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OBRIGADO, RR!

28 / julho / 2020

por Marcos Eduardo Neves


Morreu meu amigo Rodrigo Rodrigues. Só nessa hora alguns cegos conseguem ver. Só nessa hora o barulho silencia. Só nessa hora o calor congela por dentro.

Há meses que nos trancamos, mudamos a rotina, falamos sem parar palavras que mal faziam parte do nosso vocabulário. Isolamento, por exemplo. Isolar era chutar longe do gol, jargão de futebol. Quarentena me remetia à política ou retiro obrigatório após deixar certos cargos públicos. Corona, marca de cerveja ou sobrenome de ex-galã dos anos 80. Até mesmo vírus só me atemorava caso estivesse no computador.

Vivíamos algo etéreo, que parecia existir mas não tínhamos prova cabal. Tipo a hora que soube que ia ser pai. A mãe sentindo na barriga, no mínimo estado líquido para ela, mas apenas gasoso para mim. Só se torna sólido quando nasce.

Ou morre. Rodrigo pegou o covid, mas quantos não contraíram essa peste ao longo dos últimos 100 ou 120 dias? Girávamos em torno de números: morreram 800, mil ou quase 2000 no dia tal. Números, nada mais do que números. Poucos tinham nome. Poucos tinham vida. Até bater na porta de casa, como agora.


Morreu Rodrigo Rodrigues. De todas as perdas, a mais próxima que tive. Meu filho e minha mulher são testemunhas do quanto me excitei quando ele confirmou participação na minha live, em maio. Menos por falarmos de jornalismo, futebol e música, paixões em comum, mais por, no meio de uma pandemia, me embebedar por uma horinha da sua alegria, seu bom humor, seu alto astral.

Morre Rodrigo Rodrigues e agora, sim, devido à proximidade, o que eram frios números ganham carne, osso e alma. Agora os ímpios vão crer. Ainda que nem todos.

Parece que alguém o visitou em casa, visto que decidimos por conta própria afrouxar as medidas de isolamento. Nisso deu-se a fatalidade da transmissão. O que me prova, por exemplo, o erro de se voltar partidas de futebol agora, mesmo sem público. Ele foi contaminado em casa? Podia ter sido no estádio, a trabalho. No corredor da sala de imprensa, no estacionamento do Maracanã ou no gramado, como nessa foto de uma das últimas vezes que nos vimos.

Morre alegria em meio à tanta melancolia. Perde sabor o jornalismo cultural e esportivo. O único ganho é de saudades.

Que tenhas tido paz na sua passagem. A mesma paz que nos atingia em cheio a cada encontro e germinava frutos de sorriso na gente. Transformando a aura de qualquer ambiente numa bem-sucedida trilha de clássicos imortais do cinema.

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