por Victor Kingma
Neco Pitbull era um truculento técnico do interior mineiro. Ex-zagueiro dos times de várzea locais, era daqueles que mordiam até na própria sombra, o que, aliás, lhe rendeu o apelido.
Depois que virou treinador, seguiu a mesma linha e exigia dos seus jogadores jogo pegado, com marcação forte e entradas duras.
Seu slogan era: “a bola e o adversário juntos não podem passar! Um dos dois tem que ficar!”.
Só que, após entrar para a igreja e se tornar o Pastor Manoel, mudou completamente de postura.
Agora, em suas preleções, misturava instruções táticas com orações e preces e exaltava a necessidade do fair play e o respeito aos “irmãos” de profissão.
Foi assim que seu time chegou à decisão. E o título parecia barbada. Além de jogar em casa, a equipe do pastor tinha uma grande vantagem: podia perder até por dois gols de diferença que ainda assim seria a campeã.
Tranqüilo à beira do gramado, suas instruções pareciam refletir o novo comportamento: num contra ataque adversário, ao ver que seu zagueirão de 1,90m partia com cara de poucos amigos contra o atacante, grita:
– Na bola, só na bola, sem falta!
Pronto! O avante se livra do limitado beque e estufa as redes: 1×0. Reduzida a diferença.
Já no segundo tempo, em nova investida do ataque rival, o ponta direita fica no mano a mano com o seu lateral. O técnico pastor, pregando literalmente o fair play, mais uma vez orienta em tom paternal:
– Sem falta, rouba a bola meu filho, jogo limpo e na paz!
O ponta, então, passa com facilidade pelo marcador e faz 2×0.
A torcida entra em desespero. Mais um gol dos visitantes seria o desastre.
O final fica dramático para o time do Pastor.
E o pior estava por vir: no último lance do jogo, quando o juiz já se preparava para encerrar a partida, o arisco pontinha adversário mais uma vez avança velozmente pela direita, finta o lateral e parte em direção ao gol. Tragédia à vista.
O atabalhoado beque central sai na cobertura. Aí o técnico “Pastor”, destemperado e prevendo a catástrofe, incorpora o Pitbull dos velhos tempos, esquece o fair play e, endemoniado, esbraveja:
– Chega junto! Pega! Mata a jogada!
Desce o sarrafo, pelo AMOR DE DEUS! Senão a gente perde a desgraça desse título!!!
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