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O MITO NÃO MORRE

13 / julho / 2020

por Valdir Appel


Em 1960, o Vasco veio a Brusque exibir a Taça Jules Rimet conquistada na Suécia, para meus conterrâneos, na sede social do Clube Esportivo Paysandu. Eu tinha 14 anos.

No empurra-empurra, consegui ficar frente a frente com Barbosa, a lenda viva. Tímido, só consegui pedir um autógrafo na minha caderneta de estudante, caderneta que virou atração na escola. Pudera, não era só o autógrafo do grande goleiro Barbosa; consegui que todos os jogadores vascaínos, liderados pelo campeão do mundo Bellini, eternizassem aquele momento.

Um ano mais tarde, Barbosa estaria de volta a Brusque para uma homenagem. Na verdade, um presente do Paysandu, iniciativa do presidente Polaco aos associados do clube que tinha uma maioria absoluta de torcedores vascaínos.

Atendendo aos pedidos, o goleiro não se fez de rogado e treinou com os profissionais do nosso alviverde. Fiquei atrás do gol, buscando os arremates sem rumo porque os tiros que atingiam o arco paravam nas seguras mãos de Barbosa. Ele não usava luvas, o que lhe rendeu muitas fraturas e dedos tortos. Aliás, durante muito tempo, vivemos a ilusão de que o Paysandu iria contratá-lo em definitivo.


Eu ouvia as transmissões dos jogos do Campeonato Carioca, e particularmente os do Vasco. Conhecia apenas pelo nome os oponentes que desafiavam a perícia, a colocação e agilidade do elástico goleiro. Com sua imagem nítida na minha retina, guardada daquele treino, eu podia ver suas defesas se materializarem na voz dos locutores da Rádio Nacional do Rio de Janeiro.

As revistas esportivas (raras por aqui) volta e meia traziam fotos do arqueiro em ação. Uma delas me deixou extasiado: o corpo na horizontal, paralelo ao travessão, o toque na bola com a ponta dos dedos, de mãos trocadas.

Pude vê-lo mais uma vez em ação, no Maracanã. Estava na arquibancada, logo atrás do gol, a esquerda da tribuna de honra. O jogo, uma preliminar de veteranos. No corpo atlético de Barbosa, apenas os cabelos grisalhos evidenciavam o passar dos anos.

No final do primeiro tempo, um chute diagonal riscou o espaço entre a grande e a pequena área, o corpo negro trajando uniforme cinza, ergueu-se com a leveza de quem nunca envelheceu: voou como um pássaro, e buscou a bola-menina que sempre lhe foi obediente. Desceu ao solo para receber os aplausos maravilhados dos espectadores, no maior estádio do mundo.

O eu menino estava lá, com um sorriso maroto e emocionado.

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