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O SONHO DA BOLA

14 / janeiro / 2024

por Paulo-Roberto Andel

Thomaz Farkas, brilhante fotógrafo consagrado na arte brasileira, registrou essa imagem em 1947.

O local não podia ser outro: a praia de Copacabana.

Nascido em 1921, Thomaz tinha 26 anos de idade.

No gol, voa o menino desconhecido que entrou para a história da fotografia brasileira. Talvez tivesse dez ou doze anos. Seria maravilhoso saber que se trata de um velhinho octogenário em ótima forma.

Foi um golaço? Um defesaço? Bola pra fora? São várias possibilidades. Em todas elas, uma coisa as une: sonho. O sonho do futebol, a liberdade de jogar bola à beira do Atlântico Sul. O sonho que eu vivi uns trinta anos depois do registro fotográfico. O sonho de muitos, inclusive famosos. João Saldanha passou por lá, Heleno de Freitas também. Paulo Cezar Caju, Fred, Edinho, os goleiros Renato e Paulo Sérgio, Júnior, o saudoso Rocha, Rodrigo Souto, tanta gente. E o mitológico dirigente Tião Macalé, à frente do Dínamo?

Alguns conseguiram viver o sonho profissionalmente. Outros mal saíram das fronteiras de Copacabana. Todos viveram o sonho, e pouco importa se por muito tempo ou alguns minutos – é que a eternidade do sonho não depende de cronômetro. Quanto vale o sonho da bola para um garoto numa tarde ensolarada e vazia?

A bola no gol, o garoto no ar, a defesa, o drama, o gol, o escanteio, tudo isso fica para sempre em cada um de nós que pode experimentar esse momento. O sonho da bola salva vidas, dá sentido à vida, ajuda a sobreviver. Nele, somos garotos para sempre, vivendo os segundos mais divertidos das nossas vidas.

Eu vivi esse sonho há muito tempo atrás. Agora estou sozinho. Muitos amigos foram embora, outros talvez sequer tenham existido além da minha cabeça. Eu não tenho mais um time na praia. Agora, a geometria que a bola pratica quando se mistura ao vento e ao céu, essa eu conheço muito bem.

Quem já sentiu, sabe do que se trata.

@p.r.andel

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