por Zé Roberto Padilha
Poucos tricolores, irritados com suas falhas que originaram os gols do Grêmio, na semana passada, poderiam imaginar o quanto o travesseiro desse menino deve ter sido contorcido. As cobertas inquietadas, reviradas. O sono perdido após a partida.
Funciona assim, com o imaginário realizando as jogadas que deveríamos ter feito na ocasião: por que não recolhi os braços? E por que não cerquei o Soltedo no lugar de chegar lhe atropelando?
Dormi mal por ele e pelo resultado. Porque eu tive, no Fluminense, o meu Dia de Esquerdinha. Canhoto também, embarquei em 1973 com a delegação tricolor para enfrentar o Corinthians. Zagallo era o treinador e Lula o ponta-esquerda. Nesse sábado à tarde, estavam servindo a seleção.
Pinheiro, treinador dos Juniores, assumiu e me levou. Pra ficar quietinho no banco. O Fluminense fez 1×0, gol de Jair, e uma insuportável pressão do timão levou o “Seu Pipi” ordenar:
– Pinguelinho (me chamava assim) entra e fecha as subidas do Zé Maria (era o Super Zé)!
Entrei aos 30 e aos 35 Félix, nosso tricampeão, resolveu sair jogando comigo em nossa intermediária. Quando dominei no peito, ela escorregou. E subiu um pouco. O suficiente para Zé Maria antecipar, me dar um tranco, na bola, tabelar com o Vaguinho, ir à linha de fundo e lhe devolver na conta para empatar a partida.
Todo sem graça, para acabar de me encher de culpa, na ducha ao lado da minha, uma conversa ríspida me arrasou de vez. Gerson disse pro Félix sem saber que estava colado ao chuveiro.
– Que coisa, hein! Papel! Tão experiente e sair jogando perto da nossa área com esses “cabaçudos” dos juvenis? Olha o que deu!
Cabaçudo! Que jeito de aprender uma palavra cascuda e depreciativa.
Voltei escondido lá atrás no avião. E depois sobrevivi. Com Esquerdinha, vai ser assim também. Experiência ninguém compra ou vende.
Só o tempo nos ensina.
Força, garoto!
Caro Padilha perfeita sua análise, a nossa capacidade de aprender com os erros nossos e alheios é o que nos permite evoluir em qquer atividade humana.