por Zé Roberto Padilha
Certa tarde, acompanhando o América FC, de Três Rios, na terceira divisão, notei que um amigo meu, professor de educação física, entrara em campo em Mesquita para apitar a partida inaugural do estadual de 2012.
– Até que enfim renovaram a arbitragem da FERJ! Este juiz eu conheço de perto – com esta frase carregada de certezas, tranquilizei os ocupantes da van ao meu lado que se acomodavam junto ao alambrado.
Aí o atacante da casa simulou um pênalti e ele mandou colocar a bola no cal. Foi uma indecência. Completamente sem graça, ouvi quietinho todas as gozações na viagem de volta.
– Imagine se você não conhecesse aquele ladrão, o que faria com a gente!
No segundo turno teve o jogo da volta e ele, novamente escalado, marcou um outro pênalti, também inexistente, desta vez a nosso favor no Estádio Odair Gama. Nem precisava, jogávamos melhor. Após a partida ele nos confessou os temores desta nova profissão:
– Sem segurança nenhuma, o máximo que mandam a nos proteger são guardas municipais.
Com a van com a logo da FERJ parada perto das arquibancadas em um estacionamento aberto, torcedores colados ao alambrado, na dúvida, você escolhe: ou sai daquela cidade mandante debaixo de garrafadas, ou administra o resultado. Invertendo laterais a irritar a equipe visitante. Distribuindo cartões amarelos de cara para toda a sua zaga e inibindo a marcação. Na dúvida, expulsa um deles. E guarda a marca do pênalti como ultima instância.
– É o nosso instinto de sobrevivência! – revelou.
“Vai longe este menino”, pensei. O problema é que o instinto incorpora, dá origem a arbitragem caseira e vira regra carreira afora. Que sonha sair seguro de campo mesmo na neutralidade de um Maracanã. E quando entram em campo já consagrados e percebem ao redor que existe um gigante do tamanho do Flamengo do outro lado, e a barulheira é tamanha que na dividida e na dúvida… reza a cartilha do instinto de sobrevivência ser melhor não enxergar uma carga do Rever. Tão comum aquele empurra-empurra, quem há de notar? A não ser que alguém reclame. E ninguém com a camisa tricolor se prestou a reclamar da arbitragem naquele decisivo momento.
O que nos assombrou, como tricolores, foi o silencio do Henrique. Desabou como uma criança abandonada e levantou como uma desamparada, daquelas que apanham e se calam por não conhecer os seus direitos. Já peço desculpas antecipadas aos meus leitores tricolores, mas pela vez primeira queria o Rodrigo, do Vasco, atuando em nossa zaga. Pelo menos naquela jogada.
Primeiro, não desabaria daquele jeito por sua complexão física. Segundo, levantaria com o dedo no nariz do árbitro, a confusão seria formada, Abel invadiria o campo, os bandeirinhas seriam consultados e….poderia até não dar em nada. Mas aquele silêncio dos inocentes, partido de um jogador experiente, foi tão nefasto quanto a porção de margarida untada nos braços do Diego Cavalieri. E que a canhota do Guerrero, que não tem nada com esta lambança, apareceu na história para enfiar a bola para dentro do gol e decretar a nossa derrota.
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