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O VOO DO PERIQUITO

7 / dezembro / 2016

por Marcelo Vieira Dias


O Periquito ter ido embora num estranho domingo sem futebol não cabe no poema. Logo ele, jogador das divisões de base do Ferroviário e filho de Newton Ferreira, lendário centroavante maranhense na década de 1930, de quem herdou a posição e o amor pela bola. Mas, franzino, Periquito acabou desistindo cedo dos caminhos do futebol profissional – foi para o Rio de Janeiro e lá fez-se Ferreira Gullar, poeta, crítico, tradutor, ensaísta, jornalista, defensor das liberdades, vascaíno e apaixonado, como sempre, pelo futebol.

O poema “O gol” é o texto mais conhecido do Periquito sobre futebol, mas não foi o único. As referências ao esporte estão espalhadas por suas obras, colunas, versos e incontáveis entrevistas que ele concedeu ao longo da vida.


Canhoteiro é considerado um dos melhores pontas da história

Nos idos da década de 1940, Periquito formava, com Esmagado e Canhoteiro, a mais talentosa das linhas de ataque que se apresentavam nas peladas do Campo do Ourique, no Centro de São Luís. Na meia esquerda, Esmagado, que durante mais de uma década brilharia com as camisas do Ferroviário e do MAC, combinava raça e técnica. Anos depois, já técnico, ele fundaria uma das primeiras equipes de futebol feminino do Brasil, o Aurora. 

Mais à frente, na ponta esquerda, Canhoteiro já entortava e desentortava zagueiros, exatamente como faria, alguns anos depois, no São Paulo e na Seleção Brasileira, o que o levou a ser chamado de “Garrincha do Morumbi”. 

Um dia, muitos anos depois, Periquito contou a Armando Nogueira que tinha sido colega de pelada de Canhoteiro. Armando, imediatamente, pensou em preparar o encontro dos dois. Canhoteiro, ao saber da novidade, entre gozador e incrédulo, perguntou a Nogueira: “Não me diga, o Periquito virou poeta?!”.

E que poeta, Canhoteiro….

O GOL

A esfera desce

do espaço

        veloz

ele a apara

no peito

e a pára

no ar

     depois

com o joelho

a dispõe a meia altura

onde

iluminada

a esfera

        espera

o chute que

     num relâmpago

a dispara

     na direção

     do nosso

  coração.

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