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O PROFESSOR DE GEOMETRIA

21 / outubro / 2024

por Zé Roberto Padilha

Didi, para muitos, foi o Rei da Folha Seca. Jogando pela seleção brasileira e pelo Botafogo, desenvolveu uma técnica única de bater uma falta.

Batia na bola por baixo, num ponto G, com uma rosca sutil. E ela, ao ultrapassar a barreira, descia plainando sobre a meta como uma folha seca caindo de uma árvore. Para desespero dos goleiros.

Como treinador, no Fluminense, nos concedeu uma lição de Geometria. Felizmente, para o Flamengo, Ramon Diaz, técnico do Corinthians, não teve acesso a essa aula nos vestiários.

No Brasileirão de 1975, era titular da Máquina Tricolor e enfrentávamos o Sport, num sábado à tarde no Maracanã. Eles, como o Corinthians, tiveram um jogador expulso. E Didi me trocou no intervalo pelo Mario Sérgio.

E deu explicações inquestionáveis: como ponta esquerda, eu fechava o meio-campo, Mário Sérgio abria nas beiradas procurando a linha de fundo. Ele pegou o quadro negro e disse uma máxima que nenhum comentarista esportivo percebeu em caso de uma expulsão.

– A gente só vai levar vantagem se abrirmos os espaços. Abrindo o Gil e o Mário Sérgio nas beiradas, estaremos abrindo o leque. Ampliando o campo e criando dificuldades para quem tem um a mais. Comigo jogando, disse, vamos encurtar o espaço e aí não pesará tanto o fato de ter um a mais.

Que eu saiba, Didi não estudou na PUC, não se aprofundou em cálculo para a bola descair, muito menos se enveredou pela Geometria para entender de ocupação de espaços.

Estudos nos fornecem conhecimento, mas aos nosso professores de futebol, autodidatas, como Pelé, de fibras fortes, antepassados do Príncipe Ivair, que aprenderam a driblar a escravidão, e do Garrincha, que gingavam e dançaram Capoeira para se livrar da marcação, bastou uma bola, um campinho de pelada e liberdade de criação para o Brasil apresentar ao mundo toda a sua inteligência e genialidade.

Uma pena que vivem a fechar os campos de peladas que são o nosso Vale do Silício. Outro Bill Gates, tão cedo.

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1 Comentário

  1. Tadeu cunha

    Caro Padilha,ótimo artigo o nosso futebol anterior ao atual desastre se baseava em espaços diferentes, regras diferentes quando no jogo informal e bolas de tds os tipos,tamanhos e textura por isso ainda formamos grandes craques, porém no conjunto estamos la no fim da fila.

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