por Paulo Escobar
O torcedor, sempre necessário no futebol, esse que vive e sofre dentro de seus barracos, favelas, viadutos, quilombos e bairros, a cada dia que passa se torna mais difícil de ver nos estádios. Essa foi a tal da grande novidade do futebol moderno, excluir mais e mais, fazendo acreditar que o espetáculo somente pode ser o espaço de alguns.
Contudo, desde que andei pelo Uruguai e parte da Argentina, no final do ano passado e começo deste, tenho me perguntado e pensado sobre algo que também há tempos perdemos: os nossos times. Sim, a minha dúvida, torcedor, é se o seu time é realmente seu!
Por esses lugares que passei, um dos fatos que mais me chamou a atenção foi a relação dos times com os bairros, sobretudo em La Teja, onde vi o Progreso, Villa Española e Frontera de Rivera. É bonito demais ver pessoas do entorno se relacionando com o clube, como elas trabalham e até decidem os rumos do seu time. Nestes tempos de pandemia, vale destacar a ajuda das diretorias aos mais pobres dos seus bairros.
Lembro que ao pisar em La Teja e entrar no Abraham Paladino, estádio do Progreso, vi Fabián Canobbio, o presidente do clube, trabalhando junto com os operários que arrumavam o estádio, sendo muitos deles moradores do bairro. Foi emocionante também ver o Villa com seus movimentos culturais que envolvem o bairro e seus moradores. Mais bacana ainda é saber que no Uruguai há muitos outros times assim, com essa tradição que eles chamam de cultura de bairro.
Aqui no Brasil, nos chamados “clubes grandes”, que também é um nome errado, pois para o torcedor seu time sempre vai ser gigante, essa cultura de bairro é algo inexistente! Qual é o clube da chamada Série A ou até parte da B que ainda possui uma relação com o bairro que o cerca?
Entre outras coisas que a chamada grandeza ou modernismo do futebol trouxe foi o distanciamento maior do torcedor com seu time, que há décadas já deixou de ser nosso e se distancia mais a cada dia que passa! A grande maioria dos clubes não quer ter relação com seus torcedores, que não seja a do consumo, e muito menos se relacionar com o bairros que cercam os estádios ou os times.
Nós não decidimos e nem participamos de maneira efetiva da construção ou dia a dia dos nossos clubes e o que podemos observar hoje é que a única participação dos torcedores é a econômica. Muitos nem para eleição de presidentes ou conselheiros abrem aos seus torcedores, que dirá para opinar como queremos o estádio que “nossos times” jogam ou sobre valores de ingressos.
Em tempos de pandemia então, os chamados grandes mal se voltaram às necessidades dos mais pobres que moram em seus bairros e quase não se envolveram nos problemas que cercam muitos de seus torcedores. Você, torcedor, se sente pertencente ou participante dos rumos ou construção da história do seu time?
Quanto mais grana entrar, mais aqueles que investem mudam os destinos do “seu time”. Pior é que quando você, torcedor, se manifesta, passa a ser olhado com desconfiança pelo seu clube e por parte da chamada grande mídia. Você decide ou constrói a história do seu time?
Esse distanciamento é mais uma das ilusões que este futebol elitizado e moderno trouxe. Fazer você acreditar que somente consumindo ou olhando a TV seja parte do seu clube, é, além de excluir grande parte dos torcedores dos estádios, roubar cada dia mais o seu time de você.
Então, a pergunta que eu deixo aos leitores é: o seu time é seu?
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