por Zé Roberto Padilha
Dos 16 anos, quando cheguei às Laranjeiras, até os 24 anos, em que deixei o Fluminense, joguei muitos Flu X Flas. De todas as divisões. E quando estava concentrado em São Conrado, para jogar meu primeiro Fla x Flu, mal dormi.
Existia dentro de mim o tal amor à camisa. Torcedor e jogador dentro de uma bandeira que virou camisa. Como jogar contra o time que torcia e me formou?
Aí foi que o ônibus do Flamengo, nem tão imponente, parou em um sinal antes do Túnel Dois Irmãos. Em frente à favela da Rocinha.
E fiquei a observar a quantidade das paixões que de lá desciam. Muitos sem televisão, outros sem máquina de lavar porque o ano era de 1976, pouco importava naquele domingo.
Deixavam sua realidade para trás e partiam para o Maracanã em busca de um resultado que os transformariam em um chefe de família mais paciente. Um trabalhador mais produtivo seja qual for o seu ofício no dia seguinte.
Uma vitória do Flamengo era o bálsamo, o elixir da felicidade que não se encontra em nenhuma farmácia.
Daí despertei para o lado social do futebol. Não era mais o ponta esquerda que se olhava no espelho e entrava em campo cheio de orgulho. Quando entrei em campo para enfrentar o Fluminense, diante de 155 mil pessoas, consegui manter na minha profissão mais que o amor à camisa.
Daí pra frente era respeito e luta em prol de transformar os sonhos de uma multidão. E ela merecia minha luta e consideração.
Foi 0x0. Melhor assim. Para ir acostumando, mesmo porque mal saberia pra que lado da torcida correria se Zico fizesse um gol.
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