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O ÚLTIMO VOO DE CASTILHO

30 / setembro / 2020

por André Luiz Pereira Nunes


Em 2 de fevereiro de 1987 faleceria aos 59 anos, Carlos José Castilho. O inesquecível goleiro do Fluminense e da Seleção Brasileira, vítima da depressão, atirou-se da cobertura do prédio de número 383, da Rua Bonsucesso, vindo a cair na área interna do edifício. Teve morte instantânea. Na ocasião, era treinador do selecionado da Arábia Saudita e se encontrava de férias no Rio. A esposa Vilma Lopes Castilho ainda tentaria evitar o trágico desfecho, mas não teve forças para segurá-lo. O incidente aconteceu por volta das 16h e a família não quis dar declarações à imprensa. Segundo alguns amigos, Castilho desejava rescindir o contrato com os árabes e voltar para o Brasil, mas teria que pagar uma alta rescisão em dólares, algo impraticável mesmo para ele, que vivia com absoluto conforto e tinha a vida, sob o ponto de vista financeiro, realizada.

Nascido em 27 de novembro de 1927, começou jogando peladas em São Cristóvão. Em 1945, começou a treinar no Olaria, o qual defendeu no campeonato da categoria juvenil. No ano seguinte, o pai do artilheiro Ademir Menezes o convidou para o Fluminense, comandado pelo folclórico Gentil Cardoso. Finalmente, em 1947, assinaria o seu primeiro contrato profissional. Daí para o estrelato não tardaria muito, pois em 1950 já fazia parte do elenco vice-campeão mundial da Seleção Brasileira que capitulou em pleno Maracanã diante do Uruguai na tragédia que ficou conhecida como “Maracanazo”. Como se sabe, Barbosa fora o goleiro titular. Muitos se perguntavam do porquê de Castilho, em pleno início de carreira, já ter sido chamado a uma Copa do Mundo. O motivo é claro. Ele simplesmente fechara o gol durante o Campeonato Carioca, de modo que o técnico Flávio Costa não teve como deixá-lo fora de sua lista.

Se sagraria campeão na temporada seguinte pelo Tricolor das Laranjeiras, então comandado por Zezé Moreira, o qual implantara na equipe um polêmico sistema de marcação por zona. O time marcava um gol e depois recuava, de maneira que o adversário pressionava e chutava inúmeras vezes. A torcida sofria horrores, mas debaixo das traves estava um arqueiro seguro, bem colocado e que ainda contava com a sorte, esse diferencial tão importante em uma partida de futebol. Treinava sempre com afinco. Não podia vacilar, pois o seu reserva era o excelente Veludo, também goleiro da Seleção Brasileira. Em 1952, defendeu pênaltis em oito partidas. Certa vez, por conta de uma atrofia no dedo mínimo da mão esquerda, teve que tomar uma difícil decisão. Ou engessava e ficava fora dos gramados por um ano ou se submetia a uma cirurgia para extrair o membro. Optou pelo mais prático, passando a preencher o vazio por dentro da luva com algodão.


Pelo Fluminense foi ainda campeão carioca em 1959 e 1964, além de vencedor do Torneio Rio-São Paulo, em 1960. Participou de quatro Copas do Mundo: 1950, no Brasil (vice-campeão), 1954, na Suíça (como titular), 1958, na Suécia (campeão), e em 1962, no Chile (bicampeão). Foi ainda campeão panamericano, em 1952. Vestiria no total a camisa da Seleção por 31 oportunidades.

Após encerrar a carreira, em 1966, passou logo a treinador. No ano seguinte já se sagraria campeão paraense pelo Paysandu. Teve uma breve passagem pelo Olaria e voltou a ser campeão, em 1969, pelo Paysandu. Dirigiu o Sport, Fortaleza e o Tiradentes. Em 1974, classificou o Vitória para o Campeonato Brasileiro. A seguir, foi campeão invicto pelo Tiradentes, voltando para o Paysandu. Em 1976, conduziu o Operário ao terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, maior feito da equipe alvinegra de Campo Grande. Esteve no Internacional, no ano seguinte, retornando ao Operário, onde ficou até 1982, quando passaria a treinar o Grêmio. Mais uma vez foi para o Operário e, em 1984, se sagrou campeão paulista pelo Santos. Ainda pelo time da Vila Belmiro conquistaria seu último título, o do Torneio Início, em 1986. Transferira-se no mesmo ano para o Palmeiras e, em seguida, por indicação do amigo Telê Santana, ao futebol árabe.

Para se livrar da depressão, a última e enganosa bola da vida, Castilho deu o seu último mergulho. Provavelmente o grande árbitro deve ter levado em conta o dedo perdido, o intenso esforço a favor do esporte e o talento e a dedicação dentro e fora das quatro linhas.  

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