por Victor Kingma
Campeonatos estaduais de 1971: no mesmo dia três decisões empolgantes
Nos anos 70, após a histórica conquista do tricampenato no México com aquela seleção mágica, os campeonatos regionais viviam o auge e empolgavam as suas torcidas que lotavam os estádios.
Até porque, todos os heróis da memorável conquista jogavam nos times brasileiros.
Em 1971, em particular, aconteceu uma coisa inusitada: os campeões de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro seriam conhecidos no mesmo dia, em 27 de junho daquele ano.
Durante a semana, nos programas de rádio e nas publicações esportivas, só se falava nisso.
A revista Placar, coqueluche da época, estampou na primeira página da sua edição lançada no dia 25/06:
“O Maior Domingo do Nosso Futebol.”
E o final de semana de decisões foi mesmo empolgante.
Em Minas, América e Cruzeiro chegaram à última rodada com com chances de serem campeões.
O poderoso Cruzeiro de Raul, Piazza, Dirceu Lopes e Tostão, treinado por Orlando Fantoni, dependia só dele. Bastava uma vitória no clássico contra o Atlético para conquistar o título. Já o invicto e surpreendente America precisava vencer o Uberlândia na véspera e secar o Cruzeiro no domingo.
E os ventos sopraram para o time americano do técnico Henrique Frade e do artilheiro Jair Bala. Não só fez a sua parte ao vencer seu jogo por 3 x 2 mas viu o Atlético de Telê Santana e Dário Peito de Aço derrotar o arquirrival por 1 x 0, gol do ponteiro Tião.
Estava quebrada a hegemonia da dupla Cruzeiro e Atlético e após um jejum de 14 anos o coelho voltava a ser campeão mineiro.
Continuando as emoções daquele domingo, no campeonato paulista, São Paulo x Palmeiras chegaram à decisão.
O tricolor com melhor campanha dependia apenas do empate. Seu meio campo formado por Edson Cegonha, Gerson e Pedro Rocha era o ponto de equilíbrio do time treinado pelo lendário Osvaldo Brandão.
Já a Academia Palmeirense, do técnico Mario Travaglini, entrou em campo com aquele célebre time de Leão, Luiz Pereira, Dudu, Ademir da Guia e Leivinha.
No final, no clássico repleto de estrelas, deu São Paulo, gol de Toninho Guerreiro, o primeiro título do anfitrião no recém reinaugurado Morumbi.
No mesmo dia, no Maracanã, aconteceu a mais polêmica daquelas decisões, entre Botafogo x Fluminense..
O Botafogo, chamado pela torcida de “Selefogo” por ter no time os campeões mundiais Carlos Alberto, Brito, Jairzinho, que não jogou a final, e Paulo César, liderava com folga o campeonato e faltando três rodadas para o encerramento, tinha quatro pontos na frente do Fluminense. O título era questão de dias.
Mas o improvável aconteceu. O time perdeu para o Flamengo e empatou com o América enquanto o Fluminense venceu seus jogos contra América e Flamengo, reduzindo a diferença para apenas um ponto. Naquele ano a vitória ainda valia dois pontos.
Mesmo assim o experiente Botafogo do técnico Paraguaio chegou à decisão como favorito e precisando apenas de um empate para ser o campeão.
O jogo, no qual eu fui um dos 142.339 torcedores presentes, foi muito disputado e bastante truncado, com poucas chances de gol. A poucos minutos do termino da partida, tudo indicava que o Botafogo seria premiado pela brilhante campanha e levantaria a taça.
Entretanto, aos 87 minutos, o lateral tricolor Oliveira levanta a bola na área; Marco Antonio, o outro lateral, e também da seleção de 70, disputa a bola no alto com o goleiro Ubirajara e essa sobra para o ponteiro Lula marcar o gol do título, num lance muito contestado.
Até hoje os botafoguenses não perdoam o árbitro José Marçal Filho, alegando falta no goleiro.
Como naquele tempo a tecnologia do VAR era uma coisa inimaginável, o Fluminense do técnico Zagallo deu a volta olímpica como o campeão daquele ano.
Com tantas emoções no mesmo dia, a manchete na capa da Revista Placar fazia mesmo todo o sentido.
A decisão do Paulista também foi polêmica: o pior ou o mais corrupto árbitro da história do futebol brasileiro, Armando Marques (3 erros em decisões; seriam erros técnicos ou corrupção?) anulou escandalosamente um gol legítimo do Leivinha.
Eu estava presente no Maracanã e era torcedor do Fluminense. O Botafogo entrou em campo achando que já era campeão.