Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

O PRIMEIRO DA “DINASTIA ESQUERDINHA” FARIA 95 ANOS

1 / março / 2019

por André Felipe de Lima


Antes de chamarem o canhoto William Kepler de “Esquerdinha”, chamavam-no “Pequenino”. O apelido que o consagraria anos mais tarde no Flamengo nascera, porém, quando, em uma pelada do time do Morrinho contra o da rua Pereira, no subúrbio carioca, o “Pequenino” foi deslocado para a ponta-esquerda. Começou a marcar muitos gols com a potente canhota e o batismo definitivo tornou-se inevitável: nascera o “Esquerdinha”, que se tornaria, anos depois, um dos melhores ponteiros-esquerdos da história do Flamengo. Foi a partir dele que muitos “Esquerdinhas” despontaram com o mesmo apelido Brasil afora.

Hoje, no mesmo dia em que o Rio de Janeiro completa 453 anos, Esquerdinha faria 95. Saudade do grande craque, com quem tive o imenso prazer de entrevistar em 2011. Talvez a última entrevista concedida pelo grande ponta-esquerda dos anos de 1950.

Esquerdinha ingressou no futebol em 1941, nos juvenis do Madureira. Em 1946, tornara-se profissional. Foi craque da bola e do jornalismo. Durante a célebre excursão do Flamengo à Europa em 1951, escreveu crônicas para o já extinto Diário Carioca. Tornou-se um bom escriba de imprensa e passou a assinar artigos para vários jornais durante alguns anos. Suas crônicas eram sempre muito requisitadas.

Com a bola nos pés, o craque tinha um chute forte, verdadeiro petardo. Mas não era muito bom em cobranças de pênaltis. Chegou a perder dois em um só jogo. Se marcou gols aos montes também perdeu muitos outros. Se a pontaria fosse quase 100%, Esquerdinha estaria, no mínimo, entre os quatro maiores goleadores da história do Flamengo.

Primeiro filho do casal Raimundo Santa Rosa e Terezina da Costa Santa Rosa, Esquerdinha nasceu em Belém, no Pará, no dia 1º de março de 1924, e recebeu o nome de William Kepler. Seu irmão Walter Kepler nasceria no ano seguinte, no dia 22 de fevereiro.


O pai de Esquerdinha decidira mudar-se com a esposa e os dois filhos para Nova Iorque. Seguiu viagem antes de levar a família para tratar de documentação, moradia e trabalho, o que garantiria mais segurança a todos. Certa noite, antes de retornar para a casa recém-adquirida, Raimundo decidiu parar em um bar acompanhado de um amigo. Ladrões renderam os clientes e exigiram o dinheiro de todos. Raimundo, ao colocar a mão no bolso de trás de calça para pegar a carteira com o dinheiro e entregá-la aos assaltantes, levou um tiro no peito que atingiu o coração, matando-o em seguida. Terezina, após saber da trágica morte do marido, embarcou com os filhos para Nova Jersey onde seus pais já moravam. O bandido foi preso e condenado à cadeira elétrica.

Passara o tempo e Terezina casou-se, lá mesmo nos Estados Unidos, com o brasileiro Antônio Jerônimo da Silva. Ficaram por lá até 1930, quando todos retornariam a Belém. Do novo casamento da mãe de Esquerdinha nasceram Amélia e Wilson. Permaneceriam poucos meses na capital paraense e toda a família trocaria os Estados Unidos, no mesmo ano, pelo Rio de Janeiro, mais precisamente pelo bairro do Santo Cristo, no centro da cidade, no qual ficariam pouco tempo, mudando-se todos para o suburbano bairro de Oswaldo Cruz, na Travessa Blandina, nº33.

Esquerdinha não gostava de jogos de azar, tampouco de carteado; não bebia e nem fumava. Apesar de torcedor do Flamengo, nunca escondera gostar do São Paulo. Confessou isso aos mais próximos e em poucas entrevistas. Ao contrário da maioria dos jogadores de sua época, gostava das concentrações antes dos jogos. Seu treinador preferido foi Gentil Cardoso e o melhor jogador que vira jogar, Zizinho. Seu melhor amigo foi o centroavante Índio. Ambos eram compadres. Uma amizade que perdurou até o fim da vida. Aliás, neste dia 1º de março, Índio também faz anos. Foi um dos grandes atacantes do Flamengo nos anos de 1950. Ele e Esquerdinha eram infernais pelo lado esquerdo.

O ponta canhoto dizia que as maiores alegrias na carreira foram as vitórias contra o Arsenal, o Rapid Viena e o Malmoe, em 1949, e a vitoriosa excursão do Flamengo à Europa, em 1951, quando o Flamengo venceu os 10 jogos que disputara. O maior desgosto, ainda no começo da carreira, foi ter sido vetado pelo treinador Picabea para uma excursão do Madureira ao Pará, terra natal do Esquerdinha, o que só aconteceria com o Flamengo, anos depois.

Esquerdinha permaneceu 15 dias fora do time para curtir a lua de mel e, quando voltou, seu posto na ponta-esquerda estava ocupado por um rapaz que acabara de chegar do América. Treinou até no carnaval e logo retomaria a vaga. Mas, nos dois anos seguintes, o grande ponta-esquerda começava a abrir espaço para o mesmo rapaz que chegara à Gávea tempos atrás vindo do Alvirrubro. Um jogador que entraria para a história do clube e do futebol mundial. Um jovem que se chama Zagallo.

1 Comentário

  1. Paulo de Tarso Guilhon

    Museu da Pelada é top. Lembro-me do Esquerdinha conversando com Papai, no prédio em que morávamos, na rua Carlos Góis no Leblon. Nossa família paraense, meu pai advogado,devia estar sendo orientado em questões contratuais. Esquerdinha escreveu no Diário Carioca, onde trabalhava meu Tio, Everardo Guilhon, que assinava uma coluna esportiva e assinava: Super XX.

    Responder

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *