por Zé Roberto Padilha
Talvez no Parrô do Valentim, em Itaipava, você sinta algo parecido quando um pedacinho dos sonhos, um bacalhau na brasa, com azeite português, alcança suas entranhas abertas com um Quinta dos Carvalhais, branco, do Dão, alcançados no Bordeaux ao lado.
Talvez, porque esse prazer aí de cima tem preço e lugares marcados. Já marcar um gol não tem preço. Tem um prazer único em que o Nino (foto) alcança o êxtase. Anestesiado, não sabe pra que lado corre, a quem abraça, a quem agradece.
No esporte mais cultuado no país, vinte e dois homens entram em campo toda semana para tentar, com uma bola nos pés, aninhá-la dentro de uma cobiçada e perseguida gruta. Ela tem 7,32m por 2,44 de altura.
Pequena diante da imensidão dos campinhos, estádios e arenas, ornada com redes, protegida por um goleiro, vigiada por zagueiros e monitorada pelo VAR, quando a gente consegue introduzir a bola em suas redes o paraíso é alcançado por seus pés.
Pode ser em uma pelada na encosta de um morro, no Espinhaço, em Monte Castelo, porque nem todos os orgasmos foram alcançados em lençóis de seda de frente para o mar de São Conrado.
São momentos únicos, inexplicáveis, que atiram seu ego, elevam sua autoestima ao mais alto estágio da cobiça humana.
Claro, não falo de quem goza desse prazer diariamente. Falo de Nino, não do Cano, imagino o Vidal, não o Gabigol, vale menos para oTiquinho e para o Pedro Raul do que para os esforçados mortais que o cobiçam ao seu lado.
Em 17 anos de futebol, marquei tão poucos gols (87, sendo 32 de penaltis) que lembro de cada um. Particularmente, um contra o Corinthians, no Maracanã, jogando pelo Fluminense.
Marco Antonio ameaçou bater direto e rolou a bola ao lado da barreira. Entrei nas costas do Zé Maria e toquei na saída do Ado. O que senti? Um orgasmo. E esse prazer não se explica. Se sente.
No meu caso, passou mais rápido porque o Rivelino, e o Vaguinho, com dois gols, viraram o placar para 3×1. Mas o gostinho do bacalhau, da Noruega, o tinto português, permaneceram vivos dentro de mim.
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