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O MONGE ALVINEGRO

3 / dezembro / 2024

por Renato Girão

Ele sempre achou muita coincidência se chamar Manoel Francisco dos Santos. Mas sabia que, diante da simplicidade dos nomes e da sua vida, tudo lhe era possível.

Além do sacerdócio de ser monge, que para ele era natural, também tinha predileções pelos cantos dos pássaros, principalmente o do rouxinol, que, no seu eterno amor, também era o canto do Troglodytes musculus, a cambaxirra, também conhecido como Garrincha.

Assim, com pernas tortas e vida regrada ao extremo, mas sempre transbordando amor no coração, Manoel despertou naquele 30/11/24. Fez sua meditação matinal, cuidou da orgânica horta que também era de todos os seus companheiros monges, mas deixou para cantar os seus cantos gregorianos após a decisiva partida do seu amado time, que lhe botava fogo no coração a ponto de ferver.

Assim que se postou em frente à TV, viu uma cena para lá de dantesca. “Logo com ele?”, pensou aflito. “Justo o Gregore?” Olhou para os céus e clamou: “Será o Benedito?”

Será que deveria ter cantado antes os inebriantes cantos gregorianos? Mas pensou: enquanto o adversário tem um herói verde forjado de nome Hulk, temos um Jesus lá na frente para, de costas ou de frente, segurar o ímpeto dos galos que, sozinhos, não tecem uma manhã, como bem disse o saudoso poeta.

Pensou também que há, coincidentemente, uma muralha financeira e uma muralha entre as traves, ambos de nome John. Então, vamos adiante! Será um ferimento leve, até pelo fato de eles serem os favoritos. E isto não se muda da água para o vinho.

Mas eis que, diante daquele verdadeiro sacro ofício, surge um gol de uma bola ricocheteada, que sobra magistralmente para um negro que traz o sete nas costas: LH7. Olhou para si e se lembrou de sua história de vida, do nome que carrega. Respirou fundo e pensou: “É hoje!”

Mais tarde, novamente o tal LH7 perseverou e achou um pênalti. Foi para a cobrança Alex Telles, com o número 13 às costas, fazendo a sua partida de número 13 e convertendo o seu primeiro gol com esta gloriosa camisa. Era o arco dos Telles, o arco da promessa.

Terminado o primeiro tempo, pôde tentar se recuperar daquele turbilhão de sentimentos. No início da segunda via-sacra, tomaram um gol de um chileno chamado Vargas. Mas esta era uma era há muito que se dissipara. Houve muita pressão e abnegação dos solitários estrelados e, no fim, puseram o dínamo de um número incerto de cavalos: o artilheiro que só lhe faltava o décimo mandamento, Júnior de todos os Santos.

Como o seu sobrenome também era Santos, estava coroado o ciclo. Extravasou-se o quanto pôde, mas logo veio-lhe a paz, aquela celestial. Ainda deve para si e para o mundo, principalmente ao alvinegro, aquele auspicioso canto gregoriano. Um canto de glória.

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