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O PASSARINHO CONTINUA VOANDO

5 / agosto / 2024

por Mauro Ferreira

No meio de campo daquele fantástico Flamengo de 70/80 havia um passarinho. Não cantava, não piava. Encantava. Seu voo silencioso, rápido, rasteirinho, beirando a grama, encantava. E ai de quem tentasse prender o passarinho. Risco certo de um tombo daqueles vergonhosos, enquanto, sorriso aberto no bico, o passarinho voava…

Ah, o sorriso do passarinho… Era tímido uma hora; outras horas, quase sacana. Só não deixava de sorrir. Nunca. O passarinho estava sempre sorrindo. Vida leve a do passarinho, sempre voando, sempre voando. Escolheu gaiolas estranhas e grandes para exibir sua arte. E, mesmo engaiolado, exibia majestoso a penugem vermelha e preta, toda lustrosa, todo majestoso. Sabia estar livre, livre o passarinho. Ia para a gaiola para se divertir e divertir que estivesse de olhos grudados em seu voo…

Até que o passarinho resolveu sair de cena. Foi rápido, bem rápido. Num piscar de olhos, voou rasteirinho mais uma vez, só que para longe dos olhos de quem admirava suas peripécias. Desta vez, o drible foi em todos. Como nunca conseguiu ser preso, voou para bem longe, muito longe. Subiu para as nuvens atrás de outras gaiolas.

Adílio faleceu.

O passarinho continua voando.

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