrita a comunicados oficiais ou coletivas de Imprensa.
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